O teatro chega às ruas de Pelotas semana que vem
Reportagem de Camila Mascarenhas –
Teatrua, uma mistura de teatro e rua. Esse foi o nome escolhido para o primeiro festival de teatro de rua, que irá ocorrer na próxima semana, no Centro Histórico de Pelotas. O projeto foi criado pelos cineastas Francisco Maximila e Thiago Rodeguiero, com a intenção de levar o teatro às ruas e criar um espaço de formação e diálogo através de apresentações de peças teatrais, oficinas e workshops.
O Teatrua foi selecionado através do edital de apoio a eventos culturais do segundo semestre de 2015, da Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas. A produção e realização do evento são resultado de uma parceria da Cia do Olhar do Outro e Campos Neurais Produções.
O Festival
Um dos objetivos do projeto é ajudar a descriminalizar os artistas de rua e, segundo os organizadores, a ideia de realizar o festival surgiu através do contato com os festivais de mesmo estilo que acontecem em Porto Alegre e em outros lugares. “Já tínhamos conversado sobre a ideia do projeto, pois temos muito contato com o pessoal do teatro. Então, quando surgiu o edital de financiamento da Prefeitura nos inscrevemos”, afirma Francisco.
O festival não tem caráter competitivo, tem como finalidade ajudar a tornar visíveis os artistas do teatro de rua locais e também ser um espaço de troca de experiências entre os artistas da área. Em relação ao público, o projeto tem a intenção de mostrar a população este tipo de arte e fortalecer o elo entre o teatro e a cidade. “A ideia é que qualquer pessoa que esteja passando ali no Mercado Público possa ter contato com o teatro, a senhora que está indo na feira, crianças e adultos”, diz Thiago.
Serão realizados quatro apresentações de espetáculos de teatro de rua, quatro oficinas de criação em teatro de rua e um workshop de produção e profissionalização em teatro. As oficinas e o workshop são gratuitos e abertos ao público.
Espetáculos
Os quatro espetáculos foram escolhidos pelos grupos que irão se apresentar e são específicos para teatro de rua. As apresentações irão acontecer no dia 24 de outubro a partir das 15 horas. São eles:
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Olha o Santo : Direção de Hélcio Fernandes Júnior (Pelotas)
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A Farsa do Advogado Pathelin : Direção de Carlos Prado (Pelotas)
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O circo de palhaços – Grand Circo Pequeno : Direção de Lóri Nelson e Lara Bittencourt (Rio Grande)
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Palco de Feiras : Direção de Alexandra Dias (Pelotas)
Onde? Centro Histórico de Pelotas (Mercado Público)
Quando? 22, 23 e 24 de Outubro
Horário? Os espetáculos terão início às 15h do dia 24 outubro, as oficinas e workshops ainda não têm horário definido.
Confira mais da programação na fanpage do Teatrua.
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Projeto Ócio experimenta a cidade com videodança
Reportagem de Anahí Silveira –
Você já passou por prédios vazios, abandonados, ruínas cinzas e silenciosas e se perguntou por que estão ali ou qual serventia poderiam ter? Já pensou nos terraços? O que eles sugerem? Tais perguntas não são lá muito comuns, mas um projeto de videodança, pioneiro em Pelotas, começou a problematizar esses espaços na estrutura urbana da cidade. O Ócio – Experimentos em Videodança é um projeto que se vale do uso da linguagem da videodança, a qual vem ganhando força nas últimas décadas, para propor um diálogo com a cena das culturas locais. O nome ócio se dá justamente pelo desejo de encontrar um lugar ocioso e descobrir nele suas diferentes condições e como pode ser aproveitado.
A bailarina, diretora geral, coreógrafa e oficineira do projeto, Bruna Oliveira, 27 anos, idealizou a experiência a partir de seu envolvimento com esse tipo de arte. “Faço dança desde criança e sempre tentei aplicar minha ideia de dançar fora dos palcos, mas não sabia como fazer”, diz. Ela explica que o fechamento das portas do Theatro Sete de Abril, interditado por determinação do Ministério Público Federal desde 2010, foi um dos motivos para que começasse a arquitetar o projeto, uma vez que a desativação deixou muitos artistas da cidade desamparados, sem um local para expressar suas artes.
Em 2012, Bruna, que é estudante do curso de filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), participou de uma atividade extraclasse na faculdade: uma oficina de videodança, que lhe abriu os olhos para colocar em prática seu desejo. “A ideia era sair do palco, pensar a dança em outro lugar e eu percebi que isso poderia ser feito”.
O projeto Ócio foi arquitetado enquanto um projeto-processo, cujos frutos não surgem somente como fechamento e apresentação de um produto-cultura, mas se desdobram também em sua execução. Sendo assim, as atividades iniciaram quando o grupo de bailarinos, formado por Bruna e mais dois integrantes do projeto, começou o “laboratório de rua”, onde o trio saía em movimentação pela cidade, analisava como o corpo se comportava em determinados lugares, em locais abandonados, e explorava-os. Ela explica que os pontos de atração foram idealizados a partir da zona portuária de Pelotas e pela “vontade de ocupar tais espaços”.
Em um segundo momento, foi criado então o roteiro do Ócio, aos moldes do cinema, mas elaborado para a dança. Construindo a narrativa, Ócio foi concebido para registrar de maneira audiovisual os resultados dessa dança aplicada nos espaços urbanos. “Analisar a tensão dos braços, adequar o corpo à filmagem, esses foram alguns dos nossos desafios nessa parte do projeto. A brincadeira principal é rasgar as paisagens para ver o que acontece, é mostrar os lugares de um ângulo ainda não visto”, destaca.
O projeto dividiu-se em etapas e em cada uma delas a proposta seria estar em conexão com públicos diferentes, para que, no encerramento do processo, os envolvidos tivessem feito também um percurso de observação e reflexão acerca da cena local através dos espaços, pessoas e suas relações. Dessa forma, a primeira etapa teve início com oficinas de “Ação Perfomática”, ministradas pelo artista argentino Javier di Benedictis e direcionadas especialmente a profissionais locais do audiovisual, da dança e outras expressões, promovendo a difusão de experimentos em processos criativos.
Já a segunda etapa do Ócio foi baseada na aplicação de oficinas para alunos da rede pública municipal de ensino nas localidades da Colônia Santa Silvana e bairros Simões Lopes, Fragata e Centro. Bruna justifica a escolha: “Queríamos experimentar esse projeto em contextos diferentes, mas com a mesma proposta. Foi incrível. Tiveram turmas que aceitaram bem, outras demonstraram a clássica vergonha das pessoas para dançar. Em cada escola fomos modificando o processo de acordo com a reação dos alunos”. Exercícios de ritmo, contato com filmagem, lousa no pátio, ocupação do terraço da escola e execução até mesmo do “passinho”, seguindo a sugestão de alunos, foram algumas das atividades empregadas. Durante as oficinas aplicadas em junho deste ano, videomaker, músico e coreógrafa do projeto tentaram promover um espaço de reflexão sobre a relação corpo-ambiente-tecnologia.
Todas as oficinas foram documentadas e neste momento o Ócio passa pelo processo de criação do seu conteúdo audiovisual. Os 300 DVD’s produzidos apresentarão um videodança realizado pela equipe do projeto e um mini-documentário do processo geral e serão distribuídos gratuitamente em instituções de ensino e cultura. O projeto, que aconteceria de abril a agosto deste ano, acabou se prolongando devido à extensa rede de atividades que nem mesmo os produtores imaginaram que teriam.
O projeto Ócio – Experimentos em Videodança é financiado pelo Programa Municipal de Incentivo a Cultura (Procultura/Pelotas). Bruna aproveita a aprovação do projeto na seleção do ano passado para relacionar o programa de incentivo com o fomento das atividades artísticas na cidade. “É legal que tenha bastante demanda para que se perceba a quantidade de propostas que temos na cidade e a necessidade desse incentivo. Muitas ideias não são colocadas em prática pela dificuldade em executá-las sem esse apoio”, avalia.
A bailarina, que nasceu em Dom Pedrito, mas mora em Pelotas desde 1998, atenta para a necessidade de observar a cidade caminhando ou pedalando e fazendo um olhar desautomatizado pelo percurso. “Tem muito a se extrair, só precisamos nos conectar com o meio. O espaço da cidade me sugere o que fazer com aquele lugar. Como apredizado, o Ócio me mostrou como a rotina funciona em grandes proporções, a dança em perspectiva profissional e o caminho gigantesco que ainda preciso trilhar. Pude refletir sobre os espaços e isso me ajudou a propor outros lugares diante da cidade. Pude dançar com a cidade”, destaca Bruna, diante de um balanço sobre o projeto que ganhou força também por ser o primeiro nesta área em Pelotas. O Ócio deverá ser concluído em novembro e nas próximas semanas será lançado o site oficial do projeto, servindo como um mecanismo de acervo dos materiais reunidos até então.
Equipe Ócio – Experimentos em Videodança
Bruna Oliveira – diretora geral, diretora coreográfica, dançarina e oficineira
Gracia Casaretto – diretora de arte e fotógrafa
Tiago Kickhöfel – diretor de vídeo, videomaker, roteirista, editor e oficineiro
Átila Silveira – diretor musical, músico e oficineiro
Guilherme Oliveira – diretor de comunicação, roteirista e assessor e imprensa
Martha Grill – diretora de produção
Fernanda Thiel – dançarina e produtora executiva
Thiago Barbosa – dançarino
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Grafite chega às telas
Reportagem de Endrio Chaves, Silvia Camargo e Wagner Leitzke –
O que um dia já foi considerado vandalismo, hoje encanta aos olhos de quem circula pelas cidades mundo a fora. O grafite teve seu início na década de 70, quando jovens nova-iorquinos manifestavam a arte em forma de marcas e desenhos pelas paredes da maior cidade norte-americana. Estas, com o tempo, ganharam técnicas e aprimoramentos. Ao mesmo tempo, seus artistas e idealizadores sofriam com a discriminação por seu trabalho. Muitos deles buscavam através do grafite uma forma de responder às opressões vividas.
No princípio, a ideia era apenas manifestar e delimitar espaços, mas com o passar dos anos, o grafite foi conquistando seu devido reconhecimento, para nos dias de hoje ser considerado uma das mais admiradas formas de arte.
Em Pelotas não tem sido diferente, e já não é surpresa quando um grafiteiro da cidade ganha o merecido reconhecimento. Quem reconhece e apoia a arte é Rogério Peres, produtor audiovisual e diretor da Agência Rubra Cinematográfica. Através de suas produções, Rogério proporciona um alcance ainda maior para artistas locais. Um exemplo disso foi o documentário Sprayssionismo, retratando o trabalho de Vinícius Moraes, ou simplesmente o “Bero”, como é conhecido.
Depois que conheceu o mundo do grafite, Rogério Peres decidiu unir sua paixão pelas produções cinematográficas, com o encantamento pelas artes das ruas. Em meio a diversos artistas locais, um lhe chamou atenção: “Eu brincava que achava a arte dele “expreyssionante” e, realmente, era baseada na vanguarda artística do Expressionismo, e foi então que eu propus ao Bero Moraes gravar um documentário sobre a arte dele”, contou Rogério.
Na época, segundo semestre de 2013, Rogério ainda fazia parte da “Bah Produtora” e, juntamente com a produtora cultural “Trilhas de Cinema”, iniciou um projeto baseado na arte de Bero Moraes, para ser proposto ao financiamento do Pró-Cultura do Rio Grande do Sul.
O projeto foi contemplado pelo Edital do Pró-Cultura do Estado. Assim, foi produzido um filme de 26 minutos para a televisão, contando a história de vida de Bero e todo seu envolvimento com o meio artístico. Passou por sua defesa do trabalho de conclusão de curso universitário, o qual também tratou da sua arte, até a exposição final das suas obras.
“O filme foi aprovado, hoje faz parte do Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul, mas não pode ser exibido pelos próximos dois anos, contando da data de entrega que foi em fevereiro deste ano, em função da entrada do novo governo do Estado, que cortou o programa que apresentava os filmes na TVE”, explicou Rogério.
Devido à espera pelo término do contrato de dois anos com o governo do Estado, pelo qual o filme está retido, Rogério planeja a produção de um videoclipe musical. Conta com a participação dos artistas locais, Zudizilla, rapper e também grafiteiro, e outros dois que fizeram a trilha do filme, Tiago Vandal e Nick Beats, todos amigos de Bero Moraes. Haverá remakes do filme Sprayssionismo, já que as imagens originais não podem ser exibidas.
“Desta forma eu dou uma recompensa ao artista, para que ele possa ter uma obra audiovisual de seu trabalho e também somo a um projeto lançado em 2012, Arte das Ruas, que conta com videoclipes de artes realizadas nas ruas de Pelotas”, disse o produtor.
Depois de seu surgimento, o grafite enfrentou preconceitos e muitos anos de turbulência. De lá pra cá, sua recompensa foi se dando através do empenho de seus artistas. Conhecendo o trabalho de Rogério Peres, atribui-se também a projetos cinematográficos, como o do produtor, uma das formas para alavancar a arte de muitos artistas que almejam reconhecimento, não só no meio, mas em toda a sociedade.
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Um coro e seu maestro: 25 anos de Música pela Música
Reportagem de Edna Souza Machado –
À frente do coral da Sociedade Pelotense Música pela Música (SPMM) há quase 25 anos, o maestro Sérgio Sisto não deixa de apostar na cidade que escolheu para viver uma de suas maiores paixões: a música. Nascido em Porto Alegre, Sérgio Sisto iniciou sua formação musical propulsora de uma notável carreira que o levou, inclusive, a estudar no exterior. Atuou ao lado de grandes nomes da música como Plácido Domingo, Giuseppe Giacomini, Justino Diaz, e em teatros renomados de várias cidades brasileiras.
Em 1995, Pelotas foi presenteada com esta ilustríssima figura que, acreditando no potencial cultural da Princesa do Sul, ajudou a criar a Sociedade Pelotense Música pela Música.
Ao ser questionado sobre os motivos que o fizeram vir trabalhar aqui, o maestro disse que Pelotas é um lugar promissor. “Um campo fértil, uma cidade que chama… eu sempre tive o interesse em fazer a diferença num campo aberto, num campo novo, onde se poderia começar alguma coisa a partir do zero e que se tornaria uma coisa consolidada em longo prazo, como está se provando”
Para realizar este trabalho, Sérgio conta que não estava sozinho, mas com um grupo capaz de sonhar, planejar e executar este grande projeto. Pessoas que, segundo ele, gostaram do seu trabalho e demonstraram grande receptividade.
“A Sociedade (Música pela Música), do começo para cá, foi se diversificando, foi planejando mais… começamos a fazer projetos através dos editais da LIC, da prefeitura e de diversos tipos de abertura… a minha história um pouco se confunde com a história da Sociedade. Esses projetos permitiram começar a trabalhar com o talento local.”
À medida que o trabalho crescia, foi-se ganhando credibilidade diante da sociedade e, com isso, novos voos foram alçados. Em 2004, a SPMM criou a primeira orquestra composta por músicos locais. Até então, confirma o maestro, eram convidados músicos de fora para as apresentações.
“Eram a Orquestra do Theatro São Pedro, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), outras orquestras que vinham e participavam com a gente. Em 2004 nós lançamos a ideia de formar uma sinfônica aqui… A orquestra cresceu; a gente conseguiu aprovar projetos, comprar material, tudo de uma forma modesta, pequena… mas o que mantém a ‘casa’ é o esforço da diretoria, dos músicos, meu e dos simpatizantes e contribuintes que acreditam na gente.”
Hoje em dia os grupos de coral lírico e a orquestra sinfônica participam de trabalhos na cidade e na região Sul, em eventos e em projetos como o SESI Catedrais, que promove uma média de dez concertos por ano.
Apesar de a sociedade não ter fins lucrativos, sempre é proporcionada alguma ajuda de custo aos artistas. Entretanto, a maior contribuição é o lançamento destes talentos diretamente ao mercado de trabalho.O trabalho com o canto coral, por exemplo, parte sempre de voluntários, pessoas que se sentem atraídas pela paixão em cantar. A respeito disto, o maestro até brinca:
“Muita gente pensa que o coro da sociedade é um coro profissional, mas não é… Na verdade, mais amador, impossível! São pessoas que gostam daquilo que fazem! Passam por um teste, são escolhidos se têm voz… alguma voz, e, mais importante, se têm afinação e não têm medo da palavra compromisso, de que hoje em dia todo mundo foge… A arte tem caráter lúdico, mas na hora da preparação, não tem nada de brincadeira, é trabalho. e, como eles são amadores, precisam estudar muito mais ainda que um profissional”
A desenhista técnica aposentada, Dirce Maria Carriconde Fripp, de 55 anos, conta que participa de três grupos corais, mas que se identifica melhor com o da SPMM. “O professor exercita muito com os coralistas. Saio dos ensaios com o coração repleto de alegria pelo exercício que a música faz,” confessa.
Dirce conta também que sua relação com a música é uma relação de amor, principalmente quando esta tem relação com oração. Ela diz que se sente tocada na alma e que a música acaba com o estresse.
Herdeira do gosto pela música desde seu avô paterno, a coralista conta que há muito tempo tinha vontade de ingressar no grupo. Foi então que tomou coragem e resolveu fazer o teste. Para ela, o maior requisito para ser bem sucedido no coral é a perseverança e a fé.
Ainda para 2015, em comemoração aos 25 anos da sociedade Pelotense Música pela Música, o grupo estará realizando um concerto no teatro Guarani no dia 30 de outubro. Para isto, a sociedade ainda está em busca de parcerias e patrocínios.
O sonho da sociedade, segundo o maestro Sérgio Sisto é para no futuro poder ter uma programação regular, uma temporada fixa. Os desafios são muito grandes, pois como toda empresa privada, tem despesas com pessoal, casa, material, etc. A gente luta como toda a pessoa que tem uma casa… e ainda consegue fazer música. Para ele, as perspectivas são de esperança e de confiança em quem apóia e incentiva a cultura.
“Muita coisa melhorou, algumas outras pioraram, mas eu acho que a gente tem que seguir a estrada e eu acho que a cultura, aqui em Pelotas, e até no estado do Rio Grande do Sul e no Brasil, sobrevive… apesar de muitas coisas. É graças à ajuda de simpatizantes – e geralmente são sempre os mesmos – que acreditam no sonho da gente e nos incentivam”.
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Corpo e alma na música da dupla Célula Soul
Reportagem de Geovane Matias,
Henrique Konig,
e Marcelo Nascente –
A dupla de irmãos Bruno e Stefano Rosa são os músicos da banda Célula Soul. Com diversas influências musicais, eles trazem um estilo bem alternativo para o cenário pelotense. Mesclam do blues ao reggae para conduzir as composições.
Stefano é o baterista. Começou bastante cedo, ainda aos 11 anos. Bruno, com a guitarra, iniciou aos 14. A primeira banda, com mais integrantes, foi a Farenait. Embrião musical da parceria dos irmãos, ela durou mais de uma década. Após um período em stand by, Bruno e Stefano resolveram fundar um novo projeto.
Como sempre ensaiaram juntos, na bateria e na guitarra, a fórmula estava feita e a Célula Soul surgiu em 2013. A origem do nome é bastante curiosa. Costuma-se falar intrinsecamente da música estar presente na alma (soul), e no sangue dos artistas. Se as notas correm por corpo e alma, estava lançado o nome sugerido por Stefano: Célula Soul. Sonoramente fluente e com representatividade para as canções da dupla.
As influências ao longo de vários anos dedicados à música são oriundas de diversas vertentes. “A gente começou muito ouvindo o rock’n’ roll dos anos 90. Hoje em dia, escutamos de tudo: do blues ao reggae, do metal ao rap. Mas, falando do rock’n’roll, que é a nossa área, as bandas que talvez mais tenham nos influenciado são o Nirvana, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, os próprios Beatles e Rolling Stones, até o atual Reignwolf.”
A pegada do grunge, movimento de força nos anos 90, em que uma das bandas de destaque foi o Nirvana, é notada nas canções da Célula Soul. As referências de origens distintas com certeza moldam o som dos pelotenses à alternatividade como produto final.
Quanto aos locais de show, a presença em festivais é essencial no trabalho da dupla. “A gente curte esse lance de fazer som na rua mesmo. O último que fizemos foi em Jaguarão. O Sofá na Rua – movimento artístico de Pelotas com o intuito de ocupações do espaço público com música, arte, diversão e lazer – foi um dos primeiros shows que fizemos.”
A dupla lembra também sobre ter tocado no festival Pira Rural. O Pira é um encontro de música que acontece anualmente durante o feriado de Páscoa, na cidade gaúcha de Ibarama, no Camping da Cascata. O acontecimento visa o contato com a natureza e a criatividade, com o objetivo de também destacar a importância do rural. No evento, as opções gastronômicas são tipicamente coloniais.
“Tocamos muito em festivais. No Pira já estivemos duas vezes, teve o Acid Rock também. São festivais em um clima “Woodstock”. São bandas de vários estilos, arte para todos os lados. É um pessoal bem tranquilo, curtindo em paz. Tudo organizado de forma independente”, relembra Stefano.
As músicas da Célula Soul passam por um processo de composição explicado pela dupla. “As músicas geralmente surgem de uma ideia inicial de riff, quase sempre de guitarra, mas pode ser de batera também. Aí vamos desenvolvendo o esqueleto do som, depois nós encaixamos a melodia, e, por último, vem a letra”.
As letras também jogam com o universo ao redor. Desde críticas à sociedade doente, conforme definem, a filmes, livros e demais coisas que chamem a atenção dos músicos. Na última canção gravada por eles, o tema é o amor de um pai à filha. No caso, o de Bruno com sua filha Antonella, de seis meses.
É com o primeiro disco de estúdio, Radio Fuzz, que a Célula Soul fala dos projetos futuros: “A gente espera que esteja à venda até o final do ano. Fevereiro do ano que vem, no máximo, mas vai depender das burocracias todas. O disco foi gravado e mixado pela A Vapor Estúdio, aqui de Pelotas mesmo. Serão oito músicas. Temos mais gravadas, poderíamos incluir mais, mas, para não comprometer a qualidade do vinil, é melhor ficar com menos músicas e mais qualidade”, definem.
A banda de Stefano e Bruno Rosa tem páginas do soundcloud e do Facebook.
Trecho da música “No Caminho das Nuvens Brancas”:
“Venho lhes trazer
A espada e o fogo
Para mudar o pensamento
E quem sabe se espalha com o vento
Mais ser, menos ter
Vivendo pra viver
Sempre há começo chegando ao final
Só o movimento é ritual
Só quero tocar as nuvens brancas e contemplar
O que a vida é
E não me importar com a engrenagem da máquina
Onde a vida não é
Só quero acordar, em outro lugar”
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Matt DeHarp: de Paris para o mundo
Reportagem de Isabelle Domingues –
Após viajar por diversos países da Europa e America do Sul, o músico francês escolheu Pelotas como seu novo lar e trouxe na mala, o melhor da música francesa, blues e folk.
Você alguma vez já teve vontade de largar tudo para o alto e se aventurar estrada a fora? É preciso coragem e atitude, não é mesmo? Pois isso tudo, somado a uma boa dose de talento, são os ingredientes que qualificam o músico francês Matt DeHarp. Durante 20 anos ele se aventurou pelo continente europeu e desembarcou no Brasil, escolhendo a cidade de Pelotas como sua nova morada.
Desde que deixou a terra natal e deu início à sua jornada, o artista já passou pela República Tcheca, Suécia, Espanha, Alemanha e por alguns países sul-americanos, como Argentina e Colômbia. Trabalhou com diversos grupos musicais, dentre eles o Tow Dollar Bash, estabelecendo grandes parcerias. Na companhia de seu violão e tendo como fiel escudeira a paixão pela música, o artista não exita em estar sempre aprimorando seu trabalho e pesquisando diferentes sonoridades . No repertório, o melhor da música francesa, blues, folk e country figuram dentre os seus prediletos. Recentemente, sua mais nova aposta é o Cajun, estilo musical originado no sudoeste de Louisiana, nos Estados Unidos. Porém, engana-se quem pensa que a música de nosso país fica de fora. O artista revela gostar de música brasileira e estar escutando muito forró e os sucessos de Luiz Gonzaga.
No Brasil, sua chegada foi em 2012. Esteve em São Paulo, Porto Alegre e, mais tarde, encontrou a base de que precisava aqui, na cidade do doce. Estudioso da história do Rio Grande do Sul, acredita que Pelotas possui muito potencial e que tem tudo para ser uma cidade modelo. Adepto a uma filosofia mais naturalista, procura viver em sintonia com o meio ambiente. Quando não está se apresentando, tenta usufruir o máximo de seu tempo livre com a “bioconstrução”, num projeto batizado de “Casa da Árvore”. Seu objetivo é cultivar a jardinagem, plantar e colher o alimento que consome, desvinculando-se do modo de vida capitalista das grandes metrópoles. No entanto, admite não ser tarefa fácil.
Para o futuro, DeHarp pretende continuar viajando por todo Brasil e outros paises da América, mas, em seguida, voltar ao seu porto seguro. Um lugar mais tranquilo onde possa descansar, não descartando ser Pelotas. Um artista sem amarras, de espirito livre e destemido que faz do mundo o seu quintal. O seu desejo? Continuar tocando e vivendo, sobrevivendo, diz ele. Um recado para seu público: -“ que todos os sentimentos que estão contidos nessas canções possam sobrepassar a barreira da linguagem. É o que quero passar e acho que o Brasil sabe.”
Matt DeHarp tem uma página no Facebook, um site com suas músicas e outro com seus shows.
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Lua de Ismália: experimento que deu certo
Reportagem de Júlia de Andrade
e Monique Heemann –
O escritor brasileiro Alphonsus de Guimaraens criou asas para que sua personagem Ismália pudesse voar. A banda Lua de Ismália tem aspirações semelhantes: sair do chão para experimentar o novo. Ela é uma combinação entre a energia de um corpo jovem potencializado para mudanças e o conhecimento técnico do mundo musical. Prestes a completar um ano de formação – o aniversário é no próximo mês -, o projeto vem crescendo de acordo com produção criativa de composições, ensaios e apresentações do trio de músicos.
Os gaúchos Gustavo Cunha, Gustavo Silveira e o catarinense Rennã Fedrigo se conheceram no curso de composição musical da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no mesmo ano em que decidiram organizar um projeto musical experimental que iria percorrer quilômetros além de Pelotas. “Eu e o Cunha combinamos de nos encontrar e fazer música, tentar fazer canção. O Silveira tinha acabado de voltar de um intercâmbio nos Estados Unidos e também se interessou pela ideia. Nos juntamos para fazer música sem muita pretensão. O processo aconteceu naturalmente, chegando à gravação do disco que estamos produzindo hoje”, explica Rennã.
As primeiras apresentações foram no início deste ano. O trio tocou no Museu da Baronesa, no dia 23 de maio, pelo Música no Museu, projeto promovido pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult), que incentiva a cena musical local com apresentações nesse espaço aos sábados. Em junho, participaram do Festival Seiva da Terra (Rio Grande) e ganharam o troféu de melhor arranjo pela música Hermética. “A diferença de um festival para um show é que nos festivais subimos no palco, tocamos uma música e vamos embora. No show, isso muda, pois temos o conceito do disco aliado à nossa apresentação”, comenta Gustavo Cunha.
No dia 12 de agosto, a Lua fez um ensaio aberto em sua própria moradia e contou com um público seleto: os amigos mais chegados. Os sofás e a literal proximidade física com a música tornaram o ambiente aconchegante e intimista. “Ainda estamos descobrindo qual é o nosso público e isso tem relação com o show que fizemos em casa. Os amigos e os amigos dos amigos estavam lá para nos ver, nos ouvir tocar. Em um festival a competição torna as coisas diferentes”, afirma Gustavo Silveira.
Poucos dias depois de abrirem as portas de casa, eles deram um pulo até Ponta Grossa (Paraná) para participar do 28˚ Festival Universitário da Canção (FUC), para apresentar Tempo e Espaço. Segundo Gustavo Silveira, a participação no festival não foi exatamente o que eles esperavam. “Nunca tínhamos tocado em um festival de MPB, não conhecíamos o funcionamento de um festival como esse e achamos que a nossa proposta poderia se encaixar. Acabamos percebendo que os festivais ainda são muito bitolados, a organização deles parece ainda querer os mesmos artistas dos festivais dos anos 80”. O último feito do trio foi um show na cidade, no João Gilberto Bar, em meados de agosto.
Uma das peculiaridades que acompanham a Lua é a habilidade de fazer com que o público barulhento de um bar fique em silêncio, movimentando cabeças e pés no ritmo de uma música sossegada, como Hermética, cantada baixinho.
Aliando arranjos vocais com violão, guitarra, violino, piano elétrico, sintetizadores e percussões alternativas, a Lua se destaca pelo experimentalismo que emprega nas suas composições autorais. O instrumento de cada um é fixo e isso começa a ser definido durante a composição e arranjo das músicas. “Compor é uma necessidade básica do compositor, um ofício necessário para manter a sua sanidade. Cresce uma agonia dessa necessidade inerente do ser criativo, a de ver suas crias sendo engavetadas, dia após dia. O compositor é tão egocêntrico que acha que o mundo precisa ouvir o que ele tem a dizer, ao ponto de dedicar uma vida a isso”, revela com senso de humor Gustavo Silveira.
Os próximos passos estão concentrados na finalização do disco que tem lançamento previsto para o final desse ano. De acordo com o Rennã, eles não têm outros shows programados para os próximos meses. “Estamos trabalhando na gravação, mixagem, masterização, arte e prensagem do disco em parceria com A Vapor Estúdio. A ideia é fazermos um show de lançamento, com uma live session que foi gravada no A Vapor Estúdio e compor coisas novas. Também estamos pensando em trabalhar em um clipe”.
Os três desconhecidos, que encontraram uma familiaridade na composição, veem a Lua de Ismália como uma forma de materializar seus anseios artísticos. Essa união possibilitou que eles pudessem estar em processos criativos diferentes, mas que se complementam musicalmente, profissionalmente e pessoalmente. A Lua é um experimento que deu certo. “Todo o processo nos traz a liberdade de experimentar diferentes ideias e com isso descobrir outras formas de fazer o que estamos produzindo, sempre procurando chegar a resultados diferentes, nos levando a resultados que talvez não conseguíssemos sozinhos. Falo do trabalho criativo em grupo, que está sendo para mim também um aprendizado”, ratifica Gustavo Cunha.
UMA PALHINHA DO SHOW EM VÍDEO PRODUZIDO POR JÚLIA ANDRADE E MONIQUE HEEMANN
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Música sempre às segundas no final da tarde
Reportagem de Juliana Ramires –
O Sete ao Entardecer é um projeto da Prefeitura de Pelotas, que proporciona apresentações artístico-culturais para o público da cidade. Os eventos acontecem às segundas-feiras, na Fábrica Cultural (rua Félix da Cunha, 952), sempre ao entardecer, com entrada franca.
O projeto encontra-se na sua décima primeira edição e promoveu ao longo desse período nomes de profissionais e amadores da música local, além de grupos teatrais e de dança.
As escolhas das apresentações se dão através dos editais, que são lançados duas vezes ao ano pela Prefeitura de Pelotas.Compreendendo os dois editais, as apresentações acontecem entre os meses de abril e novembro.Para se inscrever é necessário ter mais de 18 anos, não ser servidor do municipio de Pelotas e ter currículo comprovado na área musical, teatral, ou de dança.
Nesse ano diversos nomes já passaram pelo palco da Fábrica Cultural, no dia 21 de setembro, foi a vez da banda Freak Brotherz, que trouxe para o palco toda a sua presença e pegada groove. Com mais de 17 anos de estrada, a Freak, se intitula como pertencente ao cenário underground. Suas músicas inteligentes e o baixo marcante foram motivo para lotar a Fábrica Cultural e deram ânimo numa segunda-feira chuvosa em Pelotas.
Desde 2005 o Sete ao Entardecer leva cultura para os finais de tarde pelotenses, visando fomentar a produção artística e divulgando a cultural local. As apresentações artisticas são sempre originárias do Sul do Estado.
Então, nada de ficar em casa nas segundas-feiras ao entardecer, vá até a Fábrica Cultural e assista um espetáculo de qualidade, feito por artistas locais, com certeza, seu final de tarde terá mais cultura e diversão.
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Marcela e Gábi apresentam “Botecagem Incidental”
Reportagem de Larissa Medeiros
e Lorran Dolácio –
As artistas locais Marcela Mescalina e Gábi Mesquita vêm apresentando em Pelotas seu projeto “Botecagem Incidental”. Com um repertório variado, elas mesclam covers de artistas nacionais e internacionais, releituras de clássicos do MPB e do rock clássico, sem deixar de lado os trabalhos autorais com a parceria de compositores locais.
Em uma conversa informal após um show, Marcela e Gábi contaram um pouco de como é essa fusão musical que já dura cinco anos. Marcela Mescalina é natural de Arroio Grande e Gábi Mesquita de Santa Vitória. Depois de mudarem para Pelotas, foram apresentadas por um amigo em comum, que indicou que ambas compartilhassem o palco. Apesar disso, só vieram a se conhecer em meio às gravações de uma coletânea de artistas locais na casa do irmão de Gábi, que é produtor musical. E ali mesmo surgiu a primeira música conjunta.
Apesar do tempo de experiência musical, nenhuma das duas dedica-se exclusivamente à música. Há cinco anos, Gábi cursava psicologia e Marcela, jornalismo, o que tornava o ensaio uma coisa muito rara para ambas. Atualmente, Gábi começou a dedicar seus estudos voltados à musicalidade e Marcela trabalha com jornalismo na Rádio Universidade. A falta de tempo para dedicação exclusiva ao projeto musical faz com que os ensaios sejam as próprias apresentações, com muito improviso e o repertório escolhido através das conversas trocadas pelo telefone celular. Foi o que inspirou o nome do projeto, “Incidental”. Grande parte das músicas covers surge ao tocarem no show, por pedido de quem está assistindo ou por uma ideia que surge na hora, no “acidente”. O que funciona entra no repertório pra próxima apresentação.
Em relação ao trabalho autoral, Marcela começou uma parceria com Marilia Floor, musicalizando os poemas publicados em seu blog. E desta união, em 2013, a música “Bestas” ganhou premiações no Festival Canguçu da Canção Popular (Fecanpop), de melhor intérprete para Marcela e de melhor letra para Marilia Floor. Outra parceria surgiu com Dudu Borba. A dupla musicaliza as letras do cotidiano pelotense escritas pelo compositor. Para as composições próprias e releituras musicais, o gosto que influencia indiretamente vai desde Mercedes Sosa até Sidney Magal, além de muito “rock’n’roll”, que propõe um pouco mais de psicodelismo para as noites pelotenses.
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