O Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) vem se manifestar, de forma pública, sobre as situações que têm ocorrido nos espaços da Universidade, em especial no Instituto de Ciências Humanas e no Centro de Artes.Para além das pixações/manifestações nos banheiros da UFPel e nos muros da cidade, nós percebemos a presença de conflitos, violência simbólica e/ou de intolerância que estão relacionados, principalmente, a diferenças e/ou diversidade de gênero; o que contraria os direitos nacionais e internacionais à Educação.

Quem pesquisa/estuda/vive as diferentes vertentes feministas com ética, profundidade e responsabilidade, sabe que é impossível, em pleno século XXI, compreender/viver as lutas feministas sem considerar, de alguma forma, as suas intersecções com raça, etnia, classe social, orientação sexual, região, geração e identidade de gênero.

Em outras palavras, nós já sabemos, sem sombra de dúvidas, que é impossível, obsoleto e antiético compreender/viver qualquer vertente feminista sem relacionar os efeitos da misoginia, do machismo e do patriarcado com os efeitos do racismo, da desigualdade de classe, da lesbofobia, da xenofobia, do etarismo, do capacitismo e da transfobia, por exemplo, visto que as mulheres também experimentam a produção da diferença nas suas vidas.

Sendo assim, nós sabemos que a misoginia e a transfobia podem ser conceitos e/ou produzirvivências que são diferentes, mas que ambas produzem efeitos pessoais, sociais e culturais que são relacionáveis, já que mulheres trans e travestis também sofrem os efeitos da misoginia, assim como mulheres cis também sofrem os efeitos da cisheteronormatividade, como quando a genitalização e/ou determinismos sexuais sobre os seus corpos fundamentam o paradigma do machismo e/ou patriarcado.

Atualmente, nós percebemos que há pessoas e grupos, no Brasil e no mundo, que têm se apropriado dos pensamentos e discursos feministas e, com fins pessoais, sob a falta de conhecimento aprofundado e/ou pela desonestidade intelectual, distorcem e usam as lutas feministas com violência e exclusão, fomentando discursos de ódio e enfraquecendo a empatia e a solidariedade entre grupos que são socialmente oprimidos. Nós sabemos que essas práticas podem ter a intenção de combater as violências misóginas, machistas e/ou do patriarcado, mas quando elas são feitas sem a devida crítica, elas podem servir à manutenção dos privilégios da classe média/rica, da branquitude, da cisheteronormatividade e/ou dos movimentos (neo)conservadores, por exemplo.

Por fim, independente de ideologia/posição teórica ou política, o NUGEN repudia qualquer tipo de discriminação, discursos de ódio e/ou violência, não compactuando com qualquer ideologia, ato e/ou discurso misógino, transfóbico e/ou lesbofóbico – situações que de alguma forma e infelizmente têm sido presentes na vida de TODAS as mulheres que integram a comunidade da UFPel.

Atualmente, o NUGEN tem acolhido e atendido as mulheres cis, mulheres travestis e mulheres transexuais, bem como homens transexuais, pessoas não binárias e intersexo que buscam o Núcleo em função dessas práticas, orientando o acionamento do Ministério Público no caso de ações preconceituosas e/ou discriminatórias que ultrapassam o âmbito da UFPel; a realização de boletim de ocorrência na delegacia civil/delegacia da mulher no caso de intimidação, ameaça e/ou violência; bem como orientado/encaminhado denúncias à ouvidoria da UFPel.

É importante dizer, ainda, que o NUGEN tem dado suporte à responsabilização institucional de pessoas que estejam envolvidas com discursos de ódio, discriminação/preconceito, assédio, misoginia e/ou crimes de homofobia e transfobia na UFPel, independente se praticados por docentes, técnicas/técnicos e discentes, bem como independente de ideologia, posição política, “opinião pessoal” e/ou alegação teórica, já que nada disso ameniza ou justifica atos de discriminação e/ou crime.

Assim, nós afirmamos o nosso compromisso institucional com a diversidade e a inclusão nas instituições de ensino, entendendo que quando uma pessoa presencia discursos de ódio, atos misóginos e/ou transfóbicos e se omite nessas situações, ela colabora com o sofrimento e a violência, bem como contribui com a violação dos Direitos Humanos.

Nesse sentido, nós pedimos que, caso presenciem atos misóginos, homofóbicos e/ou transfóbicos na Universidade, que se realize denúncia (anônima ou não) na ouvidoria da UFPel; o que pode ser feito presencialmente, no Gabinete da Reitoria, ou pela internet usando o link Ouvidoria UFPel https://wp.ufpel.edu.br/ouvidoria/ (na opção ‘Denúncia’) ou enviando um e-mail para o NUGEN (nugen@ufpel.edu.br).