Sem apoio do poder público, Mental Tchê debate saúde mental com arte e música em São Lourenço

Por Gabriela Schmalfuss Borges

    Com mais de 1.000 participantes, o denominado “Mental Tchê da Resistência” proporcionou um espaço repleto de afeto, arte e cultura durante o último sábado (27), em São Lourenço do Sul, no salão de eventos da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB).

   Diferentemente dos outros anos, a 13ª edição não contou com o apoio da Prefeitura Municipal, que alegou dificuldades financeiras para a realização do evento. Com a negativa do poder público, órgãos como o Fórum Gaúcho de Saúde Mental, o Conselho Regional de Psicologia, o Coletivo Gaúcho de Residentes da Saúde e a Associação dos Usuários de Serviço de Saúde Mental de Pelotas, organizaram-se na busca de meios alternativos para a sua execução. A decisão ocorreu com o objetivo de estabelecer uma resistência, que visa combater os retrocessos enfrentados atualmente por ações ligadas à saúde mental.

(foto: Pricilla Farina Soares)

    De acordo com os organizadores, foi pedido para que a Prefeitura de São Lourenço cedesse o Galpão Crioulo da cidade para a realização das atividades e as entidades parceiras financiariam os outros custos, porém a solicitação foi negada. Em decreto publicado no dia 19 de maio (nº 4.631), a Prefeitura afirma que o evento é oficial do município, transferindo a 13º edição do Mental Tchê para o mês de maio de 2018. A partir de uma nota publicada em seu perfil oficial, a gestão também declara que desconhece qualquer pedido de autorização e/ou concessão de uso do nome oficial, bem como do logotipo de identificação do evento.

   O aluguel do salão de eventos da AABB foi bancado então pelo Conselho Regional de Psicologia. Esforços também viabilizaram o aluguel de ônibus, que permitiram que cerca de 1,2 mil pessoas acompanhassem os diversos debates e apresentações culturais realizados durante a manhã e a tarde. Os 700 certificados que deveriam ser entregues aos participantes logo se esgotaram. “Nunca imaginávamos a proporção que ia tomar”, afirma Jessica D’Ornellas, uma das organizadoras da atividade. Segundo a estudante, a expectativa de público era de apenas 600 pessoas.

    Criado em 2005, o Mental Tchê é reconhecido como referência na luta antimanicomial no Brasil e visa chamar atenção ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado no dia 18 de maio. O evento é realizado em São Lourenço do Sul desde a sua primeira edição. A cidade se destaca pela adoção de políticas substitutivas aos manicômios ainda nos anos 80, sendo responsável pela criação do segundo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil, atrás apenas de São Paulo.

     Chamou atenção a grande presença de usuários da rede de saúde mental, que mesmo com as dificuldades para a realização do evento, deslocaram-se de cerca de quinze municípios do Rio Grande do Sul para participar. A ação é o principal encontro entre eles e os profissionais da área no Estado.

   “O evento foi muito importante porque mais do que qualquer coisa, ele foi construído pelos usuários e pelos trabalhadores da saúde mental. Quando a gente fala em saúde mental e em luta antimanicomial, a construção coletiva é o mais importante, porque a gente está falando de um segmento da população e de uma pauta que ainda é muito renegada, apesar de ter uma série de legislações e uma série de políticas em relação a isso”, afirma a psicóloga Manuele Araldi, integrante do Conselho Regional de Psicologia.

   As discussões promovidas foram baseadas em oito eixos temáticos, como gênero e diversidade na saúde mental, o sofrimento mental do negro e o controle social na saúde mental.

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