Superman: amor em tempos de aço

Nova versão do personagem da DC Comics ganha relevância em um contexto em que predomina o cinismo     

Por Sofia Mazza Machado       

 

        Super-homem interpretado por David Corenswet passa a ter uma forma diferente de se relacionar com todos ao seu redor             Fotos: Divulgação  

 

Há algo profundamente humano em ver o homem mais poderoso do mundo salvar um esquilo. James Gunn sabe disso e constrói, em “Superman” (2025), um herói que não precisa de músculos gigantes ou semblante intimidador para provar sua força. O novo Clark Kent, interpretado com ternura e carisma por David Corenswet, é antes de tudo um homem “bom”. E é justamente essa bondade, essa coragem de ser gentil em um mundo que romantiza o cinismo, que torna o filme tão especial.

Desde o início, o espectador percebe que o superman de Gunn é diferente. Ele começa apanhando feio nos primeiros segundos de tela, o que nos faz entender que ele não está acima da humanidade, mas é gente como a gente. O roteiro o apresenta como alguém que erra, teme, ama – e que, apesar de poder levantar montanhas, prefere ouvir antes de agir. O super-homem que chorava sozinho no espaço, em versões anteriores, agora encontra força nos laços humanos: nos conselhos dos pais, no afeto de Lois Lane (Rachel Brosnahan) e no desejo genuíno de proteger sem dominar.

 

Nova caracterização da personagem traz um ser humano que deixa com que seus sentimentos venham à tona

 

James Gunn entrega uma história de super-herói que não tem vergonha de ser luminosa. Em tempos em que os homens e a mídia parecem obcecados por anti-heróis e pela estética do sofrimento masculino, “Superman” escolhe o caminho oposto: o dos sentimentos. E faz isso sem ingenuidade, mas com convicção. O diretor entende que acreditar na bondade das pessoas talvez seja o ato mais subversivo que resta. Como o próprio Clark diz em um dos momentos mais simbólicos do filme: “Talvez esse seja o verdadeiro punk rock.”

A diferença entre este “Superman” e o de Zack Snyder em “O Homem de Aço” (2013) (vivido por Henry Cavill) é também uma diferença de mundo. O herói de Snyder via a humanidade como um fardo; o de Gunn a vê como um presente. Se antes o “Homem de Aço” era retratado como uma divindade incompreendida, agora ele é um homem que se permite sentir. E essa mudança muda tudo. O que antes era poder bruto, agora é vulnerabilidade. O que antes era distância, agora é empatia. E esse é o maior poder que qualquer herói pode ter.

A relação com Lois Lane reflete essa nova sensibilidade. Lois é retratada não como coadjuvante, mas como uma protagonista, perspicaz e independente, cuja força nasce da inteligência e não da aparência. Ela questiona, desafia e inspira Clark e ele, em vez de reagir com ego ou autoridade, responde com amor e escuta. O filme brinca com os preconceitos para enganar. como quando a personagem Eve (Sara Sampaio), retratada como fútil e deslumbrada, revela todo o plano do inimigo com as selfies que fez ao longo do filme vistas anteriormente pelo espectador com superficialidade. A presença feminina na obra é viva e plural: não serve de adorno, mas de contraponto e de impulso. Em meio a um gênero ainda preso a estereótipos, “Superman” (2025) acerta ao dar às mulheres o mesmo espaço de complexidade e heroísmo.

 

O enfrentamento das suas próprias fraquezas passa a ser um ingrediente importante desta versão de super-homem

 

Essa delicadeza de abordagem se estende à maneira como Gunn revisita a masculinidade. O super-homem interpretado por Corenswet não é o macho invencível das narrativas clássicas. É um ser humano que acolhe, que hesita, que sente medo. Ele entende que a força não está em nunca cair, mas em escolher levantar com compaixão. Há algo revolucionário em um herói que, podendo esmagar o mundo, opta por segurá-lo com cuidado como quem carrega uma criança nos braços. É uma imagem simples, mas poderosa: o homem de aço, agora feito de carne, de afeto e de fé na humanidade.

Visualmente, o filme abraça o fantástico com a mesma naturalidade com que celebra o humano. Entre batalhas cósmicas e discussões sobre responsabilidade, há espaço para silêncios, para olhares e pequenas gentilezas. Com uma trilha sonora viciante e visuais fantásticos, Gunn equilibra espetáculo e emoção com leveza, lembrando que o que nos faz lembrar do super-homem não são seus raios laser, mas a bondade nos seus olhos humanos.

Mais do que um recomeço para o Universo DC, “Superman” (2025) é uma declaração de princípios. Um espetáculo que termina com o desejo de sermos pessoas melhores e um lembrete de que ser bom ainda importa. Em um mundo que glorifica a indiferença, o novo homem de aço escolhe a ternura como resistência. E talvez seja isso que faz dele o verdadeiro super-herói: a capacidade de continuar acreditando – e de nos fazer acreditar – que o amor ainda é a maior força que existe.

Ficha Técnica

Título: Superman (Original)

Ano de produção: 2025

Direção e roteiro: James Gunn

Duração: 129 minutos

Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos

Gênero: Ação Aventura, Fantasia, Ficção Científica, Super-herói

País de origem: Estados Unidos da América

Produtores: Andrew Lary, Anthony Tittanegro, Chantal Nong Vo, Galen Vaisman, James Gunn, Lars P. Winther, Nikolas Korda, Pete Chiappetta e Peter Safran

Elenco: David Corenswet (Clark Kent / Superman), Nicholas Hoult (Lex Luthor), Rachel Brosnahan (Lois Lane), Alan Tudyk (Gary), Angela Sarafyan (Lara), Anthony Carrigan (Metamorfo), Beck Bennett (Steve Lombard), Bonnie Discepolo (Senhorita Jessop), Bradley Cooper (Jor-El), Sara Sampaio (Eve Teschmacher)

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Grupo Sonnenschein mantém viva tradição alemã em São Lourenço do Sul

Fundado em 1983, seu objetivo é preservar a memória dos imigrantes pomeranos através das manifestações artísticas      

Por Najara Leal e Raissa Iepsen         

 

Com mais de 40 anos de existência, o grupo conta hoje com cerca de 200 dançarinos         Fotos: Rafael Grigoletti

 

Sonnenschein significa “raio de sol” em alemão. E é exatamente isso que o grupo representa para São Lourenço do Sul: luz, calor e vida cultural. Há mais de quatro décadas, o Grupo de Danças Folclóricas Alemãs Sonnenschein segue sendo um dos maiores símbolos da preservação cultural no município. Em 2025, completou 42 anos de atividade, mantendo viva a herança deixada pelos imigrantes alemães que ajudaram a construir a história da cidade, e se consolidando entre os principais grupos de folclore germânico do Brasil.

Fundado em 25 de agosto de 1983, o Sonnenschein nasceu com uma missão simples, mas muito significativa: mostrar a beleza da dança alemã durante as comemorações do centenário do município. Sob a liderança da professora Soleni Peres Heiden, seis pares de dançarinos se apresentaram no Festival Teuto e Gaúcho, e, sem imaginar, deram início a uma trajetória que se tornaria motivo de orgulho para gerações de lourencianos.

“A história do grupo surgiu com a Soleni, que era professora. Ela queria criar um grupo para uma apresentação do evento gaúcho da época, conseguiu juntar um pessoal e começaram a ensaiar. A princípio seria só para aquela apresentação, mas ela decidiu continuar, e muita gente ficou. O objetivo era valorizar mais a cultura alemã e as tradições pomeranas, já que São Lourenço tem muita influência disso. Foi assim que tudo começou”, lembra a integrante Júlia Radmann Tomm, que faz parte do grupo desde a infância.

 

A Südoktoberfest é sempre um momento do ano muito esperado pela cidade de São Lourenço e os participantes do grupo

De seis pares a quase duzentos dançarinos

Quarenta e dois anos depois, o grupo que começou com apenas seis pares hoje reúne quase 200 integrantes, o que o coloca como o segundo maior grupo folclórico alemão do Brasil. São crianças a partir dos três anos, jovens, adultos e idosos com mais de oitenta, divididos em diferentes categorias: Pré-Mirim, Mirim, Infantil, Infanto-Juvenil, Juvenil, Adulta, Livre e Feminina.

Mais do que um grupo de dança, o Sonnenschein se tornou um verdadeiro ponto de encontro entre gerações, em que tradição, amizade e amor pela cultura caminham juntos. Os ensaios e apresentações são apenas uma parte da rotina: o grupo também se envolve em ações sociais, educativas e comunitárias, fortalecendo vínculos e valores que vão muito além dos palcos.

“Eu participo do grupo desde que sou criança. Minha mãe dançava no começo e sempre me incentivou. Desde que eu tinha uns seis ou sete anos, eu danço, e não consigo imaginar minha vida fora do grupo. Todos os meus amigos estão lá, e é um lugar onde eu me sinto bem. Dançar é algo que me faz feliz, é uma parte muito importante de mim”, conta Júlia, emocionada.

A integrante também recorda com carinho um dos momentos mais marcantes da sua trajetória: “A apresentação mais especial foi a minha primeira na categoria adulta. Desde pequena eu sonhava em dançar entre os adultos, porque era tipo o auge, sabe? Então, quando finalmente aconteceu, foi muito especial”.

Quem também compartilha dessa paixão é Alice Clasen Hax, de 13 anos, e que há três anos está no grupo, fazendo parte atualmente da categoria Infanto-Juvenil. “Eu adoro participar do Sonnenschein porque é o momento em que eu me junto com as minhas amigas. A gente se diverte, aprende bastante, mas também cansamos muito, mas tudo vale a pena, né? Porque eu gosto disso. Eu também me inspiro nas gurias mais velhas, como a Júlia, que cresceram dançando e continuam até hoje. Quero ser como elas, seguir no grupo por muitos anos”, relata Alice.

 

As atividades do grupo têm sido viabilizadas principalmente pelo comprometimento comunitário dos integrantes

Um trabalho voluntário e independente

Um dos grandes diferenciais do Sonnenschein é sua autonomia. O grupo não tem vínculo com a Prefeitura. Tudo é feito por trabalho voluntário, de diretores, coordenadores e instrutores, que também são responsáveis pelos ensaios das crianças e demais categorias.

Nenhum integrante paga mensalidade. Eles contribuem apenas com uma taxa de inscrição anual, destinada à manutenção da sede e dos trajes, ajudando a cobrir despesas como luz, água e pequenos reparos. Todo o restante vem do esforço coletivo e do envolvimento das famílias, o que faz do Sonnenschein um exemplo de comprometimento comunitário.

Essa forma de funcionamento mostra como a união e o amor pela cultura podem sustentar um projeto tão grandioso por tanto tempo.

“A gente é um grupo totalmente independente, não tem apoio da Prefeitura nem de ninguém. Tudo o que a gente faz vem do nosso esforço e do envolvimento das famílias. Esse é um dos maiores desafios: manter o engajamento de todo mundo, especialmente dos mais jovens, mas também é o que torna o grupo tão especial”, diz Júlia.

 

No mês de outubro a população lourenciana é mobilizada para uma grande festa

Südoktoberfest: evento que move a cidade

Outro capítulo importante dessa história é a Südoktoberfest, festa organizada anualmente pelos integrantes do Sonnenschein, familiares e amigos. A “Südo”, como é carinhosamente chamada, chegou à sua 36ª edição em outubro de 2025, consolidando-se como a maior e mais tradicional celebração germânica da metade sul do Rio Grande do Sul.

Mais do que uma festa, a Südoktoberfest é um evento que movimenta São Lourenço do Sul, impulsionando o turismo e a economia local, além de celebrar tudo aquilo que a cidade tem de mais bonito: sua cultura, sua hospitalidade e sua alegria.

“Pra mim, o Sonnenschein é uma família. A gente cresce junto, compartilha histórias, desafios e momentos lindos. Tenho muito orgulho da história do grupo e do que ele representa para a nossa cidade”, completa.

 

Hoje o grupo integra varias gerações de forma a dar continuidade às tradições

Um legado em movimento

Entre passos, músicas e coreografias, o Sonnenschein segue dançando pela história de São Lourenço do Sul. Cada apresentação é uma forma de preservar, renovar e compartilhar a cultura que forma a identidade da cidade.

Mais do que um grupo de dança, o Sonnenschein é um legado vivo de amor, voluntariado e pertencimento, um verdadeiro Raio de Sol que há 42 anos ilumina a cultura lourenciana.

E é a pequena Alice quem traduz esse sentimento em palavras simples e cheias de significado:

“Eu acho lindo o nome do grupo, porque o Sonnenschein é mesmo um raio de sol. Quando a gente dança, parece que todo mundo brilha junto”.

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“Pecadores” trata gênero terror com irreverência

Dois irmãos gêmeos retornam à sua terra natal e encontram forças que vão para além do cotidiano      

Por João Lucas Rodrigues da Silva     

 

Michael B. Jordan interpreta os gêmeos Fumaça e Fuligem em uma atuação magistral            Foto: Divulgação

 

Dirigido por Ryan Coogler e estrelado por Michael B. Jordan, “Pecadores” é um filme que surpreende por misturar terror, drama, história, o sobrenatural e muita música de um jeito irreverente. Ambientado no sul dos Estados Unidos nos anos 1930, a obra acompanha os gêmeos Fumaça e Fuligem (ambos interpretados por Jordan), que retornam à sua cidade natal tentando abandonar um passado sangrento e criminoso. No entanto, à medida que tentam recomeçar, forças ancestrais voltam a assombrar não apenas os dois, mas toda a comunidade.

Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é sua atmosfera. A fotografia, os figurinos e principalmente a sua maravilhosa trilha sonora criam um clima fantástico e enérgico que nos transporta diretamente para aquela época e contexto. Michael B. Jordan entrega uma atuação poderosa, dando profundidade e contrastes às duas versões de si mesmo, algo muito desafiador segundo ele tem dito em entrevistas. Ryan Coogler, por sua vez, dirige com firmeza, equilibrando os elementos sobrenaturais com discussões sobre identidade, pecado, liberdade e herança cultural.

Além dos dois protagonistas, Miles Caton brilha em sua estreia no cinema como o personagem Pastorzinho, primo de Fumaça e Fuligem e filho de um rígido pastor, que enxerga o “blues” – paixão de seu filho – com maus olhos por supostamente ser “a música do diabo”.

Vale destacar que “Pecadores” não é um terror convencional, daqueles feitos unicamente para assustar. O ritmo é mais lento, principalmente no começo, mas isso funciona perfeitamente, visto que esse início de filme introduz muito bem os personagens e faz o espectador criar carinho por eles. Para alguns, isso pode causar estranhamento, já que esse filme é muito diferente da maioria dos terrores, afinal, ele é muito mais um drama do que um terror propriamente dito, apesar de ter elementos que criam tensão de forma magnífica.

Entre esses elementos, estão os vampiros – principal ameaça no filme -, que são usados na trama para tratar do vampirismo histórico, que é quando um povo (geralmente branco) se apropria da cultura de outro povo (geralmente preto ou indígena), assim como aconteceu com o rock, o blues e o jazz.

No entanto, é impossível falar dessa obra sem falar da trilha sonora fabulosa do compositor sueco Ludwig Göransson (famoso por seu trabalho em Oppenheimer), que é o carro-chefe de “Pecadores”. “I Lied To You” e “Last Time (I Seen The Sun)” são as canções de maior destaque no filme e são daquelas que não saem da cabeça do espectador por um bom tempo, ainda mais após assistir ao filme, sabendo em que contexto cada música é tocada.

“Pecadores” se destaca como uma obra ousada e riquíssima. É um filme que fala sobre culpa e redenção, mas principalmente sobre racismo, o poder da cultura e da memória. Pode-se afirmar com convicção que, no futuro, esta obra será tratada como um clássico do cinema, um irreverente terror musical. Sem dúvida, vale a pena assistir, especialmente para quem apreciar histórias que vão além do susto e fazem refletir depois dos créditos. A experiência se torna única e memorável graças à trilha sonora, aos cenários e ao subtexto espiritual.

Ficha Técnica

Título: “Pecadores” (“Sinners”, 2025)

Direção: Ryan Coogler

Roteiro: Ryan Coogler e Joe Robert Cole

Produção: Marvel Studios / Coogler Films

Elenco principal: Michael B. Jordan (Stack e Smoke Moore), Miles Caton (Sammie Moore), Danielle Deadwyler, Delroy Lindo, Ayo Edebiri, Glenn Plummer, Buddy Guy (participação especial)

Fotografia: Autumn Durald Arkapaw

Montagem: Michael P. Shawver

Trilha sonora original: Ludwig Göransson

Lançamento: 3 de abril de 2025

Duração: 129 minutos

Gênero: Terror, Drama, Musical

Idioma: Inglês

Distribuição: Warner Bros. Pictures

 

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Memória afetiva ganha um acervo virtual no Museu das Coisas Banais

Projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desafia a noção tradicional dos espaços expositivos          

Por Henri Porto Dias e Lucas Duarte Maciel         

 

Objetos do cotidiano trazem por trás de si histórias de vida e têm relevância simbólica   Fotos: Acervo MCB

 

O Museu das Coisas Banais (MCB) foi criado em 2014 por integrantes do departamento de Museologia, Conservação e Restauro, do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas. Funcionando exclusivamente em formato virtual, sua missão é preservar e compartilhar as memórias atreladas a objetos cotidianos — as “coisas banais” — que possuem um profundo valor afetivo e pessoal para seus doadores.

O acervo do Museu é composto por objetos biográficos enviados pela própria comunidade, geralmente através de fotografias e suas respectivas narrativas, explicando o vínculo afetivo. Nesta reportagem, você vai conhecer a história completa do museu e o porquê de a banalidade estar presente só em seu nome.

O início, bastidores e o trabalho no Museu

Ao observar outros museus pelo mundo, como o Museu da Cidade de Buenos Aires, na Argentina, Juliane Serres, professora de museologia da UFPel e coordenadora do projeto, sentiu a carência de um espaço que abrigasse apenas objetos comuns com significados sentimentais, em detrimento dos museus mais tradicionais, como os de história e ciência.

Com a ideia em mente, em reunião com outros integrantes do departamento de Museologia, Juliane inspirou-se no livro “História das Coisas Banais”, do escritor francês Daniel Roche, para denominar o projeto. Inicialmente, era apenas um projeto de extensão do curso de Museologia. Com o tempo, o museu ganhou reconhecimento e subiu ao status de museu oficial da Universidade, sempre mantendo sua finalidade de proporcionar atividades de extensão e ensino para os futuros museólogos.

O museólogo Leonardo Monteiro ingressou no museu, ainda graduando e voluntário, dentro das atividades de ensino e extensão. Ele era responsável por descrever os objetos no website. Depois de formado e exercendo a profissão, foi convidado novamente a se juntar ao projeto, na gerência do acervo. Quem também ajuda na manutenção do acervo é Nara Ávila, ingressante no museu após Juliane comentar sobre a necessidade de voluntários para confecção de um painel e ajuda em geral. Desde 2017 no MCB, Nara foi motivada pela ideia de que qualquer pessoa possa ter um objeto musealizado, independentemente de sua classe social ou do valor material para a sociedade, mas, sim, pelo valor afetivo que se torna visível nas narrativas biográficas.

 

Na categoria eventos há objetos como esse carneirinho que remete ao dia de nascimento de doadora com 65 anos

 

Destaques sobre o funcionamento do museu

O trabalho cotidiano do Museu das Coisas Banais envolve a gestão do acervo virtual, que inclui:

Coleta de Itens: Gerenciar o recebimento de fotografias e histórias que explicam o vínculo afetivo do doador com o item.

Organização e Catalogação: Categorizar os objetos e suas narrativas, às vezes utilizando uma “categorização afetiva” (por exemplo, eventos, lugares, pessoas, sentimentos e coisas), com o apoio de plataformas digitais para gestão do acervo, como o Tainacan e WordPress.

Gestão de Conteúdo Digital: Cuidar da disponibilização e organização do conteúdo no site e em redes sociais (como Instagram), que servem como ferramentas de interação e musealização.

Preservação Digital: Focar na preservação digital das informações (imagens e textos), garantindo sua integridade e o acesso futuro a elas.

Interação com o Público: Fomentar a reflexão sobre a relação entre pessoas e coisas, buscando despertar lembranças aos visitantes virtuais. O Museu recebe objetos tanto de crianças quanto de idosos, realizando já ações nas escolas e nos asilos, tanto de Pelotas quanto de fora do Rio Grande do Sul.

A plataforma Tainacan: gerenciando o afeto digital

O uso da plataforma Tainacan pelo MCB é crucial para o seu funcionamento. Desenvolvida no Brasil e de código aberto, a ferramenta museológica atua como um plugin para sites em WordPress (utilizado pelo MCB) e permite:

Gestão Flexível de Acervos: O Tainacan é ideal para a criação e gerenciamento de coleções digitais, possibilitando a configuração de metadados e filtros personalizados. Isso é essencial para o MCB, que não usa categorias museológicas tradicionais, mas sim uma “categorização afetiva” alinhada ao valor pessoal dos objetos.

Publicação e Difusão: Facilita a publicação de coleções, garantindo que as fotografias e, principalmente, as ricas narrativas enviadas pela comunidade sejam facilmente acessíveis ao público. A ferramenta, assim, auxilia a dar forma e estrutura digital à memória afetiva preservada pelo museu.

Exemplos do acervo: o banal que se torna único

A essência do Museu das Coisas Banais reside nas histórias que transformam objetos comuns em guardiões da memória. Três exemplos presentes na Galeria Afetiva ilustram essa capacidade de evocar lembranças e sentimentos profundos:

  • O DVD do pai: “Ele (meu pai) tinha uma banda de rock… Foi após um desses eventos, pouco tempo depois de ele ter tido alta do hospital, que fomos até a loja e compramos esse DVD do AC/DC. Isso me marcou muito… Na vez seguinte em que ele foi internado, oito meses depois, ele morreu. Foi só pensando nele, nesse objeto, que pude perceber o quanto falava a mim e ao meu pai.

 

DVD de grupo de rock traz a memória afetiva de uma família

 

  • O umbigo e o cofre: “Este é o umbigo da minha primogênita… Guardei como lembrança, assim como o dos meus outros dois filhos… Também diziam que se um rato roesse o umbigo seco da criança ela se tornaria uma ladra. Está guardado há 35 anos no cofre de casa.”

 

Mãe guarda o umbigo de sua primeira filha nascida há 35 anos

  • O avô e o mar: “Meu avô, Arthur Constantino, nascido em 1898, visitou o mar pela primeira vez em 1948… Como recordação, comprou esta concha e a manteve com ele até sua morte, quando foi herdada por minha mãe.”

 

Homem que viu mar pela primeira vez aos 50 anos de idade guarda uma concha de recordação

 

A falta de visibilidade

Apesar de sua relevância em ampliar e democratizar a constituição de acervos ao focar na memória de objetos cotidianos, o Museu das Coisas Banais enfrenta o desafio da visibilidade, em comparação com instituições físicas. Nara Ávila acredita que ainda existe um preconceito e uma reclusão, em comparação com Museus da própria universidade que têm um reconhecimento mais evidente, como o Museu do Doce ou o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG). “Não sei dizer com certeza, se é falta de visibilidade, mas com certeza falta um tratamento igualitário aos museus físicos. Como ele existe [no] mundo cibernético se torna abstrato.”

No entanto, ela ressalta e enfoca o papel da comunidade em conferir-lhe importância. “Tornou-se importante e visível quando as pessoas acharam interessante e importante guardar suas memórias afetivas em um museu, mesmo que seja de maneira virtual,” observa.

Tanto Leonardo Monteiro como Juliane Serres acreditam que exista um déficit comunicacional interno do museu. A coordenadora comenta que estão previstas futuras mudanças e “planos de ação” a respeito. “Até por não sermos da área da comunicação, há esse problema, mas até o fim do ano vamos nos reunir para organizar mudanças e também novos projetos, ” diz.

A natureza exclusivamente virtual do MCB, ao mesmo tempo que democratiza a participação e o acesso, também o insere em um cibermundo com um modo de funcionamento próprio. Isso exige um esforço contínuo em atividades de extensão, comunicação e interação nas redes sociais para superar a falta de um “lugar físico” e garantir que o valor afetivo e biográfico de suas coleções seja amplamente reconhecido.

O futuro projeto de memória da enchente

Ainda para este ano, o MCB irá participar de um projeto sobre as enchentes de 2024, em parceria com o curso de Antropologia da UFPel, no qual irão atuar no resgate e na fotografia de objetos perdidos ou conservados da catástrofe. Tal obra se assemelha à realizada na pandemia, que trouxe objetos marcantes da era do Covid.

O real objetivo do MCB

Quem vê, ou acessa o site do Museu, pensa que é só um acervo de coisas aleatórias e comuns. Porém, os objetos são apenas fragmentos e partes do que realmente importa, a história e a memória, de acordo com Serres.

“Quando entro no Museu, como visitante, o que realmente me sensibiliza não são simplesmente os objetos, o que me sensibiliza são as conexões que o Museu traz para todas as histórias de pessoas que nunca se conheceram e que o Museu abrange.”

Como Participar: Torne seu Objeto Banal em Memória Musealizada

O Museu das Coisas Banais tem um caráter essencialmente participativo, dependendo diretamente da comunidade para crescer. Para que seu objeto, por mais comum que pareça, faça parte do acervo virtual e ajude a fomentar a reflexão sobre a memória e o afeto, o processo é simples:

  1. Escolha seu objeto: Selecione um objeto do seu cotidiano que possua um forte valor afetivo ou pessoal.
  2. Registre: Faça uma ou mais fotografias de boa qualidade do objeto.
  3. Conte a história: Escreva a narrativa que explica o vínculo afetivo e pessoal entre você e o objeto.
  4. Envie: O envio do “objeto biográfico” (foto + história) é realizado através do e-mail do Museu, que pode ser encontrado no site oficial:  Museu das Coisas Banais.

Ao participar, você contribui para a missão do MCB de preservar memórias e democratizar o acesso à museologia, provando que o valor de um item reside, muitas vezes, no afeto que ele carrega.

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Duas abordagens do feminino na tela: “Ainda Estou Aqui” e “A Substância”

O longa-metragem dirigido por Walter Salles destacou-se como Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. Mas Fernanda Torres, indicada para Melhor Atriz,  perdeu o prêmio  para Demi Moore, levando a pensar sobre as atuações de ambas e o lugar destes filmes em suas carreiras        

Por Beatriz Afonso        

 

Selton Mello, Fernanda Torres, Guilherme Silveira e Luiza Kosovski em “Ainda Estou Aqui”      Fotos: Divulgação

 

A produção brasileira “Ainda Estou Aqui”, dirigida por Walter Salles, ficou marcada por conquistar o primeiro Oscar brasileiro de Melhor Filme Internacional. A vitória estabelece um momento memorável para o cinema nacional, evidenciando a sua crescente relevância no cenário mundial. A produção superou concorrentes de peso na categoria, como “A Garota da Agulha”, “Flow”, “A Semente do Fruto Sagrado” e “Emilia Pérez”. A atriz protagonista do filme brasileiro, Fernanda Torres, também concorreu ao prêmio de “Melhor Atriz”, mas esse destaque ficou com Demi Moore, no filme “A Substância”. De um modo completamente diferente, no gênero Body Horror, esse título também trata de questões femininas a partir da personagem principal da história.

Aclamado pela crítica e pelo público, “Ainda Estou Aqui” se destacou não apenas pela qualidade cinematográfica, mas também pelo contexto narrativo. Possuindo uma direção sensível e uma fotografia primorosa, o filme de Walter Salles reafirmou a força do cinema brasileiro no cenário internacional. A conquista de “Ainda Estou Aqui” no Oscar não celebra apenas o crescimento do cinema nacional, mas também abre caminhos para novas produções brasileiras dentro do meio audiovisual.

 

Filme reconstitui história da família de Rubens Paiva afetada por seu desaparecimento durante a ditadura militar

 

O filme retrata a trajetória de uma família brasileira durante a ditadura militar, explorando as dores e os desafios impostos por esse período sombrio da história. A narrativa se desenvolve a partir do desaparecimento de Rubens Paiva (Selton Mello), um político que é sequestrado pelo regime militar, deixando a sua família em meio à angústia da incerteza e da luta por justiça. A história acompanha de perto a batalha de sua esposa, Eunice Paiva (Fernanda Torres), que enfrenta a burocracia, o silêncio das autoridades e o medo constante enquanto busca o reconhecimento oficial da morte de seu marido. Em uma interpretação magistral, a atriz trata de uma maneira sutil o sofrimento vivido pela personagem, correspondendo à sua capacidade de superar os fatos, mas sem deixar que sejam apagados da memória.

Através de uma abordagem sensível, o filme mergulha no sofrimento da família Paiva e nas cicatrizes deixadas por essa repressão histórica. A atriz Fernanda Montenegro, presente na história do cinema com filmes como “Central do Brasil” (1998), enriquece ainda mais o longa, dando vida à personagem Eunice Paiva nos anos 2000. Com uma fotografia que retrata a atmosfera da época e uma trilha sonora imersiva, “Ainda Estou Aqui” se estabelece como um marco do cinema brasileiro não somente pelo seu resgate histórico como pela busca à reflexão, memória e justiça.

Reconhecida por dar vida à personagem Eunice Paiva, Fernanda Torres é uma das atrizes mais talentosas e versáteis do Brasil atualmente. Filha de Fernanda Montenegro, que foi a primeira brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1999, Fernanda construiu o seu próprio caminho de sucesso no teatro, cinema e televisão.

Além de atriz, ela é mãe e esposa, conciliando com uma carreira única e marcada por atuações memoráveis. Ao longo dos anos, protagonizou produções como as séries de comédia “Tapas e Beijos” (2011/2015) e “Os Normais” (2001/2003), o filme “Saneamento Básico” (2007), produzido no Rio Grande do Sul, com direção e roteiro de Jorge Furtado, e o longa metragem “Eu Sei que Vou te Amar” (1986), dirigido e escrito por Arnaldo Jabor, que marca o início do seu reconhecimento internacional. Com uma trajetória repleta de personagens marcantes, Fernanda se consolidou como referência no cinema nacional, devido às suas performances inesquecíveis. O seu legado segue contribuindo para a cultura brasileira e reafirmando a sua posição como uma das maiores atrizes do país.

 

Fernanda Torres teve seu primeiro reconhecimento internacional com ”Eu sei que vou te amar” (1986)

 

Crítica ao machismo em Hollywood

Outro grande destaque da premiação de 2025 foi o longa “A Substância” (2024), que abordou a desconstrução do corpo feminino dentro do subgênero Body Horror, e conquistou indicações em diversas categorias. A produção chamou atenção tanto pela abordagem social que crítica o machismo enraizado na indústria de Hollywood, quanto pela performance marcante de Demi Moore, que se consolidou como uma das favoritas ao prêmio de Melhor Atriz, ao lado de Fernanda Montenegro.

 

“A Substância”, com Demi Moore, representa desconstrução do corpo feminino com gêneros horror e ficção científica

 

Com direção de Coralie Fargeat, aborda de forma propositalmente desconfortável e grotesca, questões como o etarismo em Hollywood e o reforço de um ideal estético no ambiente profissional e midiático. O filme se insere em um dos subgêneros do terror, o horror corporal, ao enfatizar a automutilação como uma forma de se manter dentro dos padrões de beleza contemporâneos.

A trama aborda a atriz Elisabeth Sparkle (Demi Moore), que deixa os holofotes à medida que passa a envelhecer. A personagem é descartada pela indústria no momento em que completa 50 anos de idade, o que representa, para uma mulher na esfera hollywoodiana, a rota final de sua carreira. Após se envolver em um acidente de carro, a atriz é selecionada para participar de um experimento científico anônimo, que possui como objetivo replicar as células do candidato para gerar uma versão jovem e melhorada dele próprio. Na ânsia de retornar ao auge, Elisabeth decide ignorar a série de riscos e improbabilidades e injeta a substância misteriosa, gerando uma cópia ‘’perfeita’’ de si mesma.

 

A obra expõe a crueldade e a hipocrisia de um sistema que descarta as mulheres em decorrência da idade

 

“A Substância” é um filme que combina ficção científica com o Body Horror, trazendo uma crítica sobre a obsessão pela juventude, o “prazo de validade” de mulheres dentro da indústria de entretenimento e o quanto estamos dispostos a nos submeter para alcançar um padrão irreal de beleza. A obra expõe a crueldade e a hipocrisia de um sistema que descarta as mulheres à medida que elas envelhecem, utilizando o terror corporal e a automutilação como forma de tornar evidente a consequência desses ideais.

O filme consegue combinar aspectos futuristas e clean com o grotesco, chamando atenção para uma maquiagem extremamente vívida e realista. A produção utiliza da estética sangrenta e gore explícito para criar uma atmosfera oscilante entre o humor ácido e o terror visceral, tornando a experiência impactante e desagradável para os espectadores.

O título se destaca pela ousadia e o horror gráfico, sendo um filme que combina diversas críticas sociais com a violência explícita. A diretora Coralie Fargeat consegue se destacar por uma direção capaz de desconstruir tabus e provocar a audiência. A obra é uma reflexão sobre a idealização da juventude e uma experiência única para aqueles que buscam emergir nos subgêneros do terror.

 

A atriz Demi Moore passou por conflitos semelhantes a da sua personagem ao ser descartada na indústria de filmes

 

No papel de Elizabeth Sparkle, Demi Moore é um exemplo de como Hollywood trata as atrizes à medida que elas envelhecem, evidenciando o sistema machista e etarista enraizado dentro da indústria. Nos anos 80 e 90, Moore era uma das maiores estrelas do cinema, protagonizando filmes como Ghost (1990), Proposta Indecente (1993) e Striptease (1996). Porém, a sua carreira sofreu um forte declínio, enfrentando a rejeição pública e a perda de papéis importantes. 

Enquanto atores como Tom Cruise e Brad Pitt continuaram protagonistas após a chegada dos 50 anos, a atriz foi empurrada para papéis secundários e desapareceu do mainstream. O cinema ainda luta constantemente contra a rejeição de mulheres maduras e enfatiza a importância de trazer mais espaços para essas mulheres. Demi se tornou um símbolo da luta contra o etarismo e a misoginia na indústria em “A Substância”, mostrando como o cinema ainda precisa evoluir no tratamento de suas atrizes.

As duas atrizes são capazes de mobilizar para a importância de suas personagens, como também para o seu papel crucial enquanto artistas em ambos os filmes. São duas propostas diferentes, uma que remete a fatos, e outra que ressalta o poder de sugerir questões da vida concreta através da imaginação.

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“Frieren e a Jornada para o além” traz luto como pano de fundo

Série de animação com 28 episódios entusiasma em meio a outros animes de fantasia        

Por Luiz Inácio Amorim Martins         

 

 

Frieren, Himmel e Heiter em um dos momentos de comemoração lembrados     Imagens: Divulgação

 

A vitória já é um episódio distante. O mal foi derrotado, as medalhas foram distribuídas e o mundo seguiu em frente. Este é o ponto de partida incomum da série com 28 episódios “Sousou no Frieren” (“Frieren e a jornada para o além”), anime produzido pelo estúdio Madhouse. Desde sua estreia, esta animação redefiniu o que significa contar uma história de fantasia. Sob a roupagem clássica de elfos, magos e reinos medievais, esconde-se uma narrativa íntima e melancólica que elege o luto não como um tema, mas como a própria lente através da qual a história é contada.

A jornada épica que levou à derrota do Rei Demônio serve aqui como pano de fundo. Aquela década de aventuras representou o ápice das vidas de três heróis, o nobre Himmel (Nobuhiko Okamoto), o sábio Heiter (Hiroki Tōchi) e o resiliente Eisen (Yōji Ueda). Mas, para a elfa Frieren (Atsumi Tanezaki), não passou de um breve suspiro em sua existência milenar. A tragédia sutil da narrativa revela-se quando, décadas após o triunfo, Frieren encontra-se diante do túmulo de Himmel e percebe, tarde demais, que não soube valorizar os pequenos momentos que constituíram a totalidade da vida de seus companheiros.

Esta percepção tardia desencadeia uma jornada singular: Frieren decide refazer os caminhos percorridos pelo grupo, não como uma heroína em missão, mas como uma peregrina em busca de compreensão. Acompanhada por Fern (Kana Ichinose), a jovem discípula que Heiter lhe confiou, e posteriormente pelo guerreiro Stark (Chiaki Kobayashi), ela embarca numa viagem que é tanto física quanto emocional. Cada cidade revisitada, cada paisagem reencontrada, transforma-se em um portal para memórias que ganham novas camadas de significado.

 

Frieren e Fern observam uma estátua do herói já falecido Himmel

 

O verdadeiro brilho da narrativa manifesta-se na forma como constrói sua reflexão sobre o luto. Através de uma direção contemplativa que valoriza silêncios e gestos mínimos, a série demonstra que a dor da perda não reside apenas nas grandes despedidas, mas principalmente nos pequenos hábitos abandonados, nas piadas que ninguém mais compreende, nos espaços vazios que outrora foram preenchidos por presença. Frieren aprende, à sua maneira lenta e gradual, que o luto é o preço do afeto – e que vale a pena pagá-lo.

 

Imagem promocional anuncia a segunda temporada para 2026

 

No encontro entre a eternidade élfica e a brevidade humana, Sousou no Frieren tece uma meditação comovente sobre como valorizamos o tempo que temos com aqueles que amamos. A confirmação de uma segunda temporada para 2026 traz a promessa de acompanharmos Frieren em sua jornada de descobertas emocionais, aprofundando ainda mais essa obra que traz um ar fresco para o cenário de animes de fantasia.

Título: 葬送のフリーレン (Original)

Ano de produção: 2023

Direção: Saitou Keiichirou

Estreia: 29 de Setembro de 2023 (mundial)

Duração: 672 minutos

Disponibilidade nos serviços de streaming: Crunchyroll, HBO Max, Netflix e Prime Video.

Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos

Gênero: Anime Aventura Drama Fantasia

País de origem: Japão

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Otroporto seleciona artistas para pinturas murais em sua sede

Podem participar brasileiros e estrangeiros com propostas em diversas linguagens visuais

 

Galeria na rua Benjamin Constant fica aberta à visitação de segunda a sexta-feira Foto: Gabi Mazza/Satolep Press

 

Estão abertas até o dia 21 de novembro as inscrições para a seleção de artistas para integrarem os novos espaços da Galeria Otroporto Conexxion. A escolha faz parte do Edital 005/2025, lançado pela Otroporto Indústria Criativa, que irá contemplar projetos de intervenções em paredes e tetos da sede da Associação, em Pelotas. A seleção irá contemplar obras com o tema “Águas & Pessoas”. Estão aptos a participar do processo artistas brasileiros e estrangeiros, maiores de 18 anos ou menores representados legalmente. São aceitas propostas nas linguagens de desenho, pintura, artesanato, arte gráfica/digital, fotografia e escultura. As obras escolhidas passarão a integrar o acervo permanente da galeria, localizada na rua Benjamin Constant, 701A, no bairro Porto, na cidade de Pelotas, com catalogação e divulgação pública. O envio das propostas deve ser feito no site da galeria  ou diretamente pelo formulário disponível na internet.

A definição dos artistas e projetos será feita por uma comissão curadora formada por membros da Otroporto e profissionais da cena cultural de Pelotas. Serão avaliados critérios como aspectos técnicos e estéticos, originalidade e criatividade. Cada artista selecionado receberá um cachê de R$ 1.000,00 e certificado de participação.

 

O coordenador do espaço Bero Moraes propõe a sugestiva temática das águas    Foto: Gabi Mazza/Satolep Press

 

Espaço reúne diversidade de propostas

Aberta a visitas guiadas de segunda a sexta-feira, a Galeria Otroporto Conexxion  concentra obras de 74 artistas, com muitas origens. Além de criadores de dez estados brasileiros, há também participantes estrangeiros de países como Estados Unidos, Angola, Moçambique e Argentina. Mais que variedade geográfica, o ambiente conecta diferentes gerações, tendo atualmente expositores dos 12 aos 90 anos.

Conforme Bero Moraes, artista e coordenador do espaço, ao percorrer a galeria os visitantes têm a oportunidade de mergulhar em um mundo de possibilidades, conhecendo diferentes autores que usam de suas técnicas para expressar uma diversidade de olhares. “Mesmo com essa mescla de expressões, todas têm em comum a temática de pessoas e águas”, sintetiza. O acervo conta com arte urbana, fotografia, instalações e esculturas, em técnicas como pintura, batik, desenho, lambe, adesivo, aquarela, entre outras.

 

Galeria é aberta às várias técnicas e estilos             Foto: Gabi Mazza/Satolep Press

 

SERVIÇO

O que: Seleção de artistas para Galeria Otroporto Conexxion

Quando: Inscrições até o dia 21 de novembro

Tema: “Águas & Pessoas”

Como: Pelo site www.otroporto.com.br ou no formulário bit.ly/edital005galeria.

Quem pode se inscrever: Artistas brasileiros e estrangeiros, maiores de 18 anos ou menores representados legalmente.

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Samba dos Lanceiros conquista destaque nacional

Do extremo-sul gaúcho ao Rio de Janeiro, grupo de compositores de Pelotas faz história no Carnaval         

 Por Matheus Goularte Mesquita  e Nikolas Vinhas de Sousa   

 

Daiane Molet é um dos integrantes que cantam e criam as composições musicais         Fotos: Divulgação

 

Nascido da reunião de amigos apaixonados pelo Carnaval, o grupo Samba dos Lanceiros representa a cultura sambista pelotense. O grupo leva há seis anos o nome de Pelotas para as quadras do Brasil inteiro e, em 2025, foi finalista do concurso de samba-enredo da Portela, no Rio de Janeiro. Entretanto, a sua história e as suas conquistas vão muito além da finalíssima carioca.

Fundado em 2019, mas ainda sem um nome para chamar de seu, o grupo começou a compor e sonhar com os primeiros projetos. Posteriormente, o Samba dos Lanceiros surge com um nome que representa mais que uma alcunha, mas também resistência política e cultural. Inspirado nos Lanceiros Negros, grupo de escravizados que lutaram por mais de dez anos como soldados na Revolução Farroupilha, os membros enxergam o samba como um instrumento de perseverança, uma bandeira que, a cada Carnaval, se levanta mais forte. Em cada verso há luta, motivação e, principalmente, coragem.

Os componentes do grupo são os compositores Daiane Molet, Anderson Xilico, Chico Professor, Fagner Presidente, Fred Feijó, Maninho Veiga e Marcéle Sàlles. O presidente e cofundador Fagner Feijó detalha o surgimento, ou melhor, a renovação de uma parceria antiga: “A gente já era amigo antes mesmo de pensar em criar o grupo e começar a compor juntos. Eu e o Chico fazíamos parte da diretoria da XavaBanda, então já existia esse vínculo carnavalesco… Acho que começamos a fazer samba juntos no festival da General Telles. A gente juntou a galera e resolveu participar. Ainda não existia o Samba dos Lanceiros, apenas nos unimos e fomos escrever o samba”.

 

Parceria defendendo o título em Porto Alegre na final de samba-enredo da Imperadores do Samba

 

Durante a pandemia, o grupo aproveitou para se lançar no cenário nacional. As escolas de samba do Rio de Janeiro fizeram festivais fechados, que facilitavam os custos. O, até então, grupo dos Lanceiros Gaúchos ingressou no Festival da Mangueira e avançou até as quartas de final, passando por três fases eliminatórias. “A gente já começou deixando para trás alguns compositores famosos, e pra nós isso foi o máximo. Imagina: nós, de Pelotas, chegar no festival e não ser eliminado de primeira! Já foi ótimo. Conseguimos avançar algumas etapas, então foi maravilhoso”, complementa Fagner.

Em 2025, o grupo alçou novos voos. Com o nome já consolidado no cenário do samba regional, os Lanceiros chegaram à final do concurso de samba-enredo da Portela. O feito colocou Pelotas no mapa do carnaval carioca e reafirmou a força da produção cultural da cidade.

 

Final de samba da Portela, resultado mais expressivo da história do grupo

 

Mais do que uma competição, a presença na final foi a celebração de uma trajetória marcada pela coletividade e pelo amor à arte. “Ser campeão ou não é relativo. Como diz o ditado: ‘Teu filho é sempre o mais bonito’. Por mais que outro samba vença, quando ‘tu compões’, vira pai daquela obra, então, para nós, não existe samba mais bonito que o nosso”, lembra o presidente. Entre batuques e versos, o Samba dos Lanceiros segue escrevendo capítulos na história do Carnaval gaúcho, que existe e resiste ao tempo.

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“Vitória” traz história real de quem enfrentou crime

A atriz Fernanda Montenegro faz o papel de mulher que luta para denunciar violência do tráfico      

Por Liliti Goulart               

 

Fernanda Montenegro e Alan Rocha interpretam personagens protagonistas     Fotos: Divulgação/ Sony Pictures Brasil

 

O filme “Vitória”, estrelado pela atriz Fernanda Montenegro, transcende a simples adaptação de uma história real para se tornar um poderoso manifesto sobre a luta pela justiça e o papel do cidadão e do jornalismo na denúncia da impunidade. Lançado em 2025, o longa-metragem foi dirigido inicialmente por Breno Silveira, que foi vítima de um infarto durante o início das filmagens em maio de 2022. Andrucha Waddington deu continuidade ao trabalho de direção, mas o filme foi lançado também como o último trabalho póstumo de Silveira.  É baseado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, do jornalista Fábio Gusmão. A produção não apenas traz comoção, mas também provoca uma profunda reflexão sobre as questões éticas e a coragem cívica.

 

Cena dos bastidores das gravações com direção de Andrucha Waddington

 

A narrativa central do filme gira em torno de Nina (personagem interpretada pela Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos, moradora de Copacabana, no Rio de Janeiro, que se vê encurralada pela crescente violência e pelo tráfico de drogas em sua vizinhança. Diante do descaso das autoridades, Nina decide tomar uma atitude que se tornaria um símbolo de resistência: compra uma câmera para registrar as imagens do tráfico de drogas a partir de sua janela, que ficava próxima à comunidade da Ladeira dos Tabajaras.

 

A personagem Nina transforma-se em um símbolo do inconformismo

 

O filme ganha ainda mais profundidade ao incluir um jornalista como um dos protagonistas, Flávio Godoy, personagem interpretado por Alan Rocha e inspirado em Fábio Gusmão, repórter que descobre as gravações feitas por Dona Nina e transforma aquele material em uma poderosa denúncia pública. Ao se deparar com as imagens que revelavam o cotidiano do tráfico e a cumplicidade policial, ele percebe a dimensão jornalística e humana da história. Movido por esse senso de responsabilidade, Godoy busca conhecer a mulher por trás da câmera e passa a acompanhá-la de perto, visitando a comunidade da Ladeira dos Tabajaras para compreender o contexto em que aquelas cenas foram registradas. Essa aproximação evidencia o papel do jornalismo como ponte entre o cidadão comum e a sociedade. A relação entre ambos se constrói sobre a confiança e o compromisso ético com a verdade, revelando que a luta por justiça social se fortalece quando a coragem individual encontra a força da imprensa.

 

A Inspiração: Joana da Paz

 

Joana da Paz e Fábio Gusmão foram protagonistas das reportagens que marcaram jornalismo brasileiro voltado à segurança   Foto; Arquivo Pessoal

 

A história que deu origem ao filme foi revelada em 2005 por uma reportagem do jornalista Fábio Gusmão. O livro, originalmente intitulado “Dona Vitória da Paz” e reeditado como “Dona Vitória Joana da Paz”, detalha a jornada de Joana Zeferino da Paz, chamada carinhosamente de Nina e que viveu sob o pseudônimo de Dona Vitória após entrar para o programa de proteção a testemunhas. A presença de Fábio Gusmão como personagem na trama, interpretado pelo ator Alan Rocha, reforça a dimensão jornalística da obra.

Mais do que um retrato de bravura individual, “Vitória” é uma reflexão sobre o Brasil contemporâneo. A história denuncia o abandono das periferias, a corrupção institucional e o medo que cerca quem tem coragem de romper o silêncio. Em tempos em que a violência e a desinformação parecem crescer lado a lado, o filme mostra que a imagem e o jornalismo ainda são instrumentos de resistência. Por fim, o resultado é um filme inspirador e socialmente necessário.

Ficha técnica

Título: “Vitória”

Direção: Andrucha Waddington (em projeto iniciado por Breno Silveira)

Roteiro: Paula Fiúza, baseado no livro Dona Vitória Joana da Paz de Fábio Gusmão

Elenco: Fernanda Montenegro, Alan Rocha, Silvio Guindane, Linn da Quebrada

Produção: Conspiração Filmes / Globoplay

Gênero: Drama

Ano: 2025

Duração: 1h52min

País: Brasil

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Espetáculo “O Lado Azul da Vida” estreia dia 16 de novembro

A CIA Teatral Sobrinhos de Shakespeare apresenta sua nova peça no Teatro Municipal do Rio Grande com a adaptação da história psicografada por Osmar Barbosa        

 Por Laura Crizel e Thiago David     

 

 

Peça  tem direção de Vinicius Diniz e faz parte de repertório com várias montagens já realizadas    Foto:  Laura Crizel

 

No domingo, dia 16 de novembro, às 20h, a Companhia Teatral Sobrinhos de Shakespeare estreia no Teatro Municipal do Rio Grande (avenida Major Carlos Pinto, 312 – Cidade Nova) a peça “O Lado Azul da Vida”, baseada no livro de mesmo nome, psicografado pelo escritor carioca Osmar Barbosa. A obra retrata a vida de Fernando e Raquel, dois irmãos e seus dilemas familiares relacionados a não aceitação de suas sexualidades, em meio a uma rotina de violências cometidas pelo pai dos jovens.

A história rompe as barreiras entre o natural e o sobrenatural, com um drama espírita que transcende encarnações passadas dos protagonistas, prometendo emocionar a plateia e conscientizar sobre a LGBTfobia. A montagem conta a história de Fernando, um homem que enfrenta o preconceito desde a infância por ser homossexual. Sua irmã Raquel luta para ajudá-lo e a lidar com as dificuldades familiares, além do preconceito na sociedade. No plano espiritual, os dois recebem ajuda de Nina, Lucas e do irmão Daniel. A peça trata da superação de obstáculos e deve envolver o público com cenas tocantes.

A CIA Sobrinhos de Shakespeare comemora 25 anos de peças espíritas, com 11 obras explorando o tema. Entre as montagens anteriores estão  “Laços Eternos”, “Allan Kardec: Vida e Missão”, “Amai os Inimigos” e “Cinco Dias no Umbral”. Além disso, celebra uma recente parceria com o escritor Osmar Barbosa, estreando a segunda adaptação dos livros do autor, retratando temas como sexualidade e identidade, além das temáticas relacionadas à reencarnação.

“O Lado Azul da Vida” conta em seu elenco com: Marcia Elaine, Conrado Wesley, Dilan Felipe, Daniel Costa, Julia Peixe, Gabriela Fantinatti, Marcely Grafé, Brenda, Mariana Cardoso e Vinicius Diniz. O cenário é responsabilidade de José Rover e a direção geral por Vinicius Diniz.

Tendo em conta o clima de expectativas que cercam a estreia, o diretor Vinicius Diniz antecipa que “é um espetáculo muito envolvente”. “Todos vão se emocionar, o pessoal vai adorar mesmo”, promete.

Osmar Barbosa, autor da história original, estará na cidade para prestigiar a estreia, além de conceder uma sessão de autógrafos e fotos aos admiradores de seus livros, às 18h30min, uma hora e meia antes do início da apresentação. “Estou feliz, emocionado e contente em poder voltar mais uma vez para essa linda cidade, […] quero sentar na primeira fila e assistir essa magnífica peça teatral”, comenta.

 

Personagens vivem dilemas relacionados à sexualidade e conflitos familiares            Foto: Thiago David

 

O ator Dilan Felipe interpreta o protagonista Fernando e lembra sobre a responsabilidade de dar vida a personagens ligados à religiosidade. “É sempre uma dedicação imensa ao lidar com um tema espírita. É muito mais do que uma peça de teatro, é uma ferramenta de transformação. […] Então, a gente precisa não só se dedicar para entregar uma mensagem fiel, mas também ter uma preparação de si mesmo”, reitera.

Os ingressos estão disponíveis na Livraria Vanguarda, na rua General Neto, 392, em Rio Grande, ou com os atores da Companhia. O valor é de R$ 30,00. Para mais informações sobre reservas de ingressos, é possível que se entre em contato com o diretor Vinicius Diniz pelo número: (53) 991833907.

 

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