Nova versão do personagem da DC Comics ganha relevância em um contexto em que predomina o cinismo
Por Sofia Mazza Machado

Super-homem interpretado por David Corenswet passa a ter uma forma diferente de se relacionar com todos ao seu redor Fotos: Divulgação
Há algo profundamente humano em ver o homem mais poderoso do mundo salvar um esquilo. James Gunn sabe disso e constrói, em “Superman” (2025), um herói que não precisa de músculos gigantes ou semblante intimidador para provar sua força. O novo Clark Kent, interpretado com ternura e carisma por David Corenswet, é antes de tudo um homem “bom”. E é justamente essa bondade, essa coragem de ser gentil em um mundo que romantiza o cinismo, que torna o filme tão especial.
Desde o início, o espectador percebe que o superman de Gunn é diferente. Ele começa apanhando feio nos primeiros segundos de tela, o que nos faz entender que ele não está acima da humanidade, mas é gente como a gente. O roteiro o apresenta como alguém que erra, teme, ama – e que, apesar de poder levantar montanhas, prefere ouvir antes de agir. O super-homem que chorava sozinho no espaço, em versões anteriores, agora encontra força nos laços humanos: nos conselhos dos pais, no afeto de Lois Lane (Rachel Brosnahan) e no desejo genuíno de proteger sem dominar.

Nova caracterização da personagem traz um ser humano que deixa com que seus sentimentos venham à tona
James Gunn entrega uma história de super-herói que não tem vergonha de ser luminosa. Em tempos em que os homens e a mídia parecem obcecados por anti-heróis e pela estética do sofrimento masculino, “Superman” escolhe o caminho oposto: o dos sentimentos. E faz isso sem ingenuidade, mas com convicção. O diretor entende que acreditar na bondade das pessoas talvez seja o ato mais subversivo que resta. Como o próprio Clark diz em um dos momentos mais simbólicos do filme: “Talvez esse seja o verdadeiro punk rock.”
A diferença entre este “Superman” e o de Zack Snyder em “O Homem de Aço” (2013) (vivido por Henry Cavill) é também uma diferença de mundo. O herói de Snyder via a humanidade como um fardo; o de Gunn a vê como um presente. Se antes o “Homem de Aço” era retratado como uma divindade incompreendida, agora ele é um homem que se permite sentir. E essa mudança muda tudo. O que antes era poder bruto, agora é vulnerabilidade. O que antes era distância, agora é empatia. E esse é o maior poder que qualquer herói pode ter.
A relação com Lois Lane reflete essa nova sensibilidade. Lois é retratada não como coadjuvante, mas como uma protagonista, perspicaz e independente, cuja força nasce da inteligência e não da aparência. Ela questiona, desafia e inspira Clark e ele, em vez de reagir com ego ou autoridade, responde com amor e escuta. O filme brinca com os preconceitos para enganar. como quando a personagem Eve (Sara Sampaio), retratada como fútil e deslumbrada, revela todo o plano do inimigo com as selfies que fez ao longo do filme vistas anteriormente pelo espectador com superficialidade. A presença feminina na obra é viva e plural: não serve de adorno, mas de contraponto e de impulso. Em meio a um gênero ainda preso a estereótipos, “Superman” (2025) acerta ao dar às mulheres o mesmo espaço de complexidade e heroísmo.

O enfrentamento das suas próprias fraquezas passa a ser um ingrediente importante desta versão de super-homem
Essa delicadeza de abordagem se estende à maneira como Gunn revisita a masculinidade. O super-homem interpretado por Corenswet não é o macho invencível das narrativas clássicas. É um ser humano que acolhe, que hesita, que sente medo. Ele entende que a força não está em nunca cair, mas em escolher levantar com compaixão. Há algo revolucionário em um herói que, podendo esmagar o mundo, opta por segurá-lo com cuidado como quem carrega uma criança nos braços. É uma imagem simples, mas poderosa: o homem de aço, agora feito de carne, de afeto e de fé na humanidade.
Visualmente, o filme abraça o fantástico com a mesma naturalidade com que celebra o humano. Entre batalhas cósmicas e discussões sobre responsabilidade, há espaço para silêncios, para olhares e pequenas gentilezas. Com uma trilha sonora viciante e visuais fantásticos, Gunn equilibra espetáculo e emoção com leveza, lembrando que o que nos faz lembrar do super-homem não são seus raios laser, mas a bondade nos seus olhos humanos.
Mais do que um recomeço para o Universo DC, “Superman” (2025) é uma declaração de princípios. Um espetáculo que termina com o desejo de sermos pessoas melhores e um lembrete de que ser bom ainda importa. Em um mundo que glorifica a indiferença, o novo homem de aço escolhe a ternura como resistência. E talvez seja isso que faz dele o verdadeiro super-herói: a capacidade de continuar acreditando – e de nos fazer acreditar – que o amor ainda é a maior força que existe.
Ficha Técnica
Título: Superman (Original)
Ano de produção: 2025
Direção e roteiro: James Gunn
Duração: 129 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero: Ação Aventura, Fantasia, Ficção Científica, Super-herói
País de origem: Estados Unidos da América
Produtores: Andrew Lary, Anthony Tittanegro, Chantal Nong Vo, Galen Vaisman, James Gunn, Lars P. Winther, Nikolas Korda, Pete Chiappetta e Peter Safran
Elenco: David Corenswet (Clark Kent / Superman), Nicholas Hoult (Lex Luthor), Rachel Brosnahan (Lois Lane), Alan Tudyk (Gary), Angela Sarafyan (Lara), Anthony Carrigan (Metamorfo), Beck Bennett (Steve Lombard), Bonnie Discepolo (Senhorita Jessop), Bradley Cooper (Jor-El), Sara Sampaio (Eve Teschmacher)
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