Exposição reflete sobre os tempos passados em Pelotas

Última exposição do ano do 4 Galeria de Arte e Café convida a população a explorar a identidade da cidade por meio de fatos históricos e lendas       

Por Bruna Farias        

Trazendo uma imersão histórica, a mostra “Memórias Reveladas: Lendas e Verdades Pelotenses”, do 4 Galeria de Arte e Café, mistura fotografias, vídeos e áudios que contam sobre a história e as lendas de Pelotas. Organizada pelo fotógrafo Wiliam Clavero, o pesquisador e historiador Nikolas Corrêa e a professora de história Suéllen Cortes, conhecida como “Profe Suka”, a exposição tem curadoria de Mariana Rachinhas e fica em exibição gratuita até final do ano no 4 Galeria de Arte e Café, localizado na rua Santos Dumont, nº 125.

Visando gerar mais conhecimento e visibilidade para o passado da cidade, a ideia da exposição surgiu quando a curadora da mostra e dona do 4 Galeria, Mariana Rachinhas, percebeu que os túneis subterrâneos do local sempre geram curiosidade nas pessoas: “A galeria está localizada em um lugar histórico da cidade e sempre tiveram muitos mitos e lendas ao redor dela, então, eu sempre quis trazer uma exposição que tivesse um contexto teórico sobre a história e os mitos de Pelotas”. A partir dessa percepção, Mariana convida Nikolas, William e Suka, com quem já havia trabalhado anteriormente, e nutrem o mesmo interesse de realçar as singularidades de Pelotas.

 

Os idealizadores da exposição: Mariana Rachinhas; Wiliam Clavero; Nikolas Corrêa e Suéllen Cortes   Fotos: Bruna Farias

 

A exibição conta com mais de 100 fotografias em preto e branco e em tons de sépia, remetendo a outros tempos, e mostram os detalhes dos prédios históricos da cidade que passam muitas vezes despercebidos na correria do dia a dia. Para o fotógrafo das obras, Wiliam Clavero, é importante que a sociedade preste mais atenção à arquitetura e cultura encontrada nos prédios. “É importante que a sociedade na totalidade tenha um interesse para saber por que um prédio está fechado, por que o outro não está; por que esse foi restaurado, por que o outro não foi. E é se importando com essas questões, fazendo que isso acabe sendo fomentado, que a gente consegue uma Pelotas com mais prédios arquitetônicos abertos e em funcionamento para a sociedade pelotense”, relata Clavero.

 

Algumas das fotografias de Clavero que fazem parte da exposição mostram os detalhes arquitetônicos da cidade

 

Paralelo às fotografias, áudios com a narração e falas de Nikolas Corrêa podem ser ouvidos na parte secundária da exposição, que aborda lendas e mitos da cidade. “Eu venho de uma família de muitos contadores de história. E é muito bonito quando a gente consegue preservar as narrativas de forma oral, passando adiante e valorizando isso”, conta Nikolas, que há mais de 10 anos pesquisa sobre a história de Pelotas e, desde 2019, compartilha curiosidades e histórias no Instagram com o Pelotas Antiga.

No ano passado, inspirado pelo Porto Alegre Mal Assombrada, Corrêa deu início ao tour Pelotas Mal Assombrada, no qual os participantes percorrem as ruas da cidade, enquanto Nikolas explora lendas e fatos históricos que aconteceram em Pelotas.

Esta ideia visa trazer reflexões, o que também é o objetivo da exibição “Memórias Reveladas: Lendas e Verdades Pelotenses”. “Quem somos nós como seres humanos enquanto estamos em Pelotas? Eu acho que a nossa vivência gera essas perguntas, porque, ao mesmo tempo que a gente constrói a cidade, ela nos constrói”, afirma Nikolas.

Além disso, a produção audiovisual de Suéllen, a “Profe Suka”, ajuda a resgatar o contexto e histórias da cidade que se entrelaçam com as fotos de William. A profe Suka começou a fazer vídeos informativos para as redes sociais ao ver que muitas pessoas não conheciam a história e a cultura pelotense. “Eu sou professora de história e eu vi que tinha uma demanda dos meus alunos que não viviam e não conheciam a sua própria cidade. E foi por isso que comecei a fazer os vídeos, porque se tu não conheces a cidade, tu desconheces a tua própria história e, então, tu não cuidas, tu não preservas, tu não te relacionas com aquilo, né?”, declara a professora.

 

Vídeos da Profe Suka integram exposição e também podem ser acessados por  QR Codes que estão junto às obras expostas

 

Outras atividades relacionadas à exposição, como rodas de conversa e oficinas, também estão programadas para acontecer ao longo do período de exibição. “A gente vai fazer várias atividades relacionadas para movimentar a questão histórica e cultural da cidade. É importante dar visibilidade ao que a gente tem de melhor, que é a nossa história, a nossa cultura, a nossa arte”, ressalta Mariana.

A visitação à exibição “Memórias Reveladas: Lendas e Verdades Pelotenses” é gratuita e tem horários de abertura aos sábados e domingos, das 14h às 21h, e de quarta a sexta-feira, das 9h às 20h, no 4 Galeria de Arte e Café. Mais informações sobre a exposição podem ser encontradas nas redes sociais do 4 Galeria @4galeria.co.

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Átila Bee e Carol Duarte conversam com plateia sobre filme “Malu”

Na Cinemateca Capitólio, atores refletem sobre o processo de criação de seus personagens e semelhanças com a produção nacional “Ainda Estou Aqui”       

Por Murilo Schurt Alves         

 

Atores Carol Duarte e Átila Bee agradecem presença do público na Cinemateca Capitólio antes da sessão começar Fotos: Murilo Schurt Alves

 

No dia 25 de novembro, a Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, recebeu os atores Átila Bee e Carol Duarte para a sessão comentada de “Malu”, longa-metragem dirigido e escrito por Pedro Freire. Após uma bem-sucedida trajetória em festivais nacionais e internacionais, incluindo o Festival de Sundance, e a conquista do prêmio máximo no Festival do Rio, o filme estreia nos cinemas e convida o espectador a refletir sobre conflitos intergeracionais, traumas familiares e os desafios do trabalho artístico-cultural no país.

Em seus aproximados 100 minutos de duração, acompanhamos a história de Malu (Yara Novaes) na década de 1990, uma atriz desempregada que, vivendo no ostracismo, precisa conviver com Lili (Juliana Carneiro da Cunha), sua mãe conservadora, numa comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro. Esse estado de descontentamento é potencializado com o retorno de sua filha, Joana (Carol Duarte), também atriz, após uma temporada nos palcos parisienses, trazendo questões existenciais e novos embates para a vida da protagonista. Embora de cunho ficcional, o filme é uma homenagem do diretor à sua mãe, Malu Rocha, atriz paulista com uma extensa carreira no teatro e na TV que faleceu em 2013, por complicações de uma doença neurodegenerativa.

 

Sessão comentada contou com participação dos atores Átila Bee e Carol Duarte e mediação do jornalista Roger Lerina

 

Após a exibição do filme, o jornalista Roger Lerina conduziu a discussão com o público, ressaltando a influência de John Cassavetes e Ingmar Bergman na abordagem dramatúrgica do diretor Pedro Freire. Sob esse viés, a atriz Carol Duarte menciona o uso de uma técnica de Stanislavski para a preparação do elenco, que consiste em ler as cenas e improvisar a partir das ações para, somente depois, decorar o texto. Para ela, esse método foi imprescindível para o entrosamento dos atores e, por consequência, para o andamento das filmagens: “O Pedro tinha pouco tempo. Sem romantizar filmes de baixo orçamento, a gente não precisa fazer tanto ‘na guerra’, mas foi um filme que foi feito em três semanas. Se a gente não tivesse afinado, três semanas seria quase impossível”. O ator Átila Bee complementa a reflexão: “Experimentar aquilo que se entendeu para depois decorar o texto e ir para o set é a perfeição do processo”.

No que diz respeito aos personagens, Duarte destaca que a construção de sua personagem é a junção dos filhos de Malu da vida real: “O Pedro constrói o roteiro muito a partir das memórias dele e da irmã, selecionando o que ali era potente para o cinema e o que não era. […] A Joana é mais quieta, ela pouco fala. Talvez seja esse o desafio desse trabalho para mim”. Além disso, a atriz cita “Sonata de Outono” como uma das referências utilizadas para a construção de sua personagem, filme dirigido por Bergman que retrata um acerto de contas entre uma mãe negligente e sua filha emocionalmente fragilizada.

Nesta dinâmica entre três mulheres, o personagem Tibira serve como um contraponto na história. Interpretando o amigo da protagonista que mora nos fundos do terreno, o jovem ator reflete sobre o seu papel no decorrer da narrativa: “Eu tive muito medo no início, eu fiquei muito inseguro de ser essa figura que vai ocupar uma cota preta no filme. Nesse caminho, fui entendendo a importância daquele personagem. Eu acho que todos nós temos um amigo, uma pessoa importante na vida que a gente precisa para seguir de pé, juntos”.

Outro aspecto discutido no debate foi a experiência dos entrevistados com Yara de Novaes e Juliana Carneiro da Cunha, duas veteranas da indústria cinematográfica: “Eu sinto pelo cinema brasileiro de ter descoberto Yara a essa altura, acho que ela brilha muito em Malu. Ao mesmo tempo, eu me lembro quando eu era adolescente e assistia Juliana Carneiro. Quando o Pedro falou que seriam elas, eu fiquei bem chocada, muito ansiosa e muito feliz”, comenta Carol.

 

Atores responderam às perguntas e curiosidades do jornalista Roger Lerina e do público presente

 

Como último ponto de discussão, o mediador aponta semelhanças de “Malu” com “Ainda Estou Aqui”, filme dirigido por Walter Salles também lançado recentemente. Carol aponta as coincidências das obras, principalmente por retratar o período da ditadura militar: “São duas atrizes incríveis, personagens muito bons, contadas por filhos de alguma maneira, porque o livro [de “Ainda Estou Aqui”] parte da perspectiva do Marcelo Rubens Paiva, ele conta a história da mãe também. É interessante analisar essas duas mulheres contando um passado terrível que é o nosso”.

Ao final do evento, Duarte e Bee agradeceram ao público pela presença e reforçaram a importância da divulgação boca a boca para atrair mais espectadores ao filme, destacando que as primeiras semanas de exibição são cruciais para sua continuidade no circuito nacional de cinema. Nesse contexto, Malu segue em cartaz na Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085, Centro Histórico, Porto Alegre), com sessões diárias às 17h, até o próximo sábado (7 de dezembro).

Ficha Técnica:

Direção: Pedro Freire

Roteiro: Pedro Freire

Fotografia: Mauro Pinheiro Jr.

Montagem: Marília Moraes

Som: Marcel Costa

Desenho de som: Daniel Turini

Direção de arte: Elsa Romero

Elenco: Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha, Carol Duarte, Átila Bee

Produção: Tatiana Leite, Léo Ribeiro, Sabrina Garcia, Roberto Berliner

 

A Cinemateca Capitólio está localizada na Rua Demétrio Ribeiro, 1085, no Centro Histórico de Porto Alegre 

 

Veja o thriller do filme:

 

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Dança do Grupo Mariana Espilman reflete sobre a dualidade dos sentimentos neste domingo

Espetáculo  “Dual: Entre a Luz e a Sombra – Descubra a Essência de Ser” promete encantar público no Theatro Guarany    

 Por Renata Ávila    

O espetáculo de dança “Dual: Entre a Luz e a Sombra – Descubra a Essência de Ser”, do Grupo Mariana Espilman, busca refletir sobre a jornada da construção dos sentimentos e emoções humanas por meio da dança. A apresentação acontece no Theatro Guarany, no dia 8 de dezembro, domingo, às 20h30.

 

 

Dividido em dois atos e com o total de 23 coreografias, o tema do espetáculo deste ano vem de um desejo antigo da fundadora e demais professoras da companhia. “A gente tem visto que é preciso falar de emoções e educação socioemocional, havia um forte indício de que o espetáculo deste ano falaria sobre isso. Quando saiu o filme Divertidamente 2 nos cinemas, dando mais ênfase para se falar sobre o assunto, tivemos certeza que o Dual viria a tratar sobre isso”, explica Mariana Espilman, fundadora do Grupo que leva o seu nome.

No ensaio geral, era nítido o entusiasmo das jovens bailarinas para o grande dia da apresentação. Em rotina de ensaios intensos desde o final de agosto, a dançarina Lara Hernandorena Spiering, 11, não esconde o misto de sentimentos de estar no palco novamente. “É muita emoção, o coração acelera muito. É nervosismo, medo de errar e depois a alegria de acertar”. Já para a bailarina Valentina Machado Nascimento, 11, as coreografias são o grande diferencial do espetáculo deste ano. “A coreografia que eu mais gosto se chama Medo. Ela é muito bonita de assistir, com vários movimentos sincronizados, e tem tudo a ver com o tema do espetáculo”, relata.

 

Por meio dos movimentos é feita uma reflexão sobre a construção dos sentimentos e emoções humanas Foto: Renata Ávila

 

Indo além de uma simples atividade extracurricular, a dança é uma grande aliada no desenvolvimento pessoal das dançarinas. Para Glendia Martin, mãe da adolescente Bianca, de 14 anos, é nítida a importância do Grupo Mariana Espilman na vida da sua filha. “Participar do Grupo moldou o jeito dela de ser, ajuda na questão da disciplina e autocontrole, é uma atividade bem interessante e ela gosta muito”.

Joseane Rusch da Silva, mãe de duas bailarinas – Júlia, quatro anos, e Luiza, 12 anos – fica encantada ao ver suas filhas se apresentando com o Grupo. “Não tem palavras para descrever, é emocionante. Elas gostam e se divertem, lógico que a mais velha já se preocupa na função de acertar e fazer bonito, mas ver a pequena dançando com alegria é muito bom”, enfatiza Joseane.

 

Professora e fundadora do Grupo, Mariana Espilman, conversa com as alunas após o fim do ensaio geral Foto: Renata Ávila

 

“A mensagem que o Dual quer passar para as pessoas é de que nós podemos e devemos sentir todos os tipos de emoções. Nem sempre a gente precisa estar bem, ou nem sempre a gente precisa estar ruim, é essa dualidade que nos torna única e essencialmente humanos”, enfatiza a fundadora da companhia que convida toda a comunidade a prestigiar a apresentação. Os ingressos para o espetáculo podem ser adquiridos pela plataforma PagTickets por R$40.

 

Conheça o Grupo Mariana Espilman

Fundado em 2016, a companhia surgiu da necessidade da professora de dança Mariana Espilman de ter seu próprio espaço e ensinar dança com afeto. “Geralmente nesse meio de desempenho esportivo, a gente sabe que há muita cobrança. Eu arrisco dizer que no Mariana Espilman a gente ousa, porque ensinamos dança com amor e afeto”, conta.

O Grupo Mariana Espilman possui turmas de Baby Class, Jazz e Kpop e está localizado na Avenida Fernando Osório, n.º 4510. É possível obter mais informações sobre o trabalho da companhia pelo Instagram @grupomarianaespilman.

Evento: Espetáculo de Dança “Dual: Entre a Luz e a Sombra – Descubra a Essência de Ser”

Dia: 8 de dezembro de 2024

Horário: 20h30

Local: Theatro Guarany, rua Lobo da Costa, nº 849

Ingressos: R$40

Onde comprar: Plataforma Online PagTickets.

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A Cena Drag em Pelotas: muito além da Parada da Diversidade

A 23ª Edição do Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ ocorreu no dia 24 de novembro na cidade        

Por Larissa Rodrigues   

  

Gloria Crystal foi a convidada especial porto-alegrense que prestigiou o evento em Pelotas

 

No brilho das luzes e no som vibrante das ruas, a 23ª edição da Parada da Diversidade de Pelotas, realizada no dia  24 de novembro, reuniu milhares de pessoas para celebrar e reivindicar direitos. O evento é mais do que um desfile; é um palco para as vozes que, muitas vezes, permanecem silenciadas, reforçando a importância da luta LGBTQIAPN+ para a sociedade e para aqueles que ainda não compreendem o tamanho da sua magnitude.

Com uma programação diversificada, a Parada contou com apresentações artísticas que incluíram shows, DJs locais e performances marcantes. Entre os destaques, estiveram as performances de Glória Crystal e das drag queens Anahí, Camilla Duarte, Lolla Hills, Lorena Drag, Maddivah, Miss Yan Future, Myah, Sá Biá e Sawanah, que transformaram o espaço em uma celebração vibrante de arte e resistência.

 A história das drag queens é rica e remonta a séculos, sendo marcada por contextos culturais, artísticos e políticos em diferentes partes do mundo. Desde que o mundo é visto como mundo, pessoas que performam a diversidade sexual seguem lutando e quebrando os paradigmas.

Desde a Grécia Antiga, quando o teatro surgiu, até o tradicional Kabuki japonês, os papeis femininos sempre foram interpretados por homens, tendo em vista que as mulheres eram proibidas de subir e se apresentar nos palcos de teatros. Hoje, depois de anos, com a arte drag reinventada e cheia de novas possibilidades e oportunidades, isso mudou. As performances femininas transcendem barreiras culturais e se afirmam como uma expressão de identidade, liberdade e resistência.      

Para muitos, a arte drag é vista com desconfiança, descriminalização ou, muitas vezes, reduzida a uma performance sem profundidade, ignorando a rica história cultural que estes artistas carregam há anos e as barreiras que precisam enfrentar dia após dia. Desde o início de sua vida, com a rejeição familiar, até a discriminação nos espaços públicos, ser uma drag em um país marcado por altos índices de violência contra a população LGBTQIAPN+ é um ato de coragem, de ser diferente e ser quem quiser ser.     

A presença de drag queens e travestis em eventos como a Parada é um lembrete de que o preconceito ainda pode ser combatido por meio da arte. Cada salto, maquiagem elaborada, cabelo e roupa carregam um significado que transcende o palco: a expressão de uma identidade que se recusa a ser silenciada.         

Embora os desafios sejam muitos e contínuos, a arte drag tem inspirado mudanças positivas. Sua popularização em plataformas digitais e programas de televisão contribui para desconstruir estereótipos, educar o público e trazer mais representatividade para uma parcela da sociedade que historicamente foi marginalizada.

Entre as apresentações da 23ª Parada da Diversidade de Pelotas estiveram as performances de Anahí e Myah, duas drag queens que encantaram o público com suas produções elaboradas e a energia contagiante que levaram ao palco. Mais do que artistas, elas representam a luta diária de tantas pessoas LGBTQIAPN+ por aceitação, respeito, e espaço em uma sociedade que ainda carrega preconceitos.

 

Anahí inclui seu trabalho artístico na defesa pela liberdade  Foto: Juliano Xavier Tavares

 

Contribuição da arte drag na luta pelos direitos

Em entrevistas, Anahí e Myah compartilharam suas perspectivas sobre a arte drag, os desafios enfrentados e a importância de espaços como a Parada para a comunidade LGBTQIAPN+.

Como a contribuição da arte drag na luta pelos direitos LGBTQIAPN+, Anahí percebe essa expressão artística como uma base fundamental. “Quando a gente rompe com as expectativas sobre o que é ‘masculino’ ou ‘feminino’, o drag questiona construções sociais e promove a liberdade de ser”, diz.

Myah compreende que a arte drag funciona na quebra de padrões que a sociedade impõe. “Ao mesmo tempo que vivo sendo um homem cis, pratico uma arte na qual faço tudo o que me diziam que eu não deveria fazer: colocar maquiagem, usar perucas, calçar salto alto, vestir roupas femininas”, descreve. “Quando nascemos sendo homens cis, há toda essa masculinidade imposta para nós, que precisamos seguir, e isso vai oprimindo uma alma genuína que temos”, pensa.

Para esta performer, “a arte drag surge como uma expressão dos nossos sentimentos, algo que somos forçados a oprimir durante a vida inteira”. Então, quando decide-se fazer drag, abre-se mão de todas essas correntes que prendem e segue-se o que é a sua própria essência. “É uma forma de expressão artística e uma quebra desse sistema de sociedade, onde menino deve ser isso ou aquilo. A arte drag mostra que não é assim, que qualquer um pode ser o que quiser”, defende.

 

Glória Crystal contribuiu para a animar o público pelotense no dia 24 de novembro

 

O cenário drag em Pelotas

Anahí tem notado que o cenário drag em Pelotas é muito rico e diverso.  Há “top drag, drag caricata, drag com ballet”, mas ela acredita que faltam oportunidades e lugares para as drags desenvolverem e colocarem em prática as suas ideias. Para Myah, o cenário drag em Pelotas é incrível. “A gente tem vários artistas extremamente talentosos de vários nichos diferentes, cada uma com a sua especialidade”. Ela lembra que já teve o privilégio de estar junto com várias drags com ótimas performances, em diversos eventos, só que, assim como Anahí, lamenta que há pouquíssimas oportunidades.

“Eu digo isso porque eu tenho meus anos de carreira e, mesmo já tendo feito várias coisas, ainda tenho dificuldades para fechar um evento ou coisas assim aqui em Pelotas. Às vezes, é mais fácil fazer e fechar evento lá em Porto Alegre. Mas, aqui em Pelotas, é difícil, muito difícil trabalhar. O nosso público não sabe se consome artista local ou o que mais. Eu tive que tirar leite de pedra, sabe? Tive que mover montanhas”, relata Myah.

Ela achava engraçado quando ouvia pessoas falando: “Nossa, eu via seus shows e pensava, nossa, ele está tentando fazer tanta coisa”.  Mas Myah sempre fez muitas coisas. “Eu queria muito fazer isso, queria fazer shows grandes. Acabou que, por eu fazer muitas coisas, eu consegui ter meu público. É exatamente isso. Eu tive de mover montanhas para chegar nesse nível de satisfação do meu trabalho hoje”, considera.

“Só que eu consigo ver que essa não é a realidade para outras drags, porque existem poucas oportunidades para nós aqui em Pelotas. É muito difícil crescer em uma cena assim, se desenvolver. Eu consegui porque criei minhas próprias oportunidades, fiz muitos eventos próprios, embora isso seja mais desgastante, estressante. Eu sempre fiz muitas coisas, mas o sistema de arte aqui em Pelotas é difícil”, avalia.

 

Anahí inspira-se nos musicais da Broadway para criar suas coreografias         Foto: Fly Camera Pelotas

 

Criando apresentações, personificações e shows

Apaixonada por teatro musical, Anahí colhe muitas das suas referências em musicais (dos teatros da Broadway, por exemplo). Transforma a sua visão dessas produções norte-americanas tendo em conta a sua própria realidade. “Também gosto bastante de usar cantoras e atrizes negras como referência na minha montagem e nas minhas performances”. Para Anahí esta batalha é constante, cada vez mais é preciso lutar para obter seus espaços.

Myah vê as suas criações sempre como parte de algum conceito, ambientação e cenário. “Storytelling, sabe? Há uma história, alguma narrativa ali. Porque eu gosto muito de criar uma performance que tenha contexto visual; assim, a pessoa fica presa, assistindo”, explica. Para ela, é o tipo de performance que sempre gostou mais. “Eu me envolvo muito. O teatro também tem muita brincadeirinha, um senso de humor meio irônico, sabe? É bem assim. Às vezes, eu digo que é ‘camp’, sabe? Uma coisa exagerada. Sim, porque ‘drag’ é isso”.

Ao lado do exagero, ele observa que também há um lado minimalista. “Às vezes, sou eu e o bailarino apenas dançando, porque eu também adoro dançar. Então, as minhas performances são muito compostas por coreografias e danças, com bailarinos também, mas basicamente isso. Eu crio a partir de um som; tenho que ver o que quero performar. Às vezes, escuto uma música, e na mesma hora já me vem toda a ideia. Ou, então, preciso misturar algo para fechar a narrativa”.

Myah se considera muito exigente, até mesmo chato, com a criação do áudio. “Para mim, o som é muito, muito importante, porque é a primeira coisa que as pessoas vão perceber quando estamos performando. Sempre fui muito crítico em tentar deixar o meu áudio coeso, com uma narrativa. Depois dessa parte de criar o áudio, eu passo várias horas escutando em loop infinito até conseguir polir todas as ideias. Tento visualizar tudo na minha cabeça primeiro; só depois começo a desenvolver a coreografia, se tiver”.

Podem fazer parte elementos tecnológicos, tipo projeção com datashow. Quando se decide por uma coreografia, tudo é gravado no seu celular e enviado para os dançarinos que podem estar disponíveis. “Depois, começamos a ensaiar e ensaiamos bastante”, destaca.

Quando precisa fazer os figurinos, Myah passa uns dois ou três dias nesse processo. Depois, é só apresentar. “Tudo é completamente artesanal. Não tem nada que não seja feito à mão no meu trabalho. Por mais que me inspire em outros figurinos, acredito que, por ser eu quem os faço, acabo, inconscientemente, mudando algo para agradar a minha visão. Acho que isso coloca meu DNA ali”, diz.

Na coreografia, também acontece algo semelhante. Ele se inspira muito nas coreografias originais, mas sempre cria uma versão alternativa ou algo original. “Não sou um coreógrafo e bailarino formado, mas, às vezes, me aventuro a coreografar”.

“É um processo lindo, incrível. Eu amo ver as apresentações tomarem vida. É como se eu tivesse tido uma premonição e trabalhado para torná-la realidade. Quando se realiza, é incrível”, exclama.

Myah avalia que desenvolveu um grupo de bailarinos extremamente talentosos, que está com ela desde 2021. “Esse grupo só cresceu, e juntos fazemos coisas cada vez mais lindas. É incrível, sabe? Trabalhar com eles torna o processo muito melhor e mais divertido. Definitivamente, muito mais divertido”, elogia.

As drag queens, com sua arte vibrante e performances carregadas de significado, são muito mais do que protagonistas nos palcos: elas são símbolos de resistência e expressão. Na 23ª Parada da Diversidade em Pelotas, sua presença reforçou a importância de lutar por um mundo onde todos possam ser quem realmente são. Entre maquiagem, figurinos e aplausos, elas trazem à tona histórias de coragem e resiliência que continuam a inspirar não apenas a comunidade LGBTQIAPN+, mas toda a sociedade. Em um cenário onde a arte se encontra com a luta por direitos, as drags nos mostram que transformar é, acima de tudo, um ato de amor e resistência.

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Segunda edição da Vivência do Sopapo: Memórias da Ancestralidade começa sábado em Pelotas

Estão abertas inscrições para evento que homenageia legado cultural afro-gaúcho e ocorre também em Caçapava do Sul e Porto Alegre

 

O sopapo é um instrumento musical que conecta à ancestralidade africana               Fotos: Luis Fabiano

 

Às vésperas do feriado da Consciência Negra, dia 20 de novembro, começa a segunda edição da Vivência do Sopapo – Memórias da Ancestralidade promove uma jornada cultural que explora e valoriza a importância do tambor de Sopapo na construção da identidade afro-gaúcha. O evento acontece nos dias 16 de novembro em Pelotas, 23, em Caçapava do Sul, e 30 de novembro, em Porto Alegre. São três cidades com fortes laços com a ancestralidade gaúcha e com a tradição do Sopapo. Cada localidade sediará atividades culturais que reforçam o valor do sopapo para a comunidade afro-sul-riograndense, com performances artísticas, convidados especiais, palestras e rodas de conversa.

Financiado pelo Ministério da Cultura e Governo do Rio Grande do Sul, através da Lei Paulo Gustavo, com apoio da Sedac/RS, Casa de Cultura Mário Quintana e Lunar do Sopapo (POA), Clube Harmonia (Caçapava do Sul), ONG Cuidando de Nós e Núcleo de Teatro UFPEL (Pelotas), o projeto apresenta uma diversidade de apresentações artísticas, como teatro, música e poesia, focadas nas vivências de cada um com o Sopapo como símbolo de resistência e conexão com a ancestralidade.

 

 

Abertas ao público e gratuitas, as inscrições são feitas antecipadamente on-line

 

Como participar

As atividades são gratuitas e abertas ao público, mas é necessário realizar uma inscrição prévia. O formulário de inscrição está disponível online e também pode ser acessado pelo Instagram. É importante que os interessados se inscrevam na cidade em que desejam participar. Aos que desejarem colaborar, o evento estará arrecadando uma doação voluntária de um quilo de alimento não perecível. As contribuições serão destinadas aos asilos municipais das cidades participantes, com o objetivo de apoiar as instituições que acolhem idosos.

O legado do Sopapo

Originário das charqueadas Pelotenses no século XIX, o sopapo nunca foi apenas um instrumento musical, mas um elo que conectava os escravizados à sua ancestralidade, religiosidade e sua pátria mãe, a África, aliviando, por meio de suas batidas, o horror da escravidão.

Durante o século XX, o sopapo sofreu um processo de “carioquização” que quase o levou à extinção. Seu resgate se deu a partir de 1999 com o projeto CaBoBu, liderado pelo Mestre Giba Giba (in memorian), Mestre Baptista (in memorian) e Mestre José Batista, em Pelotas. Em 2021, o sopapo foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da Cultura Pelotense pela Lei Ordinária 2.822/2021.

 

Esta herança artística e cultural tem sido cultivada e defendida por várias personalidades

 

Homenagem aos guardiões da tradição

Esta edição do evento presta homenagem aos ancestrais que preservaram a tradição do Sopapo, incluindo figuras históricas como Mestre Giba Giba (in memorian), Mestre Baptista (in memorian), Mestra Sirley Amaro (in memorian) e Dona Maria Baptista, esposa do Mestre Baptista e mãe de José Batista, que além de proponente do projeto, também será o palestrante. Mestre José Batista, também autor do livro “O Sopapo Contemporâneo – Um elo com a ancestralidade”, foi o responsável por desenvolver o modelo cônico do instrumento, perpetuando sua relevância cultural para as futuras gerações.

 

A Vivência do Sopapo ocorre em Pelotas, Caçapava do Sul e Porto Alegre

 

Programação em Pelotas

Eliana Cardoso Barcellos, anfitriã do projeto em Pelotas, compartilhou a expectativa pelo evento: “Estamos extremamente honradas e orgulhosas em sediar tal evento. Fazer ressoar as batidas do grande tambor nesse território sagrado que é o Passo dos Negros, através do Centro de Educação, Esporte, Cultura e Lazer Cuidando de Nós, fortalece toda uma caminhada ancestral que pulsa em cada rua, cada viela, em cada morador de nossa comunidade. O evento dará grande visibilidade, vez e voz a toda uma comunidade que anseia por reconhecimento de sua grandeza geográfica, histórica e atemporal”, antecipa.

Data: 16 de novembro de 2024

Local: ONG Cuidando de Nós (Av. Cidade de Rio Grande, 1904 – Comunidade Passo dos Negros)

13h30: Abertura do espaço ao público

14h00: Abertura com o toque do Sopapo

14h10: Apresentação musical com Jay Djin e Maíra

14h20: Performance do texto “Arcano sem nome” com Duma

14h40: Mesa com convidados especiais (Fernanda Tomiello, Josiane Dias, Francisca Jesus e Andréa Terra)

15h45: Palestra com Mestre José Batista

16h45: Coffee break

17h00: Esquete teatral “Memórias de um Quilombola” com Cid Branco

17h15: Roda de conversa

17h45: Toque de Sopapo

18h00: Encerramento

Programação em Caçapava do Sul

Cátia Cilene, representante de Caçapava do Sul, também destaca a importância de receber o evento. “Nós temos as melhores expectativas, porque conhecemos o trabalho do mestre José Batista e o impacto social do sopapo é fortalecer os elos. O sopapo, além de ser o nosso grande tambor, tem um sagrado que nos fortalece, que unifica, que agrega e inspira. Precisamos que as pessoas reconheçam o tambor de sopapo em cada canto da cidade, que tenham plena consciência do que ele significa não só para a comunidade negra, mas para toda a sociedade. O impacto é positivo, é bonito, é lindo. Ele nos remete a uma ancestralidade única”, diz.

Data: 23 de novembro de 2024

Local: Clube Harmonia (R. Barão de Caçapava, 925)

13h30: Abertura do espaço ao público

14h00: Abertura com o toque de Sopapo

14h10: Apresentação musical com Jay Djin e Maíra

14h20: Performance do texto “Arcano sem nome” com Duma

14h40: Mesa com convidados especiais (Cátia Cilene e Mestre Tio Cida)

15h45: Palestra com Mestre José Batista

16h45: Coffee break

17h00: Esquete teatral “Memórias de um Quilombola” com Cid Branco

17h15: Roda de conversa

17h45: Toque de Sopapo

18h00: Encerramento

Programação em Porto Alegre

A diretora do Instituto Estadual da Música de Porto Alegre, Adriana Sperandir, expressa sua alegria em sediar o evento. “Para a Casa de Cultura Mário Quintana, é uma felicidade imensa receber um dos encontros do ‘Vivência do Sopapo’. O Instituto Estadual da Música (IEMRS) vem buscando encontros que valorizem e fomentem nossa ancestralidade, diversidade cultural e nosso patrimônio histórico. O Vivência do Sopapo faz esse resgate de forma poética, através de trocas de saberes que ficam na nossa memória. Estamos muito felizes em recebê-los”, afirma.

Data: 30 de novembro de 2024

Local: Casa de Cultura Mário Quintana – Sala Luis Cosme – 4º Andar (R. dos Andradas, 736 – Centro Histórico)

13h30: Abertura do espaço ao público

14h00: Abertura com toque de Sopapo

14h10: Apresentação musical com Jay Djin e Maíra

14h20: Performance de “Arcano sem nome” com Duma

14h40: Mesa com convidados especiais (Edu do Nascimento, Lucas Kinoshita e Gustavo Türk)

15h45: Palestra com Mestre José Batista

16h45: Coffee break

17h00: Esquete teatral “Memórias de um Quilombola” com Cid Branco

17h15: Roda de conversa

17h45: Toque de Sopapo

18h00: Encerramento

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Vitor Ramil lança o álbum “Mantra Concreto” em Porto Alegre

 

Show  acontece nesta quinta-feira, no dia 24 de outubro, no Salão de Atos da PUCRS

 

      Vitor Ramil foi contaminado pela poesia de Leminski e compôs um grupo de canções interligadas em “Mantra Concreto”  Foto: Divulgação/Marcelo Soares

 

O show de lançamento do novo álbum de Vitor Ramil, “Mantra Concreto”, será nesta quinta-feira, dia 24 de outubro, às 21h, no Salão de Atos da PUCRS (avenida Ipiranga, 6681, Prédio 4, Partenon, Porto Alegre).  No novo trabalho, o compositor e intérprete gaúcho reúne 15 músicas criadas por ele com base nos versos do poeta curitibano Paulo Leminski. Além dessas novas canções, o show terá no roteiro grandes sucessos de Vitor: “Loucos de Cara”, “Não é céu”, “Astronauta lírico”, “Foi no mês que vem”, “Tierra”, “A ilusão da casa”, “À beça”, “Estrela Estrela” e “O velho León”. Tem destaque a nova versão de “Natália em Coyoacán”, composta em parceria com Paulo Leminski e gravada originalmente no disco “Tambong” (2000).

Em um texto, Ramil resgata o processo criativo do novo álbum desde 2021, justamente o período de isolamento da pandemia. Ele considera que, neste momento, foi contaminado mesmo pela poesia de Paulo Leminski (1944-1989). “Certo dia, enquanto lia o poema ‘Sujeito Indireto’, passei a mão no violão e minha imunidade baixou. ‘Quem dera eu achasse um jeito, de fazer tudo perfeito’ logo virou canção. Nos dias subsequentes, a cena se repetiu com outros poemas. Em três semanas, treze poemas, treze canções: ‘De repente’, ‘Teu vulto’, ‘Administério’, ‘Amar você’, ‘Profissão de febre’, ‘Palavra minha’, ‘Um bom poema’, ‘Anfíbios’, ‘Será quase’, ‘Sujeito indireto’, ‘Minifesto, Caricatura’ e ‘Mantra Concreto’.”

“A contaminação fora brutal. Não demorou para que o contagiante repertório tomasse meus pensamentos. Eu nunca criara um grupo de canções tão coeso em tão pouco tempo”, revela o cantor. 

O disco é uma homenagem a Paulo Leminski, sendo gravado e lançado em 2024, ano em que, por coincidência, o poeta completaria 80 anos. “Eu não sabia dessa efeméride, que me pareceu meio mágica, feito o meu surto criativo. O que, sim, sabia, era que cada aspecto do trabalho deveria estar contaminado pelo autor e sua poesia”, escreve.

Vitor Ramil, que canta e toca violões e viola, estará no palco com Alexandre Fonseca (bateria, tablas, percussão e programações) e Edu Martins (baixo sintetizador e baixo acústico). Os dois músicos também dividem com Vitor a produção do álbum em lançamento, colaborando na gravação de quase todas as músicas. 

Além deles, o disco conta ainda com as participações de Carlos Moscardini (violão), André Gomes (sitar e guitarra), Santiago Vazquez (kalimba), Toninho Horta (guitarra), Vagner Cunha (violino e arranjo), José Milton Vieira (trombone) e Pablo Shinke (violoncelo). Vagner, José e Pablo também fazem participações especiais no show. 

A iluminação do espetáculo é de Isabel Ramil, a concepção de vídeo e animação de Vini Albernaz e o som de Lauro Maia e André Colling.

Os ingressos estão à venda no Campus da PUCRS e na plataforma Sympla. Adquira aqui o seu ingresso.  Ouça neste link o álbum “Mantra Concreto”.

Serviço  

  • Classificação Indicativa: Livre 
  • Ponto de venda de ingressos sem taxa de conveniênciaCampus da PUCRS – Av. Ipiranga, 6681, Saguão do Living 360º, Prédio 15, em frente à PUCRS Store (de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h). Nos dias 03, 04 e 24 de outubro, a venda física de ingressos acontece diretamente na Bilheteria do Salão de Atos da PUCRS, Campus da PUCRS, Prédio 04, a partir das 13h até o horário de início do espetáculo do dia.
  • Tarifa especial de estacionamento no Campus da PUCRS: R$25,00 para compra antecipada pelo site da Indigo:

https://indigoneo.com.br/pt/booking/999901058 Código promocional: 10CEPUC24

Valor dos Ingressos: 

  • Plateia Baixa R$250,00 
  • Plateia Alta R$200,00 
  • Mezanino R$80,00  

 

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Como o Brasil seleciona um filme para o Oscar?

O longa “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, foi o escolhido para representar o país em 2025        

Por Gabriel Veríssimo   

   

Fernanda Torres vive na tela a história real de quem sofreu na pele os dissabores do período ditatorial no Brasil   Foto: Divulgação

 

A Academia Brasileira de Cinema anunciou no dia 23 de setembro, o filme que representará o Brasil na corrida por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2025. O longa “Ainda Estou Aqui” (2024), dirigido por Walter Salles, foi selecionado por unanimidade pela comissão de especialistas e já desponta como uma das grandes apostas do País para a competição mundial. Levando em conta a produção brasileira recente de filmes, o título está passando por algumas etapas antes de chegar à indicação definitiva à cerimônia em Los Angeles.

A trama de “Ainda Estou Aqui se ambienta no Brasil, em 1970, e adapta o livro autobiográfico homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que narra a vida de sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres). Na trama, uma mulher casada com um político influente tem sua vida transformada quando o marido, Rubens Paiva (Selton Mello), desaparece durante a ditadura militar. De dona de casa, ela passa a lutar como ativista dos direitos humanos.

A estreia no Brasil está marcada para ocorrer durante a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que começou nesta quinta-feira, dia 17 de outubro. O lançamento comercial nas salas de cinema do País está previsto para 7 de novembro. No cenário internacional, o longa já acumula reconhecimento: venceu o prêmio de Melhor Roteiro no prestigiado Festival de Veneza e foi exibido nos festivais de Toronto e San Sebastián, onde recebeu aclamação da crítica.

Como é o processo de seleção para o Oscar de Melhor Filme Internacional?

A escolha de “Ainda Estou Aqui” como representante brasileiro no Oscar seguiu um rigoroso processo de seleção estabelecido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes. Para concorrer à vaga, o filme precisa atender a uma série de requisitos estabelecidos tanto pela academia brasileira quanto pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que organiza o Oscar.

Em primeiro lugar, a produção deve ter sido lançada no Brasil durante um período pré-definido. Além disso, o filme precisa ter sido exibido em um cinema comercial por pelo menos sete dias consecutivos e não pode ter sido transmitido previamente na televisão ou em plataformas de streaming.

Após o lançamento comercial, cabe à produtora do filme inscrever a obra no site da academia, apresentando documentos como o Certificado de Produto Brasileiro (CPB), emitido pela Ancine, e comprovações da exibição nos cinemas, como críticas ou reportagens. O filme também não pode ter concorrido no ano anterior, o que garante que apenas novas produções entrem na disputa.

O filme passa pelo filtro do comitê de seleção da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. Ele é composto por 25 membros, 21 escolhidos por votação entre os integrantes da organização, e quatro escolhidos pela diretoria, visando diversidade. Este comitê fica responsável por assistir todas as obras elegíveis que se inscreveram no processo seletivo, aberto no site oficial para que as produtoras possam enviar seus candidatos.

Uma vez definido o representante, a Academia Brasileira de Cinema e Artes informa sua escolha ao comitê de Hollywood, e a inscrição final na premiação fica a cargo dos produtores da obra escolhida.

O anúncio dos cinco filmes finalistas que concorrerão ao Oscar será feito no dia 17 de janeiro de 2025, após uma pré-lista de finalistas, que será divulgada em 17 de dezembro de 2024.

Filmes brasileiros indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional

Embora o Brasil tenha submetido diversos filmes à categoria de Melhor Filme Internacional ao longo dos anos, apenas quatro produções conseguiram a cobiçada indicação final à cerimônia do Oscar. O primeiro a disputar a estatueta foi “O Pagador de Promessas” (1963), de Anselmo Duarte. O segundo, “O Quatrilho” (1996), de Fábio Barreto, e o terceiro a alcançar a indicação foi “O Que é Isso, Companheiro?” (1998), de Bruno Barreto. A quarta produção foi “Central do Brasil” (1999), de Walter Salles, que trouxe grande reconhecimento ao cinema nacional e ainda garantiu uma indicação de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro.

Agora, com “Ainda Estou Aqui”, o Brasil renova suas esperanças de retornar à lista dos finalistas e, quem sabe, conquistar sua primeira estatueta. A 97ª edição do Oscar será no dia 2 de março de 2025.

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Festa em São Lourenço do Sul celebra literatura e livros

Promoção do Centro de Escritores Lourencianos acontece a partir do dia 22 e terá caminhada literária na abertura

 

Estão previstas oficinas literárias, apresentações artísticas e lançamentos de livros    Foto: Divulgação

 

O Centro de Escritores Lourencianos (CEL) realiza de 22 a 25 de outubro a 3ª edição da Festa da Literatura e da Cultura em São Lourenço do Sul. A programação conta com caminhada literária nas ruas centrais da cidade, oficinas literárias, lançamento de livros, apresentações culturais, entrega de premiações e jantar comemorativo aos 28 anos do CEL. As atividades ocorrem no Grêmio Esportivo Lourenciano (rua Marechal Deodoro).

A 3ª Festa da Literatura e da Cultura em São Lourenço do Sul é executada através da Lei Paulo Gustavo. Consolida o trabalho do CEL que atua através de seus voluntários, visando acelerar o processo de inclusão social com a valorização da literatura, cultura e o incentivo à leitura.

Veja a programação:

Dia 22/10 – Terça-Feira

14h – Abertura das atividades com a Caminhada literária. Cada participante deverá homenagear um livro que gosta, levando-o consigo no passeio. Será da Afubra até a Praça Central, culminando num encontro com autoridades. Durante o trajeto, será tocado o hino do CEL no carro de som, com distribuição de livros;

17h30min – Lançamento do livro “Crianças do mundo e as crianças de São Lourenço do Sul” de Verena R. Becker .  Palestra “Contando uma história” com Angela Cabral;

19h – Lançamento “Nossa gente, nossas histórias” V. 3, Sarau do Kilombo Literário, Exposição de artesanato das autoras e apresentação musical de Fernando Teixeira.

Dia 23/10 – Quarta-Feira

14h – Momento FusCultura – “O Fusca que carrega história”;

15h – Oficina de Escrita Terapêutica: “Expressão, afeto e cura”, com Sandra Veroneze;

16h – Lançamento de “Convite às musas”, livro coletivo de poemas originários da oficina literária da Pragmatha Editora;

18h – Lançamento de “Sob o signo da águia − semeando recomeços” – Loiva I. Tessmer Bütow;

19h Lançamento de “Puxa o banco que te conto” – Wilmar José da Fonseca;

20h Sarau: “A poesia ilumina o CEL” com lançamento dos livros “Retalhos de Poesia” (Agenor de Mello Coelho), “O tempo de você comigo” (Magno Machado de Freitas) e “POEVAS” (José Honório T. Ribeiro).

Dia 24/10 – Quinta-Feira

15h – Palestra de Sandra Veroneze para componentes do Projeto Conviver: “Narrativas de vida: importância de preservar a memória”;

16h – Conviver (dança) – Contação de um causo do Wilmar Fonseca do livro “Puxa o banco que te conto”;

17h – Lançamento de “Entre linhas e propostas”, obra coletiva contendo crônicas oriundas da oficina literária da Pragmatha Editora;

18h – Lançamento “Quando as águas invadem nossas vidas” e apresentação do projeto musical de Aline Seefeldt;

19h – Lançamento do segundo volume de “Aventuras e Memórias sobre Rodas”  e apresentação artística do Grupo Misenscene;

20h – Lançamento dos livros infanto-juvenis “A menina e o tubarão”, de Lorena Fontoura e “A menina, os pássaros anjos e a bruxa”, de Ilda Maria Costa Brasil.

Dia 25/10 – Sexta-Feira

10h – Oficina para alunos de 7º, 8º e 9º ano: “Fazendo arte com palavras”, com as professoras Ilda Brasil e Lorena Fontoura;

11h – Oficina para professores: “De verso para verso – De prosa para prosa”, com Ilda Brasil e Lorena Fontoura;

14h – Oficina para alunos de Ensino Médio: “Fazendo arte com palavras”, com as professoras Ilda Brasil e Lorena Fontoura.

15h – Oficina para professores: “De verso para verso – De prosa para prosa”, com Ilda Brasil e Lorena Fontoura.

19h – Jantar alusivo ao 28º aniversário do CEL; Entrega de premiação do 2º Concurso Literário Sérgio de Laforet Padilha; Lançamento da 22ª Antologia do CEL e apresentação musical de Adão Quevedo e Danilo Kuhn.

 

Apresentações musicais farão parte da agenda de atividades da festa literária

 

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Amor e Loucura: Coringa e Arlequina em Delírio a Dois

Filme está em cartaz nos cinemas de Pelotas e traz história complexa com mistura de humor e tragédia      

Por Júlia Koenig 

    

Lady Gaga e Joaquin Phoenix dão carga psicológica aos personagens principais        Fotos: Divulgação

 

“Coringa: Delírio a Dois” é uma continuação do aclamado filme “Coringa” de 2019, dirigido por Todd Phillips e, assim como na versão anterior, o diretor traz o ator Joaquín Phoenix encenando o aclamado vilão da DC. O filme, que estreou em meio a muitas críticas negativas, traz uma nova camada à história do Coringa, focando em sua relação tumultuada com a Arlequina (interpretada por Lady Gaga) e mergulhando na complexidade dessa relação, onde amor, obsessão e loucura se entrelaçam num misto de humor e tragédia. À medida que o Coringa enfrenta em júri a consequência de suas ações cruéis, Arlequina luta para encontrar um lugar ao seu lado, criando uma dinâmica que provoca reflexões sobre a natureza da insanidade e do afeto. A produção pode ser vista atualmente nas salas de cinema de Pelotas

Todd Phillips, que já tinha estabelecido um tom sombrio e realista no primeiro filme, mantém essa abordagem em “Delírio a Dois”. Sua direção mescla elementos de thriller psicológico com números musicais. O diretor explora as nuances entre loucura e romance, utilizando uma paleta de cores vibrantes que contrasta com a escuridão das temáticas abordadas. A direção de arte e a fotografia contribuem para uma atmosfera que intensifica as emoções dos personagens.

Passado e presente

A estrutura narrativa é não linear, intercalando momentos do presente com flashbacks que revelam a infância e os traumas de Arthur Fleck (o nome de fato de Coringa). Essa técnica permite que o público compreenda a origem de seus problemas psicológicos e a evolução de sua relação com Harleen Quinzel, a Arlequina, que é o ponto central da narrativa. A história se desenvolve em um ritmo acelerado que mistura momentos de tensão e fragilidade emocional, essa dinâmica é aprofundada por situações que revelam as fraquezas de ambos, ampliando o entendimento sobre o que os une e os separa.

O filme apresenta uma crítica social que se manifesta através das interações de Arthur com figuras como os guardas da prisão, que por diversas vezes abusam de sua autoridade, culminando numa cena de violência cruel. Além disso, o júri a que se submete representa uma crítica a como são tratados casos de saúde mental em varas criminais. Esses encontros não apenas expõem as falhas do sistema criminal e carcerário, mas também refletem a alienação e a frustração de Arthur em um mundo que não o aceita.

Nesse universo, Phoenix entrega uma performance que humaniza o personagem. No filme, ele lida com questões de amor, aceitação e a fragilidade de sua sanidade. A relação com Harleen traz uma nova dimensão ao coringa, revelando uma vulnerabilidade que contrasta com sua personalidade caótica. Em “Coringa” (2019), a interpretação do ator foi aclamada por sua profundidade. No entanto, “Delírio a Dois” se distancia do tom puramente trágico do primeiro filme, incorporando elementos de humor e romance que relembra a representação do Coringa em adaptações anteriores, como a de Heath Ledger (“Batman, o Cavaleiro das Trevas”/2008), e também oferece uma nova perspectiva ao explorar o lado humano do vilão.

Enquanto isso, Gaga oferece uma interpretação intensa e multifacetada, mostrando uma Dra. Quinzel que se vê atraída não apenas pela complexidade de Arthur, mas também por sua própria instabilidade emocional. A dinâmica entre os dois personagens é um dos principais motores da narrativa, desafiando os limites da obsessão e da dependência emocional.

Questionamentos sociais

Os personagens secundários não apenas enriquecem a narrativa, mas também refletem os temas centrais do filme, como a busca por amor, aceitação e a crítica à sociedade. Cada um deles contribui para a construção do mundo interno de Arthur e sua trajetória. Essa abordagem faz com que o público não apenas compreenda a transformação de Arthur, mas também se questione sobre os contextos sociais que produzem figuras como o Coringa. A exemplo disso, o filme explora o passado de Arthur através de personagens que aparecem em flashbacks, como sua mãe, Penny Fleck (Frances Conroy). Ela representa a fonte de traumas e conflitos internos que impulsionam Arthur. As memórias com Penny são marcadas por uma mistura de afeto e manipulação, revelando as raízes de sua instabilidade emocional.

A estética do filme é uma extensão da sua narrativa. Visualmente, o longa impressiona, com uma estética sombria que reflete a desordem do mundo interno dos protagonistas, a paleta de cores que vai do sombrio ao vibrante retrata as oscilações emocionais dos personagens e cenas sombrias contrastam com momentos mais iluminados, especialmente nas interações entre Arthur e Harleen. A câmera, muitas vezes, aproxima-se dos rostos, capturando expressões sutis que revelam a fragilidade emocional e a profundidade da performance dos atores.

 

Filme desafia a audiência  a confrontar suas próprias percepções sobre o que significa ser humano

 

A trilha sonora também contribui para a atmosfera, intensificando a tensão e a emoção com números musicais, apesar de estes, por vezes, tornarem a narrativa cansativa e serem grande alvo críticas negativas em relação ao filme. As composições variam de clássicos do jazz a canções originais e ajudam a estabelecer o tom emocional de cada cena. O uso de música em momentos-chave, como os números musicais que surgem na relação entre Arthur e Harleen, cria uma atmosfera que destaca a linha tênue entre a realidade e a fantasia na mente de Arthur.

Em suma, as escolhas narrativas e estéticas em “Coringa: Delírio a Dois” se entrelaçam, criando uma experiência completa. A profundidade emocional da narrativa, combinada com uma estética visual e sonora, provoca reflexões sobre temas universais e sombrios. Essa combinação desafia os espectadores a confrontarem suas próprias percepções sobre o amor e a luta pela aceitação em uma sociedade que frequentemente marginaliza os vulneráveis. Essa abordagem faz com que a obra desafie o público a confrontar as suas próprias percepções sobre o que significa ser humano em um mundo muitas vezes cruel e indiferente. Apesar dos pontos positivos o longa deixa a desejar no que toca a apresentar um final bem amarrado e coerente para com a riqueza do enredo. Não há como ignorar as pontas soltas e o frustrante desfecho entre os personagens principais, que termina de maneira fria e abrupta. Para além das críticas, o filme entrega boas reflexões e o desempenho dos atores é digno de elogios.

Ficha Técnica

Nome Original: Joker: Folie à Deux

Dirigido por Todd Phillips

Elenco: Lady Gaga, Zazie Beetz, Catherine Keener, Joaquin Phoenix ,

Distribuição Warner Bros.

País de Origem: EUA

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Sally Rooney e as vivências em um belo mundo em crise

A escritora irlandesa representa com maestria o cotidiano e os dilemas do século XXI   

Por Enzzo Lopes Rodrigues 

    

Sally Rooney lançou seu quarto romance “Intermezzo” em setembro  Fotos: Divulgação

 

No mês passado, em setembro, Sally Rooney lançou mundialmente seu quarto romance, “Intermezzo”. A obra narra a história de dois irmãos com personalidades distintas que buscam reconstruir suas vidas após a morte do pai. A expectativa do público em relação a este lançamento é alta, impulsionada pelo sucesso comercial e pelas críticas positivas que os trabalhos anteriores da autora receberam.

Em uma época em que as crises são constantes, tanto políticas quanto climáticas, Sally Rooney emerge como uma das principais escritoras da geração, contando histórias sobre pessoas normais tentando lidar com seus problemas e com os tumultos do mundo. Com uma abordagem leve e sem muitos plot twists, seus livros trazem à luz discussões relevantes. 

Graduada em Inglês pela Trinity College, em Dublin, Rooney se identifica como uma marxista, que tenta demonstrar em suas obras, entre outras coisas, o papel que o sistema de classes desempenha em relacionamentos, sejam eles românticos ou familiares. Essa temática permeia principalmente suas duas primeiras obras, “Conversas entre amigos” (2017) e “Pessoas normais” (2018), mas não deixa de fazer parte do resto do seu trabalho.

 

Alisson Oliver e Sasha Lane na minissérie “Conversas Entre amigos” baseada na obra da escritora

 

Em “Conversas entre Amigos”, Sally explora a relação de Francis, uma estudante na casa dos vinte anos, e o ator Nick, enquanto ela segue próxima de Bobbi, sua ex-namorada, e a esposa do ator, Melissa. O livro reflete muito sobre os modelos de relações e dinâmicas de poder dentro de vínculos afetivos, enfatizando as diferenças de classes e de idade. A obra foi adaptada em uma minissérie em 2022.

No segundo livro de Sally, “Pessoas Normais”, Connell e Marianne se conhecem na escola, onde um é muito popular e a outra é excluída dos círculos sociais por sua fama de ser “feia” e “irritante”. Ambos começam um relacionamento que dura anos. A premissa do livro publicado em 2018 parece clichê à primeira vista, mas se torna uma história densa que aborda os mesmos temas do primeiro livro de Rooney de maneira mais natural e profunda.

“Pessoas Normais” se tornou o lançamento mais popular da autora, ganhando uma adaptação em 2020, na série produzida pelo Hulu, estrelada por Paul Mescal e Daisy Edgar-Jones. É nessa história que o público encontra uma crítica mais acentuada ao sistema de classes pela autora. Connell é de classe baixa, filho da faxineira Lorraine, que trabalha para a mãe de Marianne. Durante toda narrativa, desde a escola à faculdade, é perceptível como Connell se sente inferior ao resto das pessoas ao seu redor por não possuir o mesmo status social que eles.

O sucesso que esse livro ganhou é justificável. Em pouco menos de 300 páginas, Rooney descreve de maneira excepcional todos os aspectos do crescimento de duas pessoas diferentes, mas que se encontram no sentimento de não pertencer a lugar nenhum. A história contempla temas como amizade, romance, saúde mental, classes sociais e outros pontos que ressoam na vida de muitos.

 

Paul Mescal e Daisy Edgar-Jones em “Pessoas Normais” 

 

Em 2021, na segunda metade de uma pandemia que mexeu consideravelmente com o estado mental do mundo, Sally Rooney surge com a estreia de seu terceiro romance, cujo título traz uma pergunta feita por muitos “Belo mundo, onde você está”. Nele conhecemos quatro pessoas – Alice, Felix, Eileen e Simon – que, no começo dos seus 30 anos, lutam para conduzir suas vidas e suas relações em meio a todas as crises globais.

Rooney captura de maneira precisa o espírito da época recente, quando não se via muitas razões para se ter esperança ou um objetivo definido, enquanto coletivamente deparava-se com um futuro tão incerto. É com isso, e por isso, que os acontecimentos do livro se desenrolam da maneira que acontece.

De que serve ter esperança? Para que se desgastar tentando construir algo? Nessa obra, a irlandesa mais do que convencer, busca demonstrar para o leitor a sua resposta para essas questões, revelando personagens que se apegam uns aos outros em busca de força para seguir em frente. Ela sugere a existência de um mundo metafórico paralelo ao que estamos, onde toda a beleza está nas conexões humanas.

Como em suas obras anteriores, Rooney critica o sistema liberal e o cenário político mundial, trazendo um foco especial para questões ambientais. As análises também tocam na cultura de celebridades, trazendo reflexões da personagem Alice, uma escritora que ganhou notoriedade e que se vê incomodada com as especulações a respeito da sua personalidade baseados unicamente em sua arte.

 

Penúltimo livro da autora foi lançado meio ao período pandêmico

 

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