Transfobia nos campus da UFPEL
Pichações e lambes transfóbicos foram encontradas nos banheiros e fachadas de três campus da UFPel, Anglo, Centro de Artes e Instituto de Ciências Humanas. Fontes que preferem não se identificar pedem por justiça. Universidade afirma que denúncias devem ser feitas
Por Eduarda R. Saraiva / Em Pauta
Nas fachadas, nos corredores e nos banheiros dos prédios da Universidade Federal de Pelotas é possível encontrar os mais diversos tipos de pichações, grafites e lambes. A universidade permite que estudantes se expressem e exponham seus pensamentos e ideias em suas paredes, no entanto há um grupo de alunos utilizando do espaço para perseguir e ofender alunes, alunos e alunas travestis e transexuais.
Fontes afirmam que um grupo de mulheres ligadas à vertente radical do feminismo são as mesmas que estão cometendo os atos de transfobia nos prédios da UFPEL, nas imagens abaixo é possível ver as paredes da fachada do Instituto de Ciências Humanas, os banheiros dos três andares do Centro de Artes e um banheiro do Campus Anglo.
Alunas da universidade afirmam que os discursos externalizados nas paredes reforçam o medo e estigmas já presentes a anos na sociedade pela população trans no Brasil. No país que mais mata travestis e transexuais no mundo, foram 131 assassinatos em 2022 de acordo com o Dossiê de Assassinatos e Violências Contra Pessoas Trans em 2022 divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).
De acordo com uma fonte que prefere não se identificar, os ataques já vão muito além das pichações já que “Na internet existem milhares perfis falsos que compartilham posts depreciativos e conspiratórios sobre pessoas trans”, através do twitter foi realizada uma denuncia anônima com o objetivo de trazer ciência a comunidade sobre o que estava acontecendo.
Olá, @UFPel, eu gostaria de saber se a universidade (que é para TODES) vai permitir esse tipo de pixação e lambe claramente transfóbicos na parte de DENTRO do Centro de Artes?
É isso que a UFPel acredita como valor forte o suficiente pra se ter nas paredes dos seus prédios? pic.twitter.com/T1GgJvbEbm
— ady (@ady_news) March 4, 2023
Através de uma conversa com outra fonte anônima sabe-se que há um movimento entre estudantes da instituição e que o caso está sendo levado à ouvidoria da UFPel, junto ao Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN). No dia 08 de março aconteceu uma manifestação contra a transfobia em frente ao Centro de Artes, em seguida uma passeata foi em direção ao Ato 8M para se juntar de forma pacífica.
Durante a manifestação, representantes do Coletivo Trans Existimos, alunas e ex-alunas transexuais e cis aliadas discursaram reinvindicando por respeito e que medidas fossem tomadas pela diretoria do centro e da universidade. As manifestantes afirmaram que somente para pessoas trans e travestis estarem na universidade já é uma luta e uma grande vitória, e pedem que a universidade auxilie na criação e manutenção de espaços seguros dentro da instituição.
No dia seguinte, 09 de março, o Conselho do Centro de Artes se pronunciou através das redes sociais, afirmando repudiar as mensagens de ódio escritas nos banheiros e informando que manifestações preconceituosas dentro do prédio serão fotografadas, enviadas a órgãos responsáveis e apagadas. Leia o pronunciamento na íntegra abaixo.
“Pronunciamento do Conselho do Centro de Artes
O Centro de Artes da UFPel vem a público manifestar seu repúdio às mensagens de ódio fixadas nos banheiros do CA nos últimos dias. Toda e qualquer manifestação de ódio e preconceito de qualquer natureza colocada nos banheiros e dependências do CA será fotografada, encaminhada aos setores responsáveis e apagada. Reforçamos nosso compromisso com o ensino público (de qualidade, gratuito), plural, inclusivo e diverso. Respeito, tolerância, diálogo e comunicação não-violenta e livre de discursos de ódio são pilares fundamentais em nossa compreensão de educação.”
O que diz a Universidade?
O Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN) da UFPel afirma que “Das inúmeras reuniões, com inúmeros(as) coletivos e pessoas, foi pensado, a nível de gestão central, uma abordagem do corpo docente das unidades envolvidas sobre a lida com a situação (atendimento, manejo e responsabilização), bem como a diferenciação institucional entre os conceitos de liberdade de expressão/ideologia e discurso de ódio/transfobia, estimulando as denúncias e a avaliação dos casos, bem como realizando uma campanha de informação e conscientização.”.
Como denunciar?
Casos de transfobia se enquadram como crimes de descriminação por orientação sexual e identidade de gênero e estão previstos na Lei do Crime Racial (7.716/1989) desde 2019. Dentro da Universidade Federal de Pelotas as denúncias podem ser feitas através da ouvidoria, junto ao NUGEN ou pelo Disque 100.