Mapas de espaços vivenciados
Reportagem de André Pereira –
Artista cria materializando a sua memória afetiva da cidade –

Mostra “Pequeno Mapeamento de Espaços Experienciados” no Centro de Artes
O que é um mapa? De acordo com o dicionário: é a representação gráfica, em escala reduzida, da superfície total ou parcial da Terra, de uma região. O Brasil, por exemplo, é maior do que se vê no mapa mundi, assim como a África. Motivados por razões políticas ou não, assim que eles são feitos. Como diria uma velha professora de geografia: “Quanto mais próximo dos polos, mais distorcido”.
E quando alguém começa a retratar locais somente da própria memória e sem a responsabilidade de ser fiel na representação?! Kelly Wendt, professora do curso de Artes Visuais da UFPel, teve essa ideia e assim nasceu a exposição “Pequeno Mapeamento de Espaços Experienciados” que traz a percepção da autora sobre lugares em que ela esteve e tem uma certa afinidade emocional. A exposição ocorreu em outubro na galeria “A Sala”, do Centro de Artes Visuais da UFPel.
“Esse é um mapeamento meu, da Kelly, mas cada um de nós tem seus espaços cativos. Se você parar para pensar, você vai conseguir perceber mil coisas nos lugares por onde passa e que não vão ter necessariamente as mesmas características do meu mapa.”

Desenhos fazem interpretações sobre a cidade de Pelotas
Resultado de uma tese de doutorado em poéticas visuais, na UFRGS, a artista teve como inspiração os seus próprios laços emocionais com Pelotas. A exibição é composta por diversas formas de representação, como: desenho, impressão digital, monóculos, fotografia e vídeo.
Sob um ponto de vista aéreo, os desenhos são o que chamam mais atenção na mostra. Eles trazerem lugares reais, alguns conhecidos, como a Praça da Alfândega, no bairro Porto, e o Praia Sete, no Laranjal. Já outros, que à primeira vista parecem desconhecidos, acabam por se revelar com um olhar mais atento. “É uma forma mais lúdica, mais prazerosa de ver os espaços nos quais a gente convive. Todos eles são espaços de Pelotas, são espaços que têm uma relação próxima com a natureza.”
Um assunto cada vez mais debatido é a necessidade de se ocupar os espaços públicos. Alguns locais retratados, inclusive, eram praças de convívio para a população, mas ao decorrer do tempo foram esquecidas ou foram cercadas, assim acabaram por se tornar algo distante da realidade das comunidades que ficam ao seu redor. ” São espaços que deveriam ter mais acesso da população, mas muitas vezes por causa de algum tipo de preconceito, por causa da região onde estão, não são utilizados”.
Graças a uma rotina cada vez mais cheias de compromissos, acabamos por passar pelas ruas da cidade somente para chegar ao destino, sem apreciar a vista. Nessa perspectiva, o nosso próprio mapeamento se torna vital para compreender o lugar onde estamos inseridos. Pelotas é conhecida no Brasil inteiro por seu centro cultural, mas quantas vezes essa riqueza é trocada por uma tela de celular? Tantas nuances deixadas de lado para satisfazer a compulsão tecnológica. Somos privilegiados por vivermos em uma cidade onde o sol não é tapado por arranha céus e, o pior, não percebemos isso.
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