Você já tentou pegar um violino conforme as orientações indicadas para o seu uso? Caso tenha feito essa “brincadeira” talvez entenda o quanto é desafiador tocar alguns instrumentos considerando aspectos relacionados à Ergonomia. O mesmo se repete em vários instrumentos e estilos musicais sendo que, na música erudita os desafios em termos da interação músico versus instrumento parecem ser os mais instigadores. Contudo, na música pop encontram-se casos bastante curiosos como no caso de músicos que são admirados por tocarem enquanto suas mãos sangram, ou histórias similares. Ou seja, esse é um tema de estudo realmente muito relevante para quem atua na área de Ergonomia.
Sobre este tema, no mês de abril deste ano foi publicado na
Revista Radis umas das melhores e mais didáticas matérias que já vi no sentido de relacionar o que o aluno de Ergonimia vê em aula com o que aconcetece na prática em termos do trabalhador que atua no ramo musical. Os termos, as doenças citadas, os relatos, tudo aponta para uma relação muito próxima entre a disciplina de Ergonomia e os desafios enfrentados pelos músicos.
Curiosamente, o paradigma que mais emerge no texto não é diferente daquele existente em todas as outras profissões em termos de Ergonomia. Adaptar o homem ao trabalho é o grande erro. Desempenhará melhor sua função aquele que tiver mais conforto e em condições mais adequadas de trabalho.
No trecho disponibilizado abaixo apresento um pequeno fragmento do texto presente no website da
Revista Radis. O texto na íntegra é um pouco mais longo, mas vale muito à pena. LEIA!!!
Prof FRANZ
Quando a música dói
Contra fel, moléstia, crime, o compositor Chico Buarque de Hollanda certa vez receitou usar Dorival Caymmi, ir de Jackson do Pandeiro, beber Nelson Cavaquinho. Música parece ser, de fato, um santo remédio para a alma. Mas é o corpo dos instrumentistas que primeiro sente as consequências de uma atividade tão prazerosa quanto exaustiva. Presos ao jargão “no pain, no gain” — ou “sem dor, sem ganho” — que impera no meio musical, os músicos sofrem em silêncio e poucos são aqueles que conseguem aliar uma rotina que inclui horas de estudos diários, ensaios, gravações e espetáculos com o devido cuidado à saúde.
Os motivos que levam os músicos a encarar a dor como mera parte do negócio são vários. “Vão desde o medo de serem vistos como incapazes e incompetentes tecnicamente até o temor de enfrentarem diagnósticos incapacitantes ou terem de abrir mão de sua atividade musical por algum tempo”, acredita a fisioterapeuta Carolina Valverde, que também é saxofonista e percussionista. Ela diz ser muito comum o pensamento de que sentir dores é normal ou que elas desaparecerão sozinhas. “Alguns até acreditam que, por exemplo, quanto mais escura a marca deixada no corpo pela espaleira [acessório do violino e da viola que fica na região da mandíbula], melhor, porque isso significa que passaram mais tempo estudando e tocando”, conta. “Ou que, se os lábios de um instrumentista de sopro quase sangram, é porque ele é mais dedicado ao seu instrumento”.
Para ela, se por um lado a maior parte dos músicos não entende o funcionamento do seu corpo e as questões relacionadas à área da saúde, por outro, os profissionais do setor não conhecem muito bem o universo musical. O resultado é que, quando o músico se depara com alguma lesão ou limitação, ele se sente inseguro de continuar a atividade musical e fica com a autoestima prejudicada. Já o médico desavisado, ela diz, pede ao músico que se afaste de suas funções. “O somatório disso pode ser trágico para a situação psicológica do músico e, consequentemente, piorar seu quadro corporal, afetando sua performance e sua atividade na música, seja amadora ou profissional”, alerta.
Há pouco mais de dois anos, o Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (SindMusi-RJ) organizou na terra de Tom Jobim o Encontro Brasileiro de Saúde do Músico, que reuniu músicos e especialistas do Brasil inteiro para discutir o assunto. De acordo com a presidente do Sindicato, Déborah Cheyne, desde então essa passou a ser uma questão habitual nos eventos da entidade. “Para saber a dimensão da questão, basta perguntar em um auditório lotado de músicos quem já teve qualquer problema de saúde relacionado ao exercício da profissão”, ela diz. “Cerca de 90% deles vão ter uma história pra contar”. Déborah considera que o problema começa ainda na formação acadêmica. “Imagine que, em um curso de música, o programa é igual para todo mundo. Numa classe de violino, por exemplo, todos os alunos precisam sair tocando Tchaikovsky. Há um formato pronto e definido para físicos, espíritos, metabolismos e pulsações diferentes. Mas é preciso pensar de acordo com o corpo, a ossatura, a musculatura e a disponibilidade de cada um. Ou seja, o aluno já sai machucado dali, quando não deveria”. [
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