Curso de Psicologia Núcleo de Saúde Mental, Cognição e Comportamento Coordenação: Prof. Tiago Neuenfeld Munhoz
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Depressão materna e sua associação com desenvolvimento infantil, práticas parentais violentas e comportamentos agressivos em crianças brasileiras beneficiárias do Programa Bolsa Família (2018-2025)

Esta proposta se insere no contexto social de avaliação da população participante de programas sociais do governo brasileiro, como o Programa Bolsa Família (BPF) e Programa Criança Feliz (PCF). No Brasil, o Marco Legal da Primeira infância (2016)(1) estabelece que as políticas públicas deverão monitorar, coletar dados e avaliar periodicamente os elementos que constituem a oferta dos serviços/programas à criança. Contudo, o monitoramento do desenvolvimento na primeira infância, das práticas parentais e comportamentos violentos, em nível populacional, é desafio no Brasil e em vários países do mundo. Neste cenário, a avaliação do desenvolvimento da criança e da sua família com instrumentos adequados torna-se fundamental para atingir esse objetivo.

A depressão materna tem impacto negativo em diferentes aspectos do neurodesenvolvimento e saúde mental de crianças e adolescentes (2-6). Liu e colaboradores conduziram metanálise de 17 estudos para avaliar os efeitos de sintomas depressivos maternos no desenvolvimento cognitivo de crianças menores de sete anos (7). Sintomas depressivos maternos foram associados a redução de 0,25 desvios padrão (DP) nos escores de desenvolvimento cognitivo dos filhos. Outra revisão sistemática incluiu 73 estudos que avaliaram as consequências da depressão materna no desenvolvimento da linguagem, motor e cognitivo, além de aspectos socioemocionais e de saúde mental das crianças(3).

As práticas parentais (entendidas estratégias e técnicas utilizadas pelos pais e/ou cuidadores para cuidar, educar e possibilitar que os filhos se desenvolvam) tendem a ser mais violentas e menos afetivas em mães deprimidas (8). Estudos com filhos de mães deprimidas mostraram padrões de atividade cerebral semelhantes aos encontrados em adultos com depressão (9) (10). Ainda, práticas parentais violentas são um problema de saúde pública global. Mesmo havendo conhecimento sobre as repercussões causadas pela violência infantil e com a existência do ECA (11), o Brasil ainda apresenta altos índices de crianças em situação de vulnerabilidade social e expostos a violências (12). Exposição a grandes adversidades e traumas estão sob alto risco para alterações do curso típico do desenvolvimento, como presença de problemas emocionais, de saúde e escolares (13). Postula-se que histórico de violência na infância reprograma o sistema biológico de resposta ao estresse, podendo conferir risco à tomada de decisão impulsiva e de risco ao longo da vida, como envolvimento com drogas, comportamentos violentos e abandono escolar (14).

Com o potencial de agravar estes problemas, em março de 2020 foi decretada o estado de calamidade pública no Brasil devido a pandemia COVID-19 e diversos experts alertaram para a possibilidade de aumento de sintomas de ansiedade, estresse e depressão (15, 16) e de violência contra crianças e adolescentes (17, 18). Assim, o objetivo deste estudo é avaliar estes fenômenos antes, durante e após a pandemia de COVID-19.

 

Referências

 

  1. BRASIL. Lei 13.257 de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, a Lei no11. 770, de 9 de setembro de 2008, ea Lei no 12.662, de 5 de junho de 2012. In: Federal S, editor.
  2. Letourneau NL, Dennis CL, Cosic N, Linder J. The effect of perinatal depression treatment for mothers on parenting and child development: A systematic review. Depression and anxiety. 2017;34(10):928-66.
  3. Slomian J, Honvo G, Emonts P, Reginster JY, Bruyere O. Consequences of maternal postpartum depression: A systematic review of maternal and infant outcomes. Women’s health (London, England). 2019;15:1745506519844044.
  4. Woldeyohannes D, Tekalegn Y, Sahiledengle B, Ermias D. The Effect of Postpartum Depression on Infant Feeding Practice in Sub-Saharan African Countries: Systematic Review and Meta-analysis.
  5. Dadi AF, Miller ER, Mwanri L. Postnatal depression and its association with adverse infant health outcomes in low- and middle-income countries: a systematic review and meta-analysis. BMC Pregnancy Childbirth. 2020;20(1):416.
  6. Goodman SH, Simon HF, Shamblaw AL, Kim CY. Parenting as a Mediator of Associations between Depression in Mothers and Children’s Functioning: A Systematic Review and Meta-Analysis. Clinical Child and Family Psychology Review. 2020:1-34.
  7. Liu Y, Kaaya S, Chai J, McCoy DC, Surkan PJ, Black MM, et al. Maternal depressive symptoms and early childhood cognitive development: a meta-analysis. Psychological medicine. 2017;47(4):680-9.
  8. Lovejoy MC, Graczyk PA, O’Hare E, Neuman G. Maternal depression and parenting behavior: a meta-analytic review. Clinical psychology review. 2000;20(5):561-92.
  9. Dawson G, Frey K, Panagiotides H, Osterling J, Hessl D. Infants of depressed mothers exhibit atypical frontal brain activity: a replication and extension of previous findings. Journal of child psychology and psychiatry, and allied disciplines. 1997;38(2):179-86.
  10. Wen DJ, Soe NN, Sim LW, Sanmugam S, Kwek K, Chong YS, et al. Infant frontal EEG asymmetry in relation with postnatal maternal depression and parenting behavior. Translational psychiatry. 2017;7(3):e1057.
  11. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei federal. 1990;8.
  12. Hutz CS. Prevencao E Intervencao Em Situacoes de Risco: Casa do Psicólogo; 2007.
  13. Teicher MH, Samson JA, Anderson CM, Ohashi K. The effects of childhood maltreatment on brain structure, function and connectivity. Nature reviews neuroscience. 2016;17(10):652-66.
  14. Tyrka AR, Burgers DE, Philip NS, Price LH, Carpenter LL. The neurobiological correlates of childhood adversity and implications for treatment. Acta Psychiatrica Scandinavica. 2013;128(6):434-47.
  15. Kämpfen F, Kohler IV, Ciancio A, Bruine de Bruin W, Maurer J, Kohler H-P. Predictors of mental health during the Covid-19 pandemic in the US: Role of economic concerns, health worries and social distancing. PloS one. 2020;15(11):e0241895.
  16. Ettman CK, Abdalla SM, Cohen GH, Sampson L, Vivier PM, Galea S. Prevalence of depression symptoms in US adults before and during the COVID-19 pandemic. JAMA network open. 2020;3(9):e2019686-e.
  17. Marques ES, Moraes CLd, Hasselmann MH, Deslandes SF, Reichenheim ME. Violence against women, children, and adolescents during the COVID-19 pandemic: overview, contributing factors, and mitigating measures. Cadernos de saude publica. 2020;36:e00074420.
  18. Katz C, Priolo Filho SR, Korbin J, Bérubé A, Fouche A, Haffejee S, et al. Child maltreatment in the time of the COVID-19 pandemic: A proposed global framework on research, policy and practice. Child Abuse & Neglect. 2021;116:104824.
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