Relatos Selvagens

Por Graça Vignolo de Siqueira

Sinopse:

“Seis histórias, vários personagens. Todos, diante da imprevisível realidade, caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Um avião com pessoas que se conhecem, o retorno ao passado, uma briga de trânsito, traição amorosa e detalhes do cotidiano, são capazes de impelir esses personagens a perderem totalmente o controle.”

Esse é um filme que exorciza nossos mais profundos desejos insanos. Ele faz com que, através da representação trágica do cotidiano, com um humor negro, nos sintamos normais. Quantas vezes, no trânsito, você buzina para alguém que não quer lhe dar passagem e esse faz um gesto para que você passe por cima? E se tivesse alguma maneira possível, você não passaria?

E quantas outras vezes você se sentiu injustiçado ao ficar em uma fila imensa e uma pessoa informar que já “terminaram as fichas do dia, por favor, volte amanhã”? Você então não sentiu vontade de quebrar a porta e entrar mesmo assim?

Relatos Selvagens é tudo isso e muito mais. É colocar a consequência em ação. É o dia de fúria que tanto controlamos.

O filme argentino, que concorreu ao Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro, é muito comentado mundo afora. Milhares de pessoas o viram e aconselharam que outros o vissem.

O motivo? Simples. Não há quem não se identifique com uma ou todas as histórias. Por essa razão agrada ao argentino, ao brasileiro, ao italiano, etc. De alguma forma, todos se reconhecem nos personagens.

Os principais atores se destacam nos seguintes episódios: Salgado (Dario Grandinetti) de “Pasternak”; Moza (Julieta Zylberberg) de “Las ratas”; Diego (Leonardo Sbaraglia) de “El más fuerte”; Simon (Ricardo Darín) de “Bombita”; Mauricio (Oscar Martinez) de “La propuesta” e Romina (Erica Rivas) de “Hasta que la muerte nos separe”.

Com excelente roteiro e direção de Damián Szifron, talvez você não concorde com uma ou outra história, mas achei todas de excelente qualidade. Claro que sempre há uma preferida e as comparações com nosso dia a dia são inevitáveis.

Tem um pouco de Tarantino, um tanto de Polanski e muito de Almodóvar, afinal é sua a produção. Ao mesmo tempo em que você ri em cenas que deveria ficar chocado, a crítica social está totalmente presente em seu discurso.

Há também uma profunda reflexão sobre os conflitos pessoais, a intolerância, a burocracia governamental, a mesquinhez inerente ao ser humano, o favorecimento à classe mais favorecida e a violência gratuita a que estamos expostos. E claro que, encaixado nisso tudo, está a certeza de que nossas escolhas são de nossas responsabilidades.

As histórias são, na sequência, a de um avião que reúne pessoas que não estão ali por acaso, a próxima trata de uma garçonete que atende a um homem que acabou literalmente com sua família e a seguir dois homens se desentendem na estrada.

O episódio com Ricardo Darín, atualmente um dos principais nome do cinema latino-americano, é sobre um homem que tem o carro guinchado quando vai buscar o bolo de aniversário da filha. Ele se vê obrigado a ir ao departamento de trânsito onde deverá pagar uma multa que considera injusta.

Os dois últimos também são interessantíssimos. O quinto é sobre um jovem muito rico que atropela, mata uma mulher grávida e foge do local. O advogado e seus pais procuram uma saída. Meio conhecida por aqui essa história, não é mesmo? E o último episódio tem como cenário uma festa de casamento em que envolve traição.

Tem uma ótima trilha sonora, momentos incríveis e só resta elogiar roteiro, direção e produção. Com certeza você não ficará indiferente ao filme. Nota 10.

Link para o trailer:

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