O vazio em dimensões quânticas
Pôster de Homem Formiga e a Vespa: Quantumania / Reprodução: Divulgação/Marvel
O terceiro filme do Homem Formiga chega aos cinemas com a maior proposta dentro da franquia. Dessa vez, Scott Lang enfrenta Kang, o Conquistador, uma das variantes do próximo grande vilão da Marvel.
Por Felipe Boettge / Em Pauta
Após os eventos de Guerra Infinita e Ultimato, Scott, o Homem Formiga, colhe os frutos de ter salvado o universo. O maior ladrão da Marvel vive quase como uma celebridade e possui até mesmo um livro onde conta suas aventuras com os Vingadores. Entretanto, ele ainda lida com um problema que obscurece o seu maior momento de glória. Os cinco anos que perdeu com sua filha devido a estar preso no universo quântico.
É a partir daí que a história do terceiro filme do herói se desenvolve nessa aventura através do tão desconhecido e misterioso universo diminuto. De cara, o filme se propõe a deixar para trás algo que dava muito certo nos dois anteriores, o grupo de amigos de Scott e principalmente as histórias malucas de Luis. Ao invés disso, o filme investe inteiramente na relação da família Pym e de Scott com Cassie, com ambos buscando formas de se reconectar após o tempo que passaram separados.
Scott (Paul Rudd) e Hope (Evangeline Lilly) em um momento decisivo/ Reprodução: Divulgação/Marvel
Dessa forma, essa divisão fica clara uma vez que todos os protagonistas são jogados em lugares diferentes dentro do mundo quântico e precisam arranjar uma forma de se reencontrar e deixar aquele lugar. Entretanto, em meio a tantas novidades, mistérios e as grandiosidades daquele mundo e sociedade em que os personagens estão inseridos, essas situações são quase deixadas de lado. Especialmente na relação de Scott com sua filha, que se resume praticamente a ela correndo e gritando por ele na grande maioria de suas interações.
Por outro lado, Janet, Hope e Hank realmente assumem o que parece ser uma história mais profunda de conexão familiar. Enquanto buscam pelos outros dois, descobrimos mais sobre os 30 anos em que a antiga Vespa passou naquele lugar, o que ela andou fazendo e principalmente sobre sua história com o grande vilão do filme, Kang, e como ela se conectará com tudo que já vimos até esse ponto do filme.
E é com Kang, o Conquistador, que temos os melhores momentos do filme. Jonathan Majors volta a interpretar o personagem após sua breve participação na série exclusiva do Disney+ “Loki”, onde conhecemos uma versão mais pacífica do personagem. Dessa vez, Kang é aparentemente imbatível, representado quase como uma versão mais brutal de Darth Vader em alguns momentos. Porém, o filme escolhe fingir que não nos mostrou tamanho poder e faz o personagem parecer fraco conforme o filme se aproxima do fim e ele precisa ser derrotado para que a história termine como todas as outras.
Dessa maneira, “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” transforma o que deveria ser a apresentação da grande figura que deverá assumir a ameaça que uma vez circundou a figura de Thanos, em uma apresentação confusa e que diminui o tom ameaçador que o vilão apresentava nos trailers.
Kang, o Conquistador (Jonathan Majors) / Reprodução: Divulgação/Marvel
Em uma história de revolução, a família formiga se junta com os habitantes daquele mundo dominado pelo terrível Kang para pôr um fim a seu império que será a base da sua dominação multiversal. Isso parece uma grande história quando imaginada, porém não encontra nenhum momento de brilho ou identidade própria em nenhum momento. Muito pelo contrário, diversas vezes tenta emular o que é visto em Star Wars e isso não faz nada mais do que ser identificado pelos mais aficionados e deixado para trás na próxima cena.
Além disso, ainda apresenta MODOK, um personagem icônico dos quadrinhos e animações da Marvel. Isso se deve ao seu visual absurdo, uma vez que ele é basicamente uma cabeça gigante com pequenos braços e pernas. Algo assim, poderia ser facilmente alvo de ótimas piadas e momentos divertidos, mas tem um efeito muito diferente. Todas as cenas em que o personagem aparece causam um constrangimento que faz o espectador ter vontade de desviar o olhar, e isso piora toda vez que ele interage com os protagonistas, já que a história preferiu assumir que o espectador tinha alguma conexão com o até então falecido Darren Cross, vilão genérico do primeiro filme do herói. Essa estranheza pode até ser vista em certo momento do filme, onde Paul Rudd, que interpreta Scott Lang, parece não acreditar no que saiu da boca daquela figura. Se com Kang temos os poucos melhores momentos dessa história, com MODOK temos os piores.
Sendo assim, o filme trilha uma aventura vazia e sem ameaças, pouco a pouco os personagens encontram o que parece ser um enorme problema e vêem ele ser resolvido com um esforço quase nulo. Nenhuma consequência dessa história parece realmente impactar esses personagens e tudo que sai dele é uma aproximação maior de todos como uma família. E lentamente, a Marvel parece encontrar-se perdida em suas próprias histórias e desesperada por mostrar que estamos indo a algum lugar, mesmo que o caminho até ele seja mais difícil de trilhar do que instigante, como uma vez foi com a saga do infinito.
