Como incentivar a leitura entre uma população que lê cada vez menos?

Dados trazem reflexão acerca da democratização da leitura e das razões envolvidas nesse processo

Sendo parte da cidade há vinte anos, o Sebo Icária conta com mais de 16,5 mil livros em seu acervo. / Foto: Caroline Quincozes

Por Caroline Quincozes / Em Pauta

Muitos começam a ler quando crianças – incentivados por algum familiar, conseguem criar o gosto pela leitura. Em contrapartida, não é difícil escutar um amigo dizer que, na época da escola, foi obrigado a ler “aquele livro chato”. Pois então, considerando o modo como a literatura tenta ser introduzida na vida das pessoas, principalmente dos jovens, será que realmente aquele estudante que detestou ler no Ensino Médio pode ser tão julgado por não sentir um crescente apreço pelos livros? 

O fato é que as pessoas não lêem com tanta frequência ou, pelo menos, é isso o que dizem dados contabilizados pelo Instituto Pró-Livro, na pesquisa “Retratos da Leitura do Brasil”. A pesquisa mostra que o número de leitores no Brasil teve queda em 2015, onde 56% dos entrevistados consideravam-se leitores. Em 2019, esse número caiu para 52%.

Outras informações do levantamento mostram que o país perdeu, em média, 4,6 milhões de leitores, com grande participação da faixa etária de 14 a 24 anos. A média de livros por habitante não é muito animadora: cada brasileiro lê 4,96 livros anualmente e metade dessas obras são lidas até o final. Além disso, 30% dos brasileiros nunca compraram um livro em toda a sua vida.

“Eu acredito que o decair se deve ao fato da rotina. Sabe a correria dos dias? Eu imagino que muitas vezes isso pode dificultar o hábito de leitura nos dias atuais”, é o que diz Ana Karoline Oliveira, que é escritora. Ana reconhece que também faz parte do grupo de leitores que está tentando retomar um ritmo contínuo dessa prática, mas busca ter leveza na sua percepção. “Acredito que o ideal seja voltar aos pouquinhos, sem se cobrar por isso e ir criando seu próprio ritmo de leitura”.

Em fevereiro do ano passado, Ana Karoline lançou sua primeira obra, intitulada “Com amor, a”, um livro que inclui pequenas poesias e textos. / Foto: Ana Karoline Oliveira

Mais um entrevistado, o funcionário da livraria Vanguarda há cinco anos Alan Vaz Quadros, enxerga que o celular e as redes sociais podem tornar dificultosa a jornada para adquirir a prática e torná-la habitual, tendo em vista que essas ferramentas trazem uma considerável distração ao usuário. Alan ressalta que algumas medidas poderiam ser tomadas, como tentativa de auxiliar as pessoas desde o início da vida. “Uma revisão do currículo escolar para favorecer um ensino de literatura que incentive a leitura dos alunos e o trabalho com outras mídias em prol da leitura”, analisa.

Afora as visões de Ana Karoline e Alan, um dos motivos mais citados ao tentar entender essa questão, além do quesito da rotina cansativa da maior parcela da sociedade e a distração que trazem as plataformas digitais, é o ponto da situação financeira de grande parte desse público. Visando isso, existem outras alternativas para quem quer iniciar ou manter esse hábito, mas busca fugir do padrão de preços das livrarias tradicionais. 

Conhecidos por muitos, os sebos  facilitam o que, na maioria das ocasiões, seriam inacessíveis para a população. Tendo em consideração, o proprietário do Sebo Icária, Alexandre Sá Brito, conta que não percebe uma diminuição no número de leitores. Em compensação dos dados anteriormente mencionados, Alexandre observa até mesmo uma maior procura pelo acervo.

“Talvez por ser sebo, eu não tenho tanto essa percepção, sabe? Eu tenho tido nesse tempo, progressivamente, mais procura. Talvez porque seja mais em conta, talvez porque o cliente de sebo seja um leitor mais apaixonado, mais curioso, mais interessado, e que não está naquela busca do que é comercial ou, simplesmente, dos lançamentos”, afirma o proprietário.

Além disso, Alexandre opina que o incentivo das pessoas de casa é bastante relevante. “Como a gente tem uma população que na maioria não tem o hábito da leitura, esses pais dificilmente vão influenciar os filhos, o que deixaria esse processo nas mãos das escolas”. Por último, ele também percebe que o fato das escolas indicarem os livros que as crianças e jovens devem ler dificulta o interesse desse público em fomentar esse costume.

 

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