A humanidade em “Os sete maridos de Evelyn Hugo”

Quando terminei “Os sete maridos de Evelyn Hugo” soube urgentemente que precisava escrever sobre esse livro. Na verdade, o que começou como um interesse passou por paixão, compreensão e amor. Todos os sentimentos possíveis passam por ti quando você se permite ler essa obra.

Taylor Jenkins Red pode considerar um dos seus maiores feitos criar Evelyn Hugo, uma personagem forte e ousada que nasceu pobre e decidiu virar uma grande estrela do cinema devido a mãe falecida, e assim fez. Passando por todos os seus sete casamentos, Evelyn amou de diversas formas, mas nada foi mais verdadeiro que seu romance escondido com Celia St. James, também atriz da época.

O romance se passa entre o passado e o presente, a atriz conta a uma jornalista escolhida a dedo suas aventuras, erros e acertos durante todos os anos de carreira em Hollywood. O que fisga o leitor não é o que ela faz, mas como, a forma como Evlyn conduz a sua história demonstra poder e eu arrisco dizer que todos queríamos ser um pouco mais como Evelyn Hugo.

Porém o que a narrativa nos questiona é: todos podemos ser? Será que todos estamos cientes, prontos e preparados para fazer o que for possível para conseguir o que queremos? Não é segredo que Evelyn é a estrela, que ela construiu sua fama e glória com muito trabalho, mas no final da obra me pergunto o que ela ganhou com tudo isso, será que ela era realmente feliz?

Evelyn Hugo e todos os seus sete maridos (e sua esposa) trazem tudo que é mais humano à tona, o livro aborda todos os preconceitos (machismo, racismo, lesbofobia, bifobia e muito mais), além de muitos sentimentos as vezes esquecidos: arrependimento, egocentrismo, luxúria, posse e muito mais. Evelyn é complexa, tanto quanto seus parceiros e sua mulher.

Confesso que o plot twist do final não me surpreendeu e não me fez odiar ou amar menos Evelyn Hugo, apenas me fez compreende-la mais. No final, não consigo parar de pensar no quão humana ela é, afinal todos seus erros foram motivados por dois sentimentos: amor e desejo.

Celia St. James já não me atraí tanto, acredito que ela foi tão idealizada por Evelyn que isso se mostra na escrita do próprio livro. A personagem me parece mesquinha e unidimensional, a única característica que me lembro a mais é que era ruiva. Embora tudo isso tenha sido dito confesso que juntas elas são realmente um bom casal, existe química e mais do que tudo: existe significância real e carinho. Para fora do que isso significa em representatividade, acredito que as duas se complementem bem e se entendam melhor ainda, são duas atrizes dando o máximo para serem famosas e se amar (ao mesmo tempo).

Indo na contramão, temos Harry, o segundo personagem mais complexo da história, ele que movimenta boa parte da narrativa e se estabelece como melhor amiga da personagem principal já no começo da história. Diretor e também obcecado por fama, Harry nos traduz muito claramente o que era ser gay naquela sociedade, tendo casos e criando farsas apenas para conseguir um pouco de amor. Fico feliz em saber que acima de tudo Connor (sua filha) e Evelyn ofereceram isso a ele.

São muitos altos e baixos na vida e carreira de Evelyn (além dos sete casamentos), por isso sobra pouco espaço para a vida de Monique Grant, a escritora escolhida para escrever a biografia fidedigna da vida de Hugo. Sinto que não existe muito o que falar sobre ela e assim está bom. Ela não se mostra tão importante ou imponente, talvez porque Evelyn ofusque o brilho de qualquer um ou apenas porque o planejamento do livro não incluía contar a história de Monique. Não se sabe muito sobre ela e a obra fica espetacular assim.

O fluxo de pensamento é muito bem equilibrado com falas e “notícias” da vida de Evelyn, tornando a narrativa leve e fácil de ser assimilada. São 354 páginas que não vão mudar a sua vida, mas vão fazer você entender a humanidade muito melhor. O amor e o desejo movem o mundo, e moveram Evelyn Hugo por todos seus oito matrimônios (sim, estou contando Celia).

Evelyn Hugo é sim um ícone bissexual, uma representatividade, uma personagem muito bem construída, mas acima de tudo isso: Evelyn Hugo carrega consigo o fardo de ser humana. Ela erra, acerta e tenta de novo, e de novo e de novo, até conseguir do seu jeito. Evelyn traz em si a virtude mais bela de todas: ela é única e (ao mesmo tempo) ela é completamente igual a todos nós. Ela sonha, ela chora, ela sofre, ela ama e ela faz tudo isso te encantando.

Se você ainda não leu “Os sete maridos de Evelyn Hugo” eu sugiro que faça isso agora mesmo, não perca tempo. Como disse, essa obra não muda sua vida, mas te faz entender muito mais o que é se humano de verdade.

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