15 de outubro: um dia dedicado a uma profissão desvalorizada
Por Roger Vilela
Em 15 de outubro de 1827, por meio de um decreto imperial, o ensino público foi criado no Brasil. Exatamente 120 anos depois, em uma pequena escola da cidade de São Paulo, ocorreu a primeira comemoração de um dia dedicado aos professores. Salomão Becker, um dos quatro docentes da instituição que idealizaram o evento, foi quem sugeriu a data. Em Piracicaba, sua cidade natal, mestres e alunos tinham o costume de, no dia 15 de outubro, realizar uma modesta confraternização.
Com o sucesso da celebração, a ideia se espalhou pelas escolas da cidade e do país nos anos seguintes. Em 1963, durante o governo de João Goulart, o “Dia do Professor” foi oficializado nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682. Desde então, o 15 de outubro passou de um dia de celebração para uma data de conscientização.
Hoje, com a pouco valorização e o baixo salário do profissional de educação no Brasil, cada vez menos jovens pensam em se tornar um educador. De acordo com o relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em junho deste ano, apenas 2,4 % dos jovens brasileiros querem ser professores. No mundo, a média chega a 4,2%.
O relatório da OCDE é baseado nas respostas dadas por estudantes de 15 anos no questionário do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla em inglês) de 2015, realizado em 70 países. O resultado representa apenas os jovens que desejam ser docentes em escolas de ensino básico ou médio.
E os professores, recomendam a profissão para os mais jovens? 49% deles disseram que não. É isso o que mostra a pesquisa “Profissão Professor”, uma iniciativa do Todos Pela Educação e do Itaú Social, realizada pelo Ibope Inteligência em parceria com a Conhecimento Social. O levantamento, publicado em julho, ouviu 2.160 docentes de educação básica (da Educação Infantil até o Ensino Médio) de todo o país, das redes públicas e privadas.
Entre as razões para não indicarem a profissão estão: desvalorização da carreira, má remuneração, rotina desgastante, falta de infraestrutura, recursos, segurança, interesse do aluno e base familiar.
A pesquisa também revelou que 33% dos professores estão insatisfeitos com a atividade docente, 29% realizam alguma atividade extra para complementar a renda e que, em média, eles trabalham em uma ou duas escolas, e são responsáveis por cinco ou seis turmas.
OS FUTUROS PROFESSORES DO BRASIL
“Não adianta ganhar milhões e não ser feliz… É como diz o Emicida em uma música: Meus sonhos são tudo baratinho”, é assim, Pierre da Silva, 25, estudante de licenciatura em matemática, responde a nossa pergunta sobre se já recebeu conselhos para mudar de curso. Esse tipo de aconselhamento é recorrente para os estudantes de licenciatura do Brasil. Para muitos eles são loucos. Há sempre aquele desejo do pai ou da mãe para que seus filhos escolham outra carreira. A dúvida sobre o futuro da profissão também é algo que paira acima das cabeças desses jovens.
No Brasil, segundo o Censo da Educação Superior de 2017, há cerca de 1,5 milhões de estudantes matriculados em cursos de licenciatura. Em 2017, 253.056 concluíram a graduação, 5,9% a mais em relação a 2016. Mas será que todos eles conseguiram ser professores por toda a vida? Não é algo que possamos responder de imediato.
Os jovens que querem ser professores, fizeram essa escolha por vocação, pela satisfação em ajudar o outro, por influência dos professores que marcaram suas vidas ou “por saber do grande poder de mudança que [a profissão] tem em pequenos grupos, em diferentes vidas, realidades”, como conta Gabriella Vetromilla, 19, estudante de pedagogia.
Os futuros professores sabem das dificuldades que a profissão enfrenta no país. “A falta de valorização, de confiança no professor e a de, principalmente, ignorância. Hoje qualquer um dá pitaco na profissão achando que sabe mais do que o professor que estudou anos para estar ali. Ninguém tenta corrigir o médico, o engenheiro, mas o professor, todo mundo sabe mais do que ele e isso acaba desmoralizando a profissão. A falta de investimento na educação também, mas isso hoje é redundante, porque nunca houve o investimento adequado. Temos escolas sucateadas desde sempre e professores pagando pra trabalhar e mesmo assim fazem milagres e ninguém valoriza”, diz Diogo Coelho, 19, estudante de licenciatura em história.
Mesmo com todos os percalços, jovens como Pierre, Gabriella e o Diogo continuam seguindo seus sonhos. Diogo resume bem um pensamento que deve ser comum a todos eles: “Acredito muito na mudança da nossa sociedade por meio da educação”.