O Menino e a Garça: A volta do mestre Miyazaki

Imagem: Divulgação/Studio Ghibli

Sendo o primeiro filme do Estúdio Ghibli em 10 anos dirigido pelo gênio de animação, Hayao Miyazaki, o longa já acumula prêmios e é indicado ao Oscar de Melhor Animação

Por Bruna Farias / Em Pauta

“O Menino e a Garça”, escrito e dirigido pelo mestre de animação japonês, Hayao Miyazaki, estreou nos cinemas brasileiros na semana passada, reconquistando os apaixonados pelo estilo de animação característico do co-fundador do estúdio de animação Studio Ghibli. Ganhador do Globo de Ouro e indicado ao Oscar de Melhor Animação, o longa é um dos mais pessoais de Miyazaki e, possivelmente, seu último trabalho como diretor.

Se passando no Japão durante a Segunda Guerra, o longa conta a história de Mahito, um menino de 12 anos que acaba perdendo a mãe em um incêndio no hospital onde a mesma estava internada. Após seu pai casar novamente com Natsuko, irmã da falecida mãe, Mahito se muda para uma área rural do Japão e conhece a casa onde a mãe e a tia cresceram, assim como as simpáticas e intrometidas velhinhas que já trabalharam na casa, a torre misteriosa construída no pátio da propriedade e a Garça que atormenta o menino com uma promessa impossível.

Mahito e a Garça conversam para finalmente se ajudar. Imagem: Divulgação/Studio Ghibli

Assim, encontramos uma obra onde o tema principal é a dor do luto e como seguir em frente. Com o seu título original em japonês sendo “Como você vive?”, acompanhamos Mahito enquanto tenta se adaptar a sua nova vida, ao mesmo tempo que ainda sofre com lembranças da mãe, do incêndio e das chamas. Memórias que compartilha com o próprio diretor da obra: Miyazaki, que cresceu na Segunda Guerra, já contou que suas primeiras recordações da infância são imagens de cidades e prédios pegando fogo. Além disso, o pai do nosso personagem principal trabalha com a construção de aviões de caça, assim como o pai de Miyazaki.

O ritmo do filme muda quando a Garça começa a tentar se comunicar com Mahito, prometendo que sua mãe está viva e sabe onde encontrá-la. O menino fica perturbado com a ideia de que a mãe poderia não estar morta e tenta se livrar da Garça, mas após o desaparecimento de sua tia (e madrasta), o menino resolve seguir a Garça até dentro da torre estranha construída na propriedade da família. Lá, Mahito é levado a uma realidade diferente, que abriga diferentes universos dentro de si, assim como a morte e a vida.

Os Warawara que Mahito conhece nesse novo universo são almas humanas que ainda não nasceram. Imagem: Divulgação/Studio Ghibli

Da metade para o final do filme, conhecemos esse universo mágico onde as almas dos mortos podem descansar e onde as almas dos humanos ainda não nascidos, os fofinhos Warawara, habitam. Rompendo a fronteira do real e do que é imaginário, Mahito navega por esse novo mundo, cuja proposta é ser perfeito e livre de violência, numa busca incansável por Natsuko, enfrentando aventuras, problemas e encontrando versões diferentes de pessoas importantes para si.

Com uma animação 2D feita artesanalmente, super colorida e sofisticada, “O Menino e a Garça” não foca em dar explicações aos espectadores, preferindo mostrar toda tensão, magia e dor enfrentados por Mahito de um jeito único. Assim, Miyazaki traz novamente uma reflexão a um tema recorrente em suas obras mágicas e fantasiosas: o mundo real, que por sua vez pode ser doloroso e difícil, mas que é necessário de se enfrentar. O espectador sai do cinema com uma sensação agridoce e talvez acabe pensando no título original em japonês do filme, mesmo que não tenha conhecimento do mesmo.

“O Menino e a Garça” está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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