O fenômeno que tem tirado o sono dos gaúchos

Rio Grande do Sul deve ser atingido por novo ciclone nesta semana. Porém, o que é um ciclone? Por que nosso estado tem experienciado tantos desses fenômenos? Professor do curso de Meteorologia da UFPel responde essas e outras perguntas.

Por Julia Barcelos / Agência Em Pauta

Novo ciclone está previsto essa semana. Imagem: Reprodução/Pixabay

Após uma onda de calor no fim de semana, o Rio Grande do Sul (RS) deve enfrentar novo ciclone na quarta-feira (26). O fenômeno deve ser relativamente intenso, mas bem menos que o da semana passada. Segundo o Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMET-UFPel), o ciclone desta semana ocasionará em tempestades isoladas, ventos de aproximadamente 60 km/h e queda de temperatura. O novo ciclone extratropical se formará na madrugada de quarta-feira, na Região do Rio da Prata, entre Argentina e Uruguai, e se afastará ao longo do dia em direção ao oceano.

Ciclone: será o novo termo do vocabulário gaúcho?

A grande incidência desses fenômenos vem atormentando o cotidiano dos gaúchos, contando o previsto para essa quarta-feira, serão um total de quatro ciclones em apenas dois meses. Será que isso é normal? Para responder essa e outras perguntas conversamos com o professor de Meteorologia da UFPel e especialista em Meteorologia Sinótica e Ciclones, André Nunes.

Antes de explicar sobre o fenômeno no RS, é necessário primeiro explicá-lo como conceito. Um ciclone é um centro de baixa pressão em grande escala, com cerca de 1000 km de extensão. Como todo centro de baixa pressão, esse fenômeno está associado à instabilidade atmosférica, que pode variar desde presença de nebulosidade a formação de tempestades. O que diferencia um ciclone dos outros sistemas de baixa pressão comuns é o fato de nele existir uma circulação fechada do vento ao redor de seu centro, girando no sentido horário – no Hemisfério Sul.

A formação desses ciclones depende basicamente de seu local de origem, se são originados dentro ou fora dos trópicos. Os ciclones tropicais, como o próprio nome sugere, se formam e se desenvolvem nos trópicos, região sempre quente e úmida. Enquanto os extratropicais se formam fora dos trópicos e possuem um lado frio, constituído de massa polar, e outro quente, de massa tropical. A diferença entre esses dois tipos de ciclones é que o tropical, apesar de menos extenso, possui uma grande intensidade em relação a chuvas e velocidade do vento. Além disso, existe ainda um terceiro tipo, o subtropical, um fenômeno raro que possui características de ambos os ciclones tropical e extratropical.

O professor ainda informa que no Brasil, especialmente na região sul e sudeste, os ciclones mais comuns e frequentes são os extratropicais, como os que vêm atingindo o Rio Grande do Sul nos últimos dois meses. Sendo que o único caso registrado de ciclone tropical, ou furacão, foi o denominado Catarina, que atingiu a região sul do país em 2004.

Com o fenômeno especificado, vamos à justificativa dessa alta frequência de ciclones extratropicais neste ano em nosso estado. O professor André explica que a costa do Rio Grande do Sul e Uruguai é uma região ciclogenética, ou seja, uma região geradora de ciclones. Assim, apesar de muitas vezes acabarmos não os percebendo, os ciclones são fenômenos comuns, com periodicidade aproximadamente semanal. Eles geralmente se formam próximos à costa e rapidamente se deslocam para o sudeste, adentrando o oceano, sem causar grandes transtornos para as cidades. No entanto, o que tem ocorrido nos últimos meses é a formação desses ciclones em locais muito próximos à costa, acarretando impactos mais fortes nos municípios e maiores variações de temperatura.

Segundo o professor, alguns estudos associam o aumento da frequência destes ciclones ao processo de formação do El Niño, fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano pacífico, que gera alterações nos padrões climáticos de temperatura e precipitação em localidades na faixa tropical do globo, como o Brasil. Porém, existem outras oscilações climáticas que podem influenciar no atual aumento da frequência dos ciclones sobre a região, mas essas ainda devem ser analisadas

A previsão para os próximos três meses em Pelotas, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), é de bastante chuva, tendo 60% de probabilidade de atingir entre 50 e 100 milímetros acima do normal para a época. Além disso, a palavra “ciclone” deve continuar em nosso vocabulário por um tempo, já que o fenômeno tende a continuar frequente na região, ainda devido ao El Niño.

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