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Área de concentração e Linhas de pesquisa

HISTÓRIA: FRONTEIRAS E IDENTIDADES

A área de concentração do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas, é “Fronteiras e Identidades”. A noção de Fronteira não é considerada apenas como o espaço geográfico, ou seja, uma demarcação que divide um território do outro ou a divisão – a linha demarcatória – traçada nos mapas. É compreendida também em suas implicações culturais, sociais e políticas. A fronteira nos seus aspectos geográficos é um conceito caro ao Programa, dada sua localização: uma universidade em uma cidade próxima às áreas limítrofes do sul Brasil com o Uruguai e a Argentina, o que valoriza e vocaciona estudos fronteiriços. Mencionando apenas alguns aspectos, a condição de fronteira determinou as políticas da Coroa Portuguesa, no Extremo Sul do Brasil, para o estabelecimento dos povoados, freguesias, vilas e cidades. As disputas de fronteira condicionaram o componente militar, influenciaram o desenvolvimento da economia e da pecuária. A condição fronteiriça delineou o perfil da urbanização, encetou dinâmica própria de imigração, e trouxe interferências culturais das metrópoles platinas incomuns em outras regiões do país. Interessam também fronteiras geográficas de outras regiões e épocas. Associado à noção de fronteira geográfica, o PPGH igualmente considera a fronteira em seus demais aspectos: sociais, étnicos, culturais, imaginários, interdisciplinares, dentre outros. Exemplo: o estudo das fronteiras físicas permite examinar relações interculturais e negociações identitárias, entre fronteiras absolutamente permeáveis, em que diálogos e trocas culturais, assim como conflitos, são constantes, verificáveis através, entre outros, da cultura material, dos costumes, das relações linguísticas e da produção de imagens, bem como questões de gênero. Se o Programa possui uma relação clara e imediata com as fronteiras, inclusive na abrangência em que o conceito pode ser compreendido, igual aproximação ocorre com a outra temática que define, em conjunto com as Fronteiras, a sua área de concentração: Identidades. A discussão acerca do conceito de identidade, associado ao de fronteiras, além de ser útil para a discussão do presente das regiões envolvidas, também é válido para o seu passado. Embora marcado por guerras e dissensões, o entorno local também se alicerçou sobre a convivência e interpenetração de pessoas, ideias, culturas e costumes estabelecidos historicamente, de sorte que nas identidades fronteiriças, fronteira não é só o que separa, mas a ponte que coloca as diferenças em diálogo, em interação, gerando um novo hibridizado. O estudo dessas relações fronteiriças, suas consequências locais e a peculiar configuração identitária surgida nesta região podem trazer aportes ainda pouco conhecidos para os países envolvidos. Esses estudos encontram no PPGH uma área de concentração que fornece os mecanismos teóricos e metodológicos, assim como os recursos necessários ao seu desenvolvimento. O tema das identidades também é pensado a partir de suas variadas possibilidades de pesquisa e estudo. São relevantes as considerações sobre as identidades coletivas que se originam de uma diversidade de modos e lócus, mas que têm em comum o fato de constituírem formas de reação de comunidades ou grupos frente às situações vividas e a determinações políticas e econômicas. Nesse escopo, podem ser compreendidas pesquisas sobre a formação de identidades étnicas ou identidades relacionadas a grupos específicos (p. ex. profissionais, trabalhadores, sindicatos, classistas, elites, associações, partidos, grêmios, entre outros). Estudar as identidades possibilita compreender as formas de interação do indivíduo com a realidade que o cerca e com seus desejos e interesses, num todo mutável. Se as formas de definição e/ou autodefinição identitárias, individuais ou coletivas, podem se transformar ou mesmo variar, as identidades continuam buscando seu sentido nas interações múltiplas e cotidianas da sociedade. Na interface entre identidade e fronteiras, situa-se um campo teórico fundamental nos debates atuais, sobretudo de vertente pós-colonial, que dão conta das relações interculturais, em diversas instâncias, na sincronia e diacronia, para cuja compreensão podem se aplicar conceitos como aculturação, transculturação, hibridização, multiculturalismo, resistência, descolonização, “decolonização”, entre outros. A problemática das relações interculturais pode ser evidenciada em várias escalas, regiões e épocas. Nesta seara, na esteira do debate pós-moderno, as identidades não são entendidas como homogêneas, puras e estáveis, mas como múltiplas, instáveis e mesmo incoerentes, e em constante transformação.

 

LINHAS DE PESQUISA

 

ESTADO: ENTRE PODER, TENSÕES E AUTORITARISMO

Perpassada por reflexões concernentes a identidades e fronteiras, esta linha congrega estudos relacionados às distintas relações de poder que envolvem o Estado e seus múltiplos agentes e os demais setores da sociedade civil, dando ênfase tanto aos processos de formação, centralização, territorialização e as distintas faces do autoritarismo estatal, como também as tensões sociais e resistências. Entre seus temas de predileção, respeitantes ao Brasil e ao cone sul latino-americano, e com abertura para distintos recortes temporais e espaciais, destacam-se o estudo dos governos e das práticas autoritárias e ditatoriais e as suas consequentes resistências sociais e políticas, os processos de formação e burocratização dos Estados nacionais e as suas relações com as identidades regionais, os sistemas políticos e as instituições que disputam espaços no seu interior, o papel das elites políticas e administrativas e suas relações sociais com outras esferas de poder. Tais temáticas são suscetíveis a abordagens e enfoques variados, que podem abranger, entre outros, os estudos biográficos e prosopográficos, a história dos conceitos e das ideias políticas, o ensino de História, as políticas de memória e as identidades e culturas políticas diversas.

Docentes: Alessandra Gasparotto, Bruno Rotta Almeida, Charles Pereira Pennaforte, Edgar Ávila Gandra e Jonas Moreira Vargas


TRAJETÓRIAS: ENTRE IDENTIDADES, MEMÓRIA E CONFLITO SOCIAL

A linha de pesquisa tem como foco a análise das diferentes experiências e vivências dos agentes históricos, com ênfase no processo de construção dos sujeitos individuais ou coletivos, na interconexão entre fronteiras e identidades sociais. Tais experiências são entendidas em constante diálogo com o contexto, na dialética permanente de subordinação e resistência na construção das trajetórias individuais, da estrutura social e da significação cultural. A linha tem por objetos preferenciais as fronteiras socioculturais entre classes, grupos ou setores e seus mecanismos de integração e afirmação social e do indivíduo (seja a partir dos estudos de gênero, das minorias étnico-raciais, dos grupos migrantes, das comunidades indígenas, de movimentos sociais, entre outros). Interessam também temáticas que se vinculem aos mundos do trabalho, à educação, à saúde, à religião e à urbanização, especialmente aquelas que envolvam a formação e desenvolvimento das identidades dentro destes espaços. Estudos que abordem debates acerca de patrimônio cultural, memórias, oralidades, trajetórias individuais ou coletivas e relações sociais de dominação e resistência, também são temáticas que se trabalham nesta linha de pesquisa.

Docentes: Ana María Sosa González, Aristeu Elisandro Machado Lopes, Eliane Cristina Deckmann Fleck, Jonas Moreira Vargas, Lisiane Sias Manke, Lorena Almeida Gill, Márcia Janete Espig, Mauro Dillmann Tavares e Paulo Roberto Staudt Moreira


IMAGENS: ENTRE ICONOGRAFIA, CULTURA VISUAL E INTERMIDIALIDADE

Nas suas interfaces com problemáticas concernentes a identidades e fronteiras, esta linha tem como diretriz básica estudos transdisciplinares, derivados dos estudos sobre a cultura, em diferentes períodos históricos e espaços geográficos, que têm como base a cultura visual e textual. A abertura para novos saberes colocou o/a historiador/a em meio a uma zona de fronteira epistemológica entre, de um lado, a História, e, de outro, a Literatura, a Música e outras manifestações culturais e expressões imagéticas ou audiovisuais. Os principais eixos temáticos são Música, Literatura e Artes Visuais, investigados com um amplo leque de abordagens como: produção/recepção/difusão de produtos artísticos e suas relações de sociabilidade; práticas artísticas urbanas; práticas e ritos consagratórios da imagem; representações literárias, musicais e visuais; patrimônio imaterial e cultura material; cultura visual; estudos de iconologia e musicologia, estudos de intermidialidade. Todos estes campos colocam, portanto, problemas teóricos e metodológicos específicos, que abordados numa perspectiva transdisciplinar possibilitam um novo olhar sobre uma diversidade de fontes.

Docentes: Aristeu Elisandro Machado Lopes, Daniele Gallindo Gonçalves, Fábio Vergara Cerqueira e Larissa Patron Chaves


CULTURAS: ENTRE ENSINO, LINGUAGENS E FORMAÇÃO DE SENTIDOS

A linha agrega pesquisas que problematizam linguagens e formação de sentidos a partir de objetos de pesquisa histórica que apresentam reconhecidas relações entre História e Educação, e suas fronteiras, em diferentes contextos. Preferencialmente a partir de abordagens teóricas culturais, de caráter histórico, sociológico e antropológico, valorizam-se os campos que acionam as práticas e as representações, tais como as inúmeras possibilidades de pesquisa advindas do ensino de história, da história da educação, da educação patrimonial, da história do livro e da leitura e da história pública. A partir destes campos, abrem-se ilimitadas possibilidades temáticas, como a história ensinada em espaços escolares e não escolares, a produção e circulação de livros, as organizações curriculares, as religiosidades, os saberes históricos produzidos e divulgados em diferentes suportes, as experiências sociais de memória histórica, a cultura histórica socialmente compartilhada, os embates pelas narrativas do passado, entre outros. Todos estes exemplos temáticos podem merecer abordagens com diferentes orientações de caráter teórico-metodológico e historiográfico.

Docentes: Alessandra Gasparotto, Lisiane Sias Manke, Mauro Dillmann Tavares, Patrícia Weiduschadt e Wilian Junior Bonete

 

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