Aula aberta denuncia sucateamento da UFPel

Na última quarta-feira, 26, a UFPel promoveu uma Aula aberta com estudantes e coordenação para um ato de denúncia contra os cortes e reduções de orçamento.

Por Gabriella Cazarotti

Estudantes ocupam o largo do mercado e resistem ao ataques sofridos pelo desgoverno/ Foto: Cadré Dominguez

Às 14 horas, o evento estava aquecendo no Largo do Mercado Central. Leandro Maia, professor e coordenador do Coral UFPel arrumava cabos e preparava o palco para as apresentações artísticas que viriam após as falas dos representantes da universidade. Ás 14h30, deu-se início ao evento com a fala de Michael Kerr, que está a frente da Coordenação de Comunicação Social da UFPel.

Kerr abriu o evento com a explicação da importância de se fazer uma aula aberta para denunciar os ataques à educação pública e dialogar com a comunidade acadêmica acerca de tópicos que envolvem a diminuição de verbas, ao longo dos anos, destinadas para a educação, mas especialmente a partir do último bloqueio orçamentário, ocorrido neste mês, que força a UFPel a um cenário de enorme déficit.

Em seguida, empunharam o microfone outras figuras importantes para a universidade, a reitora Isabela Andrade estava em Brasília, portanto foi representada pela a reitora em exercício Professora Úrsula Rosa. Também contribuíram para a Aula aberta o Pró-reitor de Planejamento e reitor eleito, Professor Paulo Ferreira, o Pró-reitor de Pesquisa e Pós Graduação, Flavio Demarco, o Reitor da Unipampa, Professor Roberlaine Jorge, o Coordenador da Pedagogia Universitária, Eduardo Ferreira, o  Superintendente de inovação e desenvolvimento interinstitucional, Vinicius Farias, a Pró-reitora de assuntos estudantis, Rosane Brandão e o Pró-Reitor de Extensão e Cultura, Eraldo Pinheiro.

Com falas de denúncia ao sucateamento sofrido pelas universidades e institutos federais durante o atual governo, todos revezaram o microfone e repudiaram atos de ataque ao ensino público. Para além disso, Eraldo também repudiou as falas de Bibo Nunes, deputado do PL, partido de Bolsonaro, que fez comentários nefastos aos alunos da UFPel e da UFSM com adjetivos como ‘escória do mundo’ e ‘parasitas’ e afirmou que universitários merecem ser ‘queimados vivos’.

 

A aula aberta também foi espaço para uma Mostra de Cursos, na qual participou um corpo estudantil ativo e presente na defesa da Universidade. Muitos banners e pôsteres de projetos de extensão adornavam a lateral dos prédios do Museu Leopoldo Gotuzzo e da Prefeitura. Entretanto, não havia contentamento, mas um sentimento de revolta dos estudantes extensionistas que tiveram suas bolsas cortadas no dia anterior, 25 de outubro, inviabilizando a atuação e o futuro desses projetos.

Documento dos cortes de bolsas semestrais da UFPel encaminhado aos alunos na última terça-feira./ Foto: Twitter @matheusfernandz

Helena do Santos Cardoso, aluna do curso de Enfermagem e participante do coletivo Hildete Bahia estava na aula aberta e lamenta a perda da bolsa acadêmica que possibilitava sua permanência como estudante na Universidade. 

“Ontem a gente perdeu a nossa bolsa. O coletivo tem 3 anos, é o segundo ano que eu sou bolsista de extensão. Ano passado quando teve a pandemia, eu tive que mudar para Pelotas devido aos estágios hospitalares e devido ao retorno das aulas presenciais. A bolsa foi muito importante para que eu desse continuidade no meu estudo, pois possibilitou que eu viesse da minha cidade morar aqui. Me auxiliava com as despesas, o custo de vida em Pelotas é muito caro. A bolsa sempre foi um complemento muito importante na minha renda. Existem outros integrantes do coletivo que também são bolsistas e estão com as bolsas ameaçadas. É muito desestimulante porque a gente acaba tendo que abandonar o estudo para poder trabalhar e complementar renda. Isso impossibilita o acesso do aluno pobre a Universidade. 

Helena acredita que a mudança do cenário de descaso da educação se dá somente através do voto, “A gente permanece em estado de resistência desde 2018. É permanecer em estado de luta e tentar sempre ser resistência. A mudança que temos que fazer é nas urnas, votar em candidatos que incentivam a educação, a ciência e as políticas públicas”

O vento e o princípio de chuva não intimidaram as apresentações artísticas que tomaram conta do palco após as falas dos coordenadores. O Coral da UFPel, o Núcleo de Teatro, o projeto Teatro do Oprimido na Comunidade (TOCO) e o coletivo dos cursos de Teatro e de Dança apresentaram “O Andarilho”, uma peça sobre a decisão de caminhos futuros.

Lucas Furtado, estudante do Teatro e ator da peça comenta sobre o papel da arte na resistência, “É diferente você ver as coisas na sua frente, concreto. E o espetáculo teatral faz você ver a realidade concreta. No Andarilho, por exemplo, as pessoas que precisam decidir um caminho. Tem essa ideia de que os antepassados místicos diziam que toda encruzilhada tem dois caminhos, e que um caminho leva a felicidade e o outro leva a desgraça. Como escolher o destino, como conhecer esse impasse de onde ir. A gente tem uma ideia do que vem no futuro baseado no passado. E tem coisas que a gente não quer mais.”

Lucas defende que os posicionamentos políticos, especialmente nesse momento de eleições, são fundamentais para o futuro do país,Eu penso que é impossível você defender o sucateamento da universidade, principalmente se você a ocupa como aluno ou professor. Eu acho hipócrita ocupar uma universidade pública e defender o desmanche dela”. 

A arte teatral se coloca como oposição as opressões/ Foto: Cadré Dominguez

Tanto a peça teatral, quanto o Pró-reitor de Planejamento e reitor eleito Professor Paulo Ferreira falaram sobre o futuro. Quando questionado sobre o destino da Universidade Paulo concluiu, 

“Hoje o exercício é manter a universidade funcionando para terminar o calendário acadêmico. Na prática, a gente não tem mais dinheiro. A gente está fazendo uma ginástica para terminar o semestre, com o RU pelo mesmo valor e com todos os ônibus circulando.”

O futuro da UFPel depende do futuro do país. Se o país olhar para a ciência e para a educação, a UFPel vai ter um futuro promissor. A UFPel tem 53 anos, ela vai sobreviver, cabe a nós lutarmos para que ela continue para nós e para os nossos filhos. 

 

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