Instituto de menores: quase um século de histórias e solidariedade

Em quase um século de existência, o Instituto de Menores Dom Antônio Zattera se tornou um lugar de acolhimento e memórias para crianças e jovens pelotenses.

Por João Victor Rodrigues / Agência Em Pauta

O Instituto de Menores está localizado na Avenida Domingos de Almeida, 3150 – Bairro Areal. Foto: João Victor Rodrigues

A infância e adolescência são fases importantes para o pleno desenvolvimento de um indivíduo. Com a missão de garantir este direito, foi criada em 3 de Julho de 1924 a Associação Protetora de Meninos Desvalidos que originou o atual Instituto de Menores Dom Antônio Zattera (Imdaz).

O Instituto, na época denominado como Casa dos Meninos Desvalidos, surgiu através de um desejo do Bispo de Pelotas Dom Joaquim Ferreira de Mello em acolher e auxiliar as moradoras de rua e seus filhos. Vinte anos depois, já sob o comando do bispo Dom Antônio Zaterra, o Instituto mudou-se para o atual endereço na Av. Domingos de Almeida ampliando suas atividades de acolhimento às crianças com algum problema de saúde e às mães solo.

Muito além de ser apenas um orfanato, o local oferecia oportunidade para que aqueles jovens pudessem concluir seus estudos e ingressar na Universidade. Segundo a diretora Patrícia Frank havia na época uma preocupação em preparar os jovens para o mercado de trabalho. “Naquela época tinha vários cursos profissionalizantes de elétrica, costura, tecelagem, tipografia, marcenaria e padaria. Então eles saiam daqui sabendo um pouco de tudo e depois de completarem dezoito anos, muitos deles ingressavam na Universidade, por isso Dom Antônio fundou a Universidade Católica e o Hospital São Francisco de Paula, sempre pensando em cuidar das crianças que estavam aqui“.

O Instituto conta com diversas salas que atendem cerca de 320 crianças e jovens. Foto: João Victor Rodrigues

Ainda segundo Patrícia, o instituto ao longo dos anos enfrentou diversos problemas econômicos e com antigas gestões que não compartilhavam da mesma filosofia que Dom Antônio. Mesmo com as adversidades o instituto permaneceu forte e atuante, auxiliando na formação de indivíduos que se destacaram na sociedade em diferentes áreas e que marcaram aquele lugar com suas histórias. Como a do Joceli, que atualmente trabalha na manutenção do prédio, tem sua vida interligada com o instituto desde o nascimento. Ele conta que sua mãe também trabalhou no instituto por muitos anos, antes mesmo do seu nascimento. “A minha ligação com o instituto começou a partir do momento que a minha mãe começou a trabalhar aqui, eu praticamente saí da barriga dela para o instituto. Depois fiquei como aluno aqui, trabalhei por vinte anos na malharia e agora estou na manutenção.

De família humilde, Joceli conta que além de trabalhar no local, sua mãe também recebia ajuda do instituto. “Em casa nós éramos oito no total, fomos muito ajudados pelo instituto e hoje pra mim é uma honra poder dar continuidade a esse trabalho e ajudar outras pessoas da mesma forma que eu também fui. Então eu trabalho com amor a casa porque me sinto de casa e na verdade eu sou da casa mesmo.”

Para os jovens, ter um ambiente familiar sólido é indispensável e este trabalho também é oferecido no instituto, a assistente social Ana Emília Palmeira relata que algumas famílias não sabem solicitar documentos como RG ou carteira de trabalho ou não possuem renda fixa além do Bolsa Família. “Além das atividades para os pequenos, a gente trabalha também no auxílio com as famílias oferecendo cursos para os pais de tricô, barbearia, manicure, para que eles consigam ter uma renda extra.”

Além do reforço escolar, a Instituição trabalha muitas questões humanas através de rodas de conversas. Foto: João Victor Rodrigues

Ana afirma que a principal recompensa nos seus vinte anos de trabalho na casa é o reconhecimento daqueles que já passaram por ali. “Esses dias eu fui numa loja no centro e eu não reconheci o menino, mas  ele me reconheceu e  quando ele disse o nome dele lembrei que toda a família dele tinha passado por aqui. Isso acontece várias vezes e tem casos de ex alunos que os filhos estão aqui com a gente.”

Durante a visita ao instituto, a nossa equipe foi descobrindo diversas histórias como a de Luciano Lopes, ex aluno apaixonado por dança e foi durante as aulas no Instituto que ocorreu o primeiro contato com essa paixão. “É muito  gratificante voltar ao instituto como professor, foi aqui que tive o meu primeiro contato com a dança e hoje, depois de ter sido aluno estar de volta passando toda minha experiência para os alunos e ter essa troca com eles é muito gratificante. Não tenho nem palavras pra descrever o  retorno deles dentro e fora do Instituto

120 crianças são atendidas integralmente na Escola de Educação Infantil Dom Antônio Zattera, os demais são atendidos no contraturno escolar. Foto: João Victor Rodrigues

E também a de Diego da Silveira Duarte, que nos conta que ao ingressar no instituto aos dez anos, viveu uma jornada cheia de desafios e superação. Além das diversas atividades disponíveis na época, como jogos de tabuleiro, interações sociais  e outras formas de entretenimento ao ar livre, Diego afirma ter encontrado amizades que cultiva até os dias de hoje. “Tenho contato com alguns colegas maravilhosos, saber que estão todos bem e muitos continuam morando no mesmo bairro onde crescemos juntos, manter essas conexões e amizades ao longo dos anos é algo muito especial e valioso“.

Diego conta ainda que, sua experiência no Instituto de Menores reflete até hoje em sua vida e também auxiliou na formação de seu caráter. “O Instituto desempenhou um papel fundamental na minha jornada de amadurecimento, crescimento e responsabilidade de ajudar a família.”

A aula de música é uma das principais atividades oferecidas pela instituição:

 

Ao ser questionado sobre quais lembranças mantém daquela época, o ex-aluno afirma que as memórias daquele tempo ainda estão acesas na sua cabeça. “Essas memórias e o impacto positivo que elas tiveram em minha  vida são tesouros que levo comigo. Elas servem como lembretes constantes do poder que as relações interpessoais e o cuidado têm na formação de uma pessoa. São lembranças de cuidado, carinho e apoio que tiveram um impacto significativo em  minha vida.

Em quase um século de existência, o instituto se encontra mais forte do que nunca. Segundo a diretora Patrícia Frank, esta força só é possível com a colaboração e solidariedade de todos. Hoje, a instituição prospera graças a inúmeras parcerias com empresas e universidades de Pelotas, bem como ao generoso apoio da comunidade  por meio de doações  de brinquedos, roupas, itens de higiene, produtos de limpeza, material escolar, fraldas, entre outros.

Além de diversas atividades, os alunos têm acesso a uma alimentação e higiene garantida. Foto: João Victor Rodrigues

O projeto se encontra sempre de portas abertas para receber a todos que queiram realizar uma visita, conhecer o seu trabalho e ajudá-los.

  • Pix para as doações em dinheiro: 92.238.138/0022-76 (CNPJ)
  • Contato: (53) 99903-0409 e (53) 98403-0402
  • Endereço: Avenida Domingos de Almeida, 3150 – Bairro Areal

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