Polêmica dos “rolezinhos”: você é a favor ou contra?
Por Daiane Brites
Surgido na periferia de São Paulo, os “rolezinhos” transformaram-se de simples encontros de jovens marcados pela internet, em um movimento social de grandes proporções. Nos últimos meses, o fenômeno pautou a grande mídia e virou tema de debate entre especialistas, ideólogos e a sociedade em geral.
Pesquisa realizada em Pelotas e na Grande Porto Alegre mostra que a grande maioria dos questionados sobre o tema é contrária a realização dos “rolezinhos”. Dos 15 entrevistados, 80% disseram ser contra o movimento, enquanto apenas 20% mostraram-se favoráveis.
A grande maioria contrária justifica sua posição dizendo considerar os encontros como “uma desculpa para promover a baderna” e consequência da “desocupação dos jovens”, que deveriam “aproveitar o tempo para estudar, trabalhar ou fazer qualquer coisa útil sem importunar os outros”. Os favoráveis, curiosamente todos da Grande Porto Alegre, consideram os “rolezinhos” um movimento legítimo das classes excluídas e afirmam estar havendo uma má leitura sobre o tema. Uma delas, a estudante de medicina veterinária da UFRGS, Laís Gonçalves, disse acreditar que o movimento foi descaracterizado e tornou-se uma espécie de apartheid pelos estereótipos dos grupos de frequentadores, já que em shoppings pequenos localizados nas periferias das grandes cidades, como em um próximo a sua casa em Cachoeirinha, o movimento sempre existiu de forma organizada e sem maiores repercussões.
Para especialista, “rolezinho” é uma manifestação social que dá visibilidade à discriminação e ao preconceito
Para a professora de sociologia da UFPel, Maria Thereza Rosa Ribeiro, o “rolezinho” é uma manifestação social que dá visibilidade à discriminação e ao preconceito que vive o cidadão brasileiro classificado como de “segunda categoria” e acredita que os jovens são os que mais sofrem discriminação social e constrangimentos ao frequentar locais e consumir produtos que representam signos de distinção das classes médias e médias altas.
Segundo Maria Thereza, o movimento enquanto manifestação social possui um conteúdo político ao atingir, de certa forma, os padrões socioculturais e psicológicos de segregação das classes e grupos ainda persistentes na sociedade brasileira e que atualmente vem sendo colocados à prova pelo novo tipo de trabalhador-consumidor que já vivencia a inclusão nos sistemas educacionais e habitacionais, bem como no processo de participação mais democrático. A especialista acredita que esse novo perfil de trabalhador- consumidor do capitalismo globalizado quer ter acesso a áreas de lazer, cultura e consumo bem equipadas, como os shoppings centers, espaços que sempre foram privilégio das classes médias e altas e por isso, essas classes rejeitam os novos grupos que reivindicam acesso a esses locais que sempre foram uma representação de distinção.
A socióloga afirma ainda que o sistema político – partidos, governos – não podem dar as costas aos movimentos em geral da sociedade. Os partidos, governos, universidades, blogs, imprensa e associações são todos formadores de opinião pública, mas cada um com argumentos diferentes. Alguns tentam capitanear o movimento como oposição ao governo vigente tentando conquistar vantagens eleitorais, enquanto outros, de tendências mais conservadoras e tradicionais, reafirmam o discurso de segurança policial nas ruas para conter as “classes perigosas”. A doutora em sociologia acredita ainda que “se o movimento tiver potencial para a ação social, pode criar redes de associação mais efetivas para lutar pela inclusão social via o emprego, a escolaridade, a cultura, o lazer, o fim da discriminação racial, etc. com vistas a uma sociedade democrática”.