Há 2.500 anos…

É histórico o processo onde a homossexualidade era um assunto tratado com naturalidade e visto até como um ato sagrado em algumas culturas antigas. Na Grécia Antiga, a homossexualidade era tão valorizada a ponto de ter sido criado o Batalhão Sagrado de Tebas: uma tropa de elite, composta inteiramente de casais homossexuais. Sua importância era determinante e significativa na sociedade grega, tendo um papel fundamental no processo de inserção social dos cidadãos, como também, na forma de rito de passagem da sexualidade do homem.

OS EFEBOS

“A efebia — relação homossexual grega básica — se dava entre um homem mais velho e um jovem. Enquanto o jovem tinha qualidades masculinas: força, velocidade, habilidade, resistência e beleza, o mais velho, por sua vez, possuía experiência, sabedoria e comando. O efebo — púbere —, entregue a um tutor, era treinado, educado e protegido, transformando-se em cidadão grego. Ambos desenvolviam paixão mútua, mas sabiam dominar essa atração. Esse controle era a base do sistema de efebia. Havia relação sexual, mas quando o efebo crescia e se tornava um cidadão grego, ele deixava de ser o amante-pupilo e tornava-se amigo do tutor; portanto, casava-se, tinha filhos e buscava seus próprios efebos.”

Na Grécia, além do caráter pedagógico, onde jovens rapazes de 12 a 18 anos eram preparados para a vida politica e social por homens mais velhos — os patronos —, representava também um estágio importante de sua sexualidade. No processo de iniciação da vida adulta, os jovens eram ensinados sobre a arte da guerra, oratória e política; dessa maneira, ao finalizarem todo esse processo, eram considerados aptos para a vivência na sociedade grega. A relevância era tanta para a polis, que as práticas homossexuais chegaram a serem atribuídas a características relacionadas a intelectualidade.

Enquanto isso, na Roma, a homossexualidade era envolvida com valores relacionados à moral e tinha uma variedade de padrões nas relações. Diferente dos gregos, eles não tinham interesse em conquistar os jovens, preferiam seduzi-los e se envolver sem preocupações intelectuais. A história da homossexualidade começa a ganhar outras feições quando ocorre a assimilação do valor estritamente procriador do sexo.

Se antes a homossexualidade era normalidade e até cultuada em diversas culturas e em diversas épocas, ela passa a se tornar uma transgressão. O cristianismo começa a se popularizar e junto dele é trazida a ideia de que o sexo entre iguais seria pecado. Dessa forma, desde o final do Império Romano, várias ações de reis e clérigos tentaram suprimir a homossexualidade. Mas ainda assim — ao longo da Idade Moderna — tivemos vários relatos de representantes da nobreza que tiveram casos com parceiros e parceiras do mesmo sexo.

Na Europa, a história dita oficial distorceu ou desconsiderou a existência dessas práticas, sendo pouquíssimos e raros os registros de homossexualidade, apesar de existirem casos esparsos relatados. Entre os povos africanos, como entre os Iango, de Uganda, é aceita a escolha masculina de viver como mulher, onde implica se vestir e agir socialmente como “fêmea”, inclusive simulando menstruação. Já os Nyakyusa permitem a homossexualidade masculina na adolescência, na qual tal prática é considerada parte da formação do homem. Entre os ilhéus de Oceania, a homossexualidade masculina é condenada, enquanto a feminina é aceita. Em Samoa, a relação sexual entre jovens do mesmo sexo não era reprimida, pois eram vistas somente como jogos sem importância.

Nas Américas, os indígenas aceitam a homossexualidade quando um dos parceiros está travestido. Os indígenas brasileiros, da tribo tupinambás, reconhecem o casamento homossexual entre as mulheres. No interior desse grupo étnico (que ocupavam a maior parte da costa brasileira), os “índios efeminados” eram chamados de tibira, e as mulheres com preferencias sexuais por mulheres eram as çacoaimbeguira, tendo tais práticas sexuais descritas no Tratado Descritivo do Brasil em 1587. No interior de diversas sociedades indígenas existiam sociedades secretas destinadas a realização dos rituais de iniciação que incluíam a relação sexual entre indivíduos do mesmo sexo; sendo essas, por sua vez, mais comuns entre os do sexo masculino, não sendo, entretanto, uma exclusividade.

É notório que os dados, fatos e contextos históricos da história da sexualidade, são extensos de detalhes e costumes, estando presentes em todas as culturas e em todas as épocas. Hoje vemos que o sexo ensaia para a sua libertação há bastante tempo, é cada vez mais crescente as novas formas de ser e expressar a sexualidade nas relações contemporâneas. Novas formas de amar surgem e novas formas de se relacionar são criadas.

E então… o que esperar do futuro da sexualidade? Maior liberdade? Menos repressão? Novas formas? Novas expressões?

✍️ Texto escrito pela bolsista Jayne Gabriela

🗃️ Referências:

GOMES, Aguinaldo Rodrigues; NOVAIS, Sandra Nara da Silva. Práticas Sexuais e homossexualidade entre os indígenas brasileiros. Caderno Espaço Feminino – Uberlândia-MG – v. 26, n. 2 – Jul/Dez. 2013.

LINS, Regina Navarro. O livro do amor: da Pré-história à Renascença. Rio de Janeiro: Best Seller, 2012. vol. 1; pag. 52.

LINS, Regina Navarro; BRAGA, Fábio. O livro de ouro do sexo. Rio de Janeiro: Ediouro. 2005.

SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil. (1587). Belo Horizonte: Itatiaia, 2001, p. 308.