Borat está de volta

Por Milena Schivittez

Personagem jornalista do Cazaquistão mostra América em sua face mais grotesca

Os Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, em meio a uma pandemia e com eleições se aproximando. Não haveria momento mais propício para a volta do segundo melhor jornalista do Cazaquistão à América. O filme “Borat: Fita de Cinema Seguinte”, lançado no final de outubro pela plataforma de streaming Prime Video, nos apresenta o regresso do personagem criado e interpretado por Sacha Baron Cohen, 14 anos depois do primeiro filme. Desta vez, Borat tem a missão de estreitar os laços entre os EUA e seu país, que foi ridicularizado após os eventos de sua última grande aparição.

O longa segue o mesmo formato do anterior, um documentário falso (mockumentary), no qual grande parcela dos personagens são pessoas reais que não fazem a mínima ideia de que estão diante de Sacha e pensam estar sendo filmados para um documentário ou apenas para uma entrevista. 

Sacha Baron Cohen retorna com seu personagem marcante (Foto: Divulgação/Amazon Prime Video)

Nesta sequência, o jornalista cazaque, ao lado de sua filha Tutar (Maria Bakalova), vai atrás do vice presidente americano, Michael Pence, vestido de “McDonald Trump”, interrompendo seu discurso na CPAC (Conservative Political Action Conference), participa de um evento de extrema direita supremacista contra as políticas de combate a Covid19 e a favor do armamento, fica de quarentena com uma dupla de republicanos que acreditam e espalham teorias da conspiração contra democratas e, por último, realiza uma “entrevista” com Rudy Giuliani, advogado de Trump, que acaba por ser a cena mais polêmica (e genial por parte de Baron Cohen) do filme.

Borat é a representação do nacionalismo extremo, sempre trazendo diversos comentários antissemitas, racistas e misóginos, o que é exposto como característico de seu país. É um personagem que se coloca em diversas situações absurdas, que geram desconforto e vergonha em quem está assistindo, mas que se encaixam no pensamento do atual governo americano e de seus apoiadores, que são mostrados ao longo do filme. 

Contudo, há sopro de humanidade em “Borat 2”, vindo de uma senhora negra chamada Jeanise Jones, que é contratada pelo cazaque para ser babá da sua filha Tutar. Jones se preocupa com a forma como a menina é tratada pelo pai e tenta impulsionar a mesma a seguir o próprio caminho. A popularidade foi tanta em torno da forma carinhosa e genuína que Jeanise trata Tutar, que uma vaquinha virtual foi criada para ajudá-la, pois Jones perdeu o emprego devido à pandemia. 

Há mistura de ficção e realidade no encontro da filha Tutar (Maria
Bakalova) e Jeanise Jones Foto Reprodução/Amazon Prime Video

Por conta da repercussão do filme, algumas personalidades mostradas no longa foram a público afirmar que se sentiram lesadas por não terem sido informadas sobre a verdadeira intenção das filmagens, o que mais uma vez expressa a genialidade de Sacha Baron Cohen em conseguir expor o pensamento preconceituoso da população conservadora ao deixá-los pensar que estão diante de um companheiro.

Extremamente atual, afiado e absurdo na medida certa, “Borat: Fita de Cinema Seguinte” se consagra não somente como uma sequência digna, mas como um dos filmes mais importantes lançados no ano de 2020.

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS: 

Comments

comments