Setembro Amarelo conscientiza população sobre suicídio

Por: Lunara Duarte

No Brasil, a cada 100 mil pessoas, quase sete tiraram a própria vida em 2012, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS). A organização salienta que, para cada suicídio, podem ter acontecido mais de 20 tentativas malsucedidas, além de pessoas que cogitaram suicidar-se.

O Brasil apresenta uma taxa baixa de suicídios em comparação à Índia (30 casos em 100 mil habitantes), mas ainda assim é considerado um problema de saúde pública. Segundo a OMS, nove em cada dez casos poderiam ter sido evitados. Outro dado alarmante: o suicídio tem matado mais jovens no mundo do que o HIV. Algo estarrecedor.

Com o objetivo de quebrar o tabu sobre um dos temas mais controversos na nossa cultura, a fim de promover conscientização e prevenção, a campanha Setembro Amarelo reúne diversas associações desde 2014. Durante um mês, eventos abrem espaço para debates sobre suicídio. O mês foi escolhido devido ao dia 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. Ele foi trazido ao Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Alguns comportamentos, como deixar de sair com os amigos, demonstrar tristeza por um longo tempo ou ter oscilações significativas de humor, podem indicar que pessoas próximas necessitam de ajuda. Segundo a voluntária do CVV, Adriana Rizzo, família e amigos devem ponderar as críticas. “É preciso tentar enxergar o ponto de vista do outro, entender que todo mundo tem seus motivos para tomar uma decisão em determinado momento da vida”, explica. Também é importante ressaltar que a conversa não substitui o tratamento médico.

O livro O Que é Suicídio, de Roosevelt Cassorla, investiga as causas do suicídio e sua repercussão no âmbito social. Quando alguém comete suicídio, via de regra, acredita em uma continuidade extrafísica. No fundo, a intenção é acabar com a dor emocional, não dar cabo na própria vida. “O suicida não procura a morte, porque não sabe o que seja, mas sim está em busca de outra vida, fantasiada em sua mente. Essas fantasias comumente se encontram em nível inconsciente e, portanto, só podemos descobri-Ias por meios indiretos”, salientou o autor.

Mas algo intrigante nos veículos de comunicação é o fato de que, na maioria das vezes, os casos de suicídio não são noticiados, exceto quanto tratam-se de figuras públicas. De acordo com o jornalista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arthur Henrique Dapieve, a imprensa se silenciaria diante do tema para preservar os familiares da vítima, manter a privacidade e os motivos, além de impedir o suposto “efeito contagioso”, de incentivar suicidas em potencial a consumarem o ato. Entretanto, casos de violência extrema são amplamente divulgados, de maneira sensacionalista, sem que haja essa preocupação, evidenciando a peculiaridade do suicídio.

A imprensa precisa desmistificar o suicídio, não só em um mês específico. Isso ajudará familiares a lidar com a perda de um ente querido que se suicidou, a entender como fatores externos podem levar alguém ao suicídio, assim como orientar pessoas que pretendem praticar atos contra a própria vida. Há, portanto, um tabu em relação ao suicídio em todas as esferas da nossa sociedade. Tirar a própria vida é considerado um ato de transgressão imperdoável, ao ponto de nem merecer ser noticiado. Mas mais do que nunca precisamos falar sobre suicídio. E, principalmente, sobre as suas motivações. O centro CVV oferece apoio online no site, pelo telefone 141, via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). O atendimento é feito por voluntário anônimos treinados e a conversa é anônima.

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