93 anos do voto feminino no Brasil convida à reflexão sobre conquistas e desafios
A luta pela representatividade feminina continua, destacando a importância da presença das mulheres nos espaços de poder e decisão.
Martha Cristina Melo / Em Pauta
Nesta segunda-feira (24), os 93 anos da conquista do voto feminino no Brasil foram celebrados enquanto um marco histórico que, para além do resultado de mais de 50 anos de mobilização e luta dos movimentos feministas, representou uma porta para que mulheres brasileiras ingressassem de forma ativa no processo democrático. Em 1932, o direito a escolher nossos representantes foi, finalmente, reconhecido. Entretanto, nove décadas depois, é necessário refletir acima dos desafios que persistem quando o assunto é política.
Muito mais do que um direito concedido, a conquista do voto feminio representou uma revolução. Uma força transformadora que demorou a ser reconhecida em sua totalidade. Se, por um lado, conquistamos reconhecimento e espaço enquanto seres politicamente ativos, por outro, mesmo depois de 93 anos, essa realidade ainda não traduz uma verdadeira inclusão política.
Presença feminina e desafios persistentes
Hoje, as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro, mais da metade da população que decide os rumos do país . De alguma forma, essa realidade não é proporcional ou condizente quando falamos em espaços de poder. Segundo dados do Ministério das Mulheres, das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, apenas 93 são ocupadas por mulheres (18%), e no Senado, das 81 vagas, apenas 16 são delas (19,8%). Em pleno século XXI, a política insiste em tratar as mulheres como uma minoria, embora sejamos mais da metade do eleitorado.
A ministra das mulheres e especialista em gênero, Cida Gonçalves, destaca, através de seu trabalho, a importância da presença feminina em espaços de decisão. “O olhar das mulheres é fundamental para a construção de uma sociedade justa e igualitária”, afirmou a Ministra no dia 24 de fevereiro. Para o Instagram, no mesmo dia, Cida destacou: “nós estamos nos espaços de poder e de trabalho, conquistando nosso direito (…) Depois de 93 anos de garantia do voto feminino, nós queremos paridade. Não queremos ‘cota’, não queremos esse tipo de favor e um financiamento de 30%. Queremos cadeiras para as mulheres. Democracia é com as mulheres participando”.

Cida Gonçalves, ministra das mulheres e especialista em gênero e violência contra a mulher. Foto: Fátima Meira/Futura Press/Em Pauta
A luta além do voto
A luta pela representatividade não se resume à quantidade de mulheres no Legislativo ou no Executivo. Ela também passa pela ampliação de políticas públicas voltadas para as cidadãs. A criação de Secretarias de Políticas para as Mulheres (SPMs) em estados e municípios, por exemplo, representa um movimento crescente que já soma mais de mil unidades no país, reflexo de como a estruturação de espaços dedicados à promoção da igualdade de gênero é fundamental para fortalecer a atuação das mulheres na sociedade.
A cada eleição, a cada ato de resistência, mulheres têm demonstrado que não são apenas eleitoras, mas protagonistas da transformação política que o Brasil tanto precisa. Contudo, é hora de refletir sobre o que precisa ser feito para que esse espaço conquistado não se limite apenas ao direito de votar, mas se amplie à nossa presença real e efetiva nos espaços de poder. Quando mulheres ocupam lugares estratégicos, quando suas vozes são ouvidas e suas pautas respeitadas, a democracia se torna mais verdadeira e justa.