Ela era gente boa!
Rainha do Rock nacional e padroeira da liberdade, Rita Lee morre aos 75 anos
Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta
Nessa terça-feira (09), foi anunciada a morte de Rita Lee, conhecida como rainha do rock. A artista já havia sido diagnosticada com câncer de pulmão e vencido a doença. O anúncio, feito por meio das redes sociais da cantora, confirmaram o pedido dela: morrer cercada de todo o amor da sua família. O velório será aberto ao público no Planetário do Parque Ibirapuera nessa quarta-feira das 10h às 17h.
A caminhada até a música
Rita é paulista da capital e teve acesso a música desde cedo. Com família de imigrantes estadunidenses, ela pode fazer aulas de piano e línguas (como francês e inglês), desde cedo já se identificava com os clássicos do rock como Elvis Presley, The Beatles e Rolling Stones.
Sua primeira banda foi um trio vocal feminino fundado em 1963, as Teenage Singers, que chamaram atenção do produto Tony Campello com seus shows em festas colegiais. Após isso, participou da banda “Os seis” que, com a saída de três integrantes, se transformou no primeiro grande marco da sua carreira: Os Mutantes.
Mutante e progressista
Os Mutantes tem data de nascimento oficial em 1966 e, além de Lee, possuía os integrantes: Arnaldo Baptista (ex-marido da cantora) e Sérgio Dias. Juntos fizeram história no movimento tropicalista chegando a participar do 3° Festival Internacional da Canção, em 1968, com Caetano em “É proibido proibir” e do 3° Festival de Música Popular Brasileira, de 1967 com Gilberto Gil em “Domingo no Parque”.
Dois anos após o grupo se formar, a artista passou em Comunicação Social pela Universidade de São Paulo (USP) mas largou o curso para se dedicar completamente a sua paixão: música e revolução. Como a estudante, Laura Costa, expressa “Ela é revolucionária, não só musicalmente falando. Uma mulher, nos anos 70, pintando o cabelo, se expressando através da arte, criando um próprio estilo e buscando sua própria essência de diversas formas, se metamorfoseando, buscando sempre inovar com a música que fazia”
Sua próxima banda foi o Tutti Frutti, na qual gravou os hits “Ovelha Negra” e “Agora só falta Você”. E assim a ovelha negra saiu dessa fase numa metamorfose, Rita saiu dos Mutantes e começou sua fase no pop rock.
A jornalista Ester Caetano conta que “eu me sentia uma ovelha negra por não estar seguindo os parâmetros na real do que era. E aí eu me deparo com essa música, eu me sinto abraçada, contemplada por ovelha negra, eu me sinto…sabe como se eu tivesse uma amiga me falando ‘calma, somos duas’”.
Brilhando sozinha
Sua carreira solo teve colaboração de anos com seu marido, Roberto de Carvalho. E nesse momento inicial, foi presa por porte e uso de maconha para servir de “exemplo para a juventude” durante a Ditadura Militar. Rita disse que a droga era antiga de quando usava, já que na época estava grávida e deixou de fumar.
A colaboração trouxe hits como “Mania de Você” e “Chega Mais”. Ela também flertou com o Bossa Nova na turnê “Bossa’n’roll” (1990) com voz e violão. Mas em 1991, a cantora se separou – apenas musicalmente – por quatro anos do marido.
Sua volta triunfal veio em 1995 com “A marca do Zorra”, com esses sucessos, a cantora conseguiu abrir o show dos Rolling Stones no Brasil. Mais para frente, ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Já na vida pessoal, um marco aconteceu em janeiro de 2006, quando, após cair em sua casa sob efeitos do álcool, a artista entrou em um centro de reabilitação e deixou de beber.
A despedida dos palcos
Em 2012, anunciou no seu Twitter que iria parar de fazer shows por fragilidade física, dizendo que “Me aposento dos shows, mas da música nunca”. No dia 28 de janeiro de 2018, entretanto, a roqueira se apresentou no Festival de Verão de Sergipe. Seu último show foi no aniversário de São Paulo em 2013. Já o seu último single foi com seu parceiro da vida, roberto, chamado “Changes”.
Biografias
A cantora deixa duas biografias, Rita Lee: uma autobiografia e Rita Lee: Outra biografia. Seu segundo livro será lançado no dia 22 de maio e vem com reflexões sobre viver, sobreviver e vencer o câncer.
Uma vida disruptiva
Rita viveu anos sendo um ícone feminista, passou pelo tropicalismo, rock, MPB e pop. Era vegana, ativista pelo direito dos animais e LGBT, defendia a legalização da maconha e viveu para ser a revolução.
Pelas palavras da pedagoga e fã, Teca Morais “até hoje quando quero responder minhas indagações sobre mulher e sobre o mundo, começo a cantar as músicas dela.”
Laura completa “Ela personificou o rock, não só nacionalmente, e inspirou diversos outros artistas e se tornou um ícone feminista. Desafiou as amarras da ditadura, a repressão, e soube viver a vida de maneira excêntrica, autêntica e inspiradora. Rita deixou um legado não só no nome, mas no ser. Ela soube fazer revolução. Transformou a música e o rock quando ninguém pensou ser possível, e antes de todo mundo deu a volta ao mundo no ramo musical, sempre deixando todos boquiabertos por onde passava. Ela é imortal pra música e pra vida.”.