Artistas gaúchos se mobilizam para enfrentar efeitos das enchentes

Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões, Associação dos Músicos e Casa do Artista Riograndense fazem campanhas     

Além das milhares de pessoas que terão de reconstruir suas casas, histórias e vidas, várias instituições culturais do Estado, que buscam justamente resguardar o passado e as identidades da coletividade, estão sofrendo com os danos causados pela enchente. É o que acontece em Porto Alegre, com o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que teve de realizar uma operação para garantir a segurança das obras do seu acervo, e a Casa de Cultura Mário Quintana, uma referência para a exibição de filmes de arte, que teve avarias com as inundações nas suas salas de cinema. Também os artistas estão sofrendo diretamente. Para tentar amenizar a gravidade do momento vivido, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões, a Associação dos Músicos e a Casa do Artista Riograndense lançaram propostas voltadas ao setor.

Representativo do que enfrenta a área da produção artística, é o Circo Ronaldo D’Itália, que é o lar e o local de trabalho de um grupo de artistas. Ficou com toda a sua estrutura debaixo d’água, no bairro Mathias Velho, na cidade de Canoas, onde faria uma temporada de apresentações. Não só os artistas tiveram de refugiar em abrigos e casas de amigos, mas ainda o seu próprio público está sofrendo destes problemas.

 

Inundações começaram a atingir Casa de Cultura Mário Quintana no dia 3 de maio

 

A campanha Contrate um Artista foi iniciada pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Sated-RS). A proposta é que organizadores de eventos de outros estados trabalhem com artistas gaúchos enquanto a enchente e os seus efeitos prosseguirem, pois a maioria dos shows e espetáculos vem sendo cancelada na região.

O Sated está criando um cadastro no seu site para que os artistas do Rio Grande do Sul possam ser contatados por empresas de fora do Estado que queiram   participar da campanha. O sindicato também está angariando doações por Pix através da chave 90.747.635/0001-40 (CNPJ).

Está sendo promovida uma ação de solidariedade pela Associação de Músicos do Rio Grande do Sul (Assmurs). Os artistas que ainda conseguem dar prosseguimento à sua agenda de shows nacionais ou que, de alguma maneira, consigam se reinventar, estão sendo convidados a ajudar aqueles que passam por maiores dificuldades. Conforme a entidade, cerca de 30 mil músicos vivem no Estado.

A Casa do Artista Riograndense (Rua Anchieta 280, bairro Glória, em Porto Alegre) que oferece moradia para aqueles com idade avançada, está coletando doações de cestas básicas. Contatos podem ser feitos pelo Instagram.

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KIKI: O Sagrado Ritual da Resistência do povo indígena Kaingang

Celebração está sendo retomada desde 1970 e é uma poderosa manifestação da cultura, ancestralidade e força espiritual        

Por Vanessa Oliveira      

O Kiki é um ritual sagrado de culto aos mortos realizado pelo povo indígena kaingang, que habita principalmente as regiões sul e sudeste do Brasil. No período pré-colonial, esse ritual envolvia cânticos, danças, bebidas, uso de instrumentos musicais e era conduzido por líderes espirituais conhecidos como “kuiâs”. Tinha como objetivo fornecer a quem falece uma boa transição ao numbê (o mundo dos mortos). Entretanto, com a colonização do Brasil, o ritual foi interrompido devido à catequização forçada dos indígenas. Na década de 1970, os kaingangs da região Sul e do estado de Santa Catarina, principalmente, retomaram o ritual como forma de resistência cultural e identitária. Por muitos anos a cerimônia deixou de ser realizada.

No ritual, são feitas pinturas pelos corpos e rostos dos que irão participar. O Kiki demonstra a associação das metades kamé e kairu. Cada metade possui motivos faciais específicos: os kamé pintam-se com “riscos” e os kairu com “pontos”. Uma metade realiza a cerimônia para o falecido da metade oposta. Kamé sempre vai na frente do kairu. Ele é considerado o “mais forte” para se relacionar com os espíritos.

Segundo a pesquisadora Juracilda Veiga, no seu artigo “Cosmologia Kaingang e suas práticas rituais”, uma vez desencadeado o processo da realização do ritual ele não pode ser interrompido até o seu final. As etapas são: coletar os alimentos necessários, derrubar o pinheiro, colocar a bebida para fermentar, chamar os convidados e realizar a festa. A preparação da bebida usada no ritual leva mais de 10 dias e é preparada dentro do tronco de um pinheiro. Os rostos são pintados, definindo-se duas metades: kamé e kairu. Os rezadores kuiâs e auxiliares vão à mata escolher a árvore. Lá eles cantam para enfraquecer o espírito do pinheiro que servirá à cerimônia. Isso corresponde à ideia geral de que o espírito sustenta o corpo ou a vida.

 

 

Kuiâs praticando o ritual em torno do cocho com a bebida Kiki na Aldeia Condá  (2011)     Foto: Jaisson Teixeira Lino

 

Vinícius Casemiro da Silva Trindade, jovem indígena da Aldeia Condá, nunca participou do ritual e só conheceu a história contada pelos mais velhos da comunidade. Ele relata que, nessa cerimônia, havia danças e cantos pela perda de seus anciãos da aldeia, também havia bebidas como uma forma de homenagear os mortos. “É proibido levar crianças para essa festa, pois as almas das crianças são muito fracas para participar. Quando uma criança adoece, os pais da criança devem chamar repentinamente pelo nome indígena da criança até ela voltar ao seu próprio corpo”, descreve.

Jorge Kagnãg Garcia foi um dos últimos kuiâ (líder espiritual) kaingang da Terra Indígena de Nonoai onde realizava o ritual. O ancião faleceu aos 102 anos de idade, no dia 9 de janeiro deste ano, deixando importantes ensinamentos culturais para todo o povo kaingang.

 

Jorge Kagnãg Garcia (ancião do povo Kaingang)        Foto: Billy Valdez/memoriaterritorioeperseguicao.wordpress.com/

 

A neta de Jorge, Marizete Jakaj Garcia, recorda: “O ritual acontecia todos os anos. O processo de preparação da bebida durava 10 dias e era feita somente pelos kuiâs. Era fermentada e, no último dia, era servida para os membros da comunidade, uma quantia específica para cada um, conforme a sua marca “clânica”. O ritual é cheio de regras, a bebida é feita de flores, mel, entre outras ervas medicinais que só o ancião sabia e não podia revelar”.

Claudemir Moreira Vaz, terapeuta ocupacional da Aldeia Indígena Serrinha localizada no município de Ronda Alta (RS), relata que: “A bebida continha um teor alcoólico, além disso, os mais antigos contam que quando a aldeia ou várias aldeias apresentavam grande número de enfermidades – epidemias – e mortes frequentes, fazia o kiki, consumia e chamava os mortos/espíritos para fazer uma limpeza na aldeia. Outros dizem que se tomava para conversar com os que já se foram, são vários contos sobre o kiki,” afirma.

A busca por reconectar os mais velhos das comunidades kaingangs com o ritual completo do kiki, aliada ao desejo dos jovens, como o de Vinícius e Marizete, de vivenciarem essa tradição ancestral, ressalta a importância da preservação cultural e da transmissão intergeracional de conhecimento.

Este anseio não apenas fortalece a identidade, mas também enriquece a compreensão e valorização das práticas culturais indígenas, promovendo um diálogo intercultural e significativo em nossa sociedade.

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Do palco para o cinema: Teatro dos Gatos Pelados participa de filme gravado em Pelotas

“Passaporte Memória”, uma produção da Atama Filmes de Porto Alegre, teve algumas gravações na cidade e contou com a participação de 12 alunos do Colégio Pelotense no elenco       

Por Felipe Boettge       

 

Equipe do filme Passaporte Memória selecionou estudantes que praticam artes cênicas     Foto: Divulgação/Atama Filmes

 

Com a passagem da produção de “Passaporte Memória” um filme produzido pela Atama Filmes e dirigido pelo diretor Décio Antunes, a cidade de Pelotas e o Colégio Municipal Pelotense foram escolhidos como cenário para algumas de suas locações, em uma das etapas de gravação, devido à sua arquitetura. O filme também terá cenas gravadas em Porto Alegre e em Paris. Para o filme, foram feitas diversas seletivas e entrevistas, convidando atores de toda a cidade. Dentre esses, 12 alunos do Colégio Pelotense tiveram papéis dentro da produção, com Gabriel Ferreira, de 16 anos, realizando o papel do protagonista na sua juventude. Além dele, os outros alunos participaram como figurantes e em outros papéis dentro da produção.

O Teatro dos Gatos Pelados, atualmente, é uma iniciativa do LADRA, o Laboratório de Dramaturgia do curso de Teatro da UFPel, que, em conjunto com o Colégio Municipal Pelotense e o professor de História e coordenador do grupo, Joaquim Dias, coordena o grupo de teatro desde 2021. Existiu primeiramente em formato de EAD e, a partir de 2022, presencialmente, com duas turmas. Uma com alunos mais novos pela manhã e outra com adolescentes pela tarde, possuindo em média 29 estudantes frequentando o grupo entre as duas turmas.

O número de participantes varia muito conforme a época do ano ou a situação escolar dos alunos, como nos conta o professor Joaquim: “No final do ano, acaba diminuindo [a quantidade de alunos], mas tem muitas variáveis, como quem pega o programa Jovem Aprendiz, quem está estudando pro IFSul, está preocupado com o PAVE ou o ENEM e, aí, a gente respeita. A ideia é ser uma atividade extracurricular, mas que não atrapalhe a vida estudantil e profissional deles”.

 

Alunos e professores do Teatro dos Gatos Pelados unidos pela paixão dos palcos    Foto: Divulgação

 

Teatro do Colégio Pelotense desde 1905

Historicamente, o teatro no Colégio Municipal Pelotense é algo que surge desde muito cedo, com registros desde 1905. A atividade teatral sempre fez parte da escola. Mas, só a partir de 1963, a formação de um grupo mais forte e estruturado aconteceu através do Grêmio Estudantil da época. Dessa forma, o teatro teve nesse período a sua época de ouro, com alguns dos momentos de maior reconhecimento e participação em festivais municipais, estaduais e nacionais até 1973, chegando até mesmo a ser premiado. Porém, o grupo acaba sofrendo várias interrupções e intervalos durante os anos até se desfazer em 2002. Apesar de ainda haver algumas iniciativas nesse sentido através de festas juninas ou trabalhos escolares.

Dessa maneira, a presença de teatro nas escolas e na vida desses alunos desde cedo cumpre um papel incrível para a socialização e autoconhecimento. Algo acontece em conjunto com a UFPel e conta com a vitalidade das professoras que fazem parte do projeto para uma maior conexão com os estudantes e com as suas dificuldades e anseios. Bárbara Nunes, estudante da UFPel e professora do Teatro dos Gatos Pelados, acrescenta: “É sempre muito rica a maneira como cada adolescente aprende e se expressa. Eu sou a que mais puxa eles, mas eu vejo uma evolução dos alunos que permaneceram desde quando eu comecei a dar aula, como que eles evoluíram tanto no teatro como pessoa”. Algo que também foi reforçado pelos alunos entrevistados foi a importância da consciência corporal que se adquire e que, com certeza, eles levarão para toda sua vida, para além da prática do teatro.

A conexão com os colegas e as professoras é essencial para a permanência, assim como o amor pelo teatro. O ambiente teatral é um dos maiores atrativos para os alunos, que se consideram como uma família, valorizando cada experiência nas aulas e peças que realizam juntos. Com tudo isso, o grupo também funciona graças à união e amizade que os alunos criam uns com os outros durante o seu tempo ali.

 

Professoras Bárbara Nunes, Marina Lima e Nicole Gonzáles  estimulam os talentos teatrais dos estudantes  Foto: Divulgação

 

Escolha do Colégio e seleção de atores

A escolha pela produção cinematográfica da cidade e do Colégio Municipal Pelotense se deu muito graças à arquitetura da cidade e do interior da escola, o que combina com o proposto pela narrativa. Um processo que se iniciou no meio do ano passado e que levou quase todo o ano de 2023, até que as filmagens ocorressem e fossem finalizadas. Enquanto isso, a possibilidade de participação dos alunos não era certa, todos precisaram enviar vídeos de teste e passar posteriormente por uma seletiva. Esse foi o caso de Gabriel Ferreira, o escolhido para o papel de protagonista, “O momento da espera foi muito longo, teve um intervalo entre gravar e enviar um vídeo, e mais outro, até saber. Eu mandei o vídeo pensando, vai que uma hora precisem de alguém como eu, nunca me veio uma expectativa muito alta. A gente mandou os vídeos para que depois houvesse uma seletiva, eu achei que nem iria para essa fase, que tinha mandado o vídeo à toa.”

 

  Gabriel Ferreira, que fará personagem protagonistas do filme. em destaque durante a peça “O Mago Mustafá”  Foto: Divulgação

 

Enquanto os alunos esperavam por alguma notícia ou resultado, os professores souberam antes dos escolhidos e tiveram que controlar as expectativas enquanto preparavam os alunos até o momento em que os resultados pudessem ser divulgados. “Sempre deixamos algumas coisas bem claras para eles, que isso era uma oportunidade, que não dependia só de talento deles ou se eram bons atores ou não. O cinema é uma questão mais de estereótipo, características, da parte física mesmo. Além de que o cinema é muito diferente do teatro, eles não vão fazer teatro [diante das câmeras]”.

Com tudo isso posto para os jovens, uma grande quantidade de alunos foi selecionada e isso causou uma enorme felicidade dentro do grupo. Não só oferecendo uma experiência única para os alunos, mas também o reconhecimento para os professores e o grupo em si. Como conta o coordenador e professor da escola, Joaquim Dias: “Se conseguíssemos um aluno, já era uma vitória. Conseguimos doze, então fantástico, melhor ainda.”

Sendo assim, com todos os aprendizados e experiências que o teatro proporcionou e seguirá fazendo para esses alunos, uma coisa é garantida, eles seguirão envolvidos com a quinta arte, a dos palcos. Seja como espectadores ou atores, todos os alunos se mostraram interessados em continuar com a arte em suas vidas. Como nos conta Gabriel: “No início eu achava que não, mas eu vi uma peça esses dias e o talento das pessoas expressando aquilo que eu acho muito massa. Se eu não continuar fazendo, vou continuar acompanhando. Mas, com certeza, eu vou continuar fazendo.”

Agora, em recesso escolar, as atividades do Teatro dos Gatos Pelados retornarão com a volta das aulas do Colégio Municipal Pelotense. A partir daí, o grupo estará aberto para todos aqueles alunos que desejam ingressar e também estará de portas abertas durante as exibições de suas peças para que a comunidade os visite e conheça o seu trabalho.

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Shopping Pelotas recebe exposição fotográfica “Mulheres Pelotenses”

A atração é gratuita e fica exposta no centro comercial até o final do mês de março         

Por Eduarda Caruccio        

 

Desde o dia 8 de março, o Shopping Pelotas promove a exposição “Mulheres Pelotenses”. Aberta ao público até o dia 31 de março, a amostra fotográfica celebra o Dia Internacional da Mulher, contando a história de oito importantes figuras femininas da cidade.

A exposição é gratuita e pode ser visitada durante o horário de funcionamento do shopping (das 10h às 22h, de segunda a sábado, e, das 11h às 22h, nos domingos e feriados).

Alguns dos nomes que são homenageados na exposição são: a DJ Helô, a prefeita Paula Mascarenhas e a jornalista da RBS Alice Bastos Neves.

Com imagens que transmitem força, feminilidade e poder, as fotos mostram mulheres ocupando cargos importantes na cidade. A exposição evoca no observador uma sensação de orgulho e reconhecimento através da evolução que as mulheres conquistaram nas últimas décadas no âmbito profissional.

 

A DJ Helô é uma das homenageadas

    A DJ Helô é uma das homenageadas     Foto: Eduarda Caruccio

 

Entre as  visitantes da exposição, Mayla Alves considerou a mostra importantíssima para a sociedade em que vivemos. “Além do empoderamento feminino no geral, exposições assim servem para homenagear e enaltecer mulheres que têm grande destaque na sociedade”, disse. “O Dia Internacional das Mulheres celebra incontáveis lutas conquistadas ao longo do último século, além de conscientizar e alertar a sociedade sobre os grandes problemas de desigualdade de gênero, pois a mulher, por grande parte do mundo ainda é vista como inferior”, explanou.

Luiza Elena de Oliveira gostou muito da exposição. “Manifestos assim são de relevante importância pela sua expressividade artística”, disse. Luiza considera que a exposição retrata o crescimento e a evolução feminina, notabilizando principalmente as personalidades pelotenses em seus âmbitos profissionais. “Vimos com orgulho todo o reconhecimento da força das mulheres externado em um dia especial, dedicado a elas”, destacou.

Eloisa Neves avaliou que a exposição é de suma importância. “Alguns anos atrás, isso não seria possível”, observou. A importância dessas manifestações no seu ponto de vista é realmente homenagear e potencializar a força das mulheres, trazendo assim visibilidade a oportunidade a todas. Pensa que o Dia das Mulheres e a mostra fotográfica carregam consigo um objetivo e uma importância, que ao seu ver é, além de prestigiar as mulheres, lembrar que somos capazes e que estamos aqui, lembrar a história para que ela não se repita.

Dia Internacional da Mulher

Oficializado pela Organização das Nações Unidas na década de 1970, o Dia Internacional da Mulher é uma data comemorativa que simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Essa mobilização política foi ganhando cada vez mais força ao longo dos séculos XX e XXI.

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Renascença: o famoso samba do Mercado Central de Pelotas

O movimento cultural das rodas de batucada segue trazendo alegria para a região   

Por João Miguel Rico Donini    

 

 

Grupo retomou em 2014 tradição das rodas de samba nos mercados públicos       Fotos: Reprodução/YouTube

 

Um grupo criado de uma forma rápida, sem compromisso, feito porque gostam de estar juntos, o Renascença se tornou referência em Pelotas. Em fevereiro de 2014, houve um concurso para grupos vocais e eles tiveram a ideia de se inscrever. O nome foi decidido em cinco minutos, pois, quando já há algo predestinado, tudo se torna mais fácil. E o concurso acabou sendo pretexto para uma nova ideia de Maninho, um dos integrantes, que disse: “Vamos voltar a fazer o samba no Mercado Central de Pelotas!”. Assim, foi retomada a tradição das rodas de samba dos mercados que ocorrem em várias outras cidades, pois são ambientes cercados de atividades de todos os tipos e de fácil acesso. Assim, foi possível proporcionar acesso ao cidadão pelotense que queria curtir um bom samba.

Eles fizeram a primeira roda. Na segunda, os “problemas” começaram a aparecer, quando faltou gente para tocar e precisaram ir atrás de última hora. Aí perceberam que precisavam de mais pessoas, chamaram e tiveram a sorte de encontrar mais adeptos do samba raiz! Desde então, a história foi se expandindo.

O grupo Rena, como também é conhecido, nunca buscou fazer uma roda de samba para lotar. Eles fazem para eles, regados à alegria, alegria tão grande que contagia a todos que passam!

 

Grupo cultiva a paixão pelo samba de raiz e preza as amizades criadas com a música brasileira

 

Na sua trajetória alguns desafios foram encontrados. Tauê Azevedo, um dos fundadores, comenta: “Nós sempre buscamos incentivar o gosto pelos sambas que nós ouvimos no carro, que são sambas genuínos, do lado b, lado c. Assim, conseguimos trazer as pessoas para o nosso lado, com uma ideia de amizade, de união, com muito sentimento”.

Sempre que há desafios, também há recompensas, Tauê também falou um pouco sobre isso: “A recompensa é juntar esse tanto de gente que é identificada conosco. É ter família, amigos, música boa, poder viver o dia que tem o samba do Renascença, e, quando encerrar o dia, poder ver a repercussão, que sempre tem sido muito positiva.”

O futuro também já está em pauta no Renascença. Há um projeto esperando aprovação pela Lei Paulo Gustavo, em que a ideia é ter uma roda de samba por mês, em lugares históricos de Pelotas. Mas o principal plano é seguir juntos, seguindo com o samba, pois o que mantém o Renascença é isso, a união e amizade, buscando levar alegria a todos, já que, como disse, Darlan, outro integrante do grupo, no making off do DVD do grupo: “A gente é um monte de gente, apaixonado por gente, no mesmo lugar!”

O grupo se apresenta com 10 a 12 integrantes. No dia 26 de fevereiro, em apresentação no bairro Laranjal, estiveram na roda de samba: Robert Veiga, Maurel Duarte, Francisco Teixeira, Xana Gallo, Nei Silveira, Júlio Cavalheiro, Vinícius Tavares, Matheus Goularte, Arcenan Brum, Rodrigo Bandeira, Flávio Júnior e Carlos Henrique.

Contate o grupo pelo Facebook e Instagram e veja um das rodas de samba apresentadas no Mercado Público de Pelotas:

 

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Novo espaço para artes visuais em Pelotas

Inauguração da galeria de arte do coletivo Crema promete ser uma nova referência na cidade    

por Tom Nunes      

 

No dia 2 de março, inaugurou uma nova galeria de arte contemporânea em Pelotas, a Crema Gallery (rua Almirante Barroso 3160, bairro Centro). Surge para ser o mais novo tentáculo desse “polvo criativo” que é a Crema, como é definido pela idealizadora e diretora de arte Maria Voltobel.  A estreia do espaço, que já foi um ateliê de Cerâmica, conta com a exposição “Meio Mágico” do coletivo artístico Nuvem Nômade, composto por jovens artistas da região sul do Estado e que, atualmente, tem seu ateliê localizado no Espaço Relva Cultural, dividindo a estrutura arquitetônica com a nova galeria. Esse ponto na rua Almirante Barroso tende a ser uma importante referência da arte contemporânea na cidade.

 

Trilha sonora da abertura ficou por conta do Dj Uruguaio Franco Laveglia e on-line com o DJ russo Denis Kaznacheev

 

Entre os artistas visuais selecionados para a estreia na exposição estão Nicholas Steinmetz, Yuki Zarate, Jessica Porciuncula e Rodri Aliandro, sob curadoria de Maria Voltobel e da artista e professora Kelly Wendt.

Maria conta que, além de um coletivo, a Crema é também um movimento de Pelotas. A vontade e inspiração para iniciar o trabalho com uma galeria de arte não foi necessariamente um plano, mas resultado da observação de tendências no cotidiano da cidade. Foi “uma ação conjunta entre pessoas, acontecimentos, situações e trabalhos e, assim, acabou nascendo a galeria.”

Ao longo de seus mais de 10 anos, a Crema vem se transformando e consolidando tanto na cena das artes visuais quanto na musical. Tem produzido eventos sonoros, confecções têxteis, festas, discos e encontros. Assim, cria uma rede de pessoas e artistas que se envolvem na esfera criativa do Coletivo, como relatam alguns dos visitantes que prestigiaram a inauguração da galeria.

 

Curadoras Maria Voltobel e Kelly Wendt recebem visitantes em frente fachada bioconstruída

 

 

Uma das visitantes, Tais Beltrame, relata que primeiro foi ao local pelos encontros, para conhecer a galeria e por ser uma admiradora do trabalho da Maria Vontobel, pensadora, influenciadora e executiva da Crema. “Ela tem um modo de ver muito atento e aberto às coisas que acontecem e quis compartilhar esse olhar” diz. Ela define que as curadoras propõem a pensar sobre o que é magia através do encontro com as obras desta exposição.

Humberto Levy de Souza, outro visitante e integrante dos braços e ações da Crema, diz que acompanha o trabalho há muitos anos, desde 2016. Tem visto que o coletivo se empenha na construção de um cenário cultural, com a criação de novos espaços. Apesar de atento ao que acontece mundialmente, está conectado ao dia a dia de Pelotas e sua proximidade com a natureza, com seus tempos e sons.

As exposições vão acontecer de 40 em 40 dias, misturando sempre artistas locais e convidados. Tal qual já acontece nos eventos e festas produzidos pela Crema, também é possível agendar visitas acompanhadas, basta entrar em contato pelas redes sociais.

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Tholl: A eternização do grupo nas páginas de um livro

A próxima sessão de autógrafos da obra que recupera a sua história de teatro e circo acontece sexta-feira na Livraria Vanguarda do Shopping Pelotas     

Por Renan Ferreira        

 

João Bachilli conta a história que começa no seu encontro com o Circo Berlin  Foto: Reprodução/Facebook

 

Na sexta-feira, dia 8 de março, o Grupo Tholl lançou oficialmente no Theatro Sete de Abril, em Pelotas, o livro que conta os mais de 20 anos de história teatral e circense que levam o nome de Pelotas aos quatro cantos do Brasil e do Mundo. Também houve lançamento de “Tholl, 20 anos de imagens e sonhos”, na segunda-feira, dia 11 de março, no Mercado Público de Pelotas. E a próxima sessão de autógrafos será sexta-feira, a partir das 16h, na Livraria Vanguarda do Shopping Pelotas.

Em 120 páginas, a publicação reúne relíquias de uma história que começou com os olhos brilhantes de um menino chamado João Bachilli. No prefácio ele descreve o seu fascínio por circos e o inesquecível encontro com o Circo Berlin em uma tarde mágica da infância, que acabou traçando seu futuro artístico. Ao lado de Helena Prates, que também é a editora, o diretor artístico do Grupo Tholl assina a curadoria do livro. Para traduzir o universo colorido de sonhos coube ao ilustrador Alisson Affonso ousar na dança de traços que leva o leitor ao mundo onírico da trupe.

Essa e outras tantas belezas estão reunidas nesta obra coletiva que tem a orelha assinada pela jornalista Cristina Ranzolin. Ela conta como se tornou a madrinha do grupo, ao rebatizar o antigo OPTC como Grupo Tholl. O projeto é realizado com recursos do Pró-cultura RS Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

 

Sessões de lançamento começaram sexta-feira, dia 8 de março,  no Theatro Sete de Abril

 

Referência artística

Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul, o Grupo Tholl foi criado em 1987 pelo ator João Bachilli. O menino que tinha o sonho de ser “artista de circo” inventou o seu próprio picadeiro. Nos anos 90, criou algumas pequenas performances, até que em 2002 idealizou a sua linguagem do novo circo. Sem picadeiro e sem lona nasceu “Tholl, Imagem e Sonho”, em cartaz desde 2002.

Com turnês por diversos estados brasileiros e capital federal, se consolidou como uma referência artística. Hoje são cerca de 110 integrantes, entre profissionais, amadores e crianças. No repertório, os espetáculos “Exotique”, “O Circo de Bonecos”, “Par ou ímpar”, com Kleiton & Kledir, “Cirquin” e “Bate pra tua patota que hoje tem circo”.

Programação

Nesta semana, de 12 a 15 de março, uma diversificada programação abrangerá os diferentes segmentos, levando oficinas circenses e atividades de leitura a escolas públicas, visita aos pacientes hospitalizados no Hospital Universitário São Francisco de Paula, onde acontece o projeto Tholl Alegria, e leitura a alunos cegos e de baixa visão da Escola Louis Braille. Na sexta-feira (15 de março), das 16h às 20h, acontece a roda de conversa e lançamento na Livraria Vanguarda do Shopping Pelotas, ao valor de R$ 70,00.

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YG Marley conquista o Brasil com seu primeiro single “Praise Jah In The Moonlight”

A música do neto de Bob Marley chegou a assumir a 15ª posição na versão brasileira do Spotify    

Por Juliana Pontes    

 

YG Marley viralizou nas redes sociais com seu single de estreia        Foto: Lyvans Boolaky / Divulgação

 

O legado musical de Bob Marley, o ícone jamaicano do reggae, continua a ecoar pelos tempos, e agora, ganha um novo capítulo com seu neto, YG Marley, assumindo os holofotes musicais. Enquanto a obra do lendário Bob é relembrada nas telonas através do filme “Bob Marley: One Love” (2024), é YG Marley quem brilha nos charts e conquista o coração dos ouvintes.

Joshua, batizado como YG Marley, é filho da renomada cantora e compositora Lauryn Hill e do cantor e empresário Rohan Marley. O jovem de 22 anos surpreendeu o público no último Natal ao lançar seu primeiro single, “Praise Jah In The Moonlight”, uma reverência à essência do reggae que seu avô popularizou.

A música não apenas fez sucesso, mas conquistou seu lugar nas paradas musicais brasileiras, entrando na lista entre as mais tocadas no Spotify Brasil em fevereiro. Originada de uma colaboração com sua mãe, Lauryn Hill, a faixa apresenta um sample da icônica “Crisis”, sucesso de Bob Marley datado de 1978.

O Brasil, conhecido por seu amor pela música vibrante e contagiante, recebeu calorosamente “Praise Jah In The Moonlight”, especialmente durante o Carnaval, quando a faixa atingiu o pico na 15ª posição na versão brasileira do Spotify. Mesmo após o fervor carnavalesco, continua a conquistar ouvintes, mantendo-se firme na posição #46.

YG Marley, que já havia feito algumas aparições nos shows de sua mãe, surpreendeu ao apresentar sua música inédita ao público. Seu envolvimento na cena musical já era evidente, mas, agora, com o sucesso de seu primeiro single, as expectativas estão nas alturas para o que está por vir.

 

 

Com mais de 100 milhões de plays apenas no Spotify, “Praise Jah In The Moonlight” transcende a plataforma de streaming e ganha destaque nas redes sociais, principalmente no TikTok e  Instagram. Usuários dessas plataformas têm adotado a música como trilha sonora para seus conteúdos, elevando ainda mais o perfil do jovem artista.

YG Marley, fruto da união entre o empreendedor jamaicano Rohan Marley e Lauryn Hill, ocupa a posição de terceiro filho em uma família de seis. Com o sucesso atual, os fãs de Bob e Lauryn aguardam ansiosamente por novas músicas e, quem sabe, um álbum completo que solidifique o lugar do jovem Marley no cenário musical internacional. O legado continua.

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Caminho Pomerano conecta à cultura dos imigrantes em São Lourenço

Roteiro de turismo rural inclui oito empreendimentos com diversas atrações, indo da gastronomia típica à tradicional apresentação do casamento com noiva vestida de preto    

Por Larissa Schneid     

  

        A exemplo do Casamento Pomerano, faz parte do passeio a reconstituição de tradições típicas do século 19           Fotos: Divulgação

 

O turismo rural entrelaçado com a cultura e a história: essas são algumas palavras que definem o roteiro Caminho Pomerano, no interior de São Lourenço do Sul. Diversos visitantes, incluindo a comunidade local e turistas, vem escolhendo o trecho como programação turística para explorar a forte cultura alemã pomerana. Rodeados pelas paisagens naturais, os empreendimentos oferecem gastronomia típica, artesanatos, ervas medicinais, prédios históricos, acervos familiares, propriedades rurais, colecionismo e a tradicional apresentação do Casamento Pomerano com a noiva de preto. Os imigrantes pomeranos vieram para o Brasil em 1858 e, em 1945, a Pomerânia deixou de existir com tal nomenclatura. 

Segundo Rodrigo Seefeldt, condutor local, oito empreendimentos pertencem ao roteiro, são os Sabores do Sítio, Café Platô, Casa das Cucas Pomeranas, Recanto das Bergamotas, Heinden Haus, Plantas e Ervas de Inêz Klug, Memórias Und Andenken e Pousada Velho Casarão. Também integram o roteiro as apresentações da noiva de preto e da história do convidador, além da Silvia Chocolates Artesanais no Centro da cidade, assim como os parceiros Restaurantes Nona Bray e Sal e Brasa.

“Todos estão funcionando e atendem os visitantes mediante agendamento. A experiência de conhecer o Caminho Pomerano pode ser vivenciada tanto por meio da agência de turismo receptiva Maria Faceira quanto por agendamento através do nosso site. Lá, estão os contatos de todos os empreendimentos e os visitantes podem realizar o agendamento conforme a programação”, destaca Rodrigo.

Além de oferecer uma imersão completa no roteiro com diversos diferenciais, os visitantes também apreciam a preservação e valorização da cultura dos antepassados que construíram suas raízes no município em 1858. Essa tradição é mantida até os dias atuais pelos comerciantes locais.

“É por essa razão que o Caminho Pomerano tem uma vitalidade de 18 anos, celebrada em 2023 por conta do empenho na valorização de elementos culturais que foram perdidos, inclusive no seu país de origem, a Pomerânia, que não existe mais”, acrescenta Seelfeldt.

A preparação para receber o público inclui ações de marketing no site, nas mídias sociais e em matérias jornalísticas veiculadas em veículos locais e regionais, proporcionando ainda mais notoriedade ao Caminho Pomerano. Os empreendimentos também desempenham um papel crucial nessa etapa, pois ficam disponíveis por longos períodos e investem para oferecer a melhor experiência aos visitantes.

“A hospitalidade dos turistas é crucial, especialmente para os visitantes que se encontram na praia e têm a oportunidade de marcar suas visitas diretamente nos empreendimentos e fazer a visita no horário combinado. A tecnologia também nos ajuda para que as pessoas tenham mais facilidade de agendar suas visitas e explorar a região”, diz Rodrigo.

No ano passado, cerca de 5 mil pessoas passaram pelo Caminho Pomerano, e até o final desta temporada de verão, Rodrigo estima um aumento de 25%, incluindo residentes locais, turistas, grupos, agências de turismo, escolas, universidades, etc.

 

Caminho preserva e valoriza a cultura dos antepassados que construíram suas raízes no município em 1858 

 

Quiosque Recanto Pomerano

Para aqueles que ainda não exploraram o roteiro, a cultura do interior pode ser apreciada no Quiosque Recanto Pomerano, localizado no Parque Recanto da Ilha, próximo ao Restaurante Casa Nostra, na praia de São Lourenço. O espaço, fornecido pela Prefeitura, oferece produtos da Associação Caminho dos Pomeranos e dos artesãos da Economia Solidária. Os visitantes podem adquirir artesanatos de tecidos, biscuits, livros e produtos das agroindústrias, como sucos, geleias, rapaduras, entre outros.

“A venda desses produtos contribui para a geração de emprego e renda para as agroindústrias e artesãos, fortalecendo ainda mais o Caminho Pomerano e a reputação de nossa cidade, já que as pessoas levam consigo lembranças e produtos produzidos aqui”, conclui Rodrigo. O quiosque está aberto diariamente, das 10h às 19h, exceto às quartas-feiras.

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Museu da Baronesa renovado pela herança negra

Prédio da instituição tem mais de 160 anos e passa por reformulações voltadas à representatividade cultural       

Por Vanessa Centeno      

 

A presença negra na região sul do Estado está representada no Museu da Baronesa (avenida Domingos de Almeida, 1490, bairro Areal, Pelotas). Com mais de 160 anos de existência, sediado junto ao Parque da Baronesa, o prédio passa neste momento por um processo de restauração. Foi fundado como instituição museológica em 1982, mas a casa que o sedia tem aproximadamente 160 anos.  Foi fechado à visitação na pandemia e, em seguida, iniciaram as obras de manutenção necessárias. Durante a última década, o museu buscou sobretudo repensar o seu acervo levando em conta a representatividade negra.

Em 2018, a instituição recebeu um prêmio de 100 mil reais pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Com o “Projeto para a Visibilidade Negra no Museu da Baronesa”, foi contemplado com este valor destinado à modernização de algumas partes do Museu, para a compra de alguns equipamentos, visando as melhorias na pesquisa e na segurança. Esta foi a primeira premiação recebida pelo Museu da Baronesa.

No momento, sem uma data certa para a reabertura, a previsão inicial da entrega da obra é para o final deste mês. Há todo um processo a ser feito de remontagem do Museu peça por peça e sala por sala.

 

Estrutura museológica passa por modernização com verba de prêmio concedido pelo Instituto Brasileiro de Museus 

 

História que remonta ao Barão dos Três Serros

Vale resgatar a história por trás da edificação. O coronel e político Anibal Antunes Maciel, comprou a propriedade em 1863. Seu filho, Anibal Antunes Maciel Júnior, herdou a propriedade de sua mãe, Dona Filisbina Silva, em 1871. A chácara foi ampliada, ocupando uma área de sete hectares com varanda, capela, torre de banho, sala de costura, salão de festas, pátio central e jardins.

Anibal Antunes Maciel destacou-se por ter sido o primeiro no Brasil a conceder alforria a seus escravos em 1884. Por este ato, recebeu o título de “Barão dos Três Serros” decretado pelo Imperador Dom Pedro II. Dois anos após o falecimento do barão, em 1887, a baronesa voltou para sua cidade natal e a chácara passou a ser habitada por uma de suas filhas, Dona Amélia Anibal Hartley Antunes Maciel (Sinhá Amélinha). Foi ela quem tornou conhecido o local como o “Solar da Baronesa”.

A edificação, juntamente com o terreno, foi doada ao município de Pelotas em 1978. O Museu foi inaugurado em 1982, e é uma instituição cultural da Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal de Pelotas. Foi tombado como patrimônio histórico do município em 1985.

 

Espaços estão sendo restaurados para melhor exposição do acervo

 

Reivindicação de representatividade negra

Atualmente, estão à frente da instituição, entre outros profissionais, a diretora Fabiane Rodrigues Moraes Loth e o professor Marcelo Hansen Madail, que é licenciado em Artes Visuais, bacharel em Conservação e Restauro e especialista em Geografia e História.

Marcelo trabalha na manutenção das peças do Museu e na pesquisa histórica, além de gerenciar as redes sociais. Atua no museu desde 2011 e conta que, logo ao chegar, a média de visitantes estava entre 8 mil e 9 mil visitantes por ano.  Em 2019, na pré-pandemia, foi o último período em que esteve aberto à visitação cem por cento, alcançando mais de 19 mil visitantes. Ele acredita que as redes sociais contribuíram, fazendo a divulgação não só no Brasil, mas mundialmente. A divulgação nas redes sociais é simples, sem o uso de mídias pagas, mas, mesmo assim, tem alcançado visitantes latino-americanos, europeus e estadunidenses, entre outros.

Marcelo lembra que há um caderno de visitantes ao alcance do público para o registro de elogios e críticas, sendo um modo de saber o que pode ser melhorado. Um dos pontos altos foi a Vitrine do Século 19, exposta por muitos anos, que deixava as pessoas encantadas com a maneira de mostrar as peças antigas, sendo uma das queridinhas do público. No livro de visitas, as pessoas elogiavam a reconstituição da época da vitrine, escrevendo que tinham até vontade de viver naquele tempo.

Outras pessoas, entretanto, deixaram escrito no livro a lembrança de que o sangue dos seus ancestrais estava nas paredes daquela edificação. Começou, assim, um questionamento entre os funcionários do Museu em como contemplar à população negra que teve seus antepassados submetidos ao regime de escravidão. Os relatos das pessoas negras questionavam a ausência dos personagens negros escravizados e sua contribuição.

Marcelo comenta que, nas oportunidades em que trabalhou na portaria do Museu, viu pessoas saírem se sentindo mal e emocionadas por não verem o negro fazendo parte das exposições.       

 

Acessibilidade é um dos pontos que estão sendo aprimorados

  

Dia do Patrimônio Histórico estimula mudanças

Em 2014, na segunda edição do Dia do Patrimônio Histórico, o tema escolhido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) foi a “Herança Cultural Africana”. Isso levou o Museu a elaborar uma exposição paralela a partir do próprio acervo, levando em conta as peças de temática sacra, em que representações de divindades de matriz africana foram mostradas conjuntamente a de santos católicos.

A ideia de sincretismo religioso foi trabalhada na relação entre os vários ambientes.  No hall de entrada, por exemplo, havia uma sacristia com roupas usadas por padres. Noutros ambientes, estavam as divindades de matriz africana relacionadas aos santos da Igreja Católica. 

Os funcionários do museu tiveram de superar seus limites em relação às religiões de matriz africana, buscando inclusive contato com pais de santo e outros especialistas, de forma a mostrar o acervo de forma mais adequada, dando nome às peças e criando a melhor contextualização histórica.

Houve muitas expectativas em relação ao Dia do Patrimônio Histórico e a reação do público.  Até então, o Museu foi por muitos anos taxado como um museu de elite branca e ressaltar uma outra perspectiva foi um desafio. Colocar objetos que façam jus à presença do negro incomodou alguns, ao mesmo tempo em que buscou responder às críticas.

A repercussão da exposição relacionada às matrizes africanas e a presença do povo negro foi muito boa. E o público visitante, que deixou os comentários no caderno de opiniões, comentou: “Finalmente, já não era sem tempo”, “que essa atitude não seja a primeira e que não morra aqui”.

 

A representatividade negra no museu foi planejada em um projeto que está sendo implementado

 

Herança cultural que não pode ser ignorada

A diretora Fabiane Loth comenta que se constatou que não havia mais possibilidade de o Museu não falar e deixar de canto a herança cultural africana. A partir de então, tiveram a contribuição da historiadora Flávia Alsino Sanes, que veio a suprir esta demanda do público com suas pesquisas. Houve até mesmo uma conscientização das pessoas da equipe museológica de como podem ocorrer situações racistas no cotidiano. Não somente o museu mudou, mas as pessoas que compartilharam desse processo também foram modificadas.

A diretora comentou que o sincretismo não é apenas dar nome aos santos católicos e divindades de matriz africana como se fossem sinônimos. Havia necessidade de reconstituir a longa história negra, que era o que as críticas pediam de fato ao museu no livro de visitas.  A temática do Dia do Patrimônio, instituída pelo Ibram em 2014, levou à tomada de iniciativas, como o trabalho com os documentos das famílias com os registros dos nomes dos escravizados.

A Dona Sinhá Amélinha deixou, por exemplo, cadernos com registros daqueles escravizados que continuaram trabalhando no período pós-abolição, então recebendo ordenados. Ao contrário de ser um ponto final, isto leva à realização de entrevistas, a novas pesquisas e ideias para exposições.

Conforme a historiadora Flávia, eles buscaram expor a presença negra de uma maneira positiva, não apresentando somente a parte histórica do martírio, do castigo dos grilhões e, sim, trazer toda a influência cultural que a presença negra trouxe para a região.          

Visibilidade negra

Começaram de maneira sutil a introduzir elementos em que a presença negra era mais marcante. Informações foram buscadas no testamento do Aníbal Antunes Maciel, o Barão de Três Serros. Sabe-se que, quando faleceu, deixou quantias para os escravizados. Mil réis para o cozinheiro, por exemplo. Deixou, assim, alguma estima aos que lhe serviram em sua vida. Para o historiador Marcelo, isso é importante porque não era comum na documentação da época.  Também o copeiro e as amas de leite das suas filhas foram gratificados. Esses são apenas alguns detalhes entre as várias informações que estão surgindo nas pesquisas.

A vida de uma casa pode trazer aspectos relativos a como as pessoas coexistiram no período da escravidão e de desigualdade. As relações de afeto e como as pessoas trabalharam dentro da casa podem contribuir para a compreensão histórica.

No quarto das crianças, por exemplo, além da descrição do ambiente foi colocado um texto sobre as amas de leite que atendiam às filhas da baronesa. Na cozinha, quem eram as cozinheiras, as copeiras, como eram as suas lidas, quais temperos usavam nas comidas. A influência da mão da mulher negra que mexia o tacho tem sua importância reconhecida.

 

Obras do museu devem ser finalizadas ainda neste mês

 

Espaços reconstituídos

O Museu da Baronesa tem 22 peças, dividido na parte que é aberta ao público e na parte que é usada para a administração, com as salas de conservação, direção e de documentação.

Marcelo informa que eles descobriram alguns anos atrás algumas fotos antigas na residência que sedia o Museu. Era uma casa com um salão de festas seguido pela garagem e outra construção com um telhado que tinha abas, portinhas e janelas. Tudo leva a crer, segundo os relatos dos descendentes que ainda estão vivos, que ali fosse uma senzala dos escravizados que cuidavam da casa: a copeira, cozinheira, engomadeira, passadeira e as amas de leite. Existia uma separação entre os escravos de dentro da casa, mais sofisticados, pois precisavam atender à residência, e os da lida externa, que cuidavam dos animais, hortas, jardinagem da chácara e de tudo em volta do prédio.

Onde atualmente é o escritório da administração, nos fundos do antigo salão de festas, sabe-se que havia quartinhos, em que ficavam os serviçais da casa até o período pós-abolição. Os historiadores imaginam que os escravos domésticos viviam nesta parte, disponíveis para atender o interior da casa.

Outras atividades

Também vêm sendo desenvolvidas palestras e encontros na primeira terça-feira de cada mês. O evento anual do Sopapo foi inspirado no músico Giba-Giba (1940-2014), nascido em Pelotas. Sopapo é o nome do tambor que os negros tocavam nas senzalas e charqueadas, que era feito com couro de boi e de cavalo com cascas de árvores. Eram os materiais que eles encontravam e que também eram vistos como uma forma de manter o contato com seus santos. O evento Sopapo, promovido pelo Museu, marca as atividades do ano, com feiras quilombolas, desfile de moda com temática africana, oficina de turbantes, etc.

 

Detalhes da arquitetura lembram história desde século 19

 

Rever o passado para futuro diferente

O pesquisador Marcelo coloca em questão se eram as sinhás que mexiam os tachos, e se as mulheres negras não tinham capacidade de fazer os doces, como alguns afirmam.  Há que se considerar que várias influências que vieram de Portugal mesclam-se às comidas de santo, aos temperos e à música de origem africana.

As peças do museu descrevem e levam as pessoas e, principalmente as crianças, a pensar sobre essa história. Um número enorme de visitantes são os pequenos de origem humilde da rede pública e um contingente expressivo de crianças negras. “Eles viam aquele monte de manequins brancos, com aquele monte de roupas, e não se enxergavam ali”, diz o historiador.

A partir das novas diretrizes, buscou-se permitir aos jovens enxergar a sua própria africanidade. A música, os temperos e os sabores espelham não simplesmente empregadas, mas mulheres dignas.

Contatos com o Museu podem ser feitos pelo Facebook e Instagram.

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