ROCKETMAN: a cinebiografia de Elton John
Por Roger Vilela
Elton Hercules John é um dos sobreviventes do modo de vida “sexo, drogas e rock’n’roll”, comum entre os astros da música do século passado. Por muito tempo, ele viveu em um mundo de desilusões, no qual seus vícios eram formas de escapar dele. E Rocketman – sua cinebiografia – não tem vergonha de mostrar tudo isso, no melhor estilo Elton John de ser, com muita extravagância e glamour.
Dexter Fletcher (responsável por finalizar Bohemian Rhapsody após a demissão do diretor Bryan Singer) dirigiu o filme. O escolhido para viver Elton John nas telonas foi o britânico Taron Egerton, que trabalhou com Fletcher ao estrelar o longa “Voando Alto”, de 2016.
Rocketman foca na vida pessoal de Elton John. Sim, ele mostra os sucessos, recordes atingidos, a evolução da carreira, mas as relações entre John e as pessoas próximas a ele (desde quando ele era conhecido por Reginald “Reggie” Dwight, seu verdadeiro nome) e a sua procura pelo seu verdadeiro ‘eu’, são o que move a história. O filme começa em sua sessão de terapia em grupo, na qual o músico conta sua a vida e o que o levou até ali. Isso faz quem assiste se sentir um daqueles com os quais ele está se abrindo naquele momento.
O filme tem uma linha narrativa comum em cinebiografias de famosos: um jovem prodígio, dono de um talento natural, que atinge a fama de forma meteórica e, então, por conta de problemas pessoais, mergulha em um mar de aflição, mas que no fim supera as dificuldades e alcança a felicidade. Mas Rocketman se destaca pela maneira escolhida para apresentar a história do músico. É um musical extravagante, assim como o próprio Elton, que com o uso de suas músicas e do fantástico transcende a grande tela.
As músicas são parte importante da construção narrativa, elas possuem significados. São responsáveis por contar as transformações, conquistas, angústias e acontecimentos da vida do cantor. Crocodile Rock mostra o sucesso, Sorry Seems to Be the Hardest Word a decadência e I’m Still Standing a superação. Nos momentos musicais, a conexão com a realidade é quebrada e as emoções e sentimentos dos personagens se revelam. Quando as músicas assumem o controle, o filme se assemelha aos grandes espetáculos da Broadway. Isso, unido com o poder de imersão do cinema, faz o público se emocionar e cantar junto.
Como já foi dito, as relações de Elton com as pessoas que o cercava estão no centro da trama e algumas merecem destaque. Primeiro, a relação com os seus pais, principalmente com Stanley (Steven Mackintosh), seu pai, um homem representado como alguém que nunca conseguiu ou até mesmo tentou demonstrar afeto pelo filho (nem mesmo com um simples abraço). Segundo, sua relação com o letrista Bernie Taupin (Jamie Bell), o homem responsável pelas letras de grandes sucessos interpretados pelo cantor e seu grande amigo. Terceiro, o relacionamento com o empresário John Reid (Richard Madden), o qual Elton pensou, por algum tempo, ser o amor da sua vida. E por último, a relação consigo mesmo, devido a sua sexualidade e por sua tentativa de se encontrar no mundo.
O modo como essas relações são apresentadas no filme, nos mostra que o roteiro se apoiou na visão do artista sobre os acontecimentos, nunca é mostrado um outro lado. Isso não é problema, pois Rocketman é a história de Elton John contada a nós por ele mesmo, o que o torna ainda mais pessoal.
Taron Egerton brilha no filme, não só por causa dos figurinos excêntricos, mas também pelo seu talento. O ator sai da zona de conforto, canta e não decepciona. O próprio Elton disse que ao ver a interpretação de Egerton achou que era ele mesmo ali na sua frente. Taron é dono de uma atuação poderosa e carismática, consegue transmitir as dores e emoções do personagem.
Os dois garotos, Matthew Illesley e Kit Connor que interpretaram Elton, ou melhor, Reggie, em duas diferentes fases de sua juventude também fazem grandes atuações no longa. Outra interpretação que não pode ser esquecida é a da atriz Bryce Dallas Howard, que faz a mãe do músico, Sheila Eileen. No começo, vemos ela como um ponto de apoio para Elton, mas depois percebemos que não é bem assim, ficamos na dúvida se Sheila realmente se importava com o filho. A relação entre os dois também tem a sua importância para a trama.
É impossível não comparar o filme com Bohemian Rhapsody, cinebiografia do Queen. Tanto por retratar a vida de ícones da música e até pelo envolvimento de Dexter Fletcher nos dois projetos. Mas o que pode ser dito é que Rocketman é superior. É mais verdadeiro e envolvente. Tem uma identidade própria, é algo mais do que um compilado das músicas do Elton John, com um pouco de história para conectar uma a outra.
Rocketman é uma jornada de autoconhecimento, que não tem vergonha em mostrar quem um dia foi Elton John e o que o fez se tornar quem é hoje (uma boa metáfora utilizada no longa para demonstrar isso está na sessão de terapia, no início ele está com uma fantasia espalhafatosa, e, com o passar do tempo, ele vai se despindo, para no fim, sair de lá uma nova pessoa). É um filme que cativa e emociona o espectador.