Prevenção da depressão em adolescentes escolares: explorando a aplicabilidade e efetividade de uma intervenção cognitivo-comportamental
A adolescência é uma fase vulnerável ao desenvolvimento de transtornos mentais, como a depressão, que afeta significativamente o bem-estar e o desenvolvimento dos jovens. Estima-se que metade dos problemas de saúde mental se inicie nesse período, sendo a depressão e a ansiedade as condições mais prevalentes.
A oferta de profissionais de saúde mental (especialmente Psicologia e Psiquiatria) é limitada no Brasil. O Rio Grande do Sul conta com cerca de 150.000 trabalhadores vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). No estado do Rio Grande do Sul, estima-se que haja cerca de 2.700 psicólogos e 680 médicos disponíveis para atender uma população de aproximadamente 11,2 milhões de habitantes. Isso representa, em média, 1 psicólogo para cada 4.170 pessoas e 1 médico para cada 16.670 pessoas.
Esses números evidenciam a necessidade de estratégias para ampliar o acesso aos serviços de saúde mental e médica, especialmente em regiões com menor cobertura profissional.
Neste cenário de restrição ao acesso a profissionais de saúde mental, intervenções à distância (telefone, internet ou aplicativos para smartphones) têm sido avaliadas nas últimas três décadas (arnberg2014, baumeister2014, carlbring2018, heber2017, johnson2016, lindefors2016, pasarelu2017, richards2015, sijbrandij2016, tursi2013, weisel2019, yang2018).
Há um conjunto robusto de evidências, especialmente em países de alta renda, indicando que intervenções à distância baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental são efetivas tanto na prevenção quanto na recuperação de transtornos depressivos e ansiosos (andersson2019, andrews2018, arnberg2014, bower2013, cuijpers1998, desilva2013, vanstraten2015, vanzoonen2014, yang2018).
Dada a escassez de serviços de saúde mental acessíveis, especialmente no ambiente escolar, a implementação de programas preventivos é essencial. Desta forma, o objetivo será avaliar a efetividade e aplicabilidade de um modelo de intervenção para prevenção da depressão, gratuito, de curta duração, de fácil implementação por não especialistas e potencialmente custo-efetivo para aplicação em larga escala. Para atingir este objetivo, o estudo está organizado em 4 fases.
- FASE 1: execução do mapeamento da rede socioassistencial, de saúde e de educação municipal.
- FASE 2: realização de estudo transversal de base escolar no município para rastreio de depressão e ansiedade em adolescentes (10–19 anos) da rede de ensino público e privado na cidade.
- FASE 3: ensaio controlado randomizado (ECR) para avaliar o efeito de duas intervenções (orientada e autoorientada) de psicoeducação, avaliação e automonitoramento de sintomas depressivos em adolescentes da população-alvo.
- FASE 4: devolução dos resultados em formato de capacitação para profissionais da educação das escolas participantes, bem como de ações preventivas e protetivas para a população-alvo.
Avaliar a aplicação e efetividade de uma intervenção cognitivo-comportamental (TCC) — gratuita, de curta duração, de fácil implementação por não especialistas e potencialmente custo-efetiva para aplicação em larga escala — na prevenção da depressão em adolescentes de 10 a 19 anos de escolas públicas em Pelotas, Rio Grande do Sul.
Trata-se de ensaio controlado randomizado unicego com adolescentes (10 a 19 anos) matriculados na rede pública urbana de Pelotas (RS). Os participantes serão estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio, desde que não apresentem deficiência impeditiva, risco de reprovação ou ausência de acesso à internet.
Na linha de base (FASE 2), serão coletados dados demográficos, socioeconômicos e de saúde mental. Posteriormente, na FASE 3, a elegibilidade para o ensaio será determinada com base na presença de sintomas depressivos leves ou moderados (PHQ-9), ausência de diagnóstico provável de transtornos depressivos graves, ausência de risco moderado/alto de suicídio, uso abusivo de substâncias e déficits cognitivos/comunicativos.
A avaliação dos desfechos primários será feita por meio do PHQ-9 para medir os sintomas depressivos. Também serão analisados os sintomas ansiosos, preocupações, insônia e a adesão à intervenção.
Adolescentes elegíveis serão randomizados em três grupos:
- Controle (sem intervenção). O grupo controle é essencial para avaliar a efetividade das estratégias propostas no estudo e isolar os efeitos específicos das intervenções.
- Intervenção orientada: sessão inicial por videochamada + seis sessões por telefone, conduzidas por psicólogos treinados.
- Intervenção autoorientada: mesmo conteúdo do grupo orientado, entregue via materiais escritos e audiovisuais, sem mediação profissional.
Ambas as intervenções são baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental.
Projeto aprovado pelo parecer 7.624.529, CAAE 87950025.3.0000.5313, no Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).