O quê Trump reserva para Cuba?
Retomada das relações entre os dois países pode estar ameaçada.
Se estivesse vivo, Ernesto Guevara de la Serna teria completado 89 anos na última quarta-feira, 14 de junho. O guerrilheiro, político, jornalista, escritor e médico argentino Che Guevara, assassinado na Bolívia em 1967, poderia ter presenciado o reestabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos, promovidas por Barack Obama há três anos, após mais de meio século de embargo sobre a ilha.
Contudo, a boa relação entre os dois países pode estar com os dias contados. Desde a eleição de Donald Trump, se especula sobre a continuidade do processo iniciado no governo Obama pelo novo presidente da nação mais poderosa do planeta, especialmente a manutenção de acordos bilaterais.
Uma das áreas que deve ser alvo de Trump é a concessão de vistos de viagem para a ilha caribenha, que vem se beneficiando do turismo desde dezembro de 2014, quando foi anunciada a retomada do contato entre a América e Cuba. A restrição as 12 categorias de vistos pode ser uma das medidas tomadas, o que pode significar multas severas para os americanos que tentarem visitar o país sem a papelada correta. Todavia, a decisão acarretaria impactos de milhões de dólares também nas companhias aéreas e empresas de cruzeiros, afetando os empregos nesse setor. Em maio, a empresa hoteleira norte-americana Starwood abriu o primeiro hotel cinco estrelas na ilha, e deve investir em mais dois empreendimentos, frutos da retomada das relações.
Caso Donald Trump opte por retomar o embargo, o apoio do Congresso é quase garantido por causa do grande número de deputados contrários às políticas dos irmãos Castro, Fidel – que faleceu em novembro do ano passado – e Raúl, atual presidente cubano. Com esse apoio, Trump fortaleceria a manutenção de um embargo, ao menos durante seu mandato.
Novas restrições afetariam ainda esportes e cultura, impossibilitando a especialização de dançarinos e atletas profissionais. Uma maior papelada entravaria os novos tratamentos imunológicos e medicações de combate ao câncer que foram desenvolvidas em Cuba e passam por testes em solo americano.
O que leva a crer na possibilidade destes retrocessos são as declarações feitas por Donald Trump desde sua candidatura à Casa Branca. Com ataques a situação dos direitos humanos em Cuba e discursos feitos na Flórida em 2016, em que afirmava que iria tratar o país como a ditadura que representava. Por enquanto, resta ao mundo aguardar para ver o destino de um dos legados de Che, a Cuba que vem deixando o socialismo aos poucos de lado e aos poucos tenta abrir suas portas para o resto do globo com o aval norte–americano, até que se diga o contrário.