Chegada da Chama Crioula marca início dos Festejos Farroupilhas em Canguçu

Programação teve início no dia 8 de setembro e prossegue até dia 22        

Por Amanda Leitzke e Chaiane Römer        

 

Prefeito de Canguçu, Marcus Pegoraro, recebendo a Chama Crioula   Fotos: Otávio Lopes

 

No domingo, dia 8 de setembro, a cidade de Canguçu recebeu a Chama Crioula, trazida pelo piquete O Vanguardeiro. Este evento deu início aos festejos farroupilhas no município, que se estenderão até o dia 22 de setembro. Durante a tarde, a programação incluiu uma ronda de integração no Ginásio Municipal e um show com o Capitão Faustino.

A festividade deste ano será prolongada por quase um mês, o que reflete a grande importância e o envolvimento da comunidade local. A coordenadora do Departamento de Cultura, Lizane Ledebuhr, explica que a tradição dos festejos em Canguçu vai além da típica “Semana Farroupilha”. “Normalmente, associamos a Semana Farroupilha a uma semana de eventos, mas a nossa programação se estende por mais de 15 dias. Por isso, passamos a chamar de Festejos Farroupilhas. Contamos com a participação ativa dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e das escolas, que promovem uma ronda a cada dia para garantir a integração entre todos os participantes.”

 

Piquete O Vanguardeiro trazendo a Chama Crioula para Canguçu no dia 8 de setembro

 

O tema dos festejos deste ano é o centenário de nascimento do poeta regionalista Jayme Caetano Braun (1924-1999). O patrono estadual é o violonista, cantor e compositor de música nativista Pedro Ortaça. Em Canguçu, a homenageada é Janeti Terezinha Cardoso Vargas. Lizane Ledebuhr revela que a escolha de Janeti foi unânime. “Durante uma reunião com patrões e entidades, surgiram dois nomes, além de um indicado pela Câmara de Vereadores. Após votação, a professora Janeti foi escolhida por seu papel significativo no CTG e na cultura tradicionalista, sendo também a primeira prenda do Rio Grande do Sul.”

A programação dos festejos inclui rondas estudantis e eventos nos CTGs ao longo do mês, com grande importância para a preservação da cultura tradicionalista. O professor e membro do Departamento de Cultura, Giales Raí Rutz, ressalta a relevância dessa participação. “O principal objetivo é manter viva a cultura tradicionalista, envolvendo tanto as escolas quanto os CTGs. As escolas são fundamentais para introduzir a cultura gaúcha desde a infância, e essa conexão com os CTGs permite que as crianças cresçam imersas na tradição.”

Há dois anos, Canguçu viveu um dos momentos mais marcantes da cidade com a 73ª Geração e Distribuição da Chama Crioula, realizada nos dias 12 e 13 de agosto de 2022. O evento, organizado pela 21ª Região Tradicionalista e pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), marcou o início dos festejos farroupilhas no Rio Grande do Sul. O professor e também membro do Departamento de Cultura, Andrio Aguiar, recorda o impacto desse evento: “Foi um marco histórico para Canguçu. A cidade teve a oportunidade de sediar a geração e distribuição da chama, algo que a comunidade não conhecia até então. O evento trouxe uma enorme visibilidade para Canguçu, atraindo delegações de todo o Estado, do País e até do exterior. A recepção calorosa da população e a participação ativa das escolas foram cruciais para o sucesso do evento.”

Os festejos farroupilhas de 2024 estão apenas começando em Canguçu. Com uma programação rica em atrações e atividades, o evento promete manter viva a chama do tradicionalismo e o entusiasmo da comunidade canguçuense até o final do mês.

Confira a programação completa divulgada pela Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Cultura de Canguçu:

 

 

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Coletivo de Autores de Pelotas realiza Festim da Primavera em outubro

Grupo promove evento com várias atividades para incentivar literatura e lançar seu novo livro “Poção Literária”         

Por Enzzo Lopes Rodrigues   

 

O Coletivo de Autores de Pelotas (CAP) começou em fevereiro de 2019, a partir de uma conversa informal entre amigos sobre dicas de como publicar um livro. Desde então, foram organizados outros encontros e foi decidido criar um grupo de escritores nascidos ou radicados na cidade de Pelotas, com o objetivo principal de fazer ações para promover a literatura. O grupo já realizou mais de 100 atividades e, atualmente, conta com 20 membros.

Em outubro, o coletivo vai realizar o evento Festim de Primavera, quando irá lançar o livro infantil “Poção Literária”. A promoção seria realizada no começo do ano, mas precisou ser adiada devido às enchentes que ocorreram no Estado. Com duração de três dias, terá como tema o resgate da criança que existe em cada um de nós e que, com o passar dos tempos, acaba sendo retraída devido às dificuldades da vida adulta.

“A gente quer que as pessoas entendam que qualquer um tem potencial para escrever, gostando e se dedicando. Algumas pessoas escrevem melhor que as outras, mas aquele que escreve mais ou menos e que realmente se dedicar, se interessar, vai melhorar. Então, qualquer pessoa tem potencial,” diz a escritora e jornalista Joice Lima, integrante do grupo.

Com isso em mente, o coletivo realiza uma série de atividades. Uma delas é o “Tá lendo o quê?”, um encontro que acontece mensalmente em cafés, onde as pessoas compartilham o que estão lendo e suas impressões sobre o livro, podendo assim despertar o interesse de outras pessoas pela mesma leitura. Ao fim, ocorre um sarau, quando quem quiser pode compartilhar um trecho do livro que considere interessante.

 

Diogo Rios foi um dos participantes do encontro “Tá lendo o quê?”

 

O coletivo tem uma parceria com a Secretaria Municipal da Cultura de Pelotas (Secult). “Eu sou servidora pública da Secult. Trabalho no (Teatro) Sete de Abril e também sou coordenadora dos pontos de leitura da Secretaria, que foram criados no ano passado. Pontos de leitura Secult e Dunas. […] Então acabou que eu propus para o grupo, todo mundo aceitou e a gente fez uma parceria”, explica Joice, autora de quatro romances. Assim, os escritores do coletivo participam de atividades nos pontos de leitura. A parceria também inclui oficinas de escrita mensais.

 

Joice Lima coordenou uma das oficina literárias gratuitas no ponto de leitura Secult

 

            Confira a programação completa do Festim da Primavera:

11/10/2024 – Sexta-Feira

  • Das 16h às 18h – Sarau Literário na Associação Comunitária Quilombola do Alto do Caixão (localizada na Colônia Santo Antônio, acesso pela Estrada Principal do 7° Distrito Quilombo, zona rural de Pelotas).

 

12/10/2024 – Sábado

  • Das 10h às 14h – Feira Itinerante #EuLeioPelotas no Mercado das Pulgas (Largo Edmar Fetter – Mercado Central).
  • Das 15h às 17h – Caminho das Cores (Secretária de Cultura – Pr. Cel Pedro Osório, 2).
  • Das 17h30 às 19h30 – Lançamento do “Poção Literária – Histórias e poemas para despertar o prazer da leitura”, edição de estreia do Coletrinhas – Caderno Literário Infantil 1. (Secretária de Cultura – Pr. Cel Pedro Osório, 2).
  • 22h – De luz e sombras: “Uma imersão de três horas em escrita criativa, a partir de exercícios e provocações de três ministrantes, baseado no conceito de luz e sombra, seja para despertar a luz da criança adormecida em nós ou para explorar nosso lado mais assustador”. Inscrições antecipadas. (Theatro Sete de Abril – Pr. Cel. Pedro Osório, 152).

 

13/10/2024 –  Domingo

  • CAPela enCena – apresentação de esquete teatral inspirada na Parábola do Filho Pródigo, por atores do Studio Atores de Pelotas e participação especial de Luis Kurz, escritor do CAP.

O grupo já lançou dois livros, o “Aguaceiro” e o “Espaços de vida: escritas de um coletivo”, que podem ser adquiridos diretamente com os autores, no Mercado das Pulgas, do qual o coletivo participa uma vez ao mês, ou no Sebo Icária (rua Tiradentes 2609, Pelotas). Além disso, realiza uma série de outras atividades abertas ao público, todas com o objetivo de incentivar a leitura e a escrita, que podem ser acompanhadas pelo Instagram, @euleiopelotas,  em que também podem ser encontradas mais informações sobre a programação do Festim de Primavera.

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Narrativa sobre solitude e solidão em “Se os gatos desaparecessem do mundo”

Obra literária trata do sofrimento de doença terminal e aborda dilemas atuais na sociedade      

Por Ricardo Bandar     

A frase “Se os gatos desaparecessem do mundo” representa o maior pesadelo de todos os gateiros e gateiras do planeta. O livro do escritor japonês Genki Kawamura traz ao leitor uma mescla de fantasia e reflexões sobre dilemas reais. Lançada em 2012, a obra foi traduzida em inúmeros idiomas e cativou as pessoas com a sua forma de apresentar temas como solidão, solitude (isolamento voluntário e consciente) e a finitude da vida.

A narrativa gira em torno de um jovem carteiro solitário. Logo no começo da história, ele descobre ter uma doença terminal, um tumor cerebral em estágio quatro, e que, infelizmente, não lhe resta muito tempo de vida. Abalado com a notícia, o rapaz aceita fazer um pacto com o diabo, que consiste em fazer algumas coisas desaparecerem do mundo para conseguir mais dias de vida. Através dessas trocas é que o escritor aborda os dilemas da solidão e solitude, utilizando a fantasia e o surrealismo na trama.

 

Livro teve primeira edição em 2012 e já tem várias versões em idiomas diferentes

 

A cada troca realizada, torna-se mais evidente que o carteiro não possui conexões pessoais e sociais. Na verdade, não sobraram muitas. O seu maior laço é com seu gato, o Repolho, que era de sua falecida mãe. Já os vínculos com o pai, amigos e ex-namorada, apresentam muitos problemas e situações mal resolvidas.

A solitude é apresentada toda vez que o personagem principal precisa revirar o seu passado, como, por exemplo, quando faz o celular desaparecer. Antes disso, ele marca um encontro com a sua ex-namorada. Nesse trecho, ao mergulhar na sua história com a garota, é notável a maneira que ele mesmo escolhe manter distância da namorada e a falta de atitude para resolver impasses e conflitos entre eles. Essa situação se repete no decorrer dos capítulos, quando o jovem precisa lidar com um antigo amigo e o seu pai.

Ao mesmo tempo, a solidão aparece como um tema presente em toda a obra, sempre evidenciando que a pessoa com que o garoto realmente podia e gostava de compartilhar os seus dias era a sua mãe. A partir dessa observação, é possível compreender ainda mais o amor dele pelo Repolho, o gato que era de sua mãe.

Então chega a hora em que o diabo propõe fazer todos os gatos do mundo desaparecerem por mais um dia de sua vida. E, nesse momento, o carteiro entra em conflito, terá de escolher entre seu amado gatinho e a sua própria vida. Aqui se nota um grande choque entre a solitude e a solidão do rapaz, afinal, o Repolho é o único ser do qual ele não quis se isolar e escolheu compartilhar seus dias. Além disso, o gato representa uma conexão com a sua mãe, uma forma de atenuar o sentimento da perda dela e de lidar com a finitude da vida.

A escolha que o garoto irá fazer traz a pergunta se a opção pela solidão representa uma vida que vale a pena ser vivida. Está em questão se ele quer encarar o fim da própria vida e se livrar da vontade de se isolar. Se quer resolver os impasses do passado e ir atrás de alguém com quem compartilhar seus dias.

“Se os gatos desaparecessem do mundo”, de Genki Kawamura, faz parte do “subgênero” de ficção de cura, que vai de encontro a um movimento atual de buscar a reflexão sobre os dilemas atuais da sociedade, como distanciamento social, solidão, hiperconectividade, instantaneidade, etc. Esse tipo de livro, faz com que o leitor resgate a felicidade e o sentido nas pequenas coisas do cotidiano.

Além disso, essa obra vai um pouco mais fundo, explorando questões como luto e aceitação da morte, autoavaliação, conexões e relações pessoais, a busca por significado e a superação pessoal. A narrativa emociona e cativa os leitores através de uma jornada em busca de uma vida que vale a pena ser vivida.

 

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Filme “Cidadão Kane” marca legado do diretor Orson Welles

Produção de 1941 inovou na forma do cinema contar histórias e visão multifacetada do protagonista 

Por Pedro de Oliveira   

“Cidadão Kane”, dirigido por Orson Welles e lançado em 1941, é frequentemente considerado um dos maiores filmes de todos os tempos. Para entender essa aclamação, é crucial examinar a revolução narrativa e técnica que o filme introduziu. Welles inovou ao usar a narrativa não linear, começando o filme com a morte do protagonista, Charles Foster Kane, e reconstruindo sua vida através de flashbacks e múltiplas perspectivas. Essa estrutura narrativa desafiou as convenções da época, permitindo ao espectador uma visão multifacetada do personagem.

O uso de técnicas cinematográficas como a profundidade de campo também se destacou. Esta técnica, que mantém todos os elementos do quadro em foco, simboliza a complexidade da vida de Kane e o intrincado emaranhado de eventos que moldaram seu caráter. Além disso, a colaboração com o diretor de fotografia Gregg Toland resultou em composições visuais impressionantes, como o uso de ângulos baixos para engrandecer o poder de Kane. Estas inovações técnicas e narrativas continuam a influenciar cineastas modernos, reafirmando o status icônico de Welles.

 

Famosa cena do filme que exemplifica a técnica da profundidade de campo  Fotos: Reprodução/Internet

 

Crítica ao Poder e à Mídia

Centrado na figura de Charles Foster Kane, o filme oferece uma crítica contundente ao poder e à manipulação midiática. Kane, inspirado na vida do magnata da imprensa William Randolph Hearst, é retratado como um homem que ascende ao poder utilizando a mídia como ferramenta de controle e propaganda. A trajetória de Kane revela como a obsessão por poder e controle pode corromper os valores e desumanizar o indivíduo.

A crítica de Welles vai além do personagem, estendendo-se à própria mídia, que se torna cúmplice na construção e destruição de ícones como Kane. O filme questiona a ética jornalística, sugerindo que a busca pelo sensacionalismo pode comprometer a verdade e a responsabilidade social. Para estudantes de jornalismo, “Cidadão Kane” serve como um alerta sobre os perigos da concentração de poder midiático e a importância de manter a integridade na profissão.

 

Imagem clássica que representa a ascensão de Kane em sua caminhada na produção de notícias

 

Enigma de “Rosebud”

O mistério de “Rosebud,” a última palavra proferida por Kane antes de sua morte, é o fio condutor que permeia toda a narrativa. Essa palavra simboliza a busca incessante pelo significado da vida e pela essência perdida do protagonista. Ao longo do filme, diferentes personagens oferecem suas interpretações sobre Kane, mas ninguém parece compreender plenamente seu verdadeiro desejo ou a razão de seu fracasso pessoal.

“Rosebud” representa a inocência perdida de Kane, sua infância feliz antes de ser separado de sua família e lançado em uma vida de riqueza e solidão. Essa metáfora ressoa profundamente, sugerindo que, apesar de toda a sua riqueza e poder, Kane morreu sem encontrar a paz interior. A simplicidade desse enigma é o que torna “Cidadão Kane” tão poderoso, pois revela a fragilidade humana por trás da fachada de grandeza.

Relevância Contemporânea

Embora “Cidadão Kane” tenha sido lançado há mais de oito décadas, sua relevância permanece intacta. Em tempos de crescente influência das mídias digitais e redes sociais, a história de Kane ecoa as preocupações contemporâneas sobre a manipulação da informação e o culto à personalidade. O filme questiona como o poder e a mídia podem moldar a percepção pública, criando narrativas que favorecem os interesses de poucos em detrimento do bem comum.

Para os estudantes de Jornalismo, essa reflexão é particularmente importante. A era digital trouxe novas formas de disseminação de notícias, mas também novos desafios éticos. Assim como Kane utilizou seu império midiático para moldar a opinião pública, hoje, algoritmos e campanhas de desinformação ameaçam a integridade do jornalismo. “Cidadão Kane” nos lembra que a busca pela verdade deve ser o princípio norteador de qualquer jornalista.

 

 

          Obra de Orson Welles transcende o tempo de sua realização                                                Foto: NBCUniversal via Getty Images

 

Trabalho criativo imortal

“Cidadão Kane” não é apenas um filme; é uma lição sobre o poder, a mídia, e a condição humana. A obra-prima de Orson Welles transcende o tempo, oferecendo uma crítica incisiva que ainda ressoa nos dias de hoje. Para os futuros jornalistas, o filme serve como uma reflexão sobre o papel da mídia na sociedade e os dilemas éticos que cercam o exercício da profissão.

Ao assistir “Cidadão Kane”, é impossível não se impressionar com a habilidade de Welles em entrelaçar temas complexos com uma narrativa visualmente inovadora. A obra permanece um estudo essencial para qualquer estudante de Jornalismo, não apenas pelo seu valor histórico, mas também pelas lições atemporais que oferece sobre a natureza do poder e da verdade.

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Exposição promove reflexões sobre enchente que afetou Pelotas

Mapa da cidade em 3D, exposto no Museu Carlos Ritter, propõe e estimula debates sobre a cidade     

Stéfane Costa     

 

Mapa conta com projeções para ilustrar possíveis cenários a serem vividos       Fotos: Stéfane Costa

 

Parte do coração do Centro Histórico de Pelotas, o Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter mostra muito mais do que se propõe. Apesar de visar as ciências como um todo, o espaço é de grande importância sociocultural.

Exemplo disto é a exposição “Impressão (3D) do relevo de Pelotas: um espaço para reflexão sobre a enchente”. Misturando tecnologia, informação e visual, a mostra traz uma representação da cidade, para estimular pensamentos e ideias sobre a triste realidade climática enfrentada recentemente.

Antes de ganhar destaque em uma das salas do museu, o modelo foi utilizado na Sala de Situação montada para trabalhar as atualizações sobre a enchente e que funcionava no 9º Batalhão de Infantaria Motorizada, onde eram tomadas as decisões quanto às inundações no município.

A longo prazo, o mapa fornece uma rica experiência sensorial para quem o visita no museu.  Para Adriane Borda, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, é justamente seu formato que se destaca. “Nós trabalhamos principalmente para auxiliar pessoas com deficiência visual, de compreender as formas dessa arquitetura, como uma interface para dialogar sobre todo o interesse cultural dessa arquitetura, e, com isso, nós nos desafiamos para representação do relevo da cidade, que é algo complexo também”, explica.

 

Mapa sem projeções  faz parte de exposição que explica nossa relação com meio ambiente

 

O modelo também responde questionamentos de senso comum ouvidos durante as enchentes, como o fato de Pelotas ser uma cidade totalmente sujeita à invasão da água. “Foi fundamental para pessoas leigas porque, muitas vezes, várias pessoas tinham dificuldade de compreender as representações como estavam sendo feitas por meios digitais ”, diz.

Reforçando o conceito da acessibilidade e educação lúdica, o projeto foi feito em partes, ou seja, é possível destacar “partes da cidade” para mergulhar em um recipiente com água. Essa é mais uma forma sensorial de demonstrar como as pessoas podem entender a cidade e o local onde vivem.

 

Peça destacada para ser mergulhada em água é experiência lúdica que demonstra como partes da cidade podem ser afetadas

 

Carolina Silveira, assistente administrativa do museu, acredita que a exposição também seja um importante objeto de reflexão já que se propõe a mostrar os “vários fatores que estão mudando o nosso clima e aos quais temos que se adaptar”. Se não cuidarmos “do nosso meio ambiente, a gente vai ter que se adaptar de um jeito ou de outro, mas tem que se pensar num futuro, não pensar só no hoje. Pensar num futuro e continuar, não só na hora do desespero e parar para ver o que fazer quando já está acontecendo. Tem que pensar com antecedência, tem que seguir refletindo, né?”, reforça.

Segundo Carolina, essa exposição é apenas um exemplo de como o museu “é um espaço para a gente divulgar a ciência, a cultura, e diversas áreas do conhecimento que podem interagir. É muito importante para a comunidade, para o nosso público”, completa. 

O Museu Carlos Ritter fica na Praça Cel. Pedro Osório, 1, no Centro Histórico de Pelotas. Os horários de visitação são de segunda a sábado, das 13h às 18h30.

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Série “Pedaço de Mim”: drama e transformação na tela   

A produção apresenta conflitos humanos intensos com a performance marcante de Juliana Paes      

 Por Emily Alves   

 

A nova série da Netflix, em parceria com A Fábrica, “Pedaço de Mim”, é uma produção brasileira que estreou no dia 5 de julho. Com enredo de novela, a produção nacional, criada e escrita por Ângela Chaves, com a colaboração de Guilherme Vasconcelos e direção geral de Maurício Farias, traz um elenco de peso para tornar essa série um drama difícil de descrever com palavras.

Com um total de 17 capítulos, a história acompanha Liana (Juliana Paes), que sempre quis ser mãe ao lado do marido Tomás (Vladimir Brichta). Porém, sua vida toma um rumo inesperado na noite em que ela descobre a infidelidade de Tomás e, para piorar, é vítima de abuso sexual nas mãos de Oscar (Felipe Abib). Como se não bastasse, Liana acaba descobrindo que está esperando gêmeos, cada um com um pai diferente. Ela se encontra em uma luta frenética para manter esta situação privada enquanto lida com sentimentos conflitantes e um mundo que parece estar desmoronando ao seu redor.

 

Tomás (Vladimir Brichta). Liana (Juliana Paes) e Oscar (Felipe Abib) são personagens principais    Foto:Divulgação/Netflix

 

Nos primeiros capítulos a série se destaca por sua abordagem corajosa e sensível sobre temas delicados, como infidelidade e abuso sexual.

Além da trama central, “Pedaço de Mim” também acompanha a história de Silvia (Paloma Duarte), cunhada de Liana, e seu filho Inácio (Bento Veiga), que enfrenta os desafios de conviver com uma deficiência visual. A escolha do ator Bento Veiga, que tem perda progressiva da visão na vida real, traz uma representatividade autêntica para a trama, já que a condição é geneticamente herdada de seu pai. Silvia se envolve amorosamente com Vicente, interpretado por João Vitti. E o casal vivencia um romance que suaviza um pouco o melodrama predominante, proporcionando uma pausa emocional e uma visão mais leve na narrativa.

Trazendo um pouco do lado negativo, a série possui algumas falhas. Com a pressa de colocar tudo nos primeiros episódios, acaba que os próximos tornam-se lentos e menos desenvolvidos. Isso pode fazer com que muitos telespectadores deixem de acompanhar.

Juliana Paes entrega uma performance poderosa, retratando com profundidade a complexidade emocional de sua personagem, Liana. Seu papel central é o coração pulsante da série, conduzindo o espectador por uma montanha-russa emocional.

 

Juliana Paes em uma cena intensa de “Pedaço de Mim”            Foto: Divulgação

 

Baseado em uma história real de uma moradora do Texas, a série se destaca pela qualidade da narrativa e da produção. O roteiro escrito com sensibilidade e o desenvolvimento dos personagens é cuidadoso e realista permitindo que o público acompanhe e se conhecer emocionalmente com essa história.

“Pedaço de Mim” é mais que um drama familiar, mas uma reflexão sobre os desafios enfrentados por muitas mulheres na sociedade atual, principalmente quando o assunto é machismo.

A série esíá disponível no streaming da Netflix. Vale a pena conferir para quem está interessado em uma trama que combina drama intenso com reflexões profundas sobre desafios pessoais e sociais.

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Filme coloca em evidência papel da imprensa e a liberdade de expressão

“The Post – A Guerra Secreta” apresenta pontos de reflexão importantes para o dia a dia dos jornalistas ao redor do mundo      

Por Antonio Berndt       

 

Meryl Streep vive aquela que tem nas mãos destino de jornal Fotos: Divulgação

 

O filme “The Post – A Guerra Secreta” (2017) trata de um ótimo tema que deve ser discutido até hoje, que são as responsabilidades dos jornalistas em frente às noticias. Existem limites éticos sobre as notícias e sobre o que publicar? O Estado é um fator que pode barrar o jornalismo?

Uma parte essencial de uma democracia é a liberdade de imprensa, mas o governo muitas vezes exerce o poder de decidir se divulgará ou não os fatos públicos. Usando uma história real do jornal estadunidense The Washington Post, a excelente direção de Steven Spielberg e as incríveis atuações de Meryl Streep e Tom Hanks revitalizam o tema.

Meryl Streep interpreta a editora-chefe do The Washington Post, Katharine Graham, a primeira mulher a liderar um grande jornal americano. Ela herdou o jornal após a morte de seu marido e vive um dilema difícil. Deverá decidir sobre publicar ou não os documentos que podem mudar a percepção pública sobre o governo e colocar o seu jornal em risco.

E é nisso que está baseado o ponto central e principal dilema no filme. Até onde a imprensa pode ir para levar ao público as informações. O filme aborda a relação entre a liberdade de imprensa e a segurança nacional. Os editores do The Washington Post estão em um dilema: publicar ou não os Pentagon Papers, arquivos confidenciais que revelam mentiras do governo e podem colocar em risco a segurança nacional.

 

História retrata época em que as mulheres começavam a marcar presença nas redações jornalísticas 

 

Fazendo um breve contexto, os Pentagon Papers foram um estudo secreto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre sua participação militar e política no Vietnã de 1945 a 1967. O relatório oficialmente chamado de “Estados Unidos – Relações com o Vietnã, 1945–1967: Uma Investigação Preparada pelo Departamento de Defesa” detalhou como o governo dos EUA escalou deliberadamente o conflito no Vietnã, frequentemente enganando o Congresso e o público americano sobre a verdadeira extensão e natureza da guerra.

Em um contexto atual, a influência das reportagens é importante para a ética jornalística, especialmente quando se trata de dados confidenciais. O filme questiona até que ponto os jornalistas devem ir para contar a verdade. Os jornalistas precisam decidir se a busca pela verdade e o direito do público de saber prevalecem sobre o risco de causar danos ao governo ou à sociedade. No filme, a decisão de publicar os Pentagon Papers é um ato de coragem, mas também uma decisão com sérias consequências.

Outro ponto que se destaca no filme é a questão do conflito de interesses, já que a proprietária do Post, Katharine Graham, está enfrentando um dilema pessoal enquanto o jornal estava passando inicialmente por uma oferta pública de ações. O jornal pode estar em perigo financeiramente neste momento em que os investimentos estão em questão. A influência da economia no jornalismo é um assunto importante tratado pela história.

O filme retrata a imprensa como um importante guardião que monitora e denuncia os abusos de poder do governo. Os Pentagon Papers são apresentados como uma ferramenta para aumentar a democracia e a transparência, enfatizando a importância da imprensa livre para manter o público informado e garantir que o governo seja responsável por suas ações.

E, por fim, a liderança feminina, que é tão debatida atualmente, é mostrada no filme de forma bem clara. Katharine Graham era uma das poucas mulheres da época que ocupavam cargos de liderança na imprensa. Como resultado, ela foi subestimada e pressionada em um ambiente dominado por homens. O filme destaca que a valentia e a autoridade são essenciais para a liderança jornalística.

Essas questões demonstram a complexidade do papel da imprensa em uma sociedade democrática e como as decisões feitas pelos meios de comunicação podem impactar os cenários políticos e sociais.

 

 

Ficha Técnica

Gênero: Drama

Direção: Steven Spielberg

Roteiro: Josh Singer, Liz Hannah

Elenco: Alison Brie, Austyn Johnson, Bob Odenkirk, Bradley Whitford, Brent Langdon, Bruce Greenwood, Bryan Burton, Carrie Coon, Christopher Innvar, Coral Peña, David Cross, Deborah Green, Deirdre Lovejoy, Gary Wilmes, Jennifer Dundas, Jesse Plemons, Jessie Mueller, John Rue, Justin Swain, Kelly Miller, Luke Slattery, Matthew Rhys, Meryl Streep, Michael Cyril Creighton, Michael Devine, Michael Stuhlbarg, Pat Healy, Philip Casnoff, Rick Holmes, Robert McKay, Sarah Paulson, Sasha Spielberg, Stark Sands, Tom Hanks, Tracy Letts, Will Denton, Zach Woods

Produção: Amy Pascal, Kristie Macosko Krieger, Steven Spielberg

Duração: 116 min.

Ano: 2017

País: Estados Unidos

Classificação: 12 anos

Onde assistir: Netflix e YouTube

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Curta rio-grandino “Cassino” é premiado no 52º Festival de Cinema de Gramado

O filme realizado no Balneário Cassino participou da Mostra Gaúcha de Curtas e recebeu o destaque de Melhor Direção de Fotografia      

Por Fernanda Farinha       

 

História com direção e roteiro de Gianluca Cozza acontece no período de inverno na praia          Foto: Divulgação

 

O curta-metragem “Cassino” conta a história de Daniel, Tando e Soninho, três ladrões que circulam durante a noite pelas ruas do Balneário Cassino, observando as casas e tentando invadi-las, a fim de roubar alguma coisa. Segundo o diretor e roteirista do filme, Gianluca Cozza, a ideia desse projeto surgiu a partir de uma imagem fantasiosa de uma pessoa andando em cima dos telhados das residências do Cassino à noite. O filme fez sua estreia no 52º Festival de Cinema de Gramado e ganhou, no dia 11 de agosto, o Prêmio Assembleia Legislativa, na categoria “Melhor Direção de Fotografia”, na Mostra Gaúcha de Curtas.

“Era uma vontade minha fazer um filme que se passasse inteiramente no bairro onde eu cresci, o bairro Querência, que fica no Balneário Cassino. E eu queria muito arranjar uma desculpa para gravar a paisagem desse bairro, que eu gosto bastante. É um lugar particular”, diz Gianluca Cozza.

O diretor destaca também a importância da praia na sua vida, “Eu me criei no Cassino, então todas as memórias de infância e adolescência que eu me lembro se passam lá. Acho que isso me traz uma memória afetiva muito grande”, recorda. “Eu morava nessa casa que ficava a poucos metros da praia, então, passava muito tempo lá. Acho que a gente que mora em Rio Grande tem uma ligação com a praia o Cassino muito forte, principalmente no verão”, ressalta.

A intenção de Cozza, no entanto, era trazer um outro ponto de vista sobre a praia, quando o frio chega e as casas utilizadas apenas para o veraneio ficam vazias, deixando o bairro com uma aparência “fantasmagórica”. O período de férias escolares no verão é o mais movimentado do Balneário, mas o filme se passa no inverno.

Gianluca é natural da cidade de Rio Grande e formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente mora em Porto Alegre e abriu uma produtora chamada Saturno Filmes, tendo dois de seus colegas de faculdade como sócios.

Os projetos da produtora são desenvolvidos para serem gravados no interior do Rio Grande do Sul, investindo na produção de filmes na região Sul do Estado, que carece de financiamento público e estrutura, “A gente não consegue viver de cinema no interior gaúcho. Por isso, viemos para Porto Alegre, justamente, para conseguir trabalhar com cinema, e, de certa forma, fazer os nossos filmes nessas regiões, [fora da capital gaúcha,] trabalhando com pessoas das localidades envolvidas e movimentando o mercado do interior,” conta o cineasta.

Importância das instituições públicas

Gianluca evidencia a importância das universidades e institutos federais na luta por recursos, em especial, a iniciativa do IFRS Campus Rio Grande com o Núcleo de Produção Audiovisual OFCINE (NPA), que foi parceiro na realização no curta-metragem “Cassino”, ajudando com toda a parte de estrutura de equipamentos utilizados.

“Quando eu era estudante do ensino médio, eu entrei nesse projeto de extensão com a professora Raquel Ferreira, que se chamava OFCINE, e depois que criei a produtora e vim para Porto Alegre, teve essa iniciativa da criação de um Núcleo de Produção Audiovisual,” relata.

A professora do IFRS e coordenadora do projeto, Raquel Ferreira, explica que o Núcleo surgiu através de uma atividade de extensão criada em 2016, mas apenas em 2020 foi possível implementar o NPA, por meio da Política Pública dos Núcleos de Produção Digital (NPDs), para atender a região do Extremo Sul do Estado. “Acreditamos que uma nova juventude vem surgindo cheia de ideias e com bastante criatividade. Dentro do Instituto Federal, imaginamos o cinema como uma possibilidade a mais dentre o que o campus tem oferecido em cursos técnicos. Isso também dialoga com a importância do Núcleo para a região Sul. O nosso objetivo vem sendo fortalecer a cadeia produtiva do audiovisual na região nesses últimos anos,” frisa Raquel.

 

Equipe do curta “Cassino” na apresentação do filme no Palácio dos Festivais   Foto: Ticiane da Silva/Agência Pressphoto

 

Na cerimônia de encerramento da Mostra Gaúcha de Curtas, a diretora fotográfica Eloisa Soares recebeu o prêmio que destacou a elaboração visual da produção. Gianluca Cozza enfatiza a honra da participação no Festival. “Foi uma notícia muito boa, a gente gosta bastante do festival. Achamos que é uma ótima oportunidade de exibir o filme para um público que é mais engajado com o cinema nacional e, principalmente, com o cinema gaúcho, então a gente ficou muito feliz de ter essa oportunidade, exibir o filme no Palácio dos Festivais”.

A premiação comprova que o investimento no cinema do Rio Grande do Sul, em especial na região Sul do Estado, tem resultados positivos e pode colocar cada vez mais os gaúchos no cenário do cinema nacional e até internacional.

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Reviva terror de “Nosferatu”, clássico do Expressionismo Alemão que ganha nova versão em 2024

A releitura da obra de F.W. Murnau, de 1922, tem direção de Robert Eggers, de “A Bruxa” e “O Farol”         

Por Gabriel Veríssimo        

O filme “Nosferatu” (1922), clássico do Expressionismo Alemão e um dos precursores do gênero horror no cinema, ganhará uma nova versão em 2024. O responsável pela adaptação do filme de F.W. Murnau será o diretor Robert Eggers, um dos mais aclamados do gênero na atualidade, conhecido pelos filmes “A Bruxa” (2015), “O Farol” (2019) e “Homem do Norte” (2022). O longa tem estreia marcada para o dia 25 de dezembro, nos Estados Unidos, mas segue sem data para lançamento no Brasil.

A nova versão tem como cenário a Alemanha do século XIX. Um vampiro da Transilvânia, Nosferatu, persegue a jovem Ellen Hutter. Tudo começa depois que o monstro, se passando pelo Conde Orlok, usa o marido de Ellen, o agente imobiliário Thomas Hutter para adquirir uma casa em Londres. O elenco conta com Bill Skarsgård (no papel do Conde Orlock), Willem Dafoe (professor Albin Eberhart von Franz), Lily-Rose Depp (Ellen Hutter), Nicholas Hoult (Thomas Hutter), Emma Corin (Anna Harding), Aaron Taylor-Johnson (Friedrich Harding) e Ralph Ineson (Doutor Wilhelm Sievers).

 

        Bill Skarsgård  interpreta o  papel do Conde Orlock,e Nicholas Hoult  é o agente imobiliário Thomas Hutter               Foto: Divulgação

 

A sinopse revela que o novo filme mantém a essência da história original de 1922. O desafio de Eggers, portanto, é trazer para o cinema contemporâneo as características de “Nosferatu” e do estilo cinematográfico do Expressionismo Alemão, como o pessimismo, a paranoia e a linguagem cinematográfica exagerada. Para uma melhor compreensão dessa releitura, é fundamental que o espectador tenha familiaridade com alguns dos conceitos centrais desse movimento, permitindo assim uma apreciação mais profunda dessa narrativa revisitada 102 anos depois.

 

O Expressionismo Alemão

 

A pintura “O Grito” (1893) de Edvard Munch antecipou a estética expressionista Imagem: Reprodução Internet

 

O Expressionismo foi um movimento artístico que despontou na poesia e na pintura a partir da década de 1910 na Alemanha, o qual buscava retratar o mundo de maneira subjetiva, priorizando a representação dos sentimentos do autor da obra e desprezando a simples descrição objetiva da realidade. Teve precursores como o pintor norueguês, Edvard Munch, autor da pintura “O Grito” (1893).

O movimento passa a influenciar o teatro, a arquitetura e o cinema principalmente após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A derrota da Alemanha foi mais do que um golpe econômico, social e político para o país. Ela instaurou um clima de pessimismo que contrastava fortemente com a euforia vivida durante o período de crescimento e expansão desde a Revolução Industrial. Essa profunda depressão que tomou conta da nação se refletiu intensamente em suas produções cinematográficas.

O Expressionismo Alemão explorou todos os recursos cinematográficos disponíveis para representar o pessimismo, a paranoia, o contraste social, os sentimentos exacerbados e a completa desconfiança na racionalidade. Cada detalhe era meticulosamente concebido para refletir o clima do país. Desde a fotografia, marcada por intensos contrastes de claro e escuro, a direção de arte, com cenários distorcidos e maquiagem acentuada, até o desempenho dos atores, que exibiam expressividade intensa e movimentos sinuosos.

A obra que marcou o início do Expressionismo Alemão no cinema e se tornou um dos seus mais emblemáticos símbolos foi “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), de Robert Wiene. Depois de Wiene, cineastas como Paul Wegener, Paul Leni, Fritz Lang e F.W. Murnau deixaram suas marcas no movimento com seus talentos e gênios criativos, mantendo a Alemanha na vanguarda do cinema por um período.

 

 

“O Gabinete do Doutor Caligari” é um clássico do Expressionismo Alemão

 

“Nosferatu”

“Nosferatu” foi a obra mais importante de Friedrich Wilhelm Murnau. Sua pré-estreia aconteceu em 4 de março de 1922, no salão de mármore do Jardim Zoológico de Berlim, durante a chamada “Festa do Nosferatu”. O longa aborda uma história na qual o corretor de imóveis Hutter precisa vender um castelo cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock. O conde, na verdade, é um vampiro milenar que espalha o terror na região de Bremen, na Alemanha, e se interessa por Ellen, a mulher de Hutter.

O filme foi a primeira adaptação do romance “Drácula”, de Bram Stoker, embora os nomes dos personagens tenham sido alterados, pois os herdeiros do autor não autorizaram a adaptação. Mesmo assim, a viúva de Stoker considerou a produção um plágio devido às grandes semelhanças entre o roteiro de Henrik Galeen e a obra original. Ela venceu a ação judicial, resultando na condenação da produtora a pagar indenização e a destruir todas as cópias do filme.

Apesar de ter se tornado um filme “proibido”, “Nosferatu” revolucionou o cinema mundial e destacou o gênero do horror. Após Murnau, outros cineastas também se aventuraram a retratar o vampiro mais famoso de todos os tempos nas telas, sempre fazendo referência ao diretor expressionista, aos seus jogos de luz e sombra, e às inovações visuais que sofisticaram a linguagem cinematográfica do horror como um todo.

A nova adaptação de “Nosferatu”, dirigida por Robert Eggers, carrega a responsabilidade de honrar o legado de F.W. Murnau e do Expressionismo Alemão. Com um elenco de peso e uma trama que mantém a essência do original, o filme promete ser uma releitura poderosa e visualmente impactante, que pode revitalizar o icônico vampiro para uma nova geração. Ao unir elementos clássicos e modernos, Eggers tem a oportunidade de solidificar seu lugar como um grande nome do cinema de horror.

 

Nosferatu” (1922) , de Murnau, foi a primeira versão cinematográfica do personagem Drácula

 

BÔNUS: Obras para revisitar antes de assistir Nosferatu, de Eggers

“Drácula” – Bram Stoker (1987): O personagem “Drácula” é a inspiração máxima de “Nosferatu”. O livro conta com uma história um pouco diferente daquela adaptada por F.W. Murnau, mas é importante que o espectador beba da fonte original para perceber algumas referências presentes no filme.

“Gabinete do Dr. Caligari” (1920): “O Gabinete do Dr. Caligari” é a obra que inaugura o Expressionismo Alemão. O filme introduz o horror no cinema antes de Nosferatu, transmitindo a sensação de medo, paranoia e loucura ao público através dos seus personagens.

“Nosferatu” (1922): Obra-prima de F.W. Murnau e primeira versão do vampiro no cinema e principal expoente para o início do horror como gênero cinematográfico.

“Drácula” (1931): Filme da Universal Studios e primeira versão “oficial” do “Drácula” de Stoker, o longa é dirigido por Tod Browing e estrelado pelo ator Bela Lugosi. O roteiro adaptou a peça de teatro homônima de Hamilton Deane e John L. Balderston.

“Nosferatu: O Vampiro da Noite” (1979): O filme de Werner Herzog é uma homenagem e a primeira releitura do clássico de 1922. Nesta versão, o personagem retoma o nome de Conde Drácula, e o vampirismo é fortemente associado à Peste Negra, diferente das versões de Murnau e Stoker.

“A Bruxa” (2015): “A Bruxa” é o primeiro longa-metragem de Robert Eggers como diretor e roteirista. Além de assistir aos clássicos expressionistas e às adaptações de “Drácula”, é essencial que o espectador esteja familiarizado com o trabalho de Eggers para entender melhor a nova releitura de “Nosferatu”. O enredo segue uma família puritana encontrando forças do mal em sua fazenda na Nova Inglaterra.

 

 

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Lançamento do livro “O Retratista de Satolep – Um olhar de Paulo Rossi”

Museu do Doce se tornou palco para lançamento da obra com fotos marcadas pela qualidade estética       

Por Lidiane Lopes e Vanessa Oliveira        

 

Paulo Rossi apresenta uma seleção de seu trabalho de fotografia desde os anos 2000     Foto: Divulgação

 

No livro “O Retratista de Satolep: Um Olhar de Paulo Rossi”, os leitores têm a oportunidade de explorar 256 imagens que refletem os 24 anos de carreira do fotojornalista, em seu primeiro livro publicado. O lançamento aconteceu no dia 18 de julho, no Museu do Doce da UFPel, localizado na Praça Coronel Pedro Osório, Casarão 8.

Paulo Rossi nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para Pelotas aos três anos. Sua carreira como fotojornalista se consolidou durante os 19 anos em que trabalhou no Jornal Diário Popular e como colaborador de veículos como Correio do Povo, Zero Hora e Folha de São Paulo, além das revistas Brasileiros e Aplauso. Sobre o ponto de vista profissional, Paulo afirma a importância da prática para um alcançável êxito na profissão de fotojornalista:

Suas fotografias foram exibidas em exposições em várias cidades do Brasil, incluindo Brasília, São Paulo, Bahia e Porto Alegre, e também chegaram à Colômbia. Rossi recebeu diversos prêmios, como o da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e quatro premiações do Direitos Humanos de Jornalismo, concedidos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

Seus trabalhos estão presentes em 21 publicações literárias e científicas, capas de CDs e DVDs. Além disso, Rossi atuou como fotógrafo still para o filme *Concerto Campestre* e como professor substituto na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), nos cursos de Artes Visuais e Cinema e Animação.

O livro abrange uma ampla gama de temas, incluindo patrimônio histórico, música, carnaval, retratos, futebol, mobilizações sociais, visitas presidenciais, meio ambiente, incêndios e enchentes. Diferente dos formatos tradicionais, não há sumário, divisão por capítulos ou legendas na maioria das fotos. As imagens se conectam e conduzem os leitores por diferentes temas, oferecendo uma experiência única. A seleção não foi simples. Paulo Rossi fez uma triagem inicial de quatro mil fotos para chegar às 256 que compõem o livro. Esse processo exigiu uma colaboração intensa com o fotojornalista e amigo Moizés Vasconcellos, editor de fotografia do livro. Em uma entrevista mais que especial, Paulo nos contou sobre o processo de criação do livro e outras curiosidades da sua trajetória profissional:

Arte no Sul – Como tem sido o seu trabalho aqui em Pelotas e qual foi a sua inspiração para criar o livro “O Retratista de Satolep – Um olhar de Paulo Rossi”?

Paulo Rossi Eu me formei em Jornalismo na Universidade Católica de Pelotas em 2003 e trabalho com fotojornalismo desde 2000. Comecei como freelancer na Zero Hora. Depois fui para o Diário Popular, e também fiz freelancer para o Correio do Povo, Folha de São Paulo e revistas como Aplauso e Brasileiros. Trabalhei por 20 anos no Diário Popular e, atualmente, trabalho como freelancer para várias empresas. Sobre o livro *Retratista de Satolep: Um Olhar de Paulo Rossi*, ele reflete minha carreira, desde o início até hoje. O livro inclui fotos de negativos, da época em que se fotografava em filme fotográfico. Ele traz uma mistura da história da cidade e da minha própria. Conto sobre as pautas e os retratados, com pessoas, fotos de natureza, fotojornalismo, esportes, animais e alguns ensaios fotográficos. Separei o que considero o melhor que produzi, tanto esteticamente quanto em termos de histórias das fotos.

 

Publicação reúne 256 fotos contemplando uma diversidade de temas    Foto: Divulgação

 

Arte no Sul – Como foi o processo de construção do seu livro? A publicação é tanto uma coletânea do seu trabalho como um livro sobre fotojornalismo?

Paulo Rossi Eu sempre digo que o jornalismo é uma grande escola de vida. Você aprende muito e se depara com situações que nunca imaginou vivenciar, algumas das quais preferiria não ter passado. A profissão impõe o dever de reportar, e você vai a esses lugares para cumprir seu trabalho como jornalista. Muitas pessoas pensam que jornalistas gostam de tragédia, mas não é isso. O jornalista vai à pauta para contar o que aconteceu, como e por que, para que talvez essas coisas não se repitam. É um trabalho social. Muitas pessoas, especialmente aquelas que sofrem injustiças sociais, encontram no jornalismo uma ferramenta para garantir seus direitos.

 

Rossi tem criado uma visão particular da cidade como na exposição “O Retratista de Satolep”, ocorrida em 2022

 

Arte no Sul – Você tem uma experiência incrível! Gostaríamos que houvesse mais fotos (risos). Foi difícil para você selecionar as 256 fotos para o livro?

Paulo Rossi Então, sobre o número de fotos, eu parti do universo de quatro mil fotos. Mas, durante todo esse tempo [de trabalho], o meu acervo é muito maior. Essas quatro mil foi algo que eu selecionei, achando que seriam temas importantes. E, dessas, eu fui selecionando, editando, como a gente chama. Até chegar em 400 fotos. Nesse ponto, eu convidei o Moisés Vasconcelos, que é outro repórter fotográfico, para me ajudar. E nós chegamos em 300 fotos, e, das 300, 256 foram publicadas. Como eu falei, são fotos que chamaram a atenção nessa trajetória, fotos que eu achei relevantes esteticamente, ou por assunto, ou pela história, ou pelo retratado.

Arte no Sul – Falando sobre vivências difíceis, experimentamos a triste situação das chuvas em maio aqui no sul. Como foi para você lidar com a recente situação que o Estado enfrentou em relação às mudanças climáticas?

Paulo Rossi No livro, menciona que sou natural do Rio de Janeiro, mas vim para o Rio Grande do Sul muito cedo, com três anos de idade, para Pelotas. Coloquei isso apenas por questão de naturalidade, mas me considero pelotense e gaúcho. Tenho 44 anos e, após viver aqui desde os três, certamente me sinto parte dessa região. Fotografei muitas enchentes na região desde 2000 até 2020, incluindo a tragédia de 2011 em São Lourenço. No entanto, não fotografei as enchentes recentes, pois não estava trabalhando para um jornal nesse período e já havia muitos colegas cobrindo esses eventos. Achei que, como não estava na ativa, era mais apropriado deixar essa cobertura para eles.

 

Lançamento no Museu do Doce dia 18 de Julho reuniu admiradores do trabalho fotográfico

 

Arte no Sul – E sobre as fotos, em que medida pesou a estética delas ou a relevância dos fatos documentados durante esses anos?

Paulo Rossi O livro não é exclusivamente de fotojornalismo, incluindo outras fotos feitas durante o período. Há uma sessão de fotojornalismo com temas como protestos, política, eventos climáticos, folclore, cultura popular e religião. Além disso, o livro traça minha trajetória na fotografia, não apenas no fotojornalismo. Inclui fotos que me chamaram a atenção esteticamente, pelo tema ou cor, e que achei relevantes para constar. O livro é uma fusão do que vi na cidade e o que a cidade me mostrou, contando parte da história local e minha visão fotográfica. Comecei a fotografar em 2000 e, em 2010, percebi que as pessoas reconheciam minha identidade fotográfica. Muitas pessoas identificavam minhas fotos no jornal sem ler o crédito, devido à minha forma única de compor e usar cores. Fotografar é contar uma história usando influências culturais, livros, músicas e conversas, traduzindo essa visão em imagens únicas, pois cada fotógrafo interpreta a realidade de maneira distinta.

Arte no Sul – O trabalho jornalístico, artístico e cultural estão juntos ao longo do livro?

Paulo Rossi É, o livro ele tem essa visão jornalística em um determinado momento dele, mas, como eu te falei, tem também um outro modo de ver. Há um olhar artístico ali naquele material sobre a exposição reflexos da história. Tem uma visão experimental naquele ensaio sobre cavalos, tem uma visão preto e branco do centro da cidade. Eu fiquei muito conhecido pelo fotojornalismo, porque eu trabalhei 20 anos dentro de um jornal, mas além do fotojornalismo eu fazia outros tipos de fotografia e que, agora, estão sendo apresentados nesse livro.

Arte no Sul – Seu trabalho fotográfico lembra a construção de uma escrita, como crônicas e artigos de jornal, que também possuem uma identidade única. Como você constrói essa marca em suas fotografias?

Paulo Rossi É exatamente isso, a fotografia também é construída assim como é o texto, e ela é construída de acordo com as referências que você tem. Isso leva um tempo para adquirir essa identidade. Tem que fotografar bastante, tem que testar, tem que passar uma interpretação através da foto, vendo o que que deu certo ou não. E ver muita foto também. É necessário ter esse repertório imagético porque é assim que se cria as tuas próprias referências.

Arte no Sul – Não podemos deixar de perguntar sobre o jornalismo ambiental. No livro, o tema aparece com o “Arroio Pelotas, da nascente à foz” e com a “Foto Vencedora do Prêmio Fepam de Jornalismo Ambiental de 2005”.

Paulo Rossi Então, o repórter fotográfico do Jornal do Interior, e até mesmo de alguns veículos da capital, cobre todas as editorias. Poucos veículos possuem repórter setorista, exceto grandes como a Folha de São Paulo, que pode ter fotógrafos dedicados exclusivamente a futebol ou política. Aqui no interior, ou em Porto Alegre, o repórter fotográfico faz de tudo, desde polícia, esporte, política, até cultura e pautas sociais. Embora eu fotografasse diversas áreas, as pautas ambiental e social sempre me chamaram mais atenção. Por exemplo, a foto que venceu o Prêmio Fepam de Jornalismo Ambiental em 2005, de uma tartaruguinha eclodindo, foi tirada durante a cobertura de uma apreensão de dez mil ovos de tartaruga em um criatório ilegal. O biólogo presente me avisou que um dos ovos estava prestes a eclodir, e consegui capturar esse momento. Sobre o Arroio Pelotas, escrevi o projeto da pauta e convidei a repórter Michele Ferreira, com quem trabalho há 19 anos. Essa pauta focou no lado ambiental, fauna e flora, cultural, comercial e outros aspectos do arroio, que é um símbolo da nossa cidade e dá nome a Pelotas, por conta das embarcações usadas no período das Charqueadas.

Arte no Sul – Para finalizar, haverá outros lugares em que as pessoas poderão conhecer o seu trabalho pessoalmente ou um novo local para sessão de autógrafos?

Paulo Rossi Estamos entrando no mês de agosto, até o final do ano a agenda estará concluída e para quem quiser acompanhar terá que acompanhar nas redes sociais através do meu instagram @paulorossifoto, mas posso adiantar que já estamos organizando um novo local para um próximo encontro.

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