Para resgatar a força do Coletivo Negro Tim Lopes

Estudantes do curso de Jornalismo da UFPel organizam reunião para a retomada do movimento

Maria Eduarda Teixeira / Agência Em Pauta 

No encontro, atuais e ex-alunos se reuniram para discutir Jornalismo, Raça e Produção Acadêmica, além de explorar a trajetória do Coletivo. Foto: Reprodução

Na noite de quarta-feira (28) foi realizada uma reunião no auditório acadêmico do campus Anglo, onde os fundadores do coletivo negro Tim Lopes apresentaram o coletivo para os alunos do curso de jornalismo e conversaram sobre a importância da representatividade preta dentro das universidade bem como convidaram os alunos a retomarem o coletivo.

A ideia de realizar a reunião foi da diretora do Centro de Letras e Comunicação da UFPEL  Vanessa Doumid, motivada segundo ela,  pela importância de ter esse coletivo dentro do CLC: “para mim a existência dele dentro do CLC é resistência é esperança é acolhimento. Então, eu vejo muita importância dele continuar resistindo e existindo” –  conta Vanessa.

Na conversa os alunos que fizeram parte do coletivo compartilharam suas vivências dentro do curso de jornalismo, os trabalhos feitos com o coletivo, desde o surgimento do mesmo até a escolha do nome e cada uma das conquistas e ideias como coletivo. Apresentaram também seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e motivaram os atuais alunos do curso a dar continuidade ao movimento.

O começo

Em 2019, os acadêmicos do curso de Jornalismo da UFPEL, buscaram a partir do movimento um espaço em que poderiam expressar as suas pautas e compartilhar de representatividade. Assim, se uniram e criaram o coletivo Tim Lopes.

A escolha do nome veio em homenagem ao jornalista, repórter investigativo e produtor Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, nascido em Pelotas e que foi brutalmente assassinado por um grupo de traficantes do Rio de Janeiro, cidade na qual ele e sua família, escolheram para viver enquanto ele ainda tinha oito anos.

A partir disso o coletivo veio a organizar reuniões e ações dentro da universidade como a Semana Acadêmica/lançamento do coletivo, foto coletiva do dia 20 de novembro, cobertura de eventos da cultura negra, entre outros. Sempre pensando nas pautas raciais, trazendo a representatividade e o acolhimento para os alunos negros do curso de jornalismo e a luta antiracista dentro e fora das universidades.

A jornalista Rafaela Dutra, que fez parte do coletivo, e esteve ativa desde a sua criação até a inatividade, nos conta um pouco dessa experiência com o mesmo e da importância em dar continuidade ao CTL. Confira abaixo a entrevista:

 

Qual foi a importância do Coletivo pra ti dentro e fora da UFPEL?

Pessoalmente, fui vítima de racismo de um aluno do curso logo nos primeiros semestres, o Coletivo veio um pouco depois, mas foi nas nossas reuniões onde consegui expressar o quanto aquilo havia mexido com a minha autoestima intelectual e foi lá também onde recebi o apoio e acolhimento necessário para continuar tendo vontade de frequentar a Universidade. Disse nos agradecimentos do meu trabalho de conclusão de curso e sempre que posso lembro que o Coletivo Tim Lopes foi essencial para que eu me sentisse, de fato, pertencente à Universidade. As nossas conversas, das mais informais às mais acadêmicas, sempre me ensinaram ao algo novo ou me fizeram enxergar algo de uma ótica diferente, existem muitos aprendizados sobre ser uma pessoa preta no mercado de trabalho, especialmente na comunicação, que aprendi a partir das vivências compartilhadas na sala do CA.

De onde partiu a ideia de criar o coletivo?

Alguns de nós, membros do Coletivo, participamos de uma palestras organizada pelo curso de Jornalismo da UCPEL em 2019, cujo tema era Protagonismo Negro no Jornalismo, saímos de lá complemente inspirados a ter mais conversas como aquela. Acredito a palestra se somou ao fato de que muito de nós, alunos negros do Jornalismo, já havíamos vivenciado ou presenciados violências raciais dentro curso e acabamos unindo um grupo. Assim como outros movimentos de luta, considero que o Coletivo surgiu da dor e da falta de representatividade dentro do curso.

Sabemos que é necessário representatividade preta em todos os espaços, principalmente dentro das universidades, pode compartilhar conosco qual momento do coletivo mais marcante pra ti, falando desse assunto? 

Pra mim, o momento mais marcante do Coletivo foi a Semana Acadêmica onde fizemos o lançamento deste projeto. Nesse dia conseguimos reunir pessoas com vivências  muito parecidas com as nossas para falar sobre jornalismo e antirracismo. Foi a primeira vez que me senti parte de um evento acadêmico, representada e interessada.

E por fim, para incentivar os jovens pretos que estão dentro da Ufpel agora, por que dar continuidade ao coletivo é importante? 

A importância do Coletivo Negro dentro de um curso, pra mim, é a mesma importância de movimentos e organizações como essa em qualquer setor da nossa sociedade. Para além do acolhimento, da sensação de pertencimento, um coletivo negro também pode servir como uma organização que cobra e garante diretos. Sobretudo, dentro de um curso de jornalismo, cobrar representatividade, manutenção de políticas de cotas raciais e levar questões de raça para dentro da sala de aula se faz essencial.

Durante o período pandêmico as atividades realizadas pelo coletivo, precisaram se adaptar às normas do lockdown e as ações voltaram-se para as mídias digitais, abastecendo as redes e o site oficial do Coletivo, o qual esteve ativo até o final de 2020. Atualmente o coletivo está retomando as atividades e em busca de alunos que estejam interessados em participarem.

 

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