Plantando esperança
Por Jéssica Lopes e Jessica Alves
No dia 5 de Julho o Projeto “Educação e saúde: conversando sobre o uso e o uso abusivo de drogas” (extensão para comunidades na cidade de Pelotas e região), coordenado pela professora do curso de graduação e pós-graduação em Enfermagem na Universidade Federal de Pelotas Michele Mandagara de Oliveira, esteve presente na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ferreira Viana.
Com o objetivo de passar informações para crianças com faixa etária entre 11 e 12 anos sobre as consequências do uso das drogas na vida do ser humano, o projeto contou com a participação de uma aluna do 5° semestre de Enfermagem, Dakny Santos Machado, que passou alguns slides explicando a reação que as substâncias psicoativas fazem ao organismo e na vida social do usuário.
O programa de extensão também contou com a participação da Psicóloga Duilia Carvalho, 33 anos, que faz parte do projeto a aproximadamente três meses, e levou para a classe dinâmicas como um caça-palavras, que continha referências à drogas licitas e ilícitas, no qual o objetivo era que as crianças encontrassem as substâncias e dissessem o que fazia bem e o que não. Tudo isso com a ajuda da professora Michele, que dava suporte às demais colaboradoras.
A criançada mostrou-se muito interessada na palestra, dividindo experiências e conhecimentos que obtiveram em sua história de vida, que está apenas no começando. Conforme foram mostradas imagens de conteúdo alarmante, a gurizada demonstrou comportamento inquietante e de indignação por ver o que a droga causa na vida dos usuários. A sala continha uma média de 25 alunos, e 13 deles disseram conter familiares que fazem o uso de algum tipo de droga, também foi perguntado se eles já haviam tido contato com pessoas sob efeitos de substâncias como a maconha e, novamente, aproximadamente metade da sala afirmou já tê-la visto.
Foi apresentado o SUS, 192 e os postos de referência para ajuda em caso de as crianças presenciarem problemas com amigos ou pessoas de dentro de suas casas, que estejam sob o efeito de alguma droga. A palestra teve a duração de uma hora e tivemos a oportunidade de fazer algumas perguntas para as participantes do projeto:
“O que levou vocês a aplicarem o projeto sobre Saúde e Drogas a um grupo de crianças com a faixa etária de 11 a 12 anos?”
“Eu sempre gostei de trabalhar com projetos de extensão, desde que cheguei a Pelotas. Especialmente com o projeto de drogas e de pesquisa, percebemos que desde muito jovem as pessoas tem acesso fácil as drogas começando logo cedo, com seus 11/12 anos. Isso nos chamou a atenção, nos levou a pensar na idéia de aplicar por meio do projeto extensivo orientações nas escola próximas a faculdade UFPEL sobre o uso abusivo de drogas. Fico satisfeita pois posso contar com a participação das mestrandas e essa experiência está sendo muito legal.” Michele Oliveira.
“Qual a sensação de sair das salas sabendo que vocês deixaram esse aprendizado as crianças?”
“Sensação maravilhosa, chegamos com um nível de bateria e saímos com 3, 4 vezes mais. A troca de informação é muito legal, e é legal também porque a informação é a única maneira de conseguirmos pulverizar melhores escolhas, então quando a gente troca informação a gente aprende com eles, a gente sai renovada e com uma sensação de esperança” Duilia Carvalho.
“Vocês já tiveram contato com crianças dessa faixa etária como usuários de droga?”
“Já tive contato com pessoas adultas que começaram a usar com essa faixa etária, mas com crianças não. Nunca foi um trabalho nosso como um grupo especifico, mas temos relatos, na literatura é muito comum, levantamentos racionais, principalmente dentro das escolas. Infelizmente isso é muito costumeiro, ainda mais para aqueles que estão fora da escola, a abertura para esse mundo é pior ainda”
“Qual é a idade mais fácil para poder largar desses vícios?”
“Geralmente eles não iniciam pelo uso do crack, e sim pelas substâncias lícitas. Começa com momentos de frustrações, até chegar nas substâncias psicoativas, depois é oferecido nas festas como curtição. Mas começa pelo álcool, não pelo cigarro como muitos pensam. Eu não posso comprar, mas meus amigos de 18 podem, meu vizinho, meu tio, e é onde começa o uso frenético. É muito difícil controlar e o tratamento requer muito cuidado, tem o direito da criança envolvido, você não vai tirar uma criança do meio dela, o tratamento deve ser realizado em liberdade e para isso temos o CAPS I. Temos um CAPS I no município, então quanto mais cedo levar e puder conversar a respeito, identificar o porquê do uso, melhor. Agora tu trocar drogas por medicação pesada, pra mim, é como trocar seis por meia dúzia”
O CAPS I é um Centro de atendimento psíquico social de atendimento infantil, até 18 anos. Existe também o CAPS adulto tipo dois, ou o CAPS AD, que é um serviço que acolhe crianças e famílias, que podem ir ao lugar tanto eventualmente quanto para consulta. É oferecido todo o cuidado necessário, incluindo trabalhos de terapia pra que essas crianças possam estar melhor inseridas na comunidade.
Também existe a unidade de atendimento UAI, de acolhimento infantil, que ajuda em casos de abandono e muita vulnerabilidade. Nos locais de saúde social as crianças sentem-se um pouco mais protegidas e encaminhadas.
“Como foi a receptividade da escola?”
“Aqui nós temos uma ponte. Uma das gurias do grupo estudou aqui, entrou em contato com a escola e a mesma foi bem receptiva e organizada. Ela está inserida em um local com alto índice de uso e de tráfico, acho que eles precisam ter bastante consciência de que ter esse espaço aqui pode auxiliar”
“Quanto mais cedo a gente começar o tratamento, mais tempo a gente tem de recuperar coisas da vida do sujeito. Por que eu não estou usando o tempo inteiro? Porque estou aqui com vocês, escuto musica, saio com amigos… Quanto mais cedo nós damos novas possibilidades de alegria, mais proteção é oferecida. Se eu pego um rapaz de 40 anos que usa drogas desde os 12, o que ele sabe da vida sem o uso das drogas? Quanto mais cedo eu consigo parar, mais eu vou no laranjal, ando na praça e vivo. Agora, se minha vida está cercada de drogas a 40/50 anos, é mais difícil.
Eu tenho que auxiliar a pessoa a reconhecer a alegria e tranquilidade de uma vida sem drogas, o que é difícil”
“O que você aprende com essa experiência de aplicar o projeto nas escolas?”
Dakny, 19 anos, participa do projeto e é estudante de enfermagem no 5° semestre. A mesma diz aprender tanto ensinando, quanto com as crianças, estabelecendo uma troca de informações e vivência. “É legal ver o retorno das crianças e a interatividade delas com o projeto, acredito que posso motivá-las a ver que elas não precisam disso e quem sabe fazê-las se interessar com a oportunidade de entrar em uma faculdade no futuro e participar do projeto também, aplicando em suas comunidades”.
O programa assistencial está apenas começando, portanto ainda levará informação e ajuda a muitos grupos sociais que não recebem o devido suporte, conscientizando, amparando e também aprendendo junto com a comunidade.