Geração tombamento: juventude negra e empoderamento estético

Por: Lunara Duarte
Nos últimos anos um movimento tem ganhado muita força dentro e fora do ambiente virtual e espaços de militância: a geração tombamento. Trata-se de um movimento urbano encabeçado por jovens negros que buscam recriar a própria estética e resgatar a identidade negra, tendo em vista o cenário de invisibilidade em uma sociedade racista.

De acordo com a feminista negra Djamila Ribeiro, o empoderamento parte de um conceito coletivo, no sentido de proporcionar a si mesmo e aos outros mecanismos de enfrentamento para que juntos possam romper as estruturas racistas, sexistas e homofóbicas. Essas ações, sendo conjuntas, promovem as transformações sociais.

A recriação estética inclui cabelos crespos estonteantes, tranças coloridas, estampas étnicas, turbantes além de muito estilo. A expressão “tombar” (presente no hit “Tombei” da cantora Karol Conká) significa “arrasar” ou “causar impressão por onde passa”. O que, sem dúvidas, é o que acontece. A festa Batekoo, com a temática tombamento, agita as noites cariocas, paulistas e soteropolitanas com muita black music e twerk.


Uma lição de auto-aceitação inseparável da consciência política. Há quem critique a geração tombamento por dar enfoque às questões meramente estéticas, mas como adverte a pesquisadora Nilma Gomes, em sua tese Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra, o corpo pode ser moldado a fim de ressaltar a identidade de um grupo. “Por isso, corpo e cabelo, no plano da cultura, puderam ser transformados em emblemas étnicos”, pontua Nilma.

Artistas como Karol Conká, Rico Dalassam, Liniker e Tássia Reis tornam-se ícones da geração tombamento e com seus looks coloridos inspiram uma legião de jovens por todo o Brasil. O objetivo é conquistar o seu espaço na música nacional através da irreverência estética e fortalecimento da cultura negra. Nas redes sociais, observamos a ascensão de webcelebridades fashionistas que servem de referência para as jovens negras.

A geração tem como influência o movimento afropunk (dos Estados Unidos e Europa), os Fashion Rebels (África do Sul) e os sapeurs (subcultura originária do Congo). Os últimos utilizam as suas habilidades em alfaiataria para costurar as próprias roupas. Com muita elegância, fazem uso da moda para lidar com as mazelas sociais.

A desconstrução do padrão de beleza eurocêntrico imposto pelos meios de comunicação de massa no Brasil não está, de forma alguma, desvinculada da conscientização política da juventude negra. A geração tombamento é um movimento que veio para ficar e arrebanhar cada vez mais jovens na luta por representatividade e da moda, da música e do engajamento político.

Comentários

comments

Você pode gostar...