Uma vida de luta até o ouro olímpico
Conheça a história de Mônica Santos, a paratleta gaúcha considerada a única mulher a ganhar medalhas de ouro internacional na esgrima paralímpica. Após ser diagnosticada com um angioma e decidir manter gravidez, Mônica se tornou paraplégica e ressignificou seu destino com o esporte
Por Clarissa Ribeiro / Em Pauta
Com mais de 100 medalhas conquistadas na esgrima e três paralímpiadas, a paratleta cadeirante Mônica Santos passou momentos desafiadores em sua juventude. Natural de Santo Antônio da Patrulha/RS, a atleta descobriu um tumor e uma gravidez em um curto espaço de tempo. Mônica, após meses de investigação, foi diagnosticada com um angioma modular de nascença, manifestado a partir da gestação, condição essa de uma lesão que pressiona a medula e impede a passagem de impulsos nervosos. Questionada pelos médicos se interromperia a gestação, Mônica afirmou que não havia essa opção em sua vida.
Sua filha, Paolla Santos, hoje já com 21 anos, se orgulha e agradece pela história de sua mãe e pela relação que elas possuem. “A história dela é muito marcante, tudo que ela viveu, a coragem e a fé que ela teve com apenas 19 anos para enfrentar o mundo, isso é algo que me deixa muito orgulhosa e me motiva diariamente. Sou grata pelas escolhas que ela fez, sem ela eu não estaria aqui. Nosso laço é muito forte, temos uma conexão inexplicável”, diz Paolla.
Quando Paolla tinha apenas um mês de vida, Mônica fez uma cirurgia com risco de vida ou de ficar paraplégica e, após 12 horas de cirurgia, o diagnóstico foi a paraplegia. ‘’Deixar ela pra fazer a cirurgia que eu não voltaria mais a pegar ela nos braços, né, o momento que eu entreguei ela pra minha mãe e pro meu marido foi bem difícil, assim, porque as minhas chances eram ficar vegetando ou vir a óbito, então eu não voltaria mais a pegar ela nos braços. E aí eu disse: ‘Deus, faça a tua vontade, porque eu pedi tudo que eu queria, que era ter a minha filha com saúde e entreguei pra ti’.’’ conta a paratleta. Assim, Mônica procurou fazer parte de um esporte e, após passar três anos praticando basquete, decidiu experimentar a esgrima.
Desde então, Mônica vive a rotina corrida do esporte, especialmente perto das Paralímpiadas, que intensificam ainda mais os treinos de dois turnos, por cinco dias da semana. ‘’É bem puxado, porque a gente faz o físico, faz trabalhos em duplas, faz aula com os professores, joga em dupla, faz exercício sozinho específico de esgrima, então na parte da tarde é totalmente pra esgrima e na parte da manhã a gente faz o físico, alongamentos e outras coisas’’, explica.
Michelle Diedrich, amiga de Mônica que acompanhou sua história, afirma o quanto a esgrima veio para somar na história da paratleta e enfatizar ainda mais sua garra, fazendo com que muitas pessoas se espelhem na vida dela. ”Ela é uma pessoa alegre, é uma pessoa espontânea, e nada mais do que o esporte para continuar esse legado dela, porque ela não se veria numa cadeira de rodas como se a vida dela tivesse terminado ali. Ela é muito maior que isso, então eu acho que o esporte veio agregar, veio fazer com que as pernas dela fossem levantadas através do esporte, muitas pessoas se espelham na história da vida dela e na forma como ela age para entender de que todo mundo é capaz de fazer um esporte!’’ exclama Michelle.
Segundo Mônica, foi difícil participar da seleção brasileira, devido ao baixo número de integrantes mulheres, fato que exigiu muitas vitórias em competições para comprovar sua capacidade de fazer parte. “Na época tinha poucas meninas e aí eu tive que provar ganhando competições e tudo mais pra estar fazendo parte da seleção’’, aponta a esgrimista. Já nas paralimpíadas em que a paratleta participou, nos anos de 2016, 2021 e 2024, sendo considerada uma das 10 melhores paratletas de esgrima do mundo em todas, seus desafios pessoais foram distintos uns dos outros. “A do Rio de Janeiro, por ser no Brasil, o pessoal conhecendo a história dos atletas e curtindo junto com a gente, torcendo, gritando nosso nome, foi uma experiência inesquecível’’, conta. Enquanto a de Tóquio foi marcada pela notícia da pandemia do COVID-19, que determinou o adiamento das competições para o próximo ano, a de Paris proporcionou um grande holofote à Mônica, que se destacou entre as 15 melhores, um grande feito em sua carreira profissional.
A paratleta também salienta o mundo de acessibilidade encontrado por ela nas Paralímpiadas: “Todas as vilas das Paralimpíadas, onde ficam os prédios dos países, é um lugar que tem totalmente adaptações, tanto pro homem mais alto do mundo, para cadeirante, pra cego, então, assim, é um mundo surreal de acessibilidade, muito bom. E ali estão todos os atletas representando as suas bandeiras e os seus esportes focados naquilo ali, e não existe guerra, religião… lá dentro todo mundo é amigo de todo mundo’’.
Para sua filha, o mundo do esporte é a sua válvula de escape que, além de ter proporcionado asas para sua mãe voar cada vez mais alto, foi o que a oportunizou a ajudar muitas pessoas e realizar sonhos. ‘’Hoje ela representa nosso país em todo o mundo, sempre com muito orgulho e honrando a camisa que veste. O esporte só nos mostra com ainda mais clareza o tamanho do potencial que ela tem, a guerreira que ela sempre foi e é!”, afirma Paolla.
Mônica ainda não sabe como será seu futuro, mas a princípio até março de 2025 estará na esgrima, avaliando se participará de outro ciclo. “Faço parte, tenho contrato com o clube, tenho uma competição em novembro, que é a segunda Copa Brasil, e em fevereiro já começa a primeira Copa que começa a validar para as Paralimpíadas de 2028. Então, vamos ver como é que vai ficar o futuro aí’’. Independentemente de seus planos futuros, até aqui Mônica já é um exemplo de garra e superação sobre rodas, onde leva consigo sonhos e gratidão por sua história.