O verdadeiro multiverso da loucura

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é mais um filme que traz como pano de fundo a temática do multiverso, já tão explorada por outras obras, como o Universo Cinematográfico da Marvel. 

Por Jaime Lucas Mattos

Pôster nacional do filme / Foto: Divulgação/Diamond Films Brasil

A temática do multiverso vem aparecendo com mais frequência nas produções cinematográficas e televisivas. “Rick and Morty”, “Homem-Aranha no Aranhaverso” e o recente “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” são alguns exemplos. Este último, aliás, recebeu muitas críticas do público por vender uma ideia que não necessariamente se concretizou na tela. O público esperava muito mais loucura e muito mais multiverso.

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é o real “multiverso da loucura”, trazendo uma narrativa cheia de elementos malucos ao longo de diferentes universos que abrem um leque de infinitas possibilidades para o filme.

Cena em que uma versão de Waymond (Ke Huy Quan) se corta com um papel para acessar outro universo / Foto: Divulgação/A24 Films

Em “Tudo em Todo o Lugar”, acompanhamos a história de Evelyn Wang (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa morando nos EUA, que tem uma vida sobrecarregada e medíocre. Dona de uma lavanderia em crise financeira, Evelyn começa a perceber a vida medíocre na que está vivendo, com um relacionamento familiar que não a  agrada mais, tendo a filha quase como uma inimiga e o marido buscando um processo de divórcio. No entanto, quando uma versão do seu marido de outro universo aparece em sua vida em um momento inoportuno, sua vida entra em uma espiral de loucura imprevisível que dá uma nova perspectiva a sua existência.

O filme abraça a loucura e se permite ser absurdo. Cenas malucas vão desde coisas meramente estranhas, como uma pessoa voluntariamente mascando maquiagem ou se cortando com papel, até situações que desafiam a realidade em que vivemos, como pessoas com “dedos de salsicha”. Muitas dessas “bizarrices” permitem que os personagens acessem seus “eus” de outros universos.

A Evelyn Wang (Michelle Yeoh) com “dedos de salsicha” / Foto: Divulgação/A24 Films

Além disso, sua proposta permite que o filme caminhe por diversos gêneros cinematográficos. Ao início, somos apresentados a um drama familiar, mas ao longo do filme passeamos por diversos gêneros, como a comédia, a aventura, a ação (que nos entrega cenas espetaculares dignas de filmes de artes marciais), entre outros. Apesar de ter a ficção científica também como uma de suas bases, o fio condutor da trama nos leva a um drama familiar que permite um desenvolvimento de personagens muito bem construído. Não é um filme apenas sobre multiverso e loucura, é um filme muito reflexivo sobre a nossa identidade, as nossas motivações e o nosso papel no universo (ou multiverso).

No entanto, o que mais chama a atenção dos cinéfilos é a criatividade dos diretores. Os Daniels (“Um Cadáver para Sobreviver”), como se autointitulam os diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, são os responsáveis pela direção de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. Ambos trabalharam juntos na realização do filme, utilizando ângulos criativos na filmagem, além de recursos audiovisuais mais baratos para demonstrar a troca de universo dos personagens, muito devido ao orçamento de 25 milhões de dólares do filme, que não é tão grande para fazer efeitos especiais megalomaníacos.

O recurso da “tela rachada” é um dos usados para representar o acesso da personagem à sua versão de outro universo / Foto: Divulgação/A24 Films

A vivência e conhecimento cinematográficos dos diretores também oportunizou diversas referências a outros filmes em “Tudo em Todo o Lugar”. Produções como “Ratatouille”, “Matrix” e “Amor à Flor da Pele” estiveram de alguma forma homenageadas no filme.

Além de tudo isso, a diversidade de gêneros do filme permite que os atores demonstrem suas diferentes facetas e formas de atuação. A protagonista Michelle Yeoh tem finalmente uma oportunidade de brilhar muito, mostrando sua versatilidade e enorme competência em viver uma personagem complexa com conflitos complexos. A participação de Jamie Lee Curtis com uma personagem que é quase um contraponto à sua Laurie Strode, da franquia “Halloween”, também é um grande destaque.

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é o tipo de filme que se assiste achando tudo completamente sem sentido, mas que ao mesmo tempo traz uma grande reflexão que perpassa por diversas camadas do que é ser humano.

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