Racismo nos estádios: Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de casos

10 casos de discriminação racial em estádios gaúchos foram noticiados pela mídia em 2017. Imagem: FGF/Reprodução

Por Roger Vilela

De acordo com o “Relatório Anual da Discriminação no Futebol”, divulgado em 29 de novembro, o Rio Grande do Sul, no ano de 2017, concentrou a maior número de casos de racismo ocorridos em estádios brasileiros. Dos 29 casos monitorados pela pesquisa, 10 aconteceram no estado. Rio de Janeiro e Bahia vêm logo em seguida, com três episódios cada.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Museu da UFRGS) em parceria com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Para a realização do relatório foram levados em consideração casos de discriminação racial noticiados nos veículos de comunicação entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2017. Os resultados são descritos como “supostos casos de racismo”, sem a distinção entre racismo e injúria racial, como faz a legislação brasileira.

Em quatro anos de análise, essa é a terceira vez que o estado lidera a pesquisa. Apenas em 2016, ano que registrou dois casos, o Rio Grande do Sul não ficou na primeira posição. Além dos 29 incidentes raciais ocorridos em estádios, 11 foram registrados na internet e três em outros espaços, por exemplo, em uma transmissão ao vivo na TV e na sede da Federação Paraibana de Futebol.

Um dos casos monitorados pelo estudo aconteceu na cidade de Pelotas, em 24 de abril de 2017, durante a partida entre o Esporte Clube Pelotas e o Clube Esportivo Aimoré, pela divisão de acesso do Campeonato Gaúcho. No ocorrido, o massagista do Aimoré, Paulo Renato Torres, relatou que foi chamado de “negrão” e “macaco” por um homem uniformizado com as cores da equipe pelotense. O agressor foi identificado e detido pela Brigada Militar. Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Pelotas. Segundo o relatório, não foram encontradas informações sobre o andamento do processo.

Outros casos de racismo no futebol gaúcho em 2017:

  • 8 de fevereiro de 2017: Inter x Fluminense – Primeira Liga – O senegalês Khalifa Ababacar, que aguardava pacificamente os jogadores para pedir autógrafos, foi expulso por seguranças do Sport Club Internacional do estacionamento do Beira-Rio. Os seguranças agiram de forma bruta. O ato foi considerado racista e preconceituoso por testemunhas. O senegalês prestou queixa no dia seguinte e registrou Boletim de Ocorrência.
  • 4 de março de 2017: Grêmio x Inter – Campeonato Gaúcho –  Um torcedor gremista é gravado imitando um macaco para a torcida colorada. A Promotoria do Torcedor do Ministério Público pediu as imagens para analisar o caso e formalizou um acordo com o torcedor que ficou impedido de ir ao estádio por um período de dois meses.
  • 8 de abril de 2017: Novo Hamburgo x São José – Campeonato Gaúcho – Um torcedor insultou o zagueiro Wágner, do São José, o chamando de “macaco”. O jogador registrou Boletim de Ocorrência. O Novo Hamburgo foi condenado em primeira estância a pagar uma multa estipulada em R$ 6 mil reais. O clube recorreu e o sentença final foi por sua absolvição.
  • 16 de abril de 2017: Inter x Caxias – Campeonato Gaúcho – Um funcionário do Beira-Rio impediu um torcedor de passar por pela área que supervisionava e foi insultado. No posto do Juizado do Torcedor no estádio, houve renúncia à representação criminal. As partes chegaram a acordo e o acusado se responsabilizou em pagar R$ 500,00 (em duas parcelas) ao ofendido.
  • 10 de maio de 2017: TAC x Elite – Segunda divisão do Campeonato Gaúcho – O jogador Kaue Vieira, do Três Passos Atlético Clube (TAC), alegou que foi xingado por um atleta do Elite Clube Esportivo. O caso foi registrado na súmula da partida. Após o jogo, ainda no estádio, o atleta registrou Boletim de Ocorrência junta a Brigada Militar.
  • 11 de junho de 2017: Avenida x São Luiz – Série A2 do Campeonato Gaúcho – O atacante Léo Pinheiro, do São Luiz, foi chamado de “macaco” por torcedores da equipe rival. O jogador decidiu não registrar Boletim de Ocorrência.
  • 20 de agosto de 2017: Novo Mundo x Sapucaiense – Campeonato Gaúcho Feminino – Uma atleta da equipe do Sapucaiense afirmou em uma rede social que insultos raciais foram proferidos pela torcida do Novo Mundo durante a partida. A postagem da jogadora não foi identificada pelo estudo. Os insultos relatados também não foram confirmados.
  • 20 de agosto de 2017: Sete de Setembro x Rudibar – Campeonato Regional Aslivata – O jogador da equipe visitante, Jeferson Quaresma Correia, durante o jogo foi chamado de “macaco” por torcedores do time da casa. A vítima registrou Boletim de Ocorrência. Segundo a Associação de Ligas do Vale do Taquari (Aslivata), o Sete de Setembro foi punido com perda de pontos.
  • 24 de setembro de 2017: Guarani Mirin x Asespe – Campeonato Regional da Aslivata – Um jogador de 17 anos do Guarani foi chamado de “macaco” pela mãe de um dos jogadores do Asespe.  O pai da vítima identificou a agressora e registrou a ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado.

Comentários

comments

Você pode gostar...