Linha tênue entre a arte de amar e o silêncio

“Retrato de uma Jovem em Chamas” fala de uma época quando os sentimentos das protagonistas eram invisibilizados        

Por Giovana Costa       

 

Excelentes imagens do filme conduzem espectadores pelas emoções  de Heloïse (Adèle Haenel)  em cada olhar               Fotos: Divulgação

 

O começo do filme “Retrato de uma Jovem em Chamas” (2019 – disponível no Prime Video) é lento, silencioso e carrega um mistério nos olhares das personagens Marianne e Heloïse. Durante a trama, esse silêncio é persistente e a relação das duas é incerta. A diretora francesa Céline Sciamma retorna ao século XVIII para explorar a relação de Marianne (Noémie Merlant) e Heloïse (Adèle Haenel), que, ao longo da história, constroem uma amizade e tornam-se amantes. O enredo traz ao público um convite para compreender o amor e o desejo feminino, mergulhando na história instigante das duas.

A narrativa começa com a chegada da jovem pintora Marienne à mansão de Heloïse. Ela tem a tarefa de pintar um retrato de Heloïse para seu casamento, mas sem deixar clara essa finalidade. Marienne finge ser apenas uma acompanhante de caminhada para Heloïse, que vive em silêncio e não aceita ser pintada. Durante a trama, percebe-se a lamentação de Heloïse sobre a morte da irmã, que caiu de um penhasco, sem que fosse revelado no decorrer do filme o motivo e a forma dessa morte trágica. No entanto, é mencionado que a irmã não gritou e nem pediu ajuda durante a sua queda. Diante disso, é imaginável que a sua morte tenha sido um suicídio.

Através desta situação, o casamento arranjado torna-se uma responsabilidade de Heloïse, que sofre em silêncio com a ideia de se casar com um desconhecido.  O começo da história é vagaroso, mas essa lentidão é a chave para mostrar a construção da relação de Marienne com Heloïse.

A fotografia e as cores das imagens são essenciais para sentir e vivenciar a mesma época que as personagens. Outra coisa chamativa durante o filme são as cores fortes presentes nas roupas das protagonistas. As duas caminham pelo penhasco enquanto o vento forte bate em seus cabelos, além de elas usarem os cachecóis para cobrir o rosto contra o frio. Os olhos delas ficam bem destacados e, apesar do silêncio, é notável uma faísca saindo do olhar de uma para outra. A partir disso, a conexão é construída entre Marienne e Heloïse.

 

Marianne (Noémie Merlant) e Heloïse (Adèle Haenel) são protagonistas em filme sob direção de Céline Sciamma

 

Logo de início, percebe-se que Céline Sciamma trata a presença feminina de forma protagonista na obra, tanto que durante as duas horas de filme poucos homens aparecem. Quando eles estão na tela, a sua presença não é significante e muito menos desenvolvida. E o feminino é presente na obra não somente com a relação das duas personagens principais, mas com outras também. Por exemplo, no começo, Marienne cria uma relação de amizade com a empregada da mansão, a jovem Sophie, a qual presenciou a morte da irmã de Heloïse. Durante a interação delas, uma cena representa bastante a dinâmica do filme. Ao longo da história, Sophie se depara com uma gravidez indesejada e, diante disso, as mulheres juntam-se para ajudá-la. A partir dessa sequência de cenas, é notável o que Céline Sciamma quer passar nesta obra. Apesar da falta de diálogos durante as cenas, há uma linha de conexão entre essas mulheres. O silêncio é algo gritante. A expressão, em cada olhar de ajuda, solta faíscas.

A obra “Retrato de uma Jovem em Chamas” é um convite para mergulhar na conexão do feminino, do desejo, na construção do amor de Marienne e Heloïse, essa paixão que se desenvolve de forma lenta, silenciosa, com impactos em cada interação das personagens ao longo das duas horas de filme. Outra questão é como um amor invisível entre duas mulheres no século XVIII passa a ser notável na obra de Céline Sciamma. A autora consegue desenvolver essa relação com sutilezas, mas de forma bem visível. E, então, aquilo que parece ser impossível de existir em uma época tão conservadora, torna-se viável nas possibilidades de fazer um filme como “Retrato de uma Jovem em Chamas”.

 

História contada na tela com reconstituição do  século XVIII  tem o poder da transcendência

 

Outro ponto importante é a forma como os enquadramentos são trabalhados. A presença frequente do close-up, faz com que o espectador observe e sinta de perto a relação de Marienne e Heloïse sendo construída. O filme faz o público mergulhar no desejo feminino, na sexualidade, no prazer, e todas essas sensações são bem desenvolvidas durante cada minuto do filme. A forma lenta na qual foi construído faz com que a obra se torne tão bonita. Toda combinação de cores, enquadramentos, palavras não ditas, faz o espectador ficar mais conectado durante o longa-metragem.

O “Retrato de uma Jovem em Chamas” é um convite para conhecer o amor de Marienne e Heloïse, essa relação proibida na época, e que, apesar das circunstâncias, cria faíscas a cada segundo do filme e faz o público incendiar com o enredo. Uma história bem contada na tela tem o poder da transcendência.  

Ficha técnica

Direção: Céline Sciamma

Roteiro: Céline Sciamma

Elenco: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami, Valeria Golino, Christel Baras, Armande Boulanger, Guy Delamarche, Clément Bouyssou

Duração: 121 min.

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Exposição celebra 44 anos de trabalho cooperativo de doceiras e doceiros

O Museu do Doce de Pelotas abre mostra que cultiva tradição gastronômica da cidade

 

Instituição no Centro Histórico de Pelotas vem promovendo o resgaste de um saber fazer ao longo dos tempos

 

No dia 9 de julho de 2025, próxima quarta-feira, às 16 horas, o Museu do Doce abre a exposição “Cooperativa das Doceiras: início de uma trajetória patrimonial”. Apresenta ao público 44 anos de trabalho de doceiros e doceiras cooperados que continuam em ação para manter a tradição doceira. O trabalho da cooperativa vem permitindo aumentar o mercado para os doces, adquirir matérias primas com menores custos, obter mais assistência técnica e, principalmente, produzir de forma conjunta doces de qualidade na cidade de Pelotas. Toda essa trajetória poderá ser conhecida neste trabalho museológico.

Na mostra, os visitantes poderão rememorar, ou conhecer a história da cooperativa através de painéis, entrevistas com membros, peças de acervo doadas ou emprestadas pelos cooperados, mosaico com clipagem, entre outras atrações.

As doceiras pioneiras e doceiros pioneiros – que são tema da mostra – foram o alicerce da primeira Fenadoce. Viajaram pelo país levando os doces para divulgação e venda, lutaram desde os primeiros anos pela organização da Rua do Doce e pela patrimonialização do doce pelotense. Por isso, são peças centrais na tradição doceira de Pelotas e são os detentores da sabedoria do fazer. Acreditaram em um sonho e o transformaram em realidade, unidos em busca de um fim em comum que é o de preservar a tradição doceira de Pelotas.

O Museu do Doce  fica aberto de terça a sábado das 13h às 18h. No período da Feira Nacional do Doce (Fenadoce) – de 16 de julho a 3 de agosto, atende em horário especial: de terça a domingo das 10h às 18h. Seu endereço é Praça Coronel Pedro Osório, 8, no Centro Histórico de Pelotas.

 

                        Atividade doceira envolve várias contribuições de diversos grupos culturais              Foto: Cooperativa dos Doceiros de Pelotas

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“A Hora da Estrela” e o silêncio cultural

Macabéa, Clarice Lispector e o jornalismo que cala    

por Bárbara Beatriz A .Carvalho    

 

Marcélia Cartaxo marcou a história do cinema brasileiro com sua  atuação como a personagem  Macabéa  Fotos: Divulgação

 

No Brasil, a arte muitas vezes tem sido convocada a cumprir o papel que o jornalismo nem sempre consegue assumir: dar visibilidade ao que está nas margens, às figuras apagadas da história, àqueles que vivem, mas não aparecem. O filme A Hora da Estrela (1985), dirigido por Suzana Amaral a partir do romance homônimo de Clarice Lispector, é um desses raros exemplos em que a ficção revela, com brutal delicadeza, uma verdade social que muitos se recusam a encarar.

A protagonista, Macabéa (Marcélia Cartaxo), não tem voz nem estética conforme o gosto dominante. Não tem discurso, nem formação, nem charme. É, em essência, aquilo que o jornalismo cultural – em sua vertente mais elitista – muitas vezes escolhe ignorar. E é nesse contraste entre o que se noticia e o que se silencia, entre o que é belo e o que é rejeitado, que a obra se coloca como uma crítica à própria forma como consumimos e legitimamos cultura.

Clarice Lispector, escritora de linguagem instintiva e existencial, construiu com Macabéa uma das personagens mais complexas e politicamente incômodas da literatura brasileira. Escreveu sobre a invisibilidade social não como denúncia panfletária, mas como tragédia íntima. Macabéa não é só pobre – ela é desprovida de ferramentas simbólicas para compreender a própria pobreza. E é esse abismo entre viver e entender que reverbera em cada cena do filme.

 

Fernanda Montenegro, no papel de cartomante, e Marcélia Cartaxo em uma das cenas do filme

Macabéa como símbolo da exclusão cultural

No filme A Hora da Estrela, conhecemos Macabéa, uma jovem de 19 anos, órfã e nordestina, que vai ao Rio de Janeiro em busca de oportunidades. Ela consegue um emprego como datilógrafa por um salário extremamente baixo. Em certo momento, ao reclamarem de sua falta de higiene e dos erros de digitação, um dos chefes a defende, dizendo que ninguém mais aceitou aquele trabalho pelo valor oferecido.

Macabéa come cachorro-quente com Coca-Cola quase todos os dias por falta de recursos. Divide um quarto coletivo em uma pensão e, ao ser questionada por uma colega sobre não possuir quase nada, responde que talvez consiga comprar algo no futuro. Um dos seus hábitos favoritos é ouvir a Rádio Relógio, acompanhando as curiosidades que o mundo oferece. O problema? Ninguém nunca explicou o que essas informações significam. Ela escuta, mas não compreende — o que revela sua completa exclusão do entendimento crítico da realidade.

O lugar favorito de Macabéa é o metrô. Ela diz gostar de admirar o vai e vem das locomotivas. É o lugar onde ela observa, mas não participa — assim como na vida cultural e social ao seu redor.

Suas referências de imagem e comportamento passam a ser as colegas de quarto e a colega de trabalho. Aos poucos, observamos pequenas transformações: começa a pintar as unhas, se olha no espelho, penteia o cabelo, cola recortes de revistas nas paredes do quarto, compra um batom. Até aprende a mentir para faltar ao trabalho — um gesto mínimo, mas simbólico, de agência sobre si mesma.

Como mulher, Macabéa vê sua curiosidade ser constantemente desvalorizada, especialmente por Olímpico de Jesus (José Dumont), seu namorado. Ele também é órfão e nordestino, mas diferente dela, tem ambições: quer ser deputado, famoso, importante. Quando ela menciona que gostaria de ser artista de cinema, Olímpico a ridiculariza, dizendo que ela não tem “nada do que é preciso” para isso — como se enxergar a si mesma já fosse demais para quem está à margem.

Olímpico ensaia discursos, impõe a voz, imagina a si mesmo poderoso. Ela, em silêncio, observa. Quando pergunta o que faz um deputado, ele não sabe responder. Diz apenas: “deputado é deputado, oras”. Quando ela questiona se a esposa de um deputado também é deputada, ele ignora. O relacionamento entre os dois é marcado por silêncios, perguntas da Macabéa e respostas vazias e desdenhosas de Olímpico.

Macabéa representa milhões de brasileiros e brasileiras que vivem às margens do acesso à cultura, à informação e à educação crítica. Sua ausência de referências, de compreensão sobre o mundo e sobre si mesma a torna quase uma “não-pessoa” aos olhos da sociedade e da mídia — alguém que vive, mas sem presença simbólica. É essa invisibilidade que A Hora da Estrela escancara, com delicadeza e brutalidade ao mesmo tempo.

 

Macabéa tem um envolvimento amoroso com Olímpico (José Dumont)

 

Estética como barreira cultural

A personagem Macabéa carrega, em sua própria construção, uma crítica direta aos padrões estéticos que atravessam diversas esferas do que hoje chamamos de “cultura”. O filme utiliza elementos que tocam deliberadamente o campo do “feio” — nas roupas, nos hábitos, nos gestos contidos que nem chegam a ser apenas tímidos, mas sim neutros, fruto da ausência de saber, de referências, de identidade construída. Macabéa representa aquilo que a sociedade costuma rotular como “comum” ou até mesmo “feio”.

Em uma das cenas, sua colega de trabalho, Glória, pergunta: “Ser feia dói?” — um questionamento cruel, mas que sintetiza bem o quanto a estética é usada como marcador de valor e pertencimento. Glória, ao contrário de Macabéa, representa o estereótipo da mulher “ideal” segundo o imaginário dominante: veste roupas que valorizam o corpo, tem cabelos loiros (tingidos), corpo magro, fala com desenvoltura, não espera o casamento para se relacionar sexualmente e até revela, com frieza, já ter feito cinco abortos.

O contraste entre as duas se acentua quando Glória, ao saber que Macabéa é virgem, ironiza sua magreza, dizendo que ela precisa “criar carninha, bundinha”, como se seu corpo fosse inadequado não apenas ao desejo masculino, mas também ao olhar social. Glória completa, com orgulho, que foi criada comendo carne, já que seu pai era açougueiro — uma informação que, embora simples, revela um acesso que Macabéa nunca teve: à proteína, ao afeto, ao cuidado básico. A alimentação torna-se aqui uma metáfora de classe: Glória tem carne; Macabéa, apenas cachorro-quente e Coca-Cola.

Em um gesto singelo, Macabéa oferece a Olímpico uma ficha telefônica, pedindo que ele ligue para ela no trabalho — já que apenas Glória recebia ligações. A cena evidencia a diferença entre quem é vista e quem é ignorada. Quando Olímpico termina o relacionamento com Macabéa para ficar com Glória, ele a descarta com brutalidade:
 “Você é um cabelo que caiu na minha sopa. Não dá vontade de comer.”

A crítica aos padrões estéticos dominantes é clara. O filme convida o espectador a refletir sobre o que é considerado belo e valioso, e como determinadas obras — ou pessoas — são validadas enquanto outras são descartadas.

Um paralelo possível é a própria Semana de Arte Moderna de 1922, que também rompeu com os ideais estéticos importados da Europa. Os modernistas buscavam valorizar o “feio”, o “desarmônico”, o “brasileiro” em sua crueza. Assim como Macabéa, que representa um Brasil profundo e negligenciado, a arte modernista também rompeu com padrões excludentes. Contudo, diferentemente da Semana, que acabou sendo absorvida e ressignificada pelas elites culturais, Macabéa permanece à margem – talvez porque sua imagem não seja rentável nem sofisticada o suficiente para ser celebrada.

Jornalismo cultural e seu papel social

Atualmente, o jornalismo cultural, apesar de ser extremamente rico, costuma estar em segundo plano nas grandes mídias. A principal característica do mesmo é a análise crítica, até mesmo a opinião, o que pode acarretar em um “embate” entre aquele que produz e seu receptor. E o que fazer em meio a uma grande massa de receptores que anseiam por ouvir e ler sobre padrões estéticos que permeiam a história, que buscam entretenimento e não necessariamente aprofundamento?

A premissa do jornalismo cultural é a democratização da cultura, do saber. O filme A Hora da Estrela, inspirado na obra de Clarice Lispector, faz justamente uma crítica a essa indústria e também aos seus receptores — ao anseio desenfreado por padrões, por narrativas de sucesso, por figuras que reafirmam o que já conhecemos como “arte”. O jornalismo cultural, ao silenciar figuras como Macabéa, perde a chance de gerar ruído, de provocar, de ser mais do que curadoria para consumo.

Falta, nesse contexto, uma revisão crítica das próprias práticas jornalísticas culturais: por que não há espaço, com frequência, para narrativas periféricas? Por que a linguagem precisa ser rebuscada para ser legitimada? Por que a crítica ainda olha de cima para baixo, em vez de propor uma escuta ativa, verdadeira?

A linguagem do filme e sua crítica implícita

A linguagem do filme é propositalmente seca, sem trilha emocional que oriente o espectador. A câmera é crua, os ambientes são opressivos e o ritmo é lento. Tudo parece estagnado — como a vida de Macabéa. Para quem vê de fora, a retratação pode parecer absurda, grotesca até. Para quem vive a história real, é apenas a vida sendo ela mesma. O filme, assim como o livro, não explica. Apenas mostra. E nesse mostrar silencioso, revela um grito social que o jornalismo cultural nem sempre está disposto a ouvir.

Macabéa não sabia que existia. E quando soube, morreu. Essa frase, implícita no desfecho de A Hora da Estrela, sintetiza o que falta quando a cultura não é acessível, quando o saber é um privilégio e a estética, uma prisão. A crítica de Clarice Lispector e de Suzana Amaral não é apenas à sociedade, mas também à forma como comunicamos, valorizamos e consumimos arte.

O jornalismo cultural precisa ser mais que uma vitrine para o que é “bonito” ou “consagrado”. Ele precisa se perguntar: quem é a estrela que ainda não apareceu? Talvez a resposta esteja nos olhos opacos de Macabéa — e no que escolhemos não ver.

Para quem vê a retratação pode parecer um absurdo. Para quem vive a história real, é apenas a vida sendo ela mesma.

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Que reflexão maravilhosa, quando assistir o filme, me incomodou bastante, mas não consegui nomear esses incômodos, e com certeza assistirei novamente com um olhar mais inclusivo e crítico a exclusões a tantas estrelas ainda invisibilizadas.

María Eleni

Uma análise primorosa! Parabéns à Bárbara Beatriz! Já li o livro e assisti ao filme, ambos geniais. Mas, não tive na época toda essa percepção, toda luz que nos faz entender melhor a obra de Clarice Lispector.

Rosangela Velasquez

Esse texto foi necessário e conseguiu cumprir com sua finalidade! Me colocou de frente a um espelho. Me fez pensar criticamente sobre o modo como tenho consumido “arte” e quais são essas que tenho buscado.

Ana Clara Viana

Parabéns a autora do texto Barbara Beatriz! Muito assídua e cirúrgica na sua crítica.

Layssa

Um dos meus livros e filmes favorito. Ótimo texto.

Elise

Perfeita visão solidárias aos “sem brilho”… Grato .vou enviar aos amigos como ‘estudo’!

Paulo Brito

Parabéns, felicitaciones ao cinema brasileiro, grande obra clássica da literatura brasileira, escrita por Clarice Lispector, escritora brasileira. Parabéns aos artistas brasileiros.

Liana Valuzia Pereira da Silva

Havia lido o livro, há muito tempo atrás, e até assistido algumas cenas do filme, sem maior interesse, mas ignorado toda essa crítica social silenciosa. Obrigada por me abrir os olhos! Certamente, irei rever e rever, além de trabalhar com os meus alunos.

Patricia Trindade De Angelis

Estou interessado em arte

LUIZ Eurico Fontes de A. Soares

 

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Ricardo Darín lidera adaptação poderosa de “O Eternauta” no streaming

Série argentina transforma quadrinho clássico em drama atual com forte crítica social e visual impactante.

Por Pedro Farias       

 

Ricardo Darín atua como personagem Juan Salvo, em narrativa que mistura ficção científica e crítica social Fotos: Divulgação

Com estreia marcada para 30 de abril de 2025 na Netflix, “O Eternauta” adapta um dos quadrinhos mais influentes da América Latina, criado por Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López entre 1957 e 1959. Dirigida por Bruno Stagnaro, com roteiro assinado por ele e Ariel Staltari, a série tem como protagonista Ricardo Darín – ator de O Segredo dos Seus Olhos, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 – no papel de Juan Salvo, personagem central de uma história que mescla ficção científica e crítica social num cenário de colapso.

A trama começa de forma contida, em um bairro de Buenos Aires, onde um grupo de amigos se reúne para uma noite de carteado. Aos poucos, a realidade se desestabiliza, e a série mergulha em um clima de tensão crescente. A cada episódio, o espectador é envolvido por um enigma maior: não apenas o que está acontecendo, mas por que. Sem recorrer a revelações fáceis ou reviravoltas forçadas, “O Eternauta” constrói um suspense denso, onde a angústia se mistura à resistência.

Mesmo respeitando a essência da HQ, a série atualiza suas mensagens para os dias de hoje. É impossível assisti-la sem pensar em tragédias sociais e políticas da América Latina, especialmente da Argentina. A obra original foi escrita durante o governo de Juan Domingo Perón. Após a morte de Perón, a ditadura militar derrubou o governo de sua sucessora, Isabelita Perón — contexto que confere ainda mais peso simbólico à série.

 

Roteirista Ariel Staltari também é ator no papel de Omar, personagem que explora dilemas ideológicos

 

Visualmente, a produção é sofisticada e intensa. A Buenos Aires retratada em tela é ao mesmo tempo cotidiana e desoladora. Ricardo Darín entrega uma atuação segura, dando humanidade a Juan Salvo, um personagem que cresce em complexidade à medida que o mundo ao seu redor desmorona. O elenco coadjuvante também se destaca, com Ariel Staltari (Omar), César Troncoso (Tino), Mora Recalde (Elsa), Alan Daicz (Martín), e outros nomes que ajudam a explorar os dilemas morais e coletivos da narrativa.

 

Andrea Pietra, Carla Peterson e Marcelo Subiotto em uma das sequências da série ‘O Eternauta’

 

“O Eternauta” não é apenas uma série sobre uma invasão ou um colapso. É uma obra que convida à reflexão sobre silêncios, apagões e as “neves” que ainda nos ameaçam de forma simbólica: as perdas de direitos, as ameaças invisíveis, a fragilidade das instituições. E, talvez por isso, cada episódio nos deixe mais intrigados. A tensão não está só no que se vê, mas no que se pressente.

A primeira temporada termina com pontas instigantes e já tem uma segunda confirmada. Resta saber até onde a história vai nos levar — e se seremos capazes de encarar as camadas mais profundas dessa jornada coletiva.

Alfredo Favalli (ator César Troncoso) é o dono da casa onde o grupo de amigos se refugia e onde a história começa

 

Ficha técnica: “O Eternauta” (2025)

Criação original: Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López (HQ)

Direção e roteiro: Bruno Stagnaro

Roteiro: Ariel Staltari e Bruno Stagnaro

Protagonista: Ricardo Darín (Juan Salvo)

Elenco: Ricardo Darín, Carla Peterson, César Troncoso, Andrea Pietra, Ariel Staltari, Marcelo Subiotto,  Claudio Martínez Bel.

Plataforma: Netflix

Estreia: 30 de abril de 2025

País: Argentina

Gêneros: Ficção científica, drama, suspense

 

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Entre cores, formas e estilhaços: como arte sobreviveu ao 8 de janeiro em Brasília

Exposição revela trabalho da UFPel na restauração de obras danificadas e convida à reflexão sobre memória e democracia      

Por Priscila Fagundes         

 

Mostra com fotos do trabalho de restauração encerra nesta sexta com visitação das 8h às 17h     Foto: Prefeitura de Pelotas

   

A exposição “8 de Janeiro – Restauração e Democracia”, finaliza no hall da Prefeitura de Pelotas nesta sexta-feira, dia 27 de junho, com visitação gratuita. No entanto, a mostra que se despede da cidade vai além de imagens e registros: é o testemunho de um trabalho que transformou dor em memória, destruição em reconstrução.

A mostra reuniu registros fotográficos do processo de restauração de 20 obras de arte vandalizadas durante a invasão às sedes dos Três Poderes. O trabalho foi feito por uma equipe da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), composta por estudantes, técnicos e professores do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Foram meses de dedicação intensa dentro do Palácio da Alvorada, onde a universidade montou um laboratório para dar conta do desafio.

“Ver tudo aquilo destruído foi um choque. Naquele mesmo domingo, começamos a conversar: ‘precisamos fazer algo’”, lembra a professora Andréa Bachettini, coordenadora do projeto. “Depois de alguns meses, o Iphan nos chamou. E foi ali que a UFPel entrou, com todo o peso que uma universidade pública carrega: ciência, cultura e resistência”.

 

Agora restaurada a obra “Vênus Apocalíptica Fragmentando-se” (1983), de Marta Minujín voltou a ser vista em Brasília Foto: João Risi/Palácio do Planalto/Flickr

 

As obras restauradas são assinadas por nomes célebres das artes visuais brasileiras como Di Cavalcanti, Frans Krajcberg, Bruno Giorgi e Clóvis Graciano. Muitas delas chegaram em pedaços para serem reconstituídas. Uma ânfora do século XIX, por exemplo, estava quebrada em mais de 180 fragmentos. A escultura “Vênus Apocalíptica Fragmentando-se”, de Marta Minujín, foi lançada do terceiro andar do Palácio como se fosse um projétil. “Foi um trabalho extremamente delicado. Cada obra tinha sua dor, sua história de violência. A gente precisava tratar aquilo com técnica, mas também com muito respeito”, explica Bachettini.

 

Quebrada em muitas partes, a ânfora Idria correu o risco de ser perdida como parte do patrimônio nacional Foto: Mariana Alves/Iphan

 

 

Trabalho cuidadoso de restauração permitiu que peça italiana fosse recuperada Foto: João Risi/Palácio do Planalto/Flickr

 

Nem todas as peças voltam como eram. Algumas, propositalmente, foram mantidas com marcas da destruição — como o quadro Bandeira do Brasil, de Jorge Eduardo, que foi pisoteado e está exposto assim, exatamente como foi encontrado. “A decisão foi deixar visível o que aconteceu, para que nunca se esqueça. É um documento histórico agora”, aponta o professor Roberto Heiden, que também participou do projeto.

A curadoria da exposição é assinada por Heiden, Renan Espírito Santo e Lauer Santos. As imagens que compõem a mostra são de Karen Caldas (professora e coordenadora-adjunta do projeto), do fotógrafo Nauro Júnior e de Mariana Alves, do Iphan.

A reitora da UFPel, Ursula Silva, falou sobre o papel da arte e do patrimônio nesse momento. “Essa restauração foi também um ato de resistência. A entrega das obras restauradas foi a entrega da esperança. É sobre a democracia, mas também sobre afeto”, disse ela, emocionada.

O projeto gerou ainda um livro, “Restauração: Democracia, Preservação e Memória” , organizado por Andréa Bachettini e Karen Caldas, com edição da Satolep Press. A publicação reúne textos, imagens e reflexões sobre o processo vivido pela equipe. E não parou por aí: um documentário, com o título 8 de Janeiro: Memória, Restauração e Democracia, também foi produzido e exibido em Pelotas durante o mês de junho.

 

      Exposição celebra importância do patrimônio cultural e público, além de evidenciar a relevância do trabalho de restauração                                                   Foto: Prefeitura de Pelotas

 

Mas talvez um dos aspectos mais tocantes de toda essa experiência tenha sido o trabalho com educação patrimonial. Atividades com crianças e adolescentes do Distrito Federal buscaram mostrar que aquele patrimônio destruído também pertence a elas. Uma das oficinas convidou estudantes a restaurar réplicas da ânfora “Idria”, como se estivessem no lugar dos restauradores. “A gente se surpreendeu com o resultado”, contou Antonio Ramos, estudante da UFPel que participou da ação. “Teve um menino que pintou o céu de Brasília cheio de fumaça, por causa das queimadas que estavam acontecendo. Eles entenderam a proposta de um jeito muito profundo.”

Para quem ainda não viu a exposição, a oportunidade vai até esta sexta-feira, no saguão da Prefeitura. Ao sair de lá, talvez fique a sensação de que restaurar não é apenas colar pedaços — é costurar histórias, preservar o que somos, e lembrar do que nunca mais pode acontecer.

Veja a  lista de obras restauradas:

“Galhos e Sombras” (1970), de Frans Krajcberg – escultura em madeira pintada;

“O Flautista” (1961), de Bruno Giorgi – escultura em bronze e base em granito;

“Matriz e grade no 1° plano” (1976), de Ivan Marquetti – óleo sobre tela;

“Mulatas à mesa” (1962), de Emiliano Di Cavalcanti – pintura em óleo sobre tela;

“Retrato do Duque de Caxias” (década de 1930), de Oswaldo Teixeira – óleo sobre tela;

“Rosas e Brancos Suspensos” (1970), de José Paulo Moreira da Fonseca – óleo sobre tela;

“Casarios”, de Dario Mecatti – óleo sobre tela;

“Sem título”, de Dario Mecatti – óleo sobre tela;

“Idria”, autoria não identificada – cerâmica (Majólica Italiana);

“Cena de Café” (1978), de Clóvis Graciano – óleo sobre tela;

“Paisagem do Rio” (atribuído), de Armando Viana – óleo sobre tela;

“Vênus Apocalíptica Fragmentando-se” (1983), de Marta Minujín – escultura em bronze;

“Cotstwold Town” (1958), John Piper – óleo sobre tela;

“Borboletas e Pássaros” (atribuído) (1965), de Grauben do Monte Lima – óleo sobre tela;

“Bird (Pássaro)” (1955), de Martin Bradley – guache sobre papel;

a 20. “Músico 01 – 05” (atribuído) (1963), de Glênio Bianchetti – óleo sobre madeira.

 

Assista o  documentário “8 de Janeiro: Memória, Restauração e Democracia”: 

 

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“Homem com H” celebra a “ousadia de ser livre” de Ney Matogrosso

Longa-metragem faz jus à incrível trajetória do cantor que marca a cultura nacional       

Por Amanda Leitzke            

 

Ney Matogrosso prestigiando a pré-estréia de “Homem com H” com Esmir Filho e Jesuíta Barbosa    Foto: Divulgação

 

O filme biográfico que estreou no dia 1º de maio nos cinemas, conta de maneira íntima e sensível a história de vida de Ney Matogrosso, seu processo pessoal para se entender como artista, a maneira que explorou sua expressão musical e de identidade, o reconhecimento nacional que ganhou, e o impacto que causou na cultura brasileira.

A obra fala de diferentes fases da vida de Ney Matogrosso, começando pela sua infância, quando era agredido pelo seu pai, que dizia que ele deveria “virar homem” e que “filho meu nunca vai ser artista”. Depois, trata do período que viveu no exército quando era adolescente. E durante toda a sua vida adulta, abordando o início da sua carreira na banda “Secos e Molhados”, seus trabalhos como artista solo e relacionamentos amorosos, focando na sua relação com Cazuza e Marco de Maria. Fala também sobre a ditadura militar e a censura, a epidemia da AIDS, e o fenômeno da sua carreira aqui no Brasil.

A história prende o espectador do início ao fim e, em nenhum momento, pode causar desinteresse. O filme conta com muitas apresentações musicais que ajudam na narrativa, as cores, ângulos e enquadramentos são muito bem trabalhados pelo diretor Esmir Filho, e os figurinos são extremamente fiéis à época e às roupas que Ney Matogrosso usava em seus shows.

Um dos pontos de maior destaque é a atuação impressionante de Jesuíta Barbosa. Ele incorpora de maneira admirável a essência e os trejeitos de Ney, e consegue transmitir todas as emoções e conflitos internos do personagem brilhantemente. O mesmo pode ser dito sobre o restante do elenco principal. O pai de Ney é um personagem complexo. No início, bate no filho, é preconceituoso e nunca o apoia. Mas, com o passar dos anos, aprende a ver o filho com respeito e valorização, admitindo, já no final de sua vida, que ele é, sim, “um grande artista”. Sua mãe também exerce um papel importante na vida de Ney, pois sempre o protegia, ajudava da maneira que podia, e admirava muito a pessoa que se tornou e a arte que criava.

 

De garoto sonhador a um dos maiores nomes da música brasileira      Foto: Divulgação/Paris Filmes

 

Outro ponto importante são as relações amorosas que Ney Matogrosso teve durante sua vida, tanto com homens, quanto com mulheres. As duas que mais se destacam no longa, são as com o também artista, Cazuza, e mais adiante com Marco. A paixão e os conflitos enfrentados durante os dois relacionamentos são muito bem desenvolvidos, com muitas cenas de momentos tranquilos e normais da vida de um casal, mas também com muitas cenas explícitas, algumas de briga, e, no final, de cuidado e melancolia, quando Cazuza e seu parceiro são diagnosticados com AIDS, além de muitas outras pessoas de próximo convívio de Ney.

Por abordar diversas temáticas, o filme atrai tanto a faixa etária que viveu a ascensão de Ney Matogrosso, quanto a nova geração que tem interesse em descobrir mais sobre a vida do cantor. Nas sessões nas salas de exibição, dá para notar que a história sensibiliza as pessoas jovens, além de quem vivenciou a história do cantor na época dos acontecimentos. O público se diverte com os momentos mais engraçados, e os fãs chegam a cantar as letras de Ney nos momentos de apresentação musical.

Também há momentos emocionantes, que são muitos, mas principalmente os que exploraram a dor da epidemia da AIDS, o avanço da doença de Marco e a perda de diversos amigos do cantor. Em certo momento, Ney deixa claro o orgulho que sente em ser quem é, mesmo com todos os estereótipos e comentários da época. Na cena em que Marco fala, ao discutir o seu diagnóstico, que “esse vírus veio para matar a gente”, Ney responde: “Não, se ele veio, é pra mostrar que a gente existe, que a gente é humano e que a gente ama”.         

O filme e a vida de Ney Matogrosso inspiram a ser autêntico, a explorar a sexualidade e a identidade da maneira que se deseja, de amar e apreciar fortemente as pessoas que cercam, de criar arte e de lutar pelo que se acredita, e, acima de tudo, inspira  a ousadia de ser livre.

A cinebiografia “Homem com H” está disponível na Netflix desde o dia 17 de junho, e, no Prime Video, para aluguel e compra, a partir do dia 27 de junho.

Ficha Técnica:

Direção e roteiro: Esmir Filho

Cinematografia: Azul Serra

Companhias produtoras: Paris Filmes; Paris Entretenimento

Diretor de Fotografia: Azul Serra

Diretor de Arte: Thales Junqueira

Figurinista: Gabriella Marra

Engenheiro de Som: Martin Grignaschi

Duração: 129 min

Elenco: Jesuíta Barbosa, Hermila Guedes, Bruno Montaleone, Rômulo Braga, Mauro Soares, Jullio Reis, Jeff Lyrio, Caroline Abras, Lara Tremouroux, Bruno Parmera, André Dale, Davi Malizia, Augusto Trainotti, Danilo Grangheia, Artur Volpi e Bela Leindecker.

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Escola de Restauração faz sua aula inaugural

Projeto busca formar profissionais comprometidos com a preservação de patrimônios históricos   

Por Júlia Radmann e Maria Eduarda Santos     

 

                    Renato Sivoldi, Carmen Vera Roig e Simone Neutzling  conversaram com  entusiastas da área                    Fotos: Carlos Queiroz/QZ7 Filmes

 

Com aulas presenciais na Catedral São Francisco de Paula de Pelotas, a Escola de Restauração – uma iniciativa da Perene Patrimônio Cultural e Ambiental – une o antigo e o novo. O principal objetivo da escola é formar profissionais comprometidos com a preservação da história do nosso estado. A aula inaugural, realizada no dia 17 de maio, marcou oficialmente o início das atividades da Escola de Restauração. O encontro foi uma contrapartida de um projeto ainda maior: a restauração da Catedral de Pelotas. A atividade reuniu estudantes, profissionais e entusiastas da área do patrimônio. As aulas foram ministradas por Simone Neutzling, mestre e doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural.

Transformando os patrimônios históricos em verdadeiras salas de aula, a Escola de Restauração se preocupa com o futuro e com as histórias que esses prédios carregam. Seguindo a metodologia do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e do IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado), a escola oferece formação teórica e técnica para estudantes e profissionais de arquitetura, engenharia, conservação, edificações e demais interessados. Mais do que capacitar, a proposta é sensibilizar para a importância da preservação da memória coletiva.

Durante a aula, Simone explicou como serão organizadas as atividades do projeto e destacou a relevância dessa iniciativa para Pelotas. “É uma cidade que tem tudo para se destacar na economia criativa – e essa economia pode surgir a partir do patrimônio. Mas, para isso, a gente precisa desenvolver um ecossistema do patrimônio. Tem que ter o projeto de restauração, a obra de restauração e pessoas capacitadas para fazer tudo isso”, afirma a arquiteta.

 

Encontro propôs o desenvolvimento da economia criativa através de um olhar para o patrimônio das cidades

 

Esse primeiro momento foi pensado justamente para apresentar a importância desse trabalho a quem participa do projeto, mostrando o quanto é necessário que mais profissionais – de diversas áreas – tenham esse tipo de vivência. Renato Savoldi, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), reforçou essa ideia: “Estamos aqui e em áreas muito ligadas à memória e ao patrimônio. É isso que a gente busca: a transmissão de experiência”.

Com mais de 110 inscritos apenas na etapa da Catedral de Pelotas, a ação já mostra o quanto é necessária – e bem recebida. A aula inaugural foi só uma amostra do que vem pela frente para quem se inscreveu, tanto aqui em Pelotas (na Catedral São Francisco de Paula e na Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Igreja do Porto) quanto em Jaguarão (na Igreja Imaculada Conceição) e em Arroio Grande (na Capela de Santa Isabel).

As aulas, que seguirão até o mês de setembro, representam um novo marco na formação de profissionais dedicados à conservação do patrimônio histórico do estado – e, principalmente, da nossa cidade. A Escola de Restauração se firma como um espaço de aprendizado e troca que olha para frente, mas sem nunca deixar a memória para trás.

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“Cassino” (2024) é um retrato cru e sensível da juventude à deriva

Com realismo reconhecível para quem é da região, o filme de Gianluca Cozza revela o vazio e a resistência de quem vive o Balneário Cassino fora da temporada   

por Maria Clara Goulart   

 

História fala de um lugar para além dos rótulos turísticos           Fotos: Divulgação

 

O silêncio que toma conta do Balneário Cassino no inverno não é apenas climático: ele se infiltra nas calçadas vazias, nas casas fechadas à espera da próxima temporada e na paisagem estagnada de uma cidade que, fora do verão, parece suspensa no tempo. Cassino, o maior balneário do mundo em extensão, é também um lugar de contrastes, entre a agitação da alta temporada e a inércia do resto do ano, entre as casas dos veranistas e os bairros mais afastados onde vivem os que ficam o ano inteiro. Apesar de não ser um documentário, o filme de curta-metragem “Cassino” apresenta um realismo reconhecível para quem é desta região do Rio Grande do Sul: cada plano parece extraído do cotidiano, como se o diretor tivesse captado o que há de mais íntimo e inconfundível na experiência de viver ali.

É desse segundo “Cassino”, muitas vezes invisível nas narrativas turísticas, que vêm Daniel, Tando e Soninho. Moradores da cidade, incorporam uma juventude que convive com o excesso de ociosidade, com a distância simbólica em relação aos privilégios que as casas de veraneio representam e com a vontade, ainda difusa, de emergir. Em “Cassino”, dirigido por Gianluca Cozza, acompanhamos os três em suas caminhadas noturnas, quando invadir residências se torna uma espécie de passatempo, não por necessidade, mas por tédio, curiosidade e uma busca silenciosa por algo que não sabem nomear.

O filme se estrutura de forma fragmentada, sem um arco narrativo tradicional, como se refletisse a própria rotina dos personagens. Eles andam, conversam, dividem cigarros, contam histórias e revelam frustrações. E é nesse fluxo aparentemente banal que “Cassino” revela sua densidade: um retrato sem adornos da juventude periférica em suspensão, à espera de algo que talvez nunca venha.

Os diálogos, por vezes marcados por grosseria e humor áspero, são atravessados por um vocabulário típico de seu entorno. Não se trata apenas de brutalidade emocional, mas de um modo de se expressar condicionado pela realidade em que vivem, por uma cultura pela qual a dureza é aprendida cedo e a sensibilidade tem pouco espaço para se manifestar. Há, nos personagens, uma mistura de indiferença e inquietação que parece comum a muitos papareias, moradores do extremo sul do país. Entre eles, a ideia de sair da cidade, de tentar a vida em outro lugar, costuma ser vista não só como um desejo, mas como o único caminho possível para escapar da rotina repetitiva, da falta de perspectivas e da sensação de que nada muda.

A breve viagem de Soninho a São Paulo reforça essa tensão: é uma tentativa de deslocamento físico e simbólico, de sair da condição em que está, ainda que sem saber bem o que encontrar do outro lado. Esse gesto de fuga dialoga diretamente com as invasões de casas: adentrar espaços que não lhes pertencem é, em alguma medida, experimentar outras possibilidades de vida, mesmo que de forma provisória, silenciosa, quase clandestina.

 

Filme reflete rotina dos personagens que vivenciam seus sonhos, desafios e contradições

 

Por fim, Soninho revela o motivo de sua volta ao Rio Grande, momento em que a conversa toma outro rumo. Ele conta, com um certo constrangimento, que a viagem não saiu como esperado, em parte por causa de uma desilusão amorosa. Mas em vez de zombarem ou reforçarem o fracasso, seus amigos o acolhem, dizendo que ele não deveria ter saído e que vão ajudá-lo a reconstruir a vida ali mesmo, no Cassino. É um momento de escuta e apoio, que rompe, mesmo que brevemente, o código da camaradagem masculina.

A ambientação é um dos grandes trunfos da obra. As ruas vazias, filmadas à noite com luz natural e planos longos, traduzem um sentimento de desamparo e familiaridade. Há uma estranheza reconhecível ali: quem já caminhou pelo Cassino fora de temporada sabe o que é estar sozinho entre quarteirões apagados. A praia, curiosamente, mal aparece, e essa ausência parece proposital. O filme não quer retratar o balneário como destino turístico, mas como um espaço de intervalo, onde o vazio se torna paisagem predominante.

“Cassino” é, acima de tudo, um filme sobre o inverno, não apenas o do clima, mas o das relações, das oportunidades, das perspectivas. Um tempo de hiato em que a juventude se desloca lentamente, à deriva. Gianluca Cozza aposta em uma narrativa econômica, sem respostas fáceis nem grandes reviravoltas, sustentada por uma observação atenta e sem filtros. Seus personagens não são heróis nem vilões, mas jovens atravessando um espaço e um tempo que pouco lhes oferecem.

 

Ficha Técnica:

Direção: Gianluca Cozza

Produção: João Fernando Chagas, Nica Maleoa, Pedro Guindani

Roteiro: André Berzagui, Eleonora Loner, Gianluca Cozza

Montagem: André Berzagui

Direção de Arte: Luciana Abbud, Richard Tavares

Empresa(s) produtora(s): Saturno Filmes

Elenco: Leandro Gomes, Daniel Guimarães, Anderson Campos

 

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Edneia Brazão traz o talento cabo-verdiano para o sul do Brasil

Das festas da infância à trilha premiada no Festival de Gramado: a jornada musical da cantora e compositora   

Por Isadora Jaeger    

 

Artista mescla em seu repertório músicas do seu país de origem e de outras nacionalidades       Foto: Acervo Pessoal 

 

Edneia Brazão é uma artista de 25 anos, natural de Cabo Verde, na África. Formada em Ciências Musicais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ela atua como professora de canto, compositora e artista independente. Com o desejo de levar a cultura cabo-verdiana ao mundo, a cantora incorpora em sua arte elementos da música africana, que hoje compartilha com o público brasileiro por meio de suas canções.

Nascida na Cidade da Praia, na Ilha de Santiago, Edneia passou grande parte de sua infância na Aldeia SOS, onde viveu desde os quatro anos. A instituição, presente em mais de 130 países e territórios, com cerca de 570 unidades no mundo, oferece acolhimento a crianças e adolescentes que perderam ou estão em risco de perder o cuidado parental. Apesar de ter crescido na Aldeia, Edneia manteve contato com sua família biológica, parte de sua inspiração, já que cresceu cercada da música tradicional cabo-verdiana. Ela conta que, aos três anos de idade, fugia de casa para dançar em festas da vizinhança, mesmo sabendo da desaprovação da mãe.

O desejo de estudar no Brasil surgiu enquanto estava na instituição. Edneia conheceu o Brasil por meio das telenovelas e ficou encantada com o país. Ela conta que é comum os cabo-verdianos mudarem de localidade para cursar a faculdade, e que a Aldeia SOS incentivava as crianças a pensarem nos seus planos para o futuro. Desde então, seu interesse pelo Brasil virou assunto nos encontros do Plano de Desenvolvimento da Criança. No final do seu ensino médio, foi a visita da Embaixada do Brasil na feira de profissões que lhe aproximou de seu sonho. A partir disso, ela decidiu se preparar melhor: embora já dominasse o português desde a infância, seu contato com a língua era com o português falado de Portugal, o que exigiu uma adaptação ao vocabulário e às expressões brasileiras, já que algumas palavras têm significados diferentes ou, conforme o caso, até ofensivos no Brasil.

Após concluir seus estudos em Cabo Verde e ser aprovada para estudar no Brasil, aos 18 anos, Edneia ingressou no curso de Bacharelado em Ciências Musicais da UFPel, em Pelotas, no qual desenvolveu seus talentos e encontrou oportunidades para expandir sua carreira artística.

Apaixonada pelos ritmos cabo-verdianos, a artista cita como referências artísticas nomes Ildo Lobo, Mayra Andrade e Sara Tavares, cantora portuguesa de ascendência cabo-verdiana que foi peça fundamental no movimento da “nova música africana”. Com canções cantadas em português, crioulo cabo-verdiano e inglês, a obra de Sara Tavares auxiliou na construção da mescla de culturas nesse novo gênero.

Segundo Edneia, sempre que ela tem a oportunidade, ela apresenta a música cabo-verdiana, já que é uma manifestação cultural que tem muito a oferecer. “Eu acho que é uma forma de as pessoas conhecerem a cultura cabo-verdiana sem estar lá, sem estar presente em cada dança, em cada batimento de um tambor (…) Eu quero muito mostrar isso para o Brasil. É uma das coisas que eu tenho como objetivo da minha vida e que eu espero concretizar”, diz.

Na última semana de maio, Edneia fez apresentações em dois eventos comemorativos da Semana da África. Um deles a Terceira Edição da Semana da África do Coletivo de Estudantes na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), na cidade do Rio Grande, e a Semana Africana de Pelotas. Em ambas ocasiões, ela interpretou canções de ritmos africanos, especialmente ritmos cabo-verdianos como a morna e a coladeira.

 

Apresentação no evento do Coletivo de Estudantes Africanos em Rio Grande             Foto: Acervo Pessoal

 

Embora levante a bandeira de Cabo-Verde com orgulho, Edneia também usa de inspirações de diversas culturas em sua arte. Ela acredita na música como uma linguagem universal, e sua paixão por outros idiomas faz com que ela busque sonoridades em diversos outros países. Sua admiração pelo pop norte-americano também se faz presente em seu repertório, com nomes como Whitney Houston, Beyoncé e sua favorita: Taylor Swift.

Assim como sua maior inspiração, Taylor Swift, Edneia nutre uma paixão profunda pela composição. Seu repertório autoral inclui canções como “Love Alwayse “Made My Way, parceria com a artista Taís Dewulf, ambas disponíveis no YouTube. “Eu escrevo muito o que eu sinto, o que eu passo. Eu tento trazer o que eu vivo na minha música”, diz.

No entanto, engana-se quem pensa que as conquistas de Edneia param por aqui. Suas habilidades como intérprete e compositora abriram ainda mais portas para a cultura africana no sul do Brasil. Por meio de um curta-metragem premiado, Edneia encontrou mais uma oportunidade de mostrar parte de suas raízes.

 

Edneia recebe prêmio de Melhor Trilha Sonora no 52º Festival de Gramado Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto/Divulgação

 

O curta-metragem “Não Tem Mar Nessa Cidade, dirigido por Manu Zilveti e protagonizado por Edneia e Paulo N’Dermei, conquistou o prêmio de Melhor Trilha Sonora no 52º Festival de Cinema de Gramado. A trilha sonora, assinada por Pedro Erler, conta com a voz de Edneia nas canções. Em seu website, Pedro conta que Edneia lhe apresentou ritmos e artistas cabo-verdianos ao longo do processo de composição.

Edneia destaca que a participação no curta surgiu de forma inesperada, através de uma indicação de um amigo por meio das redes sociais, mas aceitou o desafio. “Eu sempre gostei muito da atuação. Quando era pequena, vivia brincando de atuar”, relembra. “Gosto muito dessa área, e quando recebi o convite, aceitei na hora. A gente fez um filme muito bacana — e agora ele está aí, no mundão.”

Enquanto desenvolve sua carreira, a artista não perde oportunidades de trabalhar com o que ama, seja música ou atuação, e já conta com mais uma produção nas telonas. Edneia protagonizará mais um curta-metragem com estudantes da UFPel, começando as gravações neste mês.

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Muito legal conhecer a história da Edneia. Admirável a sua coragem, para buscar a realização de seus sonhos, apesar de tantas dificuldades pessoais. Excelente matéria jornalística.

Ana Maria Fuhro Louzada

Amei, matéria linda! 👏🏻👏🏻

Artur Prado

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Competição de filmes de curta-metragem está com inscrições abertas

Festival de Cinema de Três Passos será em novembro e aceita cadastro de filmes até dia 16 de julho

 

Tradicional Cine Globo,  que comemora 70 anos, será novamente grande palco do evento    Foto: Carlos Grün

 

Localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, Três Passos prepara-se para sediar a sétima edição do seu evento cinematográfico que virou símbolo da cidade, marcado para as datas de 4 a 8 de novembro de 2025. O Festival de Cinema de Três Passos recebe inscrições gratuitas de curtas nacionais e internacionais até o dia 16 de julho,  exclusivamente no site cinematrespassos.com.br.

Na mostra competitiva, poderão se inscrever curtas produzidos no território brasileiro e também em países estrangeiros. Os curtas selecionados concorrem em 17 categorias, 16 avaliadas pelo Júri Oficial e uma pelo Júri Popular. Já a parte não competitiva vai reunir títulos não selecionados para a mostra principal, o Projeto #Cidade Cinematográfica 5 e produções locais e de municípios da região. 

Serão aceitos filmes produzidos a partir de 1º de janeiro de 2023 e finalizados até a data da inscrição, e que não tenham sido exibidos na edição anterior do festival. A duração máxima deve ser de até 20 minutos (incluídos os créditos) e legendas obrigatórias em português, como recurso de acessibilidade. Filmes em outros idiomas devem ter legendas em português.

O evento recebe produções de todos os gêneros, com temática livre, exceto filmes institucionais, publicitários e videoclipes. Contudo, o festival favorece produções com assuntos como sustentabilidade ambiental e direitos humanos. Não há limite de número de filmes por realizador. É desejável que os filmes contenham uma das medidas de acessibilidade.

Com a temática Lugar de Memórias, o Festival de Cinema de Três Passos reuniu em sua mais de meia década de atividade mais de 600 obras exibidas. Em sua nova edição, consolida o propósito de ser o depositário/confidente das muitas histórias, dos sensíveis olhares, da diversidade de vozes e de visões de mundo trazidas por realizadores.

 

Noite de entrega dos prêmios é o momento mais esperado pelos participantes   Foto: Rudineia El Haijar

 

A projeção acontece no telão do Cine Globo, lugar-memória que resiste há 70 anos. O tradicional cinema de rua de Três Passos será novamente o grande palco do evento. Os vencedores receberão o Troféu Levy, que homenageia Alberto Abrahão Levy, fundador da sala em 1948. Com determinação e perseverança, seu legado foi mantido por gerações de sua família.

A programação, com entrada franca, é composta também por debates, cerimônia de premiação e outras atividades. A realização é do Movimento Pró-Arte, com apoio da Prefeitura Municipal de Três Passos e financiamento do IECINE, Pró-cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal Brasil União e Reconstrução. Contatos pelo Facebook e pelo Instagram.

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