O Menino que Matou Meus Pais e A Menina que Matou os Pais

 

Divulgação / Em Pauta

Por Carol Pinho / Em Pauta

Toda história tem duas verdades, ou duas versões. Ao abordar um dos crimes mais famosos do Brasil, explorando o ponto de vista individual dos dois protagonistas do crime, Maurício Eça produziu dois filmes: A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais. Ambos foram lançados no dia 24 na Amazon Prime Video, e falam sobre o caso Richthofen. Os dois filmes são baseados nos depoimentos dados por Suzane Von Richthofen e Daniel Cravinhos durante o processo.

Todo mundo sabe o que aconteceu na noite de 31 de outubro de 2002: Simone abriu a casa para seu namorado e seu cunhado, e esperou na sala enquanto os dois assassinavam os seus pais, que estavam dormindo. Ao contar uma história já conhecida pela maioria dos brasileiros, sem trazer nenhuma novidade sobre o caso, a graça dos filmes está justamente no fato de eles se contradizerem e, ao mesmo tempo, se complementarem. 

Tanto Suzane como Daniel já haviam confessado o crime no momento em que ocorreram os depoimentos, logo, os filmes não os retratam tentando negar o que fizeram, mas sim tentando explicar o porquê fizeram. De acordo com Daniel, Suzane era descontrolada, abusada pelo pai e nutria uma raiva intensa pela família. Enquanto que, de acordo com Suzane, Daniel era um namorado abusivo que se aproveitava de seu dinheiro, e arquitetou a morte dos pais dela para ficar com a herança da família. 

Os filmes desafiam o espectador a escolher qual lado acreditar, e a analisar quem parece estar falando a verdade. Ou melhor, quem parece estar mentindo menos. Em A Menina que Matou os Pais nós conhecemos Daniel (Leonardo Bittencourt), um jovem de família simples que se destaca como aeromodelista. Logo no início do filme ele conhece a família Von Richthofen quando Marísia (Vera Zimmermann), mãe de Suzane (Carla Diaz), o contrata para ser instrutor de seu filho, Andreas. Daniel logo se apaixona por Suzane, e como um bom jovem apaixonado, a insere em sua vida de todas as formas possíveis, e busca se inserir na dela também. Vemos Daniel fazer o possível para que os pais de Suzane gostem dele, sendo paciente e modesto. Enquanto isso, vemos Suzane tendo momentos de descontrole emocional e surtos de raiva. Na versão de Daniel, Suzane não apenas não se da bem com seus pais, mas também sofre abusos do pai.

Enquanto isso, em O Menino que Matou Meus Pais nós vemos um filme completamente diferente, em que Suzane começa a namorar Daniel, um homem que logo no início do namoro já demonstra ser abusivo e possessivo. Segundo Suzane, Daniel a incentivava a matar aula, mentir para os pais, e a força a fumar maconha. Nessa versão da história nós conhecemos uma Suzane muito mais próxima dos pais, que parecia se sentir culpada ao mentir, mas o fazia por amor e chantagem emocional de Daniel. 

Antes de assistir, imaginei que algumas cenas seriam “recicladas”, e utilizadas novamente em ambos os filmes. Porém, ao comparar cenas banais, foi possível notar diferenças nos menores detalhes. Na noite em que Suzane e Daniel têm relações pela primeira vez, por exemplo, na lembrança de Daniel ele está com uma toalha branca, enquanto que na de Suzane ele estava com uma toalha preta. Na versão de Suzane, na primeira vez que ela vai à casa de Daniel, os pais dele a oferecem cerveja. Enquanto que na versão de Daniel oferecem refrigerante.

Afinal de contas, ao trazer à tona um crime chocante que até hoje causa inquietação, o destaque dos filmes se encontra nas nuances e diferenças que existem entre eles. Eles destacam o fato de que uma história possui duas versões, e que as nossas lembranças são distorcidas pelo que nos preferimos lembrar.

Se você está assistindo com o intuito de aprender mais sobre o caso, os filmes não são para você. Eles não se aprofundam em provas ou detalhes a respeito do crime. Aliás, o crime só acontece nos últimos momentos do filme e, logo em seguida, ele termina. O foco é justamente tentar justificar, sob a perspectiva de ambos, a motivação para o homicídio. 

Os filmes foram dirigidos por Maurício Eça, e contaram com o roteiro da criminóloga Ilana Casoy e do escritor Raphael Montes. Além disso, Carla Diaz, fazendo o papel de Suzane, recebeu inúmeras críticas positivas a respeito de sua atuação, ao lado de Leonardo Bittencourt, que interpretou Daniel. 

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