“O céu riscado na pele”: nem toda filha torna-se mãe, mas toda mãe um dia foi filha
Por Brenda Pacheco
“O céu riscado na pele” chega como uma onda forte e intensa da praia do Cassino, oferecendo calmaria e prazer a quem gosta de ouvir o barulho das ondas quando elas quebram na beira da praia, e insegurança e medo a quem mergulhou para onde não dá pé, mesmo sem saber nadar. A Praia do Cassino, em Rio Grande, não é citada por acaso: é nela onde grande parte da história deste livro se passa.
O livro tem autoria de Andréia Pires e foi publicado em 2021 pela Concha, editora fundada por ela cinco anos antes. Escritora, jornalista, editora, professora e pesquisadora em Escrita Criativa, Andréia é também encantada pelo lugar onde vive, apesar das dificuldades em ser rio-grandina e viver na cidade.
É neste encanto pelo lugar e na busca pela compreensão do que é ser mulher na sociedade, que Andréia apresenta em seu primeiro romance a protagonista Lúcia, jornalista nascida em Rio Grande, essa cidade que, assim como ela, busca incessantemente pelo próprio voo enquanto é obrigada a se adequar ao mundo em que vivemos e suas transformações.
Na casa dos 30 anos, Lúcia se vê frustrada e com uma série de inquietações e rupturas que a arrancam o conforto e o descanso da mente. No meio desse turbilhão para o qual só o mar é capaz de trazer calmaria, ela também explora as conexões que tem com as mulheres de sua família.
Aquelas que vieram antes da própria Lúcia, as que vieram muito antes ainda e as que talvez venham depois dela. É sobre mulheres que nascem de mulheres e assim sucessivamente criando essa corrente, esse fio iluminado entre mães de filhas e filhas que tornam-se mães – ou não. Todas essas mulheres que seguem todos os dias em busca do próprio caminho, do próprio voo, ainda que este voo seja para dentro de si.
Dividido em capítulos curtos que alternam entre a primeira e a terceira pessoa do discurso, esse livro é mais uma concha tirada do mar por Andreia Pires e que se torna uma companhia calorosa e reconfortante para todas e todos que estiverem dispostos a descobrir algo sobre si mesmos e – sem dúvidas – derramar algumas lágrimas. O livro está disponível para venda no site da Concha Editora.
Citações
“Quem estranha a minha calma é porque só me vê por fora. Nem eu aturo essa gritaria” – Página 22
“Quando o medo aperta — e aperta muitas vezes —, olhamo-nos umas nas outras e confortamos o espírito com a certeza de que temos abraços, temos umas às outras, independente do curso que a vida pegue” – Página 203
“Não é simples encontrar uma zona segura para existir, às vezes morre-se tentando caber em algum lugar. Às vezes a gente apenas desiste” – Página 244