Pró-Cultura de Pelotas financia os humores de Ian Ramil
Por Juliana Santos e Emmanuelle Schiavon
O músico filho de Vitor Ramil lança seu primeiro disco intitulado “Ian” em apresentações no estado e já tem datas marcadas fora do País
Ele estava nas letras da banda porto alegrense Apanhador só, no último disco do pai Vitor Ramil e até na telinha da Band, em 2010. Ian Ramil chegou na nossa casa tímido, diferente daquele cara do show de lançamento do disco em Pelotas. O Pró-Cultura, recurso que incentiva a cultura da cidade de Pelotas, aprovou o projeto de gravação do primeiro disco do cantor e agradou noticiários de cultura do País.
Como retorno à comunidade, atividade exigida pelo pró-cultura, Ian e alguns dos envolvidos na gravação do disco realizaram uma audição comentada aberta e gratuita aos pelotenses. No Casarão 6 da Praça Coronel Pedro Osório o público formulou perguntas e os músicos receberam o feedback do trabalho. Lançado pelo selo Escapula Records, que está começando na cidade de Pelotas, o trabalho conta com o “presidente mão direita” de Ian, Lauro Maia.
O disco
É uma balada, um sopro, um blues. É o suplício da melodia com a letra que não te deixa em paz, implorando a próxima faixa. As diversas quebras harmônicas te surpreendem e o espectro de variedades de ritmo se sustenta nas composições de Ian. Segue o Bloco, primeira faixa do álbum, literalmente abre alas para a carreira do “filho de peixe”, que a tudo indica, só decolará. A canção, escrita no Rio de Janeiro em época de carnaval, é pura ironia com melancolismo; “Segue o bloco, essa multidão sou eu”, diz o refrão.
O cantor diz que as quebras são uma das coisas que mais lhe agrada no disco, que nele está presente toda uma contraditoriedade: “Somos meio que bipolares, somos uma geração cheia de informação, uma hora tu te sentes de um jeito, outra hora de outro. Tu estás feliz, tu estás triste. Esse disco se identifica com esses humores.”
O lançamento traz canções antigas de Ian, algumas já disponibilizadas na internet em versão demo. A quarta faixa, Pelicano, é a composição mais antiga. Rota, música que encerra o disco, é a mais atual e foi composta por Ian em parceria com vocalista da Apanhador só, Alexandre Kumpinski (também estando presente no último disco da banda, escute aqui a versão). Questionado sobre a internet na propagação da música, Ian comenta que ela só tem a acrescentar: “Acho uma ferramenta fantástica. Ela possibilita que a tua música chegue em lugares que tu não podia imaginar tão facilmente”.
Baixe o disco gratuitamente no site do cantor.
Gravação
O disco foi estudado e gravado na Argentina e Ian conheceu os músicos minutos antes da primeira gravação. Alguns arranjos presentes no disco foram inspirados nas primeiras versões das músicas, outros foram agregados pelas ideias dos músicos argentinos, que muito tinham a acrescentar.
Os metais como sax barítono, tuba, trombone, trompete e clarinete estão presentes em todas as canções. O cantor contou, em entrevista a Rádio Federal FM, que houve uma troca de olhares quando os músicos responsáveis pelos sopros começaram a tocar. “Ninguém conseguia parar de sorrir, foi fantástico”, lembra. Nos shows a banda faz uma adaptação com trombone e trompete.
Federal Revista – 23-05-2014 – p.2 (Ian Ramil) by Radiofederalfm on Mixcloud
Ao vivo
Ian vem realizado diversos shows no estado. As estreias em Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre o impulsionaram agora para do País. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, foram realizados três shows no mês de junho. Novas datas internacionais do cantor, marcam Colômbia, Uruguai, Peru e Argentina como destino.
O show de estreia do disco ocorreu em Pelotas e confirmou o que o CD já apresentava. Músicas fortes e aparentemente contraditórias que, ao longo do espetáculo, foram se misturando e demonstrando um pouco da personalidade do músico. Em uma atmosfera intimista, o Spazio Auguri apresentou as multicoloridas sensações que se podem ter ao ouvir o álbum. O local escolhido comportou as pessoas que desejavam assistir o show, lotando a casa, e ainda dando a ideia de proximidade, já que o lugar do público se localizava à mesma altura da banda.
Apesar dos pequenos problemas técnicos, como um microfone não funcionando, ou um violão que já não tocava mais tão alto, o espetáculo ocorreu sem grandes problemas, agrandando o público presente. Esses momentos de falhas foram aproveitados para contar um pouco mais da trajetória do CD e uma dedicatória especial para as avós de Ian “Hoje é aniversário da minha avó Dalva, 88 anos. Quero dedicar esse show a ela. Na verdade, quero dedicar para as minhas duas avós, assim nenhuma fica com ciúme”, brincou.
O filho de Vitor Ramil conseguiu transmitir as músicas com emoção. Isabela Nogueira, estudante de jornalismo que compareceu ao evento, comentou: “gostei ainda mais das músicas agora que escutei ao vivo”. A banda, composta por Felipe Zancanaro na guitarra, Martin Estevez na bateria, Guilherme Ceron no baixo, Pedro Dom no clarinete e teclado, Julio Rizzo no trombone e Jaime Freiberger no trompete, apresentou todas as músicas do disco e algumas que não estão presentes no disco. Ainda houve a participação especial de Gutcha Ramil no violino, nas faixas Seis Patinhos e Imã Ralo.
O show terminou em pizza, feitas pela tia do músico e apreciadas por quem compareceu. A roda de conversa na sacada ou nas mesas perto da copa encerram a noite, dando a oportunidade de conversar sobre a música, cerveja ou pizza.