Pelotas: um terreno estranho aos times da capital
Por Diego Kruger
Todos sabem que o gaúcho possui características próprias em sua forma de encarar o futebol e de torcer. Além de ser um estado absolutamente blindado à influência externa – ao contrário do Paraná e de Santa Catarina, por exemplo – suas torcidas em praticamente sua totalidade se restringem à dupla Gre-Nal, os times da capital.
Mas em uma cidade específica do estado, essa história é completamente diferente: em Pelotas, xavantes e áureo-cerúlos são fanáticos por Brasil de Pelota e Pelotas, os times locais.
Existe, inclusive, um movimento denominado anti-grenal, que segundo seus integrantes não deseja morte nem desgraça a ninguém. Entretanto, prega a valorização dos clubes locais. Por que um menino de seis anos de idade, que nasceu, cresceu e ainda vive em Caxias do Sul deve torcer para um time de Porto Alegre? Por que um guri de 10 anos de idade que nasceu e mora em Pelotas deve torcer para um time da capital e não ter a oportunidade de acompanhar seu time no estádio? Pensando assim, esse movimento tem um sentido.
Mas, muitos esquecem que vivemos em plena era da tecnologia e do marketing esportivo. Como cada vez mais os jovens vivem suas vidas limitados à tela do computador, com pais que preferem protegê-los pelas grades de seu condomínio, nossos jovens são seduzidos a torcer pelos times que tem seus jogos televisionados seguidamente, deixando de lado a emoção de incentivar seu time ao vivo no estádio, sujeito a qualquer intempérie do tempo, para assistir um jogo (de um time cujo estádio nem ao menos conhecem) no conforto de seu lar.
Pesquisas recentes mostraram que os times da capital vêm ganhando espaço na cidade, e esse fato deve ser encarado de uma forma normal pelos fanáticos torcedores da dupla Bra-Pel. Além dos times da capital terem um espaço maior nas principais mídias, a fase dos clubes locais não é a melhor. Lutando para colocar suas contas em dia, os clubes têm apresentados altos e baixos nos últimos anos e o fato de torcer para um time unicamente por ter a oportunidade de acompanhá-lo de perto, do próprio estádio, não influencia mais tanto a nova geração.
Há em Pelotas um bairrismo em relação aos times da capital na mesmo proporção que os gaúchos têm um bairrismo sobre os times de fora do estado.
Cabe a nós, porém, sermos telespectadores de um cenário que sofre mudanças.