Um jogo de cavalheiros
Duas vezes por semana um grupo de amigos se junta para jogar Ping Pong em Pelotas e celebrar o que há de mais precioso, a amizade
Por Rafaela Stark
Nas segundas e sextas-feiras, um grupo de cavalheiros se encontram para jogar Ping Pong. Esse jogo centenário é originário da Inglaterra do século XIX, o ex-maratonista James Gibb o trouxe depois de conhecer a modalidade em uma viagem aos Estados Unidos. Já no Brasil, o esporte chegou por volta do ano de 1905, com imigrantes ingleses.
As reuniões para jogar são realizadas na casa de Seu Gilberto (64), conhecido entre os amigos como Estopa. O senhor começou a jogar Ping Pong há mais de 40 anos, abandonou o futebol e escolheu o esporte de mesa como seu passatempo favorito, por causa dos colegas de trabalho. Seu Estopa conta que iniciou o hobby com 2 amigos e uma mesa que ele mesmo construiu, tentou passar a paixão pelo esporte para o filho, mas infelizmente ele não seguiu os passos do pai.
Jogando com os amigos há 15 anos, Seu Paulo, o Trem, que pratica desde os 14 anos de idade, aos 71 ainda impressiona com sua habilidade. Passou seu apreço para o filho e para o genro Rodrigo, “Trenzinho”, que tem apenas 40 anos, mas acompanha o sogro às reuniões desde os 25.
O senhor Antônio Salton (73) também está no esporte há quase 60 anos, ele começou quando menino, já que na época era muito comum a existência de mesas de Ping Pong em clubes. Salton ressalta que o jogo “era muito popular na época, qualquer rua tinha uma sede”, além do mais, se tratava de uma atividade de baixo custo, algo que mudou nos dias de hoje.
“Uma bolinha hoje custa, em média, 4 reais, já foi mais barato, mas parou de ser tão popular pois não tem retorno financeiro como bilhar por exemplo. ” – Antônio Salton
A maioria dos integrantes do grupo jogam de maneira amadora, contudo, Seu Zemario (71) é um profissional com títulos. Campeão gaúcho de Ping Pong em 1975, frequenta regularmente o Campeonato Estadual de Ping Pong – RS, realizado em Porto Alegre. Zemario, apesar de já ter competido, sempre encarou o esporte como algo divertido, antiestresse e afirma que “O ping pong gaúcho é o que tem mais garra, dito pelos próprios dirigentes do ping pong no país”.
O encontro não é apenas para jogar, mas para desfrutar da companhia dos amigos, muitos se conhecem desde a infância e nunca perderam o contato. Estopa considera a turma como família. Além da diversão de jogar, os homens fazem jantares para complementar. Seu Gilberto não cobra nada para a manutenção da mesa ou bolinhas, mas pede por um valor simbólico para a janta.
“O Ping Pong é algo muito família, sempre que alguém chega todo mundo para de jogar para se cumprimentar. Nosso ping pong tem mais história que uma família. ” – Gilberto.
A idade não é algo que os limita, o grupo tem como membro Seu Adão, que aos 76 anos joga com muita vitalidade. Trem, Zemario e Salton fazem parte da ala mais velha e são adversários difíceis de serem vencidos. O time tem aproximadamente 50 integrantes, entretanto, as noites se limitam de 10 a 15 presentes. A pandemia os parou por um tempo, Estopa conta que precisaram deixar de se ver durante os períodos mais críticos, mas logo que se vacinaram, os cavalheiros voltaram com tudo.
Seu Gilberto lamenta que o esporte não seja contemplado pelos mais jovens. Ele já teve uma turma de adolescentes que ia até sua casa após a escola, passavam as tardes competindo entre si. Todavia, os meninos cresceram e seguiram suas vidas, depois deles, não houveram novos aprendizes.
Esses senhores mostram, através do divertimento, que não há idade para praticar um esporte, não há impedimentos físicos e nem sociais que os façam parar. Eles celebram a vida e a eterna criança que vive em cada um deles.