Sabedoria e Resistência: Bibliotheca Pública Pelotense é sede de atividades culturais em homenagem ao Abril Indígena
O evento foi organizado pelo Núcleo de Etnologia Ameríndia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), juntamente com o curso de Bacharelado em Antropologia da UFPel e o Museu da Bibliotheca Pública Pelotense
Por Maria Rita Rolim / Em Pauta
Durante o período de 10 a 28 de abril a Bibliotheca Pública Pelotense, estará aberta para a visitação de exposições de artesanatos indígenas das comunidades Kaingang e Mbyá Guarani, além de visitas guiadas para escolas, mostras de filmes etnográficos e músicas, rodas de conversa com indígenas e oficinas de conto de histórias. O principal objetivo do evento é quebrar estereótipos e informar a população sobre a importância da cultura dos povos indígenas para a contemporaneidade.
A aluna Isabel Vargas, graduanda em antropologia e parte da organização do evento, enfatizou a importância de ocupar espaços como a Bibliotheca Pública Pelotense: “Ocupar um lugar que até pouco tempo atrás era exclusivo de uma elite branca, um lugar historicamente dedicado a elite pelotense, quando se tem a Semana dos Povos Indígenas é um momento em que as pessoas quando entrarem aqui vão ter acesso a população indígena, com eles contando suas histórias e não através da televisão ou de personagens estereotipados”.
Janaína Rangel, Museóloga da Bibliotheca Pelotense, afirmou que a primeira edição do evento foi realizado em 2019, mas devido à pandemia, não foi possível continuar realizando-a. No entanto, em 2023, o projeto foi retomado ainda mais forte. Segundo Janaína, é muito importante que a Bibliotheca receba a cultura e a sabedoria das comunidades indígenas. O evento também oferece a oportunidade de trabalhar com crianças em idade escolar e mostrar respeito e apreço pelas comunidades indígenas.
Igualdade disfarçada de apagamento
O dia 19 de abril, por muitos anos foi reconhecido como “Dia do Índio”, porém em 2022, a partir da aprovação do PL 5.466/2019, houve a mudança para “Dia dos Povos Indígenas” como o objetivo de ressaltar a diversidade da cultura dos povos originários e também não incentivar o uso do termo “índio”, o qual alimenta estereótipos e descriminação.
Para a Cacique Talcira Yva’i Gomes da Aldeia Tekoa Para Rõkë, o dia 19 de abril é um dia de dor, que simboliza a perda de antepassados que lutaram e sofreram por seus territórios, e ainda hoje sente medo pelas próximas gerações: “O dia do Índio é uma data muito triste, nosso dia é todos os dias, mas essa data marca a morte das nossas lideranças. Eu sinto isso pelos meus filhos que são indígenas, fazem faculdade, eu tenho medo por que sei que ao mesmo tempo em que eles estão estudando eles também estão correndo perigo, é muita tristeza como mãe e liderança, mas ao mesmo tempo eu aconselho a eles para se cuidarem e se protegerem sempre”.
O estudante de odontologia da UFPEL Marcelo Campolim indígena da etnia Kaingang, apontou a dificuldade dos estudantes indígenas dentro da universidade, tendo que lidar diariamente com a descriminação e falta de visibilidade: “Esse dia 19 de abril a gente não comemora, a gente aperfeiçoa nossa luta, contra a retirada dos nossos direitos, territoriais e culturais. Nós indígenas aqui da Universidade Federal de Pelotas, somos muito invisibilizados, a universidade dependendo do curso que o indígena está cursando, os professores e até o colegiado não sabem que tem um aluno indigena, nós queremos visibilidade dentro da universidade, então nós estudantes indígenas nós estamos nos unindo para reivindicar nossos direitos”.
No dia 19 de abril a escola da comunidade Kaingang estava visitando o espaço da Bibliotheca Pública Pelotense, Marcos Krehe da etnia Kaingang é professor dentro da aldeia, explica a importância de sua profissão dentro da sua comunidade, um professor indígena dentro da escola para crianças indígenas busca a preservação cultural, o modo de ser, a fala, a questão das marcas, dos artesanatos comercializados. Ele também destacou a importância da data como símbolo de resistência e oportunidade de mostrar que os povos indígenas estão presentes em vários espaços.