Dos fãs para toda a comunidade: UFPel cria nova Gibiteca

O projeto do curso de história da Universidade Federal de Pelotas começou em novembro e já conta com um grande número de exemplares.

Por Giéle Sodré/Em Pauta.

 

Uma das várias prateleiras que comportam o acervo, a maior parte das revistas são conservadas de pé para não amassarem. / Foto: Giéle Sodré.

Nascida de uma doação feita por um grande colecionador da cidade, a Gibiteca da UFPel é comandada e organizada pelo professor Aristeu Lopes, que ministra aulas nos cursos de história e museologia da faculdade, e conta com um número de bolsistas e voluntários que trabalham com e catalogam as obras do acervo.  De acordo com o professor, o objetivo do acervo é dar acesso aos gibis e obras como mangás e zines, para o público geral, mas também para a pesquisa de variados assuntos. 

“A ideia é que, assim que a gente estiver com ele [o acervo] organizado, com o catálogo disponível, com o material todo etiquetado, né, enfim, que a gente possa começar a fazer ações de divulgação para atrair o público leitor. E a ideia é o público leitor que seja o mais variado possível, que não seja um público somente acadêmico, mas que as pessoas possam aproveitar o espaço e passar aqui no horário de intervalo entre aulas, por exemplo. Que consigam acessar o material, sentar, ler o seu gibi e depois fazer suas atividades. Então a motivação da gibiteca, que é muito causada pelo próprio doador, é que no futuro a gente consiga disponibilizar [para o público da cidade].” disse o professor Aristeu. 

Atualmente com mais de 4.500 exemplares, a Gibiteca ainda não tem o próprio espaço. O professor e os bolsistas concordam que sua casa atual, na sala 145 do Instituto de Ciências Humanas (ICH), dividindo espaço com documentos quase que puramente para pesquisa acadêmica, não é o ideal. Com isso, eles vêm tentando encontrar um novo lar para o acervo que possa ser visitado pelo público, mas, enquanto isso não acontece, a Gibiteca continua a receber doações para aumentar seu acervo. 

Parte da coleção atual da Gibiteca no espaço provisório. / Foto: Giéle Sodré.

São aceitos gibis de todos os tipos, zines, mangás e obras que contem histórias de forma visual em geral, em qualquer estado. Um dos objetivos da Gibiteca é também salvaguardar essas obras, algumas com várias décadas de preservação e que também refletem a história e a sociedade de quando foram criadas. Misael, estudante da licenciatura em história e bolsista do projeto, falou sobre a importância dos quadrinhos. 

“Por exemplo, a gente vê tópicos na história quando vai trabalhar no ensino básico, tu vê conceitos mais abstratos e muito amplos. Então a história em quadrinho acaba sendo uma fonte pra trazer em sala de aula, ela também acaba dando um sentido empírico para aquele conceito que está ali. Então fica muito mais fácil pras crianças absorverem o conteúdo e algo assim é de fato um é um instrumento que pode ser muito bem utilizado.” 

Uma pequena parte do acervo variado da Gibiteca. / Foto: Giéle Sodré.

Além disso, há também a importância social e de representação nos quadrinhos. Tarso, outro bolsista e estudante do bacharelado em história, mostrou alguns quadrinhos da coleção, entre eles um foi lançado nos Estados Unidos durante a guerra do Vietnã. Nele, os vietnamitas são caricaturas raciais e os super-herois existem para se livrar do “mal” que representam, usando de frases como “vamos varrer esses comunistas imundos” no contexto da revistinha. Tarso ressalta também que a Gibiteca tem gerado pesquisas sobre isso, como sobre a representação da mulher como heroína nos quadrinhos ou a apropriação da manji pelo nazismo, a transformando em suástica. 

Quadrinhos antigos, um deles contendo propaganda politica sobre a guerra do Vietnã. / Foto: Giéle Sodré.

Misael ainda expressa outro ponto: a representatividade que essas histórias podem apresentar, poder se observar, se conectar e entender o mundo a partir dos personagens dessas histórias. “Sempre tive vontade de ficar perto desse tipo de coisas, de pesquisar mais, entender como é que funciona e, principalmente, no meu caso, pesquisar figuras negras que eu não vi sendo enaltecidas em nenhum lugar. Pesquisar termos e referências sobre isso, conectar com a história, principalmente com a história local do Brasil em que a gente acaba vivendo uma cultura de subalternização do negro, a gente não vê um negro sendo elucidado em vários lugares.”

Além disso, o professor Aristeu também expressa a vontade de que a Gibiteca tenha seu espaço e possa ganhar acesso de todos que quiserem ler e se divertir com o acervo ou desenvolver outras pesquisas. A Gibiteca é patrimônio da UFPel, mas se considera também uma companheira do público da cidade de Pelotas e busca crescer para atender essa demanda.

Caso queira entrar em contato com a Gibiteca, o e-mail é gibitecadaufpel@gmail.com. Ou pela conta no instagram, onde divulgam sobre o projeto e qualquer programação que possa acontecer, @gibiteca.ufpel.

Banner de divulgação da Gibiteca. / Foto: Divulgação.

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