Quando fatos não bastam

Por Douglas Dutra

      É de se concordar que não devemos aceitar o que o governo impõe sem antes passar pelo crivo de uma análise crítica. No entanto, manter o pé atrás não permite que se caia num negacionismo burro.

      No último final de semana, o Estadão publicou uma matéria sobre pais que rejeitam a utilização de vacinas, cuja eficácia é amplamente comprovada pela ciência, em si e em seus filhos.

     Um dos maiores gatilhos dessa onda de ceticismo foi um artigo publicado em 1998 pelo médico inglês Andrew Wakefield na The Lancet, uma das revistas médicas mais respeitadas do mundo, relacionando a vacina tríplice viral como causa do autismo. Quando o artigo foi desmentido pela própria Lancet e a licença médica de Wakefield foi cassada em 2010, já era tarde demais e o sensacionalismo já havia sido feito.

    O problema não é o ceticismo – que é saudável, se baseado em informações acuradas –, mas a negação baseada em boatos. Segundo a mesma matéria, a posição desses pais é embasada em informações compartilhadas em grupos no Facebook. Apesar de o Facebook ser uma importante ferramenta para a difusão de informação, não é difícil concluir que informações dispersas, sensacionalistas e conspiracionistas são pouco (ou nada) confiáveis.

    Além do perigo a que esses pais expõem seus filhos, esse tipo de ação também é um perigo de saúde pública, dificultando que os órgãos competentes consigam fazer o controle epidemiológico de doenças que poderiam ser facilmente controladas, senão erradicadas.

A partir dos anos 1950, com a popularização das vacinas, diversas doenças já foram praticamente erradicadas (Foto: Divulgação)

   Em abril, a Revista Science publicou em seu site um infográfico que mostra a redução significativa de pessoas afetadas por doenças depois do desenvolvimento de vacinas preventivas. A pólio, por exemplo, foi praticamente erradicada e o sarampo caiu de quase 500 mil casos nos anos 1960, quando a vacina foi desenvolvida, para menos de 20 mil, em meados dos anos 2000. Além disso, é abundante a bibliografia que corrobora com a segurança das vacinas.

   Que não se espere o pior acontecer para intensificar a conscientização da importância das vacinas, e que esses pais sejam responsabilizados, se necessário judicialmente, pelo risco de saúde pública a que expõem toda a população.

Fontes:

Matéria do Estadão sobre pais céticos da vacinação.

Infográfico da Science apontando a redução de doenças que podem ser prevenidas por vacinação

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