A vida em plástico é fantástica, política e cor de rosa
Entenda porque o Barbiecore, uma tendência que se iniciou com o filme da Barbie, pode ser muito mais do que só roupas rosas
Por Maria Clara Morais Sousa / Em Pauta
Se engana quem pensa que moda e bonecas começaram a se relacionar com o surgimento da boneca Barbie. Mesmo antes da primeira boneca, criada por Ruth Handler, já existiam as Fashion Dolls. Em 1945, o designer Robert Ricci realizou um desfile de bonecas chamado Théathre de la Mode, a ideia era divulgar as novidades da moda europeia sem gastar muito com eventos, já que muitos países estavam sem dinheiro devido ao pós-guerra.
Ainda antes, as bonecas Pandoras foram criadas para disseminar tendências pela Europa, elas serviam como um mini manequim. Mas nenhuma delas chegou aos pés da tão famosa e querida Barbie.
A primeira Barbie saiu em 1959 e quebrou com o paradigma que bonecas para crianças precisavam ser bebês, assim mostrando que havia um caminho para mulheres que não fossem mães. Embora suas primeiras profissões fossem as mais comumente associadas com mulheres, a Barbie chegou a ir para o espaço muito antes de qualquer homem, em 1965.
Desde então, a moda e a Barbie sempre estiveram conectadas. Em 1994, o designer Maison Martin Margiela criou uma coleção denominada “Um guarda roupa de bonecas”. Já em 2017, Jeremy Scott trouxe a Barbie para sua coleção de Primavera/Verão da Moschino. Oscar de La renta já fez roupas específicas para a boneca em 1980 e chegou a fazer um vestido de ouro em 1988.
Nota-se que essa relação trabalha sempre com figuras femininas, já que o Ken só foi as prateleiras dois anos depois da sua companhia feminina, em 1961. Para meninos eram muito comum os action figures, bonecos de super heróis famosos de gibis e filmes.
O colecionador Marco Vinicius Pinto conta que sempre amou action figures desde criança, mas só começou a coleção em 2017. Sobre sua relação com a estética diz “por mais que alguns visuais eu ache legal e até pense que funcionaria em mim, nunca cheguei a pôr em prática de fato”.
A hiperfeminilidade como política
A blogueira Stefanini Eze define feminilidade como um “conceito construído socialmente” e diz que no seu estilo transitou entre ser feminina e não ser, “hoje eu exploro tudo que a moda pode me proporcionar”, ela afirma. Já Juliana Bast diz que o termo é excludente, “mulheres podem não ser femininas, homens podem ser femininos”.
Juliana conta que “sempre quis ser a Barbie” e teve ela como inspiração para pintar o cabelo de loiro e ver o mundo como cor de rosa. Stefanini também disse que tinha acesso a Barbies pretas desde pequena e ainda hoje adquire roupas, sapatos e acessórios da boneca, “é quase um prazer de colecionar” ela afirma.
Ambas entraram na tendência e possuem vídeos tentando recriar looks da boneca. A designer pelotense, Camila Vechiato, observa que “a tendência surgiu a partir da boneca da Barbie que era relacionada totalmente a um estereótipo de loira, burra, com um único estilo de vida e superficial, a tendência veio com o objetivo de ressignificar isso, mostrando que usa rosa quem quer e quando quer”. A ideia agora é fazer como as Barbies Fashionistas e diversificar!
Tuane Hackbart, sócia da loja pelotense Runas, acredita que a volta se relaciona com a nostalgia dos anos 2000. “Os ícones 00s vieram com tudo novamente, e não seria diferente com a Barbie. E com o lançamento do filme, não apenas tendência, mas virou “moda” novamente, ela diz.
Essa mudança é sim política, já que tudo na moda é política, traz uma expressão e comunicação. Stefanini diz que seu estilo é “como uma extensão de quem eu sou e da mensagem que eu quero passar”. Em um mundo onde rosa já foi cor neutra e, posteriormente, associada com feminino e fraqueza, é importante a moda reconhecer quem a consome e como esse mundo mudou.
Mas quem a Barbie representa?
Muito se pensa sobre a boneca de plástico ser branca, loira e magra, um exemplo do padrão estético europeu. E apenas após anos de críticas, a Mattel trouxe novos estilo de corpos para a Barbieland.
Em 2016, As Fashionistas surgiram com 4 tipos de corpo, 7 tons de pele e ainda estão crescendo para representar mulheres com deficiência. Mesmo que a evolução seja demorada e reativa, a fábrica traz novidades.
No auge dos protestos dos movimentos negros em 1960, Christie surgiu como primeira boneca Barbie negra. Becky, é a primeira Barbie com deficiência e foi lançada em 1997. Já Teresa e Nikki, amigas da Barbie no seriado “Barbie: Life in the Dreamhouse” só foram aparecer nos anos 1990.
Muitos defendem que Barbie é apenas um recipiente vazio para meninas depositarem seus sonhos e profissões, a Barbie pode ser tudo e você também pode. Assim, meninas que conseguem se identificar com a boneca crescem com uma referência.
Rosa, rosa e rosa
Atualmente, a tendência é seguir a cor da boneca: rosa. Também é possível usar tons pastéis (azul, lilás, roxo) e peças que lembrem elementos dos anos 1950, como vestidos rodados e formas geométricas.
A ideia é usar bastante brilho, vinil, saltos grossos, acessórios grandes e metalizados. Quanto mais exagerado, melhor. Afinal a vida na Barbieland é rosa, rosa e rosa, além de ser fantástica.