Memória vira símbolo de identidade

Museu Histórico de Morro Redondo abriga objetos e histórias da cidade

Por Luana Martini

Idelizador da iniciativa Sr. Osmar Franchini. Nas mãos, objetos que fizeram parte de sua infância e constituíram sua identidade. Imagem: Luana Martini

A “vontade de memória” levou três idosos a fundarem o Museu Histórico de Morro Redondo, em 2006. Diferente dos grandes museus, que surgem a partir de uma demanda estatal ou de um grupo bem estabelecido socialmente, esse nasce a partir de um desejo de pessoas comuns de colecionar memórias de vida.

Depois de uma viagem a Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, onde visitou alguns museus que conservam memórias da cultura pomerana, o idealizador dessa iniciativa, Osmar Franchini, se sentiu motivado a criar um lugar que preservasse toda história de vida dos moradores de Morro Redondo. Para isso se uniu a dois amigos, Ervino Büttow e Antônio Renardt.

Não visto simplesmente como um recinto que agrega objetos, mas sim como um armazenador de memórias, contador de histórias e instrumento de apropriação, o Museu Histórico de Morro Redondo incorpora vestígios da vida cotidiana. Conforme o museólogo e arqueólogo Diego Lemos Ribeiro, os objetos presentes no museu têm, tecnicamente,uma função de acervo. “Mas, filosoficamente, têm uma função narrativa muito grande. Aquele conjunto de objetos funciona como se fosse uma extensão deles, uma extensão da vida deles. Não são meros objetos, são ‘pessoas’”, diz. 

Uma característica significativa do espaço é que ele vai além de suas quatro paredes. Ele abrange toda a cidade, incorporando tudo que há de humano. Isso inclui tradições doceiras, a multiculturalidade e a música. “O museu não se limita ao seu espaço físico”, enfatiza Diego. Embora não haja nenhum patrimônio material oficialmente reconhecido na cidade, existiam patrimônios afetivos, lugares e referências que são cheias de afeto, lembranças e vivências. Em maio de 2018, o doce colonial foi reconhecido como patrimônio no Livro de Registro dos Saberes. Isso não envolve o doce em si, palpável, material. Mas sim as recordações de como fazer, o que inclui as técnicas usadas antigamente, os gestos, a forma de mexer o tacho. O doce se tornou um bem cultural imaterial. 

O museu incentiva o interesse às origens por meio de ações educativas. Ações essas que unem idosos e crianças na busca pela valorização cultural. De acordo com a museóloga Andréa Cunha Messias, voluntária no lugar desde 2014, os jovens acabam migrando para outras cidades. O intuito é reverter essa situação. “Por isso há um investimento na criança, para que ela tenha consciência e já cresça percebendo que isso aqui tem muito valor cultural agregado. E que ele não precisa sair daqui para ir buscar uma coisa lá fora”, salienta Andréa.  As memórias presentes em cada local da cidade ajudam as crianças a conhecerem aquele patrimônio e a entenderem a importância dele, o que as motiva a cuidar. Uma casa de baile, um local no qual se realizou um casamento, uma antiga escola, um ponto onde os tropeiros paravam com seus cavalos para descansar se tornam reais, vívidos. Deixam de ser apenas prédios, passam a ser resquícios de vida.

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