Projeto Comunica Saúde leva prevenção em saúde e enfermagem para a comunidade surda pelotense
Por Nathianni Gomes
Com uma população de aproximadamente mil surdos, a cidade de Pelotas ainda deixa a desejar no atendimento de saúde a esse grupo social. No Sistema Único de Saúde (SUS), que inclui as Unidades Básicas de Saúde (UBS), UPA e Pronto Socorro, são destacados ruídos de comunicação e negligência em atendimentos.
A partir da percepção dessas dificuldades, a professora do curso de Enfermagem da UFPel Michele Oliveira e os docentes Aline Kaster e Maiquel Cristian Fetter, do Núcleo de Língua Brasileira de Sinais do Centro de Letras e Comunicação, começaram a agir em prol da conscientização de saúde para surdos.
A parceria entre a Faculdade de Enfermagem e o Núcleo de Libras possibilitou a abertura da disciplina de Libras para alunos da área da saúde e a criação do projeto de extensão Comunica Saúde. O projeto visa conscientizar surdos para assuntos de saúde, como hipertensão, prevenção de DSTs, e de campanhas, como Outubro Rosa, contra o câncer de mama, e Novembro Azul, contra o câncer de próstata.
O projeto Comunica Saúde
O projeto de extensão está em fase inicial e compondo materiais visuais para auxiliar na comunicação conscientização, como vídeos em libras, composto de diálogos e respostas, de acordo com a ação de saúde abordada.
De acordo com Valeria Coimbra, professora da Enfermagem, os alunos, a partir da disciplina de Libras, começaram a ver o atendimento de outra maneira. “Nós, da Enfermagem, que fazemos o primeiro atendimento no PS, nas UBS. Trabalhamos com sigilo e privacidade quando se trata de saúde e gostaríamos que nossos alunos fizessem essa discussão tão importante”, conta.
“Muitas vezes, em atendimentos, os médicos acham que nós surdos estamos agitados por um problema externo e nos dão calmantes. Mas ficamos agitados principalmente por causa da comunicação”, explica o professor do Núcleo de Libras, Fabiano Rosa. “Parece que a área da saúde esquece um pouco dos surdos. Encontrar médicos que sabem Libras é raro”, destaca.
Leis e decretos
De acordo com o Decreto da Câmara dos Deputados (Nº 5626/2005), a Libras deve ser inserida como disciplina curricular em cursos de licenciatura, magistério e de Fonoaudiologia. Atualmente, é obrigatória a disciplina também no curso de Farmácia. Apesar de alguns avanços na área de educação de surdos, no campo da saúde ainda ocorrem problemas sérios.
Em uma busca nos planos de saúde municipal e diretrizes de atenção básica em saúde municipais no site da Prefeitura de Pelotas, é possível observar a falta de inclusão da pauta dos surdos. “Em visitas com o projeto à escola Alfredo Dub e à Associação de Surdos de Pelotas, observamos pessoas com idade avançada que não haviam realizado exames importantes, como mamografia e papanicolau”, observa Michele.
Atendimento e graduação de agentes de saúde
A questão essencial do projeto e do envolvimento dos professores da Enfermagem e do Núcleo de Libras é como realizar atendimentos de forma mais autônoma e inclusiva. “Em 2005, em uma disciplina de Libras para adultos, convidei uma enfermeira para conversar com os alunos. Eles aprenderam sobre uso de preservativos e prevenção de DSTs, muitos aos 50 anos de idade”, relembra Ivana Silva, professora do Núcleo de Libras.
As ações que compõe o projeto Comunica Saúde destacam a necessidade de inclusão da pauta dos surdos nas graduações da área da saúde, o que ainda é de difícil acesso e gera consequências no atendimento a população.
A intenção da Coordenação da Enfermagem é de criar disciplinas de Libras e incluí-las no Projeto Pedagógico do Curso. Em reunião na tarde de quinta-feira (14), coordenações e direções de ambos os cursos reuniram-se para discutir a possibilidade de criação de uma disciplina de Libras em Saúde, que deverá ser debatida no próximo ano e organizada para implementação em breve.