O “Trem” parou!
Morre Guilherme Silva Dias, o “Trem”, torcedor símbolo do Farroupilha, O ídolo do fantasma foi vítima de um AVC aos 80 anos de idade
Por Luis Collat /Em Pauta
A morte confirmada nas redes sociais pela família de Guilherme Silva Dias, conhecido como “Trem” durante a madrugada do dia 30 mexeu com os sentimentos de todo cidadão envolvido de alguma forma com o futebol pelotense. Trem era não somente o maior símbolo do amor envolvido em uma relação entre torcedor e clube na cidade, mas também um exemplo em relação ao respeito que cultivou com diversas torcidas em todo o estado ao fazer suas viagens para acompanhar o Farroupilha em todos os jogos que podia.
Nascido no município de Rio Grande, ele teve sua paixão pelo clube do Fragata cultivada desde sua infância pelo pai, ex-atleta do clube, que escutava os jogos ao seu lado pelo rádio. Nessa mesma época lhe foi concedido o seu famoso apelido, dado por amigos devido a sua velocidade nas partidas disputadas na rua.
Apesar de ser conhecido por um nome originado de atuações na linha durante a infância, foi atuando como goleiro que Trem se fez presente no futebol profissional e amador do RS, tendo como principais marcos da carreira o início profissional no Rio-Grandense, a rápida passagem pelo Internacional e, finalmente, o seu período como atleta do Farroupilha, com todas essas passagens ocorrendo durante os anos 60.
Após o fim de sua carreira como jogador, Trem se dedicou ao ofício que o tornaria uma lenda do futebol gaúcho: o de torcedor fanático. Durante anos ele empurrou o Farrapo em todos os jogos com seus uniformes de torcedor (que usava não só nas partidas, mas em todas as ocasiões), sua bandeira e suas frases marcantes, como “aqui tem goleiro” e “meu Farroupilha”.
O título de torcedor símbolo não é apenas uma mera convenção entre os envolvidos no futebol gaúcho, mas também um título oficialmente reconhecido. Em uma entrevista aos jornalistas Dalila Müller e Juan Sampaio Neitzke, autores do artigo “A Vida de um Torcedor Símbolo” publicado pela revista eletrônica “História em Reflexão”, Trem mostrou duas placas de reconhecimento que guardou com muito carinho em sua casa. Uma concedida em 1991 pelo próprio Farroupilha e assinada por João Carlos Machado Nogueira, presidente da época, e outra pela Liga Pelotense de Futebol em 1996.
Em uma entrevista especial realizada pelo Diário Popular em 2015 para a comemoração dos 80 anos do título gaúcho do Farroupilha, ele também manifesta um importante desejo: “Eu até pedi, pro dia que Deus me levar, que eles botem os meus ossos no túmulo do Farroupilha. […]”. Ele se referia a um túmulo localizado no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, onde estão alguns dirigentes e ex jogadores do clube.
O ex vice administrativo e coordenador da base do Farroupilha, Carlos Doli Machado, que conviveu por anos com a paixão e dedicação de Trem que sempre esteve presente nas dependências do clube, declarou sobre a morte: “Se foi o Farroupilha mais fanático de todos os tempos. O Farrapo perde seu maior símbolo.”
O velório de Trem ocorreu na secretaria do clube.