Lições da história do doce e ciências naturais no Centro de Pelotas

Os museus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) cumprem sua missão de democratizar conhecimentos                 

Por Carolina Farias Tapia e Sara Lopes da Silva          

No coração da cidade de Pelotas, localizados no entorno da praça Coronel Pedro Osório, os museus de “Ciências Naturais Carlos Ritter” e “Museu do Doce”, mantidos pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), carregam em si parte da bagagem histórica da metrópole do doce.

 

Museu de História Natural Carlos Ritter fica na Praça Pedro Osório
Fotos: Sara Lopes da Silva

 

O Museu de Ciências Naturais, com 54 anos, e o Museu do Doce, um jovem de 11 anos, visam compartilhar seus acervos e vivências com a comunidade pelotense e visitantes das demais cidades da região, possuindo atrações lúdicas e monitores em todas as sedes para tornar as visitas uma verdadeira imersão histórica.

O Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter carrega o nome do responsável pelas primeiras doações ao acervo: animais taxidermizados artisticamente e mosaicos entomológicos, criados pelo próprio fundador entre o final do século XIX e começo do século XX. Embora hoje esteja localizado nas proximidades da Praça Coronel Pedro Osório, no Centro, o Museu já esteve em diferentes bairros de Pelotas. No entanto, para Carolina Peraça Silveira, assistente administrativa, e a museóloga Lisiane Gastal Pereira, a mudança de localização fez com que a equipe percebesse um crescimento exponencial no número de visitantes fora de escolas, que eram o principal público nas antigas “residências” das exposições.

 

Mosaico produzido por Carlos Ritter, responsável pelas primeiras doações e que dá nome à instituição

 

Aberto para visitas públicas desde 1970, o Museu Carlos Ritter possuiu, em 2023, uma média espontânea de mais de quinze mil visitas, dentre as quais estiveram os moradores de Pelotas em maioria. Mas as escolas ainda conservam a tradição, inclusive de outras cidades, que trazem seus alunos para visitar o acervo todos os anos. Alguns eventos corroboram para um aumento no público, sendo um dos mais importantes o Dia do Patrimônio, sendo realizado há dez anos, com o objetivo de estimular a visitação aos prédios históricos de Pelotas e o conhecimento da cultura local.

Por se tratar de um órgão suplementar do Instituto de Biologia da UFPel desde 1991, o Museu é utilizado por alunos de cursos como Ciências Biológicas, Artes Visuais, Museologia e Gestão Ambiental através de aulas, solicitadas pelos professores à administração do local. Por possuírem uma sala adaptada para esse fim, alunos de Teatro e o próprio Coral da Universidade também fazem uso do ambiente e da área externa do prédio histórico. Além das aulas, há uma série de alunos estagiando no Museu Carlos Ritter, como estudantes de alguns dos cursos supracitados e também de turmas de Administração, História, Zoologia, Conservação e Restauração, Arqueologia e Antropologia.

 

Uma das aves expostas nas dependências do museu que se dedica aos estudos sobre a natureza

 

A visitação, quando em grupos inferiores a dez pessoas, não necessita de agendamento. No entanto, para grupos maiores, a equipe do Museu pede uma marcação de visita com alguns dias de antecedência. O espaço é limitado e corre o risco de não comportar todos os visitantes ao mesmo tempo. Também há necessidade de um mediador estar presente, ajudando as turmas a entenderem o Museu e seu acervo. O funcionamento do Museu (Praça Coronel Pedro Osório, 1) é de segunda-feira a sábado, das 13h às 18h30. A entrada é gratuita e, mesmo com apenas um visitante, a solicitação de um guia é possível.

O Museu também oferece cursos para mediadores e diversas oficinas, abertas tanto ao público da Universidade quanto fora dela.

 

Museu do Doce funciona em prédio histórico construído em 1878

      

O Museu do Doce é considerado uma conquista da comunidade doceira de Pelotas, que deu início às exposições ainda na Fenadoce, nos anos de 1998 e 1999, através de uma réplica chamada “Casa do Doce”, visando mostrar aos visitantes o processo de preparo das sobremesas tradicionais da cultura pelotense. No ano de 1977, a edificação construída em 1878 foi tombada em nível federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, em 2006, foi comprada pela UFPel. O restauro do local teve início em 2010, e no ano de 2013, quando concluído, tornou-se o lar do Museu, aberto para visitação do público no mesmo ano de sua inauguração.

 

A história dos doces pelotenses é exposta ao longo do Museu. Ao fundo, o cartaz da 1ª Fenadoce

 

Embora o tempo de sua abertura seja pequeno, quando comparado aos demais museus da UFPel no Centro Histórico de Pelotas (Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter e Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo), o público consumidor do Museu do Doce alcançou mais de dezesseis mil e setecentas pessoas no ano de 2023, em sua maioria a comunidade externa à Universidade.

O Museu do Doce é considerado um “Museu-Laboratório” da UFPel, isto é, diversos cursos estão diretamente ligados ao local, bem como inúmeros trabalhos acadêmicos sendo realizados no ambiente. Para a professora da UFPel e diretora do Museu do Doce, Noris Leal, o local configura-se como uma das instituições museológicas mais importantes da cidade, com o maior número de visitações anuais e diversas atividades que atraem a atenção do público para a história da cidade e da cultura doceira.

O acervo do local é formado por peças diretamente relacionadas à história da tradição doceira tanto artesanal quanto das indústrias, sejam documentos, objetos ou demais formas que possibilitem a exposição. Por se tratar de um laboratório da Universidade, em todos os setores do Museu há professores e alunos trabalhando em projetos de conservação e restauro.

O local é configurado como órgão suplementar do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, do qual os principais cursos oferecerem estágio no ambiente, a exemplo dos cursos de Museologia e de Conservação e Restauro. Também os alunos do curso de História auxiliam nas atividades de pesquisa.

Os itens, em grande maioria advindos de doações, passam por um processo de registro, catalogação e pesquisa a respeito, antes de serem expostos. Para a diretora da instituição, o acervo ainda é pequeno, quando comparado aos demais museus da Universidade. No entanto, sua equipe tem muita responsabilidade com a coleta de objetos, para garantir que o objetivo do Museu não seja alterado e preste informações fidedignas ao público visitante.

 

Além de expor latas de compotas antigas de diversas fábricas, Museu também traz murais com ampliação de rótulos

 

A visitação ao Museu (Praça Coronel Pedro Osório, Casarão 8)  pode ser feita de forma espontânea, sem necessidade de agendamento. No entanto, para os visitantes que desejam um mediador, o agendamento é necessário, pois os guias possuem uma carga horária específica no local. O horário de funcionamento está reduzido, ocorrendo nos dias de terça-feira a sábado, das 13h às 18h, não abrindo nos domingos e feriados.

 

Nas várias salas do Museu, inúmeras réplicas dos tradicionais doces pelotenses podem ser vistos

Embora possuam acervos diferentes, os museus da UFPel no Centro Histórico de Pelotas unem-se no que diz respeito aos seus objetivos: ser uma fonte de consulta para professores e alunos, mas, ultrapassando as barreiras acadêmicas. O valor cultural desses locais é inigualável. Grande parte da história da cidade de Pelotas pode ser vista ao longo dos corredores e salas dos Museus do Doce e de Ciências Naturais Carlos Ritter. Além disso, o fato de estarem localizados na principal região histórica pelotense traz visibilidade e curiosidade ao público, que aprende e entende cada vez mais a respeito de sua própria história.

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