Prazeres Culposos

“Que Horas Eu Te Pego?”, estrelado por Jennifer Lawrence e Andrew Barth Feldman, revitaliza um gênero que parecia ultrapassado.

Por Isadora Jaeger / Agência Em Pauta 

Poster Nacional Oficial /Divulgação: Sony Pictures Brasil.

 

“No Hard Feelings” estreou nos cinemas no dia 22 de junho, insinuando uma aposta da indústria cinematográfica no ressurgimento dos filmes de comédia besteirol. O filme aborda antigos pilares do gênero e levanta o questionamento se temas tão controversos podem ser satirizados na atualidade.

Ao longo de 1 hora e 43 minutos de duração, acompanhamos a história de Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher falida que, para não perder a casa em que cresceu, aceita uma proposta de emprego inusitada: namorar o filho introvertido de um casal rico. Os pais superprotetores de Percy (Andrew Barth Feldman) buscam, por meio de um anúncio na internet, alguém que lhe dê mais experiências antes que ele vá para a faculdade. É claro que Percy não pode saber do combinado, e deve conhecer a pretendente “naturalmente”.

Apesar de parecer absurda, a história tem inspiração na vida real. Os roteiristas do filme, Gene Stupnitsky e John Phillips, contaram em entrevista à Entertainment Weekly, que a ideia para o filme surgiu de um anúncio que um deles encontrou no site Craigslist. Stupnitsky diz que inicialmente pensou “Quem é que responderia a um anúncio como esse?” e então pensou que Jennifer Lawrence seria a candidata perfeita para o papel.

 

Depois de anos sem nenhum grande sucesso de bilheteria, o gênero de comédias adultas parece ultrapassado. Os filmes mais memoráveis dessa categoria se beneficiam de um olhar nostálgico, que releva os descasos do roteiro e os comentários sexistas ou de moralidade duvidosa, em razão do período que foram produzidos. Por isso, acabam tachados de guilty pleasures, ou prazeres culposos, produções que mesmo precárias em qualidade ou ética, conquistam o gosto do público.

 

O filme de Stupnitsky tenta encontrar o tom para uma nova geração, mas não têm pudor ao ultrapassar alguns limites. A própria relação entre os protagonistas, com uma diferença de idade de 11 anos na trama, rende momentos extremamente desconfortáveis.

 

A premissa não é inédita para o gênero e o roteiro do filme usa a fórmula consagrada das comédias adultas, com muitas piadas de duplo sentido e situações constrangedoras e absurdas, além do contraste de experiência e inexperiência dos personagens. Porém, o filme difere de seus antecessores por investir numa escrita de qualidade, onde não se deduz que obscenidade se iguala a humor. Há um empenho maior em entregar um produto final sem pontas soltas e que aborda temas mais sérios, em meio a sequências caóticas.

 

Em meio a discordâncias da crítica, a maestria de Jennifer Lawrence é um consenso. Maddie se torna uma personagem pela qual torcemos em virtude do carisma da atriz e da nuance de sua performance. A produção não se sustentaria sem sua presença. Entre tentativas escrachadas de seduzir o menino, Maddie e Percy encontram confiança um no outro para conversar abertamente sobre as coisas que os detém. O último ato do filme é o que mais diverge em tonalidade, se entregando ao sentimentalismo e aos clichês à medida que resolve seus conflitos.

 

“Que Horas Eu Te Pego?” entrega exatamente o que propõe a entregar. Não reinventa a roda, mas a faz voltar a girar.

 

 

 

 

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